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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Opinião: 10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho

 Título Original: 10 Minutes 38 Seconds in This Strange world (2019)
Autor:
Elif Shafak
ISBN: 
9789722365734
Editora: Editorial Presença (2020)

Sinopse:

 No primeiro minuto que se seguiu à sua morte, a consciência de Leila Tequila começou a abrandar, lenta e firmemente, como uma maré a recuar para a costa. As suas células cerebrais, tendo ficado sem sangue, estavam agora completamente privadas de oxigénio. Mas ainda não se tinham desligado. Não de imediato. Uma última reserva de energia ativara inúmeros neurónios, ligando-os como se fosse a primeira vez. Embora o coração tivesse parado de bater, o cérebro estava a resistir, um combatente até ao fim… 

Para Leila, cada minuto após a sua morte traz consigo uma recordação sensual: o sabor do guisado da cabra sacrificada pelo pai, para celebrar o nascimento de um filho há muito esperado; a visão de panelões borbulhantes com uma mistura de limão e açúcar, que as mulheres usam para depilarem as pernas, enquanto os homens se encontram na mesquita; o aroma a café de cardamomo que Leila partilha com o estudante atraente, no bordel onde trabalha. Cada recordação também traz consigo os amigos que fez em cada momento importante da sua vida – amigos que agora estão desesperados para a tentar encontrar…

Opinião:

10 Minutos e 38 Segundos Neste Mundo Estranho apanhou-me de surpresa. Escrito por Elif Shafak e publicado pela Editorial Presença, este livro impulsiona uma leitura rápida e interessada  numa história que está dividida em três partes: mente, corpo e alma. E que pertinente é esta divisão, tendo em conta que estamos a falar sobre o fim de uma vida.

A premissa inicial desta obra assenta nos estudos que demonstram que a mente humana poderá manter um período de atividade após ser declarada a morte. A narrativa começa com Leila, uma prostituta de Istambul, que se encontra sem vida mas ainda consciente. Nestes últimos momentos, os pensamentos da protagonistas divagam por momentos fulcrais que viveu, desde o nascimento até ao próprio fim. Aqui estamos no campo da mente. É ao longo destes 10 minutos e 38 segundos de consciência que surgem memórias que falam de desigualdade, injustiça, dor, amor, rejeição, traição, desespero, gentileza, solidariedade, oportunismo e amizade. Curioso que, numa vida repleta de adversidades, foi na amizade que Leila encontrou a beleza e a alegria em viver.

É que Leila rodeou-se de cinco pessoas especiais. Cinco amigos que também viveram as suas adversidades, que também têm histórias impressionantes e que também conseguiram encontrar uma luz num mundo obscuro a partir do momento em que se encontraram uns aos outros. O papel de cada um é desenvolvido na divisão destinada ao corpo, ao que é material, palpável e deste mundo. Já o campo da alma apela às nossas crenças, esperanças e sentimentos mais profundos.

Fiquei rendida às personagens, que criam empatia imediata. Este grupo de desfavorecidos sensibiliza para uma dura realidade presente em culturas bem próximas, nas quais as mulheres continuam a não ter voz. Ao mesmo tempo. É de admirar a força que estas figuras tiveram para lutar pela sobrevivência. Ainda mais admirável é perceber que nunca pararam de ousar sonhar por felicidade. No final, torna-se comovente ver como a união que construíram se tornou tão especial e bela.

Com este livro, Elif Shafal cumpre dois objetivos. Por um lado apresenta o lado mais obscuro de Istambul e chama a atenção para as desigualdades, preconceito, preversão, oportunismo e injustiça existente. Por outro encanta-nos com personagens belíssimas que nos provam que é possível encontrar algo de bom, inspirador e louvável em histórias pesadas e duras. Sim, as mulheres são fortes, capazes de superar as maiores adversidades e de voltar a sorrir após tanto sofrimento. E tudo é mais fácil quando temos amigos ao nosso lado. 

 


terça-feira, 27 de março de 2018

Opinião: Ready Player One - Jogador 1

Título Original: Ready Player One (2011)
Autor: Ernest Cline
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722358231
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Em 2044 o mundo tornou-se um lugar triste, devastado por conflitos, escassez de recursos, fome, pobreza e doenças. Wade Watts só se sente feliz na realidade virtual conhecida como OASIS, onde pode viver, jogar e apaixonar-se sem constrangimentos. Quando o criador do OASIS morre, deixa a sua imensa fortuna e o controlo da realidade virtual a quem conseguir resolver os enigmas que aí escondeu. Os utilizadores têm apenas como pistas a cultura pop dos anos 1980. Começa assim uma frenética e perigosa caça ao tesouro. Nos primeiros anos, milhares de jogadores tentam solucionar o enigma inicial sem sucesso. Até que Wade por acaso desvenda a primeira chave. De um momento para o outro, vê-se numa corrida desesperada para vencer o prémio, uma corrida que rapidamente continua no mundo real e que põe em risco a sua vida.

Opinião:

Tinha este livro debaixo de olho desde que saiu, mas a oportunidade para o ler nunca mais chegava. Contudo, quando soube que a adaptação para a Sétima Arte de Ready Player One - Jogador 1 estava a chegar às salas de cinema, tomei uma decisão: pára tudo! Tinha mesmo de ler este livro antes do filme sair. Assim fiz. E ainda bem! Afinal, tinha um grande livro parado na prateleira há demasiado tempo.

Ready Player One - Jogador 1 apresenta uma mistura improvável mas que resulta muito bem. Nesta obra, Ernest Cline retrata um futuro próximo no qual o fosso social é maior do que aquele que se regista atualmente. O excesso de população coloca em causa os recursos naturais, não havendo meios básicos suficientes para todos. Como tal, as pessoas vivem em cidades caóticas onde o espaço é obtido em altura, de forma limitada e muitas vezes em modos degradantes. Este é um conceito que nos faz pensar sobre as consequências das nossas acções atuais para o futuro, alertando para a necessidade de se tomar medidas agora para prevenir males maiores daqui a uns anos.

Apesar de todas estas dificuldades, a humanidade consegue encontrar uma forma de escape. Uma mistura de videojogo com redes sociais e realidade virtual alcança uma popularidade sem precedentes, sendo um método eficaz para as pessoas de todos os estratos sociais encontrarem prazer ao mesmo tempo que acabam por ser controladas. OASIS é o sistema perfeito para cada um encontrar uma nova vida. Neste espaço, somos capazes de ter o corpo que desejamos graças à personalização do avatar, ter formação académica, trabalhar, conviver e até ter aventuras. E quando um prémio milionário entra em jogo tudo isto se torna ainda mais atrativo. Como leitora, imaginava-me dentro desta realidade virtual onde tudo é possível e conseguia entender o fascínio e apelo sentido pelas personagens.

Wade Watts é a personagem principal desta obra. Foi fácil sentir empatia por este rapaz. Ele vive numa situação de grande carência, não só financeira como de afetos. Além disso, sente-se desajustado de todos os meios em que se envolve, sendo em OASIS que consegue fazer valer a sua individualidade. Ainda assim, o facto de ter pouco dinheiro leva-o a não conseguir aceder a outros níveis do jogo, permanecendo num nível básico. Com tudo isto, o autor leva-nos a pensar em como é fácil julgar alguém pela aparência. É que Wade é sempre tido como inferior, quer na realidade, por não ser fisicamente atrativo, como no jogo, onde tem um avatar primário. É a partir do momento em que os seus conhecimentos e capacidade de raciocínio se começam a destacar que todos começam a reparar nele a tê-lo em conta.

As personagens secundárias que vão surgindo parecem estar apenas a cumprir um papel, uma vez que o grande foco vai mesmo para o protagonista. Wade parece um cavaleiro solitário na sua demanda, mesmo quando consegue encontrar apoio. O teor mais romântico que existe faz sentido, mesmo que a certa altura corra o risco de parecer exagerado. Felizmento tudo volta aos seus eixos e Wade acaba por surpreender com decisões inesperadas que dão uma nova visão desta sociedade e das organizações que a controlam, ainda que não diretamente. Aqui, fica uma chamada de atenção para o papel das grandes corporações no controlo de mentalidades.

O mistério que envolve esta narrativa está bem conseguido e proporciona uma leitura interessada e ritmada. Ao início, o criador de OASIS fornece uma série de pistas que conduzem a uma extensa fortina, sendo curioso verificar que todos os passos nesta aventura são dados tendo em conta a cultura pop dos anos 80. As referências a filmes, séries, livros, música, jogos e muitos mais criam uma grande proximidade do leitor. É curioso ver estes conteúdos, mais antigos, envolvidos num cenário futurista e de alta tecnologia. Além disso, nota-se que tal não foi feito ao acaso, fazendo tudo sentido e não parecendo excessivo ou disparatado. Como leitora, ficava deliciada com as referências.

Este livro é uma verdadeira delícia para quem cresceu no final do século XX e adora cenários futuristas. Ao mesmo tempo, existe uma chamada de atenção para questões sociais e ambientais e para a crescente dependência da tecnologia. A leitura, intensa e de acção rápida, é sempre feita com um sentido de nostalgia pelas nossas primeiras memórias ligadas á cultura pop. Música, cinema, obras literárias e muito mais são recordadas ao longo destas páginas. E que bom foi recordar tudo isto. Ernest Cline merece um aplauso.

domingo, 25 de março de 2018

Opinião: Caraval (#1)

Título Original: Caraval (2017)
Autor: Stephanie Garber
Tradução: Maria José Figueiredo
ISBN: 9789722361675
Editora: Editorial Presença (2018)

Sinopse:

Scarlett Dragna nunca saiu da pequena ilha onde ela e a irmã, Tella, vivem sob a vigilância do seu poderoso e cruel pai. Scarlett sempre teve o desejo de assistir aos jogos anuais de Caraval. Caraval é magia, mistério, aventura. E, tanto para Scarlett como para Tella, representa uma forma de fugirem de casa do pai. Quando surge o convite para assistir aos jogos, parece que o desejo de Scarlett se torna realidade. No entanto, assim que chegam a Caraval, nada acontece como esperavam. Legend, o Mestre de Caraval, sequestra Tella, e Scarlett vê-se obrigada a entrar num perigoso jogo de amor, sonhos, meias-verdades e magia, em que nada é o que parece. Realidade ou não, ela dispõe apenas de cinco noites para decifrar todas as pistas que conduzem até à irmã, ou Tella desaparecerá para sempre...

Opinião:

Entre os sonhos mais belos e os pesadelos mais terríveis acontece Caraval. Este é um jogo que desafia a imaginação de quem se propõe jogar e de quem se atreve a pegar neste livro. Também os leitores são levados para uma aventura impressionante, onde é difícil distinguir o que é verdade do que é manipulado, onde se desconfia de todas as figuras que aparecem, onde o belo depressa se transforma em horrendo. O resultado é esta aventura de autoria de Stephanie Garber.

Quando comecei a ler Caraval, senti-me interessada na história, mas também com receio de que se revela-se um drama adolescente focado na descoberta das relações e não na aventura em si. Felizmente a autora conseguiu surpreender-me ao apresentar uma história que agarra e se vai tornando cada vez mais viciante. Scarlett e a irmã têm personalidades opostas, mas são unidas pelo amor que sentem uma pela outra e pela vontade de se protegerem mutuamente, mesmo quando tal não parece evidente. E é esta união que vai despoletar os acontecimentos emocionantes destas páginas.

Scarlett. a protagonista, é a filha mais velha, aquela que se sente responsável pela irmã a partir do momento em que deixa de haver uma figura materna em casa. Tella é a rebelde que tenta ultrapassar os limites de modo a encontrar o lugar onde se sentirá realmente feliz. As opiniões e as escolhas de ambas chocam, mas é curioso perceber que o objectivo de ambas é o mesmo. O ambiente familiar em que vivem é aterrorizante, fazendo pensar que o poder e dinheiro de uma família não significa segurança e liberdade. Perante esta opressão, Scarlett sonha apenas com segurança para ela e para a irmã... e com Caraval.

Caraval pode parecer representar a magia e inocência da infância, mas a verdade é que tal é apenas uma ideia superficial. Este jogo comandado pela figura misteriosa de Legend encerra grandes segredos e acaba por deixar vir ao de cima o melhor e pior de cada jogador. Esta competição é a prova de que cada desejo tem um preço e que existem valores superiores aos que podem ser pagos com dinheiro. Realizado à noite, altura em que as inibições caem por terra, Caraval é segredo e sedução. Mistério, encantamento, terror e desespero.

Quando chega ao jogo, Scarlett recebe uma folha com pistas, tal como qualquer outro jogador. Gostei que estas dicas não fossem evidentes, sendo que praticamente todas apenas são compreendidas no momento em que são desvendadas. O facto de haver uma dúvida constante acerca dos passos a dar e sobre as verdadeiras intenções de todas as personagens que vão aparecendo tornam a leitura mais aliciante. A nossa ideia sobre determinada situação ou ideia está sempre a ser alterada, sendo que apenas no final surgem respostas e todo o jogo é compreendido.

Tal como seria de esperar tendo em conta o género do livro, existe um romance que envolve a protagonista. Felizmente este tópico não predomina na história, pois alguns dos momentos menos envolventes da obra estão ligados a ele. Não é que não exista química entre as personagens, pois existe, mas preferia que o centro fosse mesmo a relação das irmãs e o desafio de Caraval em si. Só compreendemos quem é Julian mesmo no final, e custa aceitar que uma jovem tão reservada se tenha deixado cair de amores tão rapidamente por alguém que sabe não poder confiar devido às circunstâncias do desafio.

As descrições não são exageradas e deixam perceber bem a beleza desta ilha e de todo o que a envolve. O espaço do jogo, a fazer lembrar uma Veneza fantástica, misteriosa e mágica faz-nos desejar deambular por aquele espaço e conhecer os actores contratados para embelezar e dar vida a Caraval. A mística que envolve a competição e Legend está muito bem construída, fazendo-nos duvidar constantemente do que é real e o que é lenda.

As derradeiras páginas de Caraval são as mais fortes e fazem desejar ler o volume que se segue. É verdade que este livro pode ser lido sem ser necessário esperar a continuação para se compreender a história principal, mas existem ideias no ar que prometem que ainda há muito por onde explorar. Uma leitura que me agradou e proporcionou bons momentos. Se gostam de mistérios e de magia, também não podem perder.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Opinião: O Livro do Pó - La Belle Sauvage (#1)

Título Original: La Belle SauvageThe Book of Dust 1 (2017)
Autor: Philip Pullman
Tradução: Rosário Monteiro
ISBN: 9789722361538
Editora: Editorial  Presença (2018)

Sinopse:

Malcolm Polstead tem onze anos. Os pais gerem A Truta, uma estalagem muito frequentada nas margens do rio Tamisa, perto de Oxford. Malcolm é muito atento a tudo o que o rodeia, mas sem chamar a atenção dos outros. Talvez por isso, fosse inevitável vir a tornar-se num espião. É na estalagem que ele, juntamente com o seu génio Asta, descobre uma intrigante mensagem secreta sobre uma substância perigosa chamada Pó. Quando o espião, a quem a mensagem era dirigida, lhe pede que preste redobrada atenção ao que por ali se passa, o rapaz começa a ver suspeitos em todo o lado: o explorador Lorde Asriel; os agentes do Magisterium; Coram, o cigano; a bela mulher cujo génio é um macaco malicioso... Todos querem descobrir o paradeiro de Lyra, uma menina, ainda bebé, que parece atrair toda a gente como se fosse um íman. Malcolm está disposto a enfrentar todos os perigos para a encontrar...

Opinião:

É difícil escrever com exactidão o entusiasmo que senti quando soube que Philip Pullman estava a preparar o lançamento de uma nova saga passada no universo de "Mundos Paralelos". Adoro essa trilogia e mal podia esperar para saber o que aí vinha. A publicação em Portugal voltou a ser feita pela Editorial Presença, editora que detém os direitos dos outros livros, e comecei a ler esta nova aventura assim que me chegou às mãos. Depressa regressei aos meus tempos de adolescente em que acompanhava Lyra e sonhava com a forma que o meu génio deveria ter.

O Livro do Pó - La Belle Sauvage é o primeiro volume da saga homónima e revela ser uma prequela de "Mundos Paralelos". Contudo, tal não significa que seja realmente necessário ter lido esses livros para perceber esta nova história. O mundo e aspectos principais voltam a ser explicados. Muitas personagens já conhecidas de quem leu a primeira trilogia voltam a fazer-nos companhia, inclusive Lyra, a heroína carismática da anterior trilogia. Contudo, desta vez o protagonismo é dado a uma outra personagem: Malcolm. Simpatizar com este rapazinho foi tão imediato como quando conheci Lyra. Só que enquanto esta tinha uma personalidade com a qual poderia não ser fácil de lidar, Malcolm é mais doce, responsável e carinhoso. Contudo, encerra nele uma fúria impressionante que nos faz pensar sobre o que acontece quando reprimimos tudo o que nos causa dor e frustração.

É muito enternecedor ver a forma como ele se aproxima das freiras do priorado, como ajuda os pais, trata os estranhos, protege os que ama e defende as suas convicções. Além disso, Philip Pullman continua a conseguir fazer estas personagens transmitirem e inocência e ingenuidade próprias da idade. Malcolm é credível, é muito fácil imaginá-lo como uma figura real. Além disso, é um menino muito inteligente, o que faz com que certos momentos mais introspectivo, nomeadamente conversas com o seu génio, se revelem bastante curiosos.

Apesar da maioria dos capítulos serem dedicados a Malcolm, existem outros que transmitem o ponto de vista de outras personagens. Aqui, a dra, Hannah Relf é quem se destaca. Académica cujo destino se cruza com o do protagonista, esta personagem faz a ligação com conteúdos mais pesados que estão a ser tratados entre figuras de grande poder e que fazem oposição à forma de governo vigente. Desta forma, o teor porventura mais infantil é quebrado com informações de maior relevo para o panorama geral da obra. Além disso, é através de Hannah que voltamos a ouvir falar de um aparelho de extrema relevância: o aletiómetro.

O desenrolar da acção começa de uma forma algo lenta, mas nem por isso maçadora. Adorei saborear o regresso a este universo, de conhecer as novas personagens, descobrir esta aventura e deliciar-me com as ligações à trilogia anterior. Contudo, a certo momento, o ritmo começa a acelerar até se tornar frenético. É nesta fase que percebemos a grande importância de La Belle Sauvage, canoa que surge no título da obra. É também aqui que descobrimos Alice e vemos surgir uma ligação inesperada mas muito bem conseguida.

São muitos os contratempos que Malcolm encontra ao longo da sua jornada para colocar a bebé Lyra a salvo. Alguns são facilmente transpostos para a realidade, como é o caso de Bonneville, um homem que aparenta algo que não é, capaz de tudo para alcançar as suas ambições. Outros são mais fantasiosos e levam-nos a pensar nos mistérios do mundo e na forma como estes muitas vezes são encarados. Todos estes obstáculos aumentam a tensão até às páginas finais do livro.

Concluída a leitura, posso garantir que este é um regresso feliz. O Livro do Pó- La Belle Sauvage não desilude, reunindo todos os ingredientes que cativaram em "Mundos Paralelos" ao mesmo tempo que apresenta uma história nova. Estou muito feliz por Philip Pullman ter decidido criar esta nova aventura e espero, com ansiedade, o segundo volume desta nova saga. E continuo sem conseguir decidir qual deveria ser a forma do meu génio tivesse...


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Opinião: Aquela Luz

Título Original: What Light (2016)
Organização:  Jay Asher
Tradução: Paulo Emílio Pires
ISBN: 9789722361064
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse:

Sierra vive no Oregon, onde os pais possuem uma plantação de pinheiros. Quando chega o inverno, a família muda-se para a Califórnia para vender as árvores durante a época natalícia. Sierra tem assim duas vidas: uma no Oregon e outra na Califórnia. Estar numa vida significa deixar a outra, mas isso pouco lhe importa até que um dia, perto do Natal, conhece Caleb, e uma vida eclipsa a outra. Caleb não é o rapaz perfeito. Uns anos antes cometeu um erro muito grave e ainda está a pagar por isso. Mas Sierra consegue ver para além do passado de Caleb e está determinada a ajudá-lo a encontrar o perdão e a redenção.
Um clima de suspeitas, preconceito e desaprovação surge em torno deles, e Caleb e Sierra não conseguem deixar de se interrogar se o amor é realmente suficiente para ultrapassar todos os obstáculos..

Opinião:

Se gostam do Natal, acreditam na magia desta época e não resistem a uma história de amor, então têm de agarrar este livro rapidamente. Aquela Luz, de Jay Asher, fala-nos de um primeiro amor e também da ideia de que é importante não classificar alguém pelo que terceiros nos contam.Ao longo destas páginas somos recordados da importâncio do perdão, aos outros e a nós próprios, e da importância das novas oportunidades. Tudo isto tendo a sensação que se está ao pé de luzes, com uma bebida quente na mão e o cheiro de pinheiro a envolver o ambiente.

Sierra é a personagem principal desta narrativa. Não posso dizer que tenha criado grande ligação com esta personagem. Pareceu-me uma adolescente igual a tantas outras deste tipo de histórias, de bom coração, corajosa, apaixonada, bonita. O único acto de rebeldia acaba mesmo por ser a proximidade a Caleb, um rapaz que em breve vai deixar de ver e que não é aprovado pelos pais. Não se trata de algúem com uma personalidade marcante, ajustando-se ao que vai acontecendo de uma forma previsível, a puxar pelo sentimentalismo. É uma personagem que cumpre bem a sua função, e não faz mais que isso.

Confesso que Caleb é que me deixou mesmo desagradada. É o típico interesse romântico que  transparece a ideia de rebeldia para esconder os seus dramas pessoais. Um suposto bad boy que encanta imediatamente a protagonista e que precisa de ser salvo por ela. Afinal, Caleb é acusado por todos na cidade de um erro que cometeu no passado, e esta aura negra deixa o leitor sempre na expectativa de descobrir o que fez. Quando este mistério é revelado, não impressiona nem choca particularmente, pois existe logo uma desculpa e uma justificação para o que foi feito.

Apesar de pouco impressionada com ambas as personagens, admito que apreciei a forma como a relação entre elas foi construída. Sente-se a atração inicial, mas Sierra e Caleb não demonstram pressa em viverem uma paixão adolescente. É engraçado ver que, apesar de ambos saberem que têm um tempo limitado, dão espaço para o mútuo conhecimento e deixam a ligação ficar mais forte com naturalidade. Além disso, gostei que o autor mostra-se o lado dos amigos e da família à medida que Caleb e Sierra se aproximam, fazendo pensar sobre a importância de manter sempre estas pessoas ao nosso lado.

O desenrolar da acção não guarda grandes surpresas. Existem momentos tipicamente adoelscentes, com muito drama à mistura. Curiosamente, o que mais me agradou foi o próprio negócio de venda de pinheiros e as ligações entre as diferentes personagens, que me pareceram bem conseguidas, mesmo quando as figuras não cativavam. A história é curta e permite uma leitura rápida.

Aquela Luz pode não ser impressionante, mas revela-se uma leitura de Natal agradável. Jay Asher fala-nos sobre a importância da redenção e de sermos capazes de darmos novas oportunidades aos outros, sem os julgarmos por algo que não conhecemos. Uma aposta simpática para a época.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Opinião: Ao Fechar a Porta

Título Original: Behind Closed Doors (2016)
Autor: B. A. Paris
Tradução: Marta Mendonça
ISBN: 9789722360593
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse:

Quem não conhece um casal como Jack e Grace? Ele é atraente e rico. Ela é encantadora e elegante. Ele é um hábil advogado que nunca perdeu um caso. Ela orienta de forma esmerada a casa onde vivem, e é muito dedicada à irmã com deficiência. Jack e Grace têm tudo para serem um casal feliz. Por mais que alguém resista, é impossível não se sentir atraído por eles. a paz e o conforto que a sua casa proporciona e os jantares requintados que oferecem encantam os amigos. Mas não é fácil estabelecer uma relação próxima com Grace... Ela e Jack são inseparáveis.

Para uns, o amor entre eles é verdadeiro. Outros estranham Grace. Por que razão não atende o telefone e não sai à rua sozinha? Como pode ser tão magra, sendo tão talentosa na cozinha? Por que motivo as janelas dos quartos têm grades? Será aquele um casamento perfeito, ou tudo não passará de uma perfeita mentira?

Opinião:

Sabem aqueles livros que começamos a ler e deixamos imediatamente de consequir largar? Que nos surpreendem mesmo quando já temos praticamente todas as informações na mão? Que nos fazem olhar para quem nos rodeia de forma diferente? Que nos leva a duvidar do que tomamos como certo? Ao Fechar a Porta é um desses livros. B. A. Paris consegue cativar não só pela trama mas também pelas suas personagens impressionantes, reais e assustadoras.

Sabia que a autora nos iria apresentar uma história de violência psicológoca e manipulação, mas não estava à espera para me sentir sufocada em certos momentos de maior desespero. Normalmente, quando ouvimos histórias de pessoas que são controladas por outras, questionamos o motivo para elas nunca terem feito nada para sair dessa situação. Com este livro, a autora mostra-nos que isso não é necessariamente verdade, revela que existe uma luta maior do que podemos imaginar e, mesmo assim, da qual não é fácil ou simples sair vencedor.

Grace é a protagonista desta obra, uma mulher que está casada com Jack. Os dois aparentam formam o casal perfeito, contudo, demasiada perfeição causa dois tipos de reações diferentes nos outros. Por um lado, existem aqueles que ambicionam tal felicidade idílica, sendo que no outro estão os que desconfiam de tudo o que parece demasiado bom, que tentam ver para além do que é apresentado. Contudo, distinguir estes dois grupos não é fácil, além de que, já diz o ditado, "entre marido e mulher não se mete a colher". Portanto, Grace vive uma situação bastante solitária, que não nos é imediatamente apresentada na sua total complexidade.

Apreciei bastante da forma como B. A. Paris construiu a narrativa e do método de encadeamente de acontecimos. Existe um intercalar entre presente e futuro, sendo que, no fim, os dois quase se chocam, mostrando-nos toda a história de terror de Grace. Deste modo, assistimos à evolução desta personagem, entendemos o que as suas motivações e sofremos com ela. Fiquei deliciada com a inteligência desta mulher que, ao início, sugeria um certo desiquilibrio emocional. Acredito que é preciso ser muito forte e ter uma âncora extraordinária para se manter a sanidade numa situação de controlo como a que foi imposta por Jack.

Os momentos mais tensos são aqueles em que Jack deixa cair a máscara depois de ter dado a entender que até poderia ter alguma compaixão. O salto que ele dá entre os dois estados fazem acreditar que os monstros existem e caminham entre nós. Quando Jack deixa cair a máscara, torna-se difícil imaginar o desespero vivido por Grace. Contudo, tal como ela, sentimo-nos a sufocar numa prisão maior do que as simples paredes de um quarto. Grace é levada a alterar quem é para agradar Jack, e aqui surge uma transformação surpreendente: ela aprende com o seu marido e captor a ser fria, calculista e manipuladora. As reviravoltas são muitas e a tensão uma constante.

A violência está sempre presente em A Fechar a Porta e tanto repugna como cativa para a leitura. Uma obra que faz refletir sobre os limites da maldade humana e sobre a capacidade incrível de sobrevivência e preservação. Uma leitura muito gratificante e estimulante que recomendo a todos os que gostam de thrillers psicológicos.

domingo, 18 de junho de 2017

Opinião: O Grito do Corvo (Crónicas da Terra e do Mar #3)

Autor: Sandra Carvalho
ISBN: 9789722357901
Editora: Editorial  Presença (2017)

Sinopse:

Os piratas do Rouxinol veem-se cada vez mais longe de saquear o ouro da galé castelhana Niña del Mar devido aos estragos causados pela violenta tempestade que se abateu sobre o barinel, A descoberta da identidade de Leonor faz com que Corvo queira regressar de imediato aos Açores, para entregá-la à guarda do pai, Porém, a tripulação discorda e o caos instala-se a bordo, O que Leonor mais deseja é lutar ao lado dos companheiros e recuperar a confiança de Corvo, No entanto, Tomás Rebelo continua a precisar dela para alcançar o propósito funesto que o levou a assenhorear-se de Águas Santas, Conseguirá Leonor chegar incólume à misteriosa ilha das Flores, conhecer o Açor e abraçar a irmã, ou acabará abandonada por Corvo, à mercê dos caprichos do abominável Tomás Rebelo?

Opinião:

Que bom que é chegar ao fim de uma história que nos encantou. E é tão nostálgico fechar um livro de que tanto se gostou. Terminei a leitura e O Grito do Corvo com a sensação de ter vivido uma grande aventura, de ter estado ao lado de um grupo de piratas muito divertido e companheiro, de ter vivido uma grande história de amor e ainda de ter desvendado mistérios familiares e outros ainda repletos de magia. Fica então aquela sensação agradável de conhecer o desfecho desta narrativa, mas também a vontade de continuar lado a lado com estas personagens.

Ainda bem que as "Crónicas da Terra e do Mar" tiveram um terceiro volume. Esta história não estava pensada para ser uma trilogia, mas Sandra Carvalho, percebeu, a meio do processo criativo, que a história de Leonor precisava de mais desenvolvimentos e explicações. Surgiu então a necessidade de escrever este terceiro livro, que nos apresenta uma conclusão consistente e ponderada. O final não chegada de forma abrupta e com muito por explicar. Existem pontos que podem vir a ser desenvolvidos em narrativas paralelas, é verdade, mas a linha geral desta aventura fica aqui encerrada.

Leonor apresentou uma grande evolução ao longo dos três livros. Neste último assistimos ao ponto em que ela aceita quem realmente é, depois de ter passado tanto tempo com dúvidas e em negação. Assim sendo, esta protagonista consegue tornar-se ainda mais corajosa e alcançar um potencial maior. Podemos não concordar com todas as suas decisões ou ideias, mas compreendemos as suas motivações e queremos vê-la a ter o seu final feliz.

Corvo também passa por uma transformação ao longo desta aventura. A sua mudança poderá ter parecido mais abrupta, especialmente num certo momento da obra. Contudo, esta sensação pode surgir por não lhe conhecermos os pensamentos, ao contrário do que acontece com Leonor. Apesar disso, é fácil perceber os conflitos interiores que vive e o esforço que faz para colocar sempre a razão à frente do coração. O que o move faz sentido, e daí ser fácil perceber que a mudança aconteça lentamente.

O aparecimento de personagens inesperadas enriqueceu a narrativa e levou-nos para contextos históricos, tanto de conquistas como de costumes sociais. Gostei também que Leonor encontra-se mais do que um inimigo durante este seu caminho, apesar de haver um vilão maior a ser confrontado. Relativamente a esta figura, gostei que as suas motivações fossem expostas, uma vez que é isso que justifica muito do que aconteceu desde o início do primeiro livro. Aqui a fantasia volta a misturar-se com o que é mais factual, o que se revela delicioso para quem gosta do género.

É curioso ver como os factos e a ficção ficaram tão bem entrelaçados, levando-nos a acreditar que, afinal, esta grande aventura poderia muito bem ter acontecido, mas não sendo estudada nos livros de História. Os Açores acabam por serem apresentados ainda com mais magia e encanto, se é que tal poderia parecer impossível. É maravilhoso ver como a nossa História e País podem inspirar narrativas tão envolventes e cativantes.

Um aplauso para Sandra Carvalho. Mais uma vez, a autora conseguiu deixar-me rendida a uma saga. Fico muito feliz por, desta vez, ter apresentado uma história que se passa dentro de um período histórico português. A liberdade da escrita leva-nos por uma aventura daquelas que fazem suspirar, ao mesmo tempo que nos fazem recordar os grandes feitos nacionais e os homens e mulheres que viveram antes de nós e tiveram a coragem de arriscarm enfrentar o desconhecido e dominar o mar.

Outras opiniões a livros de Sandra Carvalho:
A Última Feiticeira (A Saga das Pedras Mágicas #1)
O Guerreiro e o Lobo (A Saga das Pedras Mágicas #2)
Lágrimas do Sol e da Lua (A Saga das Pedras Mágicas #3)
O Círculo do Medo (A Saga das Pedras Mágicas #4)
Os Três Reinos (A Saga das Pedras Mágicas #5)
A Sacerdotisa dos Penhascos (A Saga das Pedras Mágicas #6)
O Filho do Dragão (A Saga das Pedras Mágicas #7)
Sombras da Noite Branca (A Saga das Pedras Mágicas #8)
O Olhar do Açor (Crónicas da Terra e do Mar #1)
Filhos do Vento e do Mar (Crónicas da Terra e do Mar #2)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Opinião: Filhos do Vento e do Mar (Crónicas da Terra e do Mar #2)

Autor: Sandra Carvalho
ISBN: 9789722359924
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse:

Forçadas a fugir de Águas Santas para escapar à fúria de Tomás Rebelo, Leonor e Guida chegam ao porto de Lisboa e confrontam-se com Corvo, o famoso pirata sobre o qual se contam tantas lendas. Horrorizada com a descoberta de que é filha de Diogo, o Açor, Leonor decide disfarçar-se de rapaz quando Corvo a obriga a embarcar no seu navio, protegendo-se assim dos impulsos masculinos. Inconformada com o seu destino, Leonor resolve fazer tudo para escapar aos piratas. Porém, com o passar do tempo, sente a herança do Açor a despertar dentro dela. O segredo que ensombra o passado de Corvo começa a inflamar a curiosidade, enquanto estabelece amizade com os homens que tanto temia. Conseguirá ela regressar a Águas Santas e desmascarar a perversidade de Tomás Rebelo, ou o apelo da liberdade e aventura, conjugado com a vontade de conhecer o verdadeiro pai, tornar-se-á irresistível

Opinião:

Já disse noutras opiniões, mas repito: Sandra Carvalho é uma verdadeira contadora de histórias. Depois de um longo período de espera, finalmente chegou a continuação de O Olhar do Açor (opinião aqui). Filhos do Vento e do Mar começa no momento em que o primeiro volume terminou, e é curioso que, apesar de ter esperado mais de dois anos por este livro, consegui recordar bem a história e as suas personagens.

Assim que comecei esta leitura, recordei por que motivo gosto tanto de ler livros desta autora. Existe uma sensação de familiaridade e conforto. Não sei se é por o estilo de escrita me fazer recordar contos de fadas ou pela forte presença da história e cultura portuguesa, mas a verdade é que esta sensação está presente em cada página. Isto já é algo que marca pela diferença.

Leonor, a protagonista que no livro anterior tanto me tinha cativado, surge de forma um pouco diferente neste volume. Ao início, consegui perceber o motivo de algumas das suas decisões, mas não as aceitei bem. Isso aconteceu devido à forma como ela agiu perante as novas circunstâncias que encontrou. Contudo, tudo faz sentido no enquadramento da história. Só que, como eu sabia o que estava do outro lado, custou-me um pouco mais vê-la a ir por certos caminhos.

A figura de maior destaque desta obra acaba por ser Corvo. Adorei a construção deste homem do mar que aparenta uma imagem para depois se desvendar alguém com bom fundo. A forma como ele equilibrava a sua força de chefe com o carinho que nutre pelos que ama fazem com que seja difícil adivinhar a forma como ele vai reagir a cada momento. O grupo que ele comanda consegue ser diversificado e divertido. Já Guida, a grande companheira de Leonor, acaba por ficar um pouco aquém do que lhe era esperado, o que faz pensar sobre até onde pode ir a amizade.

Conhecer mais do que uma percepção acabou por ser tanto importante como até frustrante. Mas atenção, não digo isto em sentido depreciativo, pois esta sensação é gerada pela vontade de que segredos sejam descobertos e mal-entendidos sejam desfeitos. Desta forma, dei por mim a querer sempre saber o que acontecia a seguir e a deliciar-me com certas ocasiões em que quase tudo era colocado em causa.

A narrativa avança a um bom ritmo e é sempre apelativa. Li o livro com rapidez e vontade. A direcção da trama faz sentido, proporciona conhecimento sobre eventos passados e que são relevantes, e ainda revela um novo vilão que promete dar que falar. Não senti aborrecimento em nenhum momento e foi difícil largar o livro.

A maior parte da acção acontece a bordo de um navio. Confesso que, quando isto acontece, costumo sentir-me um pouco intimidada, pois sei que vou encontrar com uma série de conceitos que não domino. Contudo, a autora preocupou-se não só com a pesquisa sobre esta área como também em explicar cada termo de uma forma directa e fácil de ser entendida. Assim sendo, a meio da leitura dei por mim a entender tudo o que estava a ser descrito.

Terminada a leitura, fica a vontade de que o verão chegue depressa. Afinal, a autora já revelou que o último volume desta história poderá ser publicado em Junho. Eu continuo bem impressionada com esta saga e estou muito curiosa para conhecer o seu desfecho. Se gostam de livros que fazem sonhar e de aventuras que misturam magia com história, então não vão querer perder este.

Outras opiniões a livros de Sandra Carvalho:
A Última Feiticeira (A Saga das Pedras Mágicas #1)
O Guerreiro e o Lobo (A Saga das Pedras Mágicas #2)
Lágrimas do Sol e da Lua (A Saga das Pedras Mágicas #3)
O Círculo do Medo (A Saga das Pedras Mágicas #4)
Os Três Reinos (A Saga das Pedras Mágicas #5)
A Sacerdotisa dos Penhascos (A Saga das Pedras Mágicas #6)
O Filho do Dragão (A Saga das Pedras Mágicas #7)
Sombras da Noite Branca (A Saga das Pedras Mágicas #8)
O Olhar do Açor (Crónicas da Terra e do Mar #1)

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Opinião: Os Imperfeitos (#1)

Título Original: Flawed (2016)
Autor: Cecelia Ahern
Tradução: Maria João Freire de Andrade
ISBN: 9789722359658
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse:

A vida de Celestine North é perfeita. Filha e irmã modelo, é muito popular junto dos colegas e professores e namora com Art Crevan, um dos rapazes mais encantadores da escola.
Mas Celestine vê-se confrontada com uma situação à qual reage por instinto, levada pela bondade. Quebradas as regras, terá de lidar com as consequências. Pode ser presa. Pode ser marcada a ferro quente. Podem obrigá-la a juntar-se às fileiras dos Imperfeitos.
Os Imperfeitos é um romance estonteante em que a autora bestseller Cecelia Ahern retrata uma sociedade em que a perfeição é essencial e em que a imperfeição é punida de forma exemplar, abordando temas atuais e complexos como o racismo, o bullying, a justiça, a verdade e a solidariedade.

Opinião:

Conhecia Cecelia Ahern, autora de livros como  P.S. - Eu Amo-te e Para Sempre, Talvez, de história românticas, foi por isso com surpresa que vi que a autora tinha publicado uma distopia destinada ao público jovem-adulto. Contudo, estes rótulos são sempre ingratos, pois muitas vezes não refletem a verdadeira dimensão de um livro. Garanto-vos que Os Imperfeitos é uma leitura destinada a todos, com uma mensagem forte e que, infelizmente, hoje parece estar a ser esquecida.

Logo no início, somos apresentados a uma sociedade que parece ter muitos pontos em comum com a nossa, mas também com fortes disparidades. É sugerido que a cação decorre num futuro não muito distante, numa fase que sucede uma forte crise. Nesta sociedade, existe o entendimento de que a paz, harmonia e prosperidade apenas poderá existir se as pessoas forem moldadas segundo padrões de perfeição. É curioso que, tal ideia, pode não parecer dramática, afinal, todos queremos ser o melhor que conseguimos, mas a verdade é que conforme a vamos explorando acabamos por perceber as suas fraquezas. Perante tal premissa, o leitor é levado, então, a pensar no que torna o ser humano perfeito ou não, ou se até mesmo tal conceito existe.

Perante isto, uma livro que, inicialmente, poderia sugerir a ideia de mais uma aventura distópica onde o amor adolescente tem papel central, acaba por se tornar numa obra forte que aborda temas como o preconceito, racismo, solidariedade, compaixão e bullying. Tudo isto é-nos apresentado através da experência da protagonista, Celestine, uma jovem que acreditava encaixar-se nos padrões exigidos, mas que acaba por perceber que existem fortes falhas na exigência de perfeição e na discriminação do outro.

Confesso que não simpatizei imediatamente com Celestine. Contudo, também penso que não era isso que a autora pretendia. Afinal, ela, numa fase inicial, representa os jovens que se encaixam num padrão que é bem visto pelos outros e que acaba por agir conforme aquilo que sabe que lhe é esperado. Mas um determinado evento leva-a a fugir das normas, e isso acaba por desencadear uma série de eventos cuja gravidade cresce como uma bola de neve. Perante isto, e sobretudo perante a descoberta do sentido crítico da protagonista e das suas demonstrações de coragem, esta figura torna-se cativante. Gostei do contraste que existia entre ela e a irmã e ainda da forma como elas evoluíram ao longo da narrativa.

Li o livro com rapidez, impressionada com as provações de Celestine e curiosa para saber como ela iria agir conforme novos obstáculos foram surgindo. Os momentos de prisão e as reações que existiram na escola foram aquelas que mais me marcaram. Também existe uma componente romântica, mas esta não toma o foco da narrativa, o que é um bom equilíbrio.

A história de Celestine faz-nos pensar nas vezes em que nos deparámos com injustiças mas que achámos melhor não interferir.  Afinal, esta tendência para ignorar o que de incorrecto encontramos pode estar a ajudar no crescimento de algo que condenamos. Faz-nos pensar no quantas vezes erramos por não agirmos. Esta mensagem, nos tempos que correm, é de grande relevância.

Os Imperfeitos apresentou-me uma história mais forte e cativante do que estava à espera. Apreciei bastante esta leitura, tanto pela componente de entretenimento como pela mensagem que passou. A forma como a obra termina deixa vontade para que o próximo volume chegue rapidamente. Aconselho a leitura.

Outras opiniões a livros de Cecelia Ahern:
Para Sempre, Talvez

quarta-feira, 8 de março de 2017

Opinião: A Última Estrela (A 5ª Vaga #3)

Título Original: The Last Star (2016)
Autor: Rick Yancey
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722359634
Editora: Editorial Presença (2017)

Sinopse: 

O inimigo já não é o mesmo. O inimigo somos nós. Eles estão entre nós, eles estão sobre nós, eles não estão em lado nenhum. Querem a Terra, mas querem que seja nossa. Vieram para nos dizimar, mas querem salvar-nos. Porém, sob estes enigmas esconde-se uma verdade: Cassie foi traída. E também o foram. Ringer. Zombie. Nugget. E todos os sete mil milhões e meio de pessoas que viviam no nosso planeta. Primeiro traídos pelos Outros e depois por nós próprios. Nestes últimos dias, os sobreviventes terão de decidir o que é mais importante: salvar-se… ou salvar o que nos torna humanos.

Opinião:

Começar a leitura do último livro de uma trilogia ou saga é algo que é sempre feito num misto de entusiasmo e nostalgia. E também de expectativa e receio quanto à conclusão. Felizmente, A Última Estrela conseguiu surpreender-me e tornou-se no meu livro preferido da trilogia "A 5ª Vaga". Rick Yancey guardou bons trunfos para o fim.

Numa história repleta de acção, o autor fez-nos pensar sobre o que nos torna humanos, sobre os nossos limites para garantir a sobrevivência e sobre a força das relações nos seus diferentes sentidos. Tudo isto levou-me a ler este livro num ápice. Desta vez, não senti qualquer estranheza ao voltar a entrar neste mundo, apesar de Rick Yancey não fazer qualquer retrospectiva para nos recordar o que aconteceu nos dois volumes anteriores. O ritmo da narrativa é rápido e apresenta pontos de vista distintos, o que faz com que as motivações de diferentes personagens e a forma como encaram as outras é facilmente apreendido.

Cassie, Ringer e Zombie foram as personagens que mais me chamaram a atenção. Cassie passa por uma verdadeira transformação. Pode não ser uma rapariga fácil de gostar e por vezes parece demasiado dramática, mas as suas decisões são tomadas pelo coração e consigo identificar-me com isso. Gostei muito da forma como Cassie terminou a sua história, dando força ao conceito de humanidade. Ringer é uma personagem verdadeiramente feita por camadas e é fascinante assistir à forma como se entrega por uma causa maior em detrimento de si própria. Por tudo isto, Ringer é quem mais se destaca. Já sobre Zombie, gostei da sua entrega aos companheiros e do facto de não ter perdido o seu humor. É ainda curioso verificar como o autor adaptou a linguagem utilizada mediante os capítulos de cada uma destas personagens.

Acompanhamos estas figuras em diferentes situações e em diferentes locais, não havendo tempo para momentos mais aborrecidos. Sente-se a tensão e o perigo constante. Gostei também que Vosh, o vilão, não fosse cruel sem causa, mas que acreditasse que as suas ações faziam sentido tendo um vista um suposto bem maior. Contudo, gostaria de ter conhecido melhor o que estava atrás desta figura, pois as noções que foram dadas pareceram-me vagas.

Se os livros anteriores levantaram imensas questões e fizeram sempre duvidar sobre o que realmente estava por trás de todos estes acontecimentos apocalípticos, agora são dadas respostas. Confesso que estava à espera de uma outra solução, mais trágica, mas esta acabou por ser fundamentada. A história faz pensar sobre o facto de a humanidade não se distinguir apenas pela inteligência, mas sobretudo pelos sentimentos e emoções que nos unem.

A Última Estrela tornou-se no meu livro preferido da trilogia "A 5ª Vaga". A história é intensa e agarra, as perguntas encontram as suas respostas, há reviravoltas inesperadas e somos levados a pensar sobre o valor da vida e sobre a importância das relações para o bem comum. Rick Yanvey surpreendeu-me.

Outras opiniões a livros de Rick Yancey: 
A 5ª Vaga (A 5ª Vaga #1)
O Mar Infinito (A 5ª Vaga #2)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Opinião: Harry Potter e a Criança Amaldiçoada - Partes Um e Dois (#8)

Título Original: Harry Potter and the Cursed Child - Parts One and Two (Special Rehearsal Edition Scrip) (2016)
Autor: J. K. Rowling, Jack Thorne e John Tiffany
Tradução: Marta Fernandes e Helena Sobral
ISBN: 9789722359054
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse: 

A oitava história. Dezanove anos depois. Baseada numa história original de J.K. Rowling, John Tiffany e Jack Thorne, "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada" - a nova peça de teatro de Jack Torne -, cuja estreia mundial decorreu no West End em Londres no passado dia 30 de Julho, é a primeira história oficial de Harry Potter a ser apresentada em versão teatral. Foi sempre difícil ser Harry Potter e não é mais fácil agora que ele se tornou num muito atarefado funcionário do Ministério da Magia, casado e pai de três crianças em idade escolar.Enquanto Harry luta com um passado que se recusa a ficar para trás, o seu filho mais novo, Albus, tem de se debater com o peso de um legado familiar que nunca desejou. Quando o passado e o presente se cruzam, pai e filho confrontam-se com uma desconfortável verdade: por vezes as trevas vêm de lugares inesperados.

Opinião:

Não é segredo para quem segue o meu blogue: sou fã da série "Harry Potter". Grande fã! Como tal, fiquei muito feliz quando soube que a autora tinha decidido voltar a pegar nas personagens que tanto me conquistaram para fazer uma peça de teatro que conta o que aconteceu anos depois dos eventos do sétimo livro. Fiquei ainda mais feliz quando foi confirmado que o guião da peça ia ser publicado. E muito mais quando a Editorial Presença confirmou ter adquirido os direitos da obra. Claro que, assim que o livro chegou às livrarias, tive de o ter nas minhas mãos e devorá-lo (não ler, mas devorar).

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada  deixou-me de coração cheio. É verdade que o tipo de escrita se afasta em muito dos livros da série principal, afinal, trata-se de um guião e não de um romance. Porém, os elementos que tanto me agarraram nos outros livros estão todos lá. A mensagem é forte e volta a apelar ao poder da amizade, união, amor e compreensão. A magia continua a maravilhar e a fazer-nos desejar saltar para aquele mundo. As personagens antigas são como velhos amigos que voltamos a encontrar, enquanto as novas são figuras com quem é fácil criar laços. O lado negro está sempre presente e recorda-nos que a vida tem várias facetas e muitos obstáculos a serem ultrapassados. E existem tantos, mas tantos momentos que me deixaram com um sorriso nostálgico....

É tão divertido ver Harry, Hermione, Ron e Draco como adultos. A essência de cada um está presente, mas nota-se uma evolução. De todos, acabei por ficar mais impressionada com Draco, uma personagem que já me fez nutrir sentimentos tão diferentes. Gostei que Harry mostrasse que há traumas que não são ultrapassados facilmente e que o medo nos pode levar a cometer erros que poderiam facilmente ser evitados. Em Hermione ficou evidente a sua capacidade de liderança que era latente na infância e juventude e foi muito divertido perceber que ela não perde alguns dos seus traços. Fiquei com pena que Ron se limitasse tanto a uma função cómica, mas, apesar disso, as suas intervenções faziam sempre rir.

Entre as novas figuras, destaca-se Albus e Scorpius. É engraçado que o primeiro faça lembrar tanto Harry na sua fase de rebeldia. Só que, enquanto com Harry eu sabia o que se estava a passar e partilhava com ele a sua dor, com Albus é mais complicado de aceitar pois a sua evolução é apresentada de forma rápida e superficial. Nem sempre o compreendi, mas sempre desejei que encontrasse o seu caminho. Já Scorpius conseguiu conquistar-me facilmente. Adorei-o! A sua realidade comove, e o facto de encarar tudo com tanta bravura fez-me ficar sempre a torcer por ele.

A história é apelativa e tem um encadeamento ritmado. Tornava-se tão difícil parar de ler! Por se tratar de uma peça, a ação é constante. Além disso, os autores fizeram a opção deliciosa de apresentar uma história nova que está intimamente entrelaçada naquela que já é nossa conhecida. As viagens no tempo e as visitas a momentos tão marcantes dos livros anteriores fizeram-me sentir em casa. Além disso, tal permitiu que voltasse a encontrar personagens já perdidas mas que, mesmo assim, têm algo para ensinar. Maravilhoso!

Não posso negar que preferia que a autora tivesse tido a possibilidade de adaptar a peça a um romance, afinal, acredito que isso iria dar ainda mais força à trama. Mas fico feliz por a história estar, assim, disponível para todos nós. Além disso, o essencial está lá. Enquanto lia, não conseguia parar de imaginar como aqueles momentos seriam apresentados em palco. A trama está pensada para esse tipo de apresentação, daí conseguir entender o motivo pelo qual se optou por não se fazer a adaptação do guião.

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada apresenta uma bela história. É fantástico ver aquelas personagens jovens com as quais cresci a enfrentarem o mundo dos adultos, nomeadamente no que toca à paternidade. Além disso, esta trama justifica certas decisões de J. K. Rowling, pois uma pequena alteração poderia transformar por completo o destino deste mundo. Terminada a leitura, fica a vontade de ir a Londres assistir às duas partes desta peça. Fãs de "Harry Potter", se ainda não pegaram neste livro, façam-no o mais rápido possível.

Outras opiniões a livros de J. K. Rowling:
Harry Potter e a Pedra Filosofal (#1)
Harry Potter e a Câmara dos Segredos (#2)
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (#3)
Harry Potter e o Cálice de Fogo (#4)
Harry Potter e a Ordem da Fénix (#5)
Harry Potter e o Príncipe Misterioso (#6)
(pseudónimo Robert Galbraith)
Quando Cuco Chama (Cormoram Strike #1)

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Opinião: Para Sempre, Talvez

Título Original: Where Rainbow End (2004)
Autor: Cecelia Ahern
Tradução: Maria de Almeida
ISBN: 9789722334624
Editora: Editorial Presença (2005)

Sinopse: 

Com grande perspicácia e originalidade, Cecelia Ahern conta-nos a história envolvente de um amor contrariado por um destino que teima em brincar com os seus dois protagonistas. Alex e Rosie atravessaram a infância e a adolescência juntos, mas quando chega o momento de começarem a descobrir as alegrias das noites na cidade e das primeiras aventuras amorosas, o destino resolve pregar-lhes uma partida ao colocar entre os dois a vastidão do oceano Atlântico, quebrando, assim, a evolução natural e espontânea de uma relação de amizade para algo mais profundo. Mas poderão o tempo, a distância e o próprio destino ser mais fortes que um grande amor?

Opinião:

Regra geral, prefiro ler o livro antes de ver o filme. Mas aconteceu o contrário com Para Sempre, Talvez. A obra de Cecelia Ahern nunca me tinha chamado a atenção, mas depois de ver e gostar da película com Lily Collins e Sam Claflin nos principais papéis, fiquei com vontade de começar a leitura. Não vou dizer qual é melhor, se o livro ou o filme, pois esta não é uma opinião comparativa. Mas posso sim dizer que não fiquei tão agradada quanto imaginei que iria ficar.

No início, fiquei logo a torcer o nariz. Estava à espera de um texto narrativo comum, que acompanhasse certos momentos e pensamentos de Rosie e Alex. Em vez disso, a história é exposta através de bilhetes, mensagens, e-mails, cartas e postais. Não gostei desta opção porque senti que estava a perder os eventos que realmente importavam. Também não percebi o motivo para . Além disso, não consigo imaginar alguém que passe tantos anos a comunicar sempre dessa forma. Numa era em que todas as pessoas têm telemóvel e em que há videochamadas, custou-me a acreditar que certas informações fossem transmitidas por mensagens instantâneas. E já que menciono as mensagens instantâneas, como é possível que o discurso de alguém seja interrompido através desta forma de comunicação? Não sei, mas a autora fez isso em diversos momentos.

Já resignada a esta forma de escrita, comecei a tentar apreciar a história de amor. Não deixa de ser engraçado ver como duas pessoas não compreendem a dimensão dos sentimentos que têm uma pela outra. Isto fez com que, ao início, achasse graça à ingenuidade de ambos, assim como às reviravoltas do destino que os parecia afastar. Porém, a certo ponto, comecei a sentir-me cansada e frustrada por estas duas figuras nunca conseguirem expor os seus sentimentos e lutarem por eles. É uma indecisão que dura muitos anos, mais do que aqueles que eu estava à espera.

Não fiquei completamente encantada com Rosie ou Alex. Sim, são personagens que têm bom coração, são divertidas e fazem pensar no quão importante é percebermos quais são os nossos reais sentimentos e desejos e em como é preciso ter coragem para assumi-los. Porém, o facto de viverem tanto tempo num impasse fez-me sentir frustração e a, por diversas ocasiões, querer entrar no livro para os abanar ou gritar com eles. Entre as personagens secundárias, destaco Katie por adorar a forma como sempre defendeu a mãe e por estar disposta a arriscar para ser feliz.

Gostei que a autora tivesse mostrado os altos e baixos de uma vida, que mostrasse que, por mais planos que sejam projetados, nada acontece quando imaginamos. Como tal, é preciso que sejamos capazes de nos moldar às adversidades e novos desafios. Algo considerado terrível por vir a ser visto, mais tarde, como uma oportunidade. E também é verdade que a recompensa por der melhor do que aquela que esperávamos. E é junção de tudo isto que nos faz evoluir.

Para Sempre, Talvez não me fez suspirar e rir como imaginei que ira fazer. É um livro que, depois de me ter habituado à forma como a história é contada, se tornou agradável de ler. Porém, tem muitos momentos que causam frustração. Cecelia Ahern faz pensar sobre a vida, sobre como as nossas decisões são poderosas e sobre como é importante sermos fiéis a quem somos e aos nossos desejos. Afinal, esse o caminho para alcançar a felicidade.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Opinião: Cinzas de um Novo Mundo

Autor: Rafael Loureiro
ISBN: 9789722358395
Editora: Editorial Presença

Sinopse:

Em 2111, o mundo vive enclausurado numa nuvem de poluição. Portugal não foge à regra. As pessoas debatem-se nas ruas da capital por ar puro e dignidade. Os Tecnal, soldados com implantes mecânicos, foram proscritos pela sociedade estratificada, mas uns quantos sobreviveram , perseguidos por uma polícia especial e dependentes de uma droga potente. Filipe, agente desta força policial, está dividido entre seguir a lei ou o instinto. Embrenhado naquele submundo, cedo descobre que os Tecnal podem ser a chave para uma verdade maior. A ele juntam -se personagens surpreendentes e fortes, perdidas na ambiguidade da sua própria condição.

Opinião:

Quem segue este blogue, sabe que sinto-me sempre atraída por distopias. Por isso, quando soube que o novo trabalho de Rafael Loureiro enquadrava-se neste género e, ainda para mais, se passava na capital portuguesa, soube que tinha de ler este livro. Cinzas de um Novo Mundo transporta-nos para um ambiente negro e apresenta uma Lisboa completamente diferente daquela que hoje conhecemos.

Logo no início, o autor faz uma breve explicação sobre o que aconteceu ao mundo. Percebe-se que houve um cuidado em justificar este futuro com base em elementos já nossos conhecidos. Como tal, é feita uma chamada de atenção para a consequência de certas ações sobre aquilo que tomamos por garantido. Refiro-me à saúde do planeta, tal como está explícito na sinopse, mas também à globalização, comunicação, democracia. Gostei deste cenário, que me pareceu muito bem pensado.

Filipe é a figura central desta história. Agente policial, é um dos poucos homens íntegros que ainda acredita no papel da justiça. Personagem mais ligada a momentos de ação, acabo por nos levar numa viagem que cativa e faz a leitura avançar a um bom ritmo. Porém, gostaria que tivesse uma personalidade menos "dura", pois acabei por não sentir grande empatia por ele. Também Helena, a figura feminina desta obra, não me cativou por completo.

Por outro lado, ficava sempre entusiasmada quando surgiram capítulos dedicados aos Tecnal. Estes seres originais tiveram todo o meu interesse. Queria sempre saber mais sobre eles, sobre como surgiram, sobre o seu passado, as suas intenções, as suas capacidades extraordinárias. Tauro é uma lufada de ar fresco, é a figura que introduz momentos de humor, apesar da sua condição. Já Kura representa o lado espiritual da obra, e só tive pena de não o ter ficado a conhecer tão bem quanto queria.

Quero ainda enaltecer a presença de figuras que vão ser reconhecidas por quem leu os livros anteriores de Rafael Loureiro, pertencentes à Trilogia Nocturnus. Esta inserção poderia ter sido forçada, mas acabou por funcionar muito bem. Não é uma presença sem sentido, mas sim um complemento que acaba por ligar de forma harmoniosa dois mundos que parecem ser tão diferentes.  Além disso, acredito que quem não leu esses livros e gostou deste vai ter vontade de conhecer melhor estes Nocturnus.

O início da leitura pode ser um pouco lento, mas quando a intriga começa a complicar-se, existe uma grande vontade de chegar ao fim do livro de forma a obter todas as respostas às questão que nos vão surgindo. Percebe-se que este foi um livro pensado e existem surpresas inesperadas. O final está bem conseguido e é bastante satisfatório. Mais uma prova de que também se escreve bem e que existem ideias originais no nosso país.

Saiba mais sobre este livro aqui.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Opinião: A Rainha de Tearling (#1)

Autor: Erika Johansen
Título original: The Queen of the Tearling (2014)
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722357937
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Durante dezoito anos, o destino de Tearling ficou nas mãos do Regente, manipulado pela Rainha Vermelha, uma feiticeira implacável que governa o reino vizinho de Mortmesme. Porém, Kelsea Glynn, sobrinha do Regente, é a legítima herdeira do trono. Quando completa dezanove anos, está pronta para reclamar o que é seu - e assim regressa do exílio com o objetivo de tornar Tearling um reino livre de pobreza, opressão e escravatura. Mas Kelsea é jovem, ingénua e cresceu longe da corrupção e dos perigos que assolam o reino. Cedo lutará pelo trono e pela própria sobrevivência, num caminho de crescimento em que aprende a lidar com uma herança muito pesada.
Será Rainha se sobreviver para reclamar o trono.

Opinião:

Primeiro volume de uma série de fantasia, A Rainha de Tearling prendeu a minha atenção logo nas primeiras páginas. Erika Johansen, a autora, apresenta este mundo novo e, apesar de tudo ser novidade e fictício, senti que tudo o que estava a ser narrado poderia realmente acontecer. Nada é fácil e simples nesta história, tudo tem um outro lado e em momento algum conseguimos perceber qual é a verdadeira face de cada uma das figuras que desfilam ao longo da trama.

Kelsea é a protagonista desta história. Por ser uma rapariga tão jovem e por se ter mantido afastada da corte durante toda a vida, tive receio de que esta figura se revelasse ingénua e idealista e que, por isso, toda a narrativa acabasse contagiada por este tom. Felizmente, fiquei muito agradada ao perceber que tal não aconteceu. Kelsea é jovem e, é verdade, agarra-se muito aos seus sonhos de infância, Mas não é uma tolinha. Muito pelo contrário. Gostei bastante da sua capacidade de adaptação, da sua abnegação, da sua coragem, da sua força e do facto de ser capaz de reconhecer as suas fraquezas. É possível perceber a sua passagem de menina para mulher.

O surgimento de Kelsea na corte faz com que sejam muitos os perigos e armadilhas que a cercam. Desta forma, esta sociedade torna-se mais interessante e real. É assim que percebemos os jogos de interesses que sufocam Tearling. Além disso, somos ainda recordados para o facto de que poucos podem prejudicar muitos por razões mesquinhas. E quando tal acontece, não existe evolução, prosperidade ou paz. A protagonista choca com esta realidade e acaba por ser vista pela população como uma promessa de salvação.

E se Kelsea é uma heroína interessante e bem conseguida, as personagens secundárias da obra não lhe ficam nada atrás. Erika Johansen conseguiu com que esta história ficasse muito rica graças a todo este conjunto de figuras que estão longe de serem evidentes a uma primeira análise. A maior parte da ação é narrada na terceira pessoa e sob o ponto de vista da protagonista e, como tal, não é fácil perceber se ela deve ou não confiar nas outras personagens que vão surgindo. É engraçado perceber que a primeira impressão com que fiquei de cada uma destas figuras acabou por se revelar diferente da que permaneceu no final. Entre as minhas preferidas, destaco Lazarus, o Rapina e Andalie.

A Rainha Vermelha, a grande opositora de Kelsea, possui capítulos dedicados ao seu ponto de vista. Senti curiosidade de ver este outro lado, mas também é verdade que esperava um pouco mais. Não é fácil perceber o que motiva esta vilã e essa explicação é importante para dar força às suas ações. Fica a ideia de que há um passado que pode suportar tudo isto, mas este não é exposto, pelo menos por enquanto. Sendo assim, parece que ela é uma tirana sádica apenas porque sim, e isso não é suficientemente forte.

Quero ainda deixar notar que, apesar de este mundo parecer ter inspiração medieval, foi com surpresa que percebi ao longo da leitura que, afinal, se trata de um cenário que supostamente se encontra no futuro. Fica a ideia de que algo aconteceu e que a humanidade regrediu aos tempos da Idade das Trevas. Não existe tecnologia, mas a magia está presente, apesar de ser rara. A religião dominante tem bases no Cristianismo e a organização social faz lembrar a hierarquia feudal. Os livros são uma raridade, mas é com ternura que nos apercebemos de títulos tão nossos conhecidos entre os poucos volumes que existem.

Quando acabei de ler A Rainha de Tearling, senti que precisava de mais e desejei pegar no volume que se segue a este. Isto aconteceu porque estava a gostar muito da leitura, mas também por sentir que este livro serviu mais como introdução e que a parte mais forte da história ainda está para chegar. Além disso, fiquei com a ideia de que as grandes revelações vão ser muito surpreendentes.

Com um ambiente negro, uma heroína cativante, personagens secundárias fortes e uma sociedade que parece real, este é o início de uma trilogia que promete. Erika Johansen conseguiu fazer com que eu ficasse interessada em conhecer os volumes que se seguem. Recomendo.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Opinião: Uma Chama Entre Cinzas

Autor: Sabaa Tahir
Título original: An Ember in the Ashes (2015)
Tradução: Isabel Nunes
ISBN: 9789722357777
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Elias pertence aos Ilustres, as famílias da elite do Império. Desde os seis anos que treina na Academia Militar de Blackcliff para se tornar um dos soldados mais implacáveis ao serviço dos Marciais.
Laia pertence aos Eruditos, um povo oprimido pelo jugo firme dos Marciais. Quando o seu irmão é preso e acusado de traição, Laia procura a ajuda da Resistência. Em troca, tem de se infiltrar como escrava em Blackcliff.
Quando se conhecem, Elias e Laia percebem que as suas vidas estão interligadas — e que as escolhas de ambos podem mudar o destino do Império.
Este mundo ricamente detalhado, com traços da Roma Antiga, é o palco de uma aventura empolgante que tem cativado milhares de leitores.

Opinião:

Fiquei cativada por Uma Chama Entre Cinzas a partir da primeira página. Sabaa Tahir apresenta-nos uma história contada a duas vozes que é imaginativa, coerente, intrigante e muito apelativa. A leitura tem um início rápido e desde logo é possível perceber que vão existir muitos momentos de ação. Além disso, o ambiente e as personalidades das personagens são também pontos fortes deste livro que marca o início de uma saga que promete continuar a marcar pela diferença e qualidade.

Laia e Elias são as duas figuras centrais da narrativa. Desde logo, é curioso verificar que ambos representam partes diferentes desta sociedade onde os Ilustres subjugam os Eruditos. Com isto, é possível ter uma visão mais abrangente deste mundo, o que nos permite conhecer as disparidades existentes e querer saber mais sobre como tudo acabou por ficar neste estado. Além disso, observar o fosso social e as injustiças praticadas faz com que nós, leitores, sintamos piedade pelos que sofrem e desejemos o castigo de quem abusa do poder.

O facto de Laia e Elias pertencerem a realidades diferentes faz com que ambos tenham ganhado características distintas, mas é curioso verificar que, apesar de tudo, também há muito a uni-los. Isto explica-se pelo facto de ambos partilharem valores semelhantes. Com isto, a autora faz-nos refletir sobre a natureza humana e o facto de o Homem não ser apenas resultado do meio em que se encontra, mas também de muitas outras circunstâncias. Desta forma, Laia rebela-se e ganha coragem devido à vontade de encontrar o seu irmão e Elias sente piedade por ter tido uma infância com uma estrutura familiar baseada no amor.

Gostei de conhecer Laia, que acabou por se colocar numa situação de grande perigo por amor. A sua força é de louvar. Porém, não consegui deixar de me sentir um pouco irritada com a sua ingenuidade, apesar de tal ser a intenção da autora. Elias foi a figura de que mais gostei. O seu passado, as suas dúvidas, os sentimentos pela sua família de sangue, a sua ligação aos companheiros e o seu sentido de proteção conseguiram impressionar-me. Além disso, as provas em que se vê envolvido e a sua vontade de fazer a mudança pela sociedade fizeram-me admirá-lo e a desejar o seu sucesso.

Mas as personagens principais não são as únicas a fazer a história. As figuras secundárias também estão muito bem pensadas e enriquecem toda a obra. Sempre que Helene surgia, eu sentia-me atraída. Adorei a ligação que ela tinha com Elias e também o facto de sentir que dentro da sua mente existiam muitas dúvidas e questões, apesar de ser evidente que a fidelidade conseguia sobrepor-se a tudo. Quanto à Comandante, posso dizer que até sentia a frieza da sua presença, tão precisa era a sua descrição. Também Marcus conseguia fazer sentir-me repugnada, sendo que Izzi, por seu lado, despertava em mim um instinto de proteção.

Além de a ação acontecer num reino imaginário, existem muitas outras componentes fantásticas. Os Augures são o grupo que mais me chamou a atenção, porém, não existe muita informação sobre eles, e fica a vontade de perceber melhor quais são as suas funções e intenções. Também existem outras criaturas que têm rápidas aparições e que sugerem que existem forças muito poderosas que irão ser enfrentadas pelos nossos heróis.

A obra está muito bem escrita. Tem um bom ritmo, concilia bem os momentos de ação com os de reflexão e não se deixa cair em descrições excessivas. Os capítulos são intercalados com visões de Laia e Elias. Posso dizer-vos que, sempre que acabava um capítulo de Laia, eu ficava com vontade de voltar logo à visão dela. E curiosamente, quando a narração de Elias era interrompida, eu desejava ler depressa o de Laia para voltar à dele! As visões eram tão fortes que parar de ler tornou-se numa tarefa muito difícil.

Gostei muito de Uma Chama Entre Cinzas e mal posso esperar pelo próximo volume. Fica a ideia de que ainda há muito para explorar, assim como existem várias revelações a serem feitas. Apesar de ser considerada uma obra juvenil, tenho a certeza que apresenta vários elementos que irão agradar aos leitores adultos e mais experientes. Recomendo.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Opinião. Gregor - A Primeira Profecia (Underland Chronicles #1)

Autor: Suzanne Collins
Título original: Gregor the Overlander (2003)
Tradução: Jaime Araújo
ISBN: 9789722357111
Editora: Editorial Presença (2015)

Sinopse:

Enquanto escorrega pela conduta de ar atrás da irmã, Gregor suspira por mais uma peripécia na sua vida. Mas nada o preparou para a aventura que se segue. Debaixo da cidade esconde-se a Subterra, um mundo sombrio onde os humanos convivem com aranhas, morcegos, baratas e ratos gigantescos. A Subterra prepara-se para a guerra e uma profecia previu que ele mesmo, Gregor, desempenhará um papel importante. Gregor quer fugir, mas percebe que ali talvez possa desvendar o desaparecimento do pai.

Opinião:

Gregor - A Primeira Profecia é o primeiro livro de uma saga de autoria de Suzanne Collins. Mas engana-se quem pensa que esta é uma história semelhante à trilogia "Os Jogos da Fome"! É que para além de se tratar de uma trama interior à que tornou a autora mundialmente conhecida, é ainda destina a um público mais novo e decorre no tempo presente.

Quando comecei a ler este livro, a primeira sensação que tive foi de que esta seria uma leitura perfeita para a minha adolescência. Este era o género que eu tanto gostava de ler! Agora, o acumular de experiências faz-me querer embrenhar em histórias mais exigentes e desafiantes. Mas isso não quer dizer que não deixei de ficar encantada com as aventuras de Gregor, um menino muito corajoso e ligado à sua família.

Gregor é um rapaz que é dotado de uma personalidade que corresponde à sua idade e realidade. Gostei do facto de ele assumir certas responsabilidades, nomeadamente no que toca aos cuidados da sua irmã mais nova, Boots, mas aquilo que mais me chamou à atenção foi o facto de ele esconder as suas tristezas e revoltas para, em momentos de maior tensão, explodir. Isto faz dele humano. O facto de se arrepender e ser capaz de pedir desculpa mostra que tem bom coração. Trata-se, portanto, de um bom exemplo para os leitores da mesma faixa etária.

Quando conheci Boots, tive algum receio de que a autora exagerasse na linguagem de bebé e nas travessuras da menina. É verdade que alguns momentos estão muito próximos do ridículo, mas nunca chegam a passar essa linha. Boots torna-se, assim, na forma perfeita de quebrar momentos mais tensos graças ao humor que carrega. Relativamente às outras figuras, gostei que cada espécie da Subterra tivesse organização e cultura diferente, o que faz que seja com curiosidade que encontramos cada uma destas partes.

O desenrolar da história é muito rápido, cheio de peripécias, o que faz com que este livro seja lido com rapidez. Existe uma jornada a ser realizada para que os nossos heróis consigam alcançar um objetivo destinado ao bem-comum. É verdade que existem muitos momentos previsíveis, até porque ao lermos a profecia facilmente entendemos o que poderá vir aí, mas a conclusão guarda uma surpresa que faz pensar em discriminação e em como as aparências podem iludir.

Diverti-me muito com Gregor - A Primeira Profecia. Trata-se de um livro pouco exigente e que remete para o fim da infância. Apesar de se tratar de uma aventura simples e previsível, fez-me passar um bom momento. Além disso, tenho curiosidade de saber o que irá acontecer nos próximos volumes. Recomendaria este livros a jovens leitores que se sentem entusiasmados com o género fantástico, mas também a outros, que, tal como eu, gostam de viver novas aventuras em territórios diferentes e repletos de imaginação.

Outras opiniões a livros de Suzanne Collins: 
Os Jogos da Fome (Trilogia dos Jogos da Fome #1)
Em Chamas (Trilogia dos Jogos da Fome #2)
A Revolta (Trilogia dos Jogos da Fome #3)

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Opinião: O Filho Dourado (Trilogia Red Rising #2)

Título Original: Golden Son (2015)
Autor: Pierce Brown
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722357654
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Nascido Vermelho, Darrow trabalhava nas minas de Marte, suportando a dureza do trabalho enquanto sonhava com um mundo mais justo, uma sociedade livre da intriga e dos jogos de poder. Os Dourados, que escravizam e oprimem os restantes, só podem ser derrotados por uma rebelião das castas. Mas para que tal aconteça foi necessário que Darrow se tornasse num Dourado e, uma vez infiltrado, promovesse a revolta. Neste tão esperado segundo volume da trilogia Alvorada Vermelha, Darrow, agora um Dourado, vê-se confrontado com novos desafios. O seu sucesso atrai inimigos terríveis que usam a intriga e a política como arma. Porém, Darrow está determinado a defender o amor e a justiça, ideais seguidos por Eo, apesar de se saber rodeado por adversários sem escrúpulos que pretendem eliminá-lo.

Opinião:

Se querem ler um livro de ficção científica que tem um ritmo alucinante, muitas cenas de ação, personagens complexas e faz sentir um misto de esperança e perigo ao longo de toda a leitura, então O Filho Dourado é a escolha certa. Acreditem, existem fortes motivos para esta obra ter ganho o título de Melhor Livro de Ficção Científica 2015 pelo Goodreads.

Logo ao abrir o livro, existe índices que nos ajudam a recordar este mundo, a sua organização e as suas personagens, o que é muito útil. Assim sendo, quando a leitura começa, a nossa memória já está avivada e conseguimos entrar mais facilmente na trama. Um dos aspetos que reparei logo ao início é que este livro possui um cenário muito maior do que aquele que surgia em Alvorada Vermelha (opinião aqui), o primeiro volume da trilogia. Enquanto nesse existia uma visão mais restrita de certos locais, como as minas ou o campo onde aconteceu o torneio, agora viajamos pelo espaço e diferentes planetas.  Além disso, antes tudo não passava de um jogo. Era mortal, sim, mas ainda assim um jogo entre jovens que estavam minimamente equiparados. Agora existe um combate que alia poderes bélicos, políticos e económicos, havendo muito mais a perder e também a ganhar.

Darrow, o protagonista. possui os mesmo ideais mas está diferente. Os maiores objetivos deste rapaz vermelho que se faz passar por dourado permanecem inalterados, mas nota-se que luta com mais garra, além de que possui uma determinação e confiança mais acesa. Tal é fruto de tudo o que passou para se tornar um líder capaz de levar a cabo uma revolução. Gosto do facto de ele ser focado e ainda assim sentir empatia pelos que são mais fracos. Contudo, em diversos momentos achei-o ingénuo e não sei se ainda seria esperado.

Nós já sabemos que Darrow esconde um grande segredo, e que, por isso, usa várias máscaras, dependendo das pessoas com quem está. Porém, desta vez Pierce Brown mostrou que as outras personagens também podem não estar a revelar quem verdadeiramente são e quais são as intenções que têm. Como tal, existem muitas figuras que nos surpreendem, quer seja por bons como por maus motivos. Isto leva-nos a ficar desconfiados e a temer quando o protagonista se apoia demasiado em alguém que podemos não ver com bons olhos.

Entre as figuras secundárias, gosto de Mustang pelo que representa, mas não sei se desta vez a química que existe entre ela e Darrow foi bem transmitida. Sevro conquistou-me, mais uma vez, e em muitos momentos é uma lufada de ar fresco. Esperava ter visto mais de Cassius, mas percebo o motivo para tal não ter acontecido. O Chacal nunca deixou de me causar repulsa. Gostei muito de conhecer Ragnar e Orion, acredito que são duas figuras que vão dar que falar no próximo volume, pois acabam por representar pessoas que rompem com o que é esperado das cores que representam, algo que dá força à luta de Ares.

Este é um livro com muitos momentos de ação, o que ajuda a que o ritmo da leitura seja rápido. Porém, certos momentos podem não estar bem explicados. Curiosamente, entre cada uma destas cenas, surgem muitas reflexões do protagonista que justificam a evolução a que estamos a assistir. As que mais gostei estão relacionadas com o facto de muitas vezes entendermos os outros de uma forma superior àquele que eles são devido aos sentimentos que nutrimos por eles, e ainda uma outra que está associada ao facto de termos de dar um pouco de nós para recebermos a confiança dos que nos rodeiam em troca. Mensagens importantes para a obra e que fazem o leitor transportá-las para a sua própria vida.

A inspiração em Roma Antiga é uma constante nesta leitura e o autor consegue ligar muito bem esta época história com uma trama futurista. O final, desta vez, deixou-me bem surpreendida e com imensa vontade de pegar no último volume da trilogia. Tenho algumas ideias do que poderá vir a acontecer, mas nem consigo adivinhar a forma como Pierce Brown irá dar a volta à situação que criou. Mais uma vez fiquei rendida à escrita e imaginação do autor. Mal posso esperar para saber o final que ele está a preparar!

Outras opiniões a livros de Pierce Brown:
Alvorada Vermelha (Trilogia Red Rising #1)