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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Opinião: Rainha do Ar e das Trevas (Os Artifícios Negros #3)

Título Original: Queen of Air and Darkness (2018)
Autor: Cassandra Clare
ISBN:  9789897772221
Editora: Planeta (2019)

Sinopse:
Sangue inocente foi derramado nos degraus do Conselho, a fortaleza sagrada dos Caçadores de Sombras. Na esteira da trágica morte de Livia Blackthorn, a Clave está à beira da guerra civil. Uma parte da família foge para Los Angeles com o intuito de descobrir a origem da doença que está a destruir os feiticeiros.

Julian e Emma tomam medidas desesperadas para empreenderem uma perigosa missão a Faerie para recuperar o Livro Negro dos Mortos. Mas o que encontram é um segredo que pode dilacerar o Mundo das Sombras e abrir um caminho demasiado sombrio.

Numa corrida contra o tempo Emma e Julian têm de salvar o Mundo dos Caçadores de Sombras antes que o poder mortal dos parabatai os destrua e a todos os que amam.

Opinião:

Quem acompanha o blogue sabe que adora os livros relacionados com Caçadores de Sombras Cassandra Clare. Como tal, claro que estava ansiosa por ler o último volume da trilogia "Os Artifícios Negros". Rainha do Ar e das Trevas surge numa edição que enche logo os olhos. É que além da capa lindíssima, as mais de 700 páginas dão-nos a entender que vem aí mais uma história envolvente e muitas novas informações. Talvez as minhas expectativas estivessem demasiado elevadas...

As primeiras páginas foram algo confusas. Li a volume anterior desta historia, Senhor das Sombras, em 2017, ou seja, quase há dois anos. Por isso mesmo, sentia necessidade de uma leve recordações dos últimos acontecimentos e das personagens. É que esta nova parte da história retoma o desfecho do livro anterior, o que faz com que a narrativa inicia logo a um ritmo rápido. E com muitas figuras intervenientes. Deu para lembrar o ponto da situação, mas procurei um anexo com descrição rápida das personagens de modo a conseguir voltar a ligar os nomes à ideia que tinha de cada uma. Demorei um pouco neste processo e senti-me algo perdida em alguns momentos.

Passados os primeiros capítulos, senti-me bem encaminhada para uma leitura rápida e interessada. Vemos os nossos heróis envoltos em diferentes problemáticas. Por um lado, Julian e Emma estão devastados com o que aconteceu a Livvy e procuram vingança. Ao mesmo tempo, percebem que a Clave está a seguir um caminho perigoso que poderá ameaçar Caçadores de Sombras e outros seres e ainda têm de lidar com a doença misteriosa que está a afetar os feiticeiros. Isto tudo enquanto tentam escapar à maldição dos parabatai que se apaixonam.

Mas as 700 páginas não são apenas focadas nas aventuras e problemas do casal protagonista. Outras personagens voltam a ter destaque e a terem capítulos que lhes são completamente dedicados. Isto sendo que cada núcleo tem também os seus desafios próprios. Como podem ver, sim, o livro é grande mas tem muitos assuntos a serem abordados. Portanto esta é uma leitura que ocupa tempo, mas que não é aborrecida. Há sempre muito a acontecer.

A trama central passa por momentos muito distintos e reviravoltas. Algumas delas são bem interessantes, tal como a visita de a uma realidade paralela ou a reflexão sobre o que nós seríamos se eliminássemos o amor da nossa vida. Contudo, gostaria de ter visto uma maior consistência em tudo o que é relatado, uma vez que alguns momentos parece que nada acrescentaram ao plano geral dos acontecimentos. Quando aos enredos secundários, apreciei a forma como Ty lidou com o seu luto e a forma como a dor foi exposta de uma forma tão diferente, tendo em conta o seu transtorno.

Era uma grande fã do triângulo Cristina, Mark e Kieran, mas não fiquei convencida com os desenvolvimentos feitos neste núcleo. Os capítulos que lhes são dedicados pouco acrescentam ao geral da situação. Além disso, o desfecho que lhes é dado pareceu-me algo forçado na necessidade da autora de tornar a sua história o mais inclusiva possível. Senti o mesmo com o caso de Diana, que era uma figura que parecia mais revelante para a trama, mas que, no final, pareceu servir apenas para servir um propósito de inclusão. É claro que Cassandra Clare se sentiu impelida a criar um mundo onde abordava várias questões relacionadas com sexualidade e identidade de género. Tudo certo em alguns casos, que pareceram naturais, mas houve outros que mais parecem uma obrigação.

A minha parte preferida de Rainha do Ar e das Trevas é a analogia que a autora faz entre os acontecimentos centrais na Clave e a nossa realidade. Ultimamente, temos registado o aumento de casos extremistas, onde a não aceitação do outro por ser diferente de alguma forma gera um ódio que afeta a sociedade de forma profunda. Cassandra Clare fez uma ótima comparação. Desde os verdadeiros motivos do ódio à alimentação deste sistema por questões económicas e de poder, a autora faz-nos pensar. Ao mesmo tempo, alerta para a importância de resistências unidas e que entendam que o respeito e a cooperação podem ser a solução.

Gostei muito de ler este livro, apesar de, admito, estava à espera de sentir um encanto diferente. Ainda assim, gostei da mensagem geral de amor e união. E, claro, é sempre bom sentir que Cassandra Clare constói um mundo que não termina por aqui, mesmo que este arco de história tenha encontrado o seu desfecho. Fico entusiasmada por perceber que há outras personagens que poderão dar origem a novas aventuras. Agora é ficar a aguardar.


terça-feira, 30 de julho de 2019

Opinião: Annabelle

Título Original: Annabelle (2017)
Autor: Lina Bengtsdotter
ISBN:  9789897772221
Editora: Planeta (2019)

Sinopse:

Onde foi infeliz, não devia voltar.

Charlie Lager é detective em Estocolmo quando chega um pedido de ajuda para investigar uma adolescente desaparecida em Gullspång. o problema é que ela é dessa localidade, de onde saiu aos catorze anos e não quer regressar.

À medida que tenta descobrir quem era Annabelle e o que lhe aconteceu, acabará por fazer descobertas surpreendentes sobre o seu passado...

Opinião:

A sinopse de Annabelle chamou-me a atenção. Numa época em que os thrillers fazem tanto sucesso na literatura, achei que este livro poderia ser refrescante dentro do género. A ideia de um desaparecimento numa localidade de onde a detetive é natural e de onde fugiu intrigou-me. É que logo à partida existiam dois mistérios: o que aconteceu a Annabelle e o que aconteceu à agente Charlie Lager durante a infância e juventude para ter ficado tão perturbada.

Este livro de Lina Bengtsdotter é o primeiro de uma série que terá Charlie como protagonista. Apesar de serem prometidos mais volumes, aviso desde já que esta história pode ser lida sem que seja necessário esperar pelo próximo livro. O mistério de Annabelle e a verdade sobre o passado de Charlie são factos que nos são apresentados durante estas páginas.

Começamos por conhecer a protagonista desta obra e a relação que tem com o seu colega de trabalho. Percebemos que se trata de uma mulher emocionalmente instável, que vive para o trabalho. O facto de ser uma mulher numa área onde existem mais homens faz-nos perceber que Charlie luta para se destacar pelos valores profissionais que tem. Dentro deste assunto, é curioso ver como a autora conseguiu, de forma subtil, mostrar como a presença de uma mulher neste meio pode afetar colegas e até respetivas companheiras. Isto é visto pela ligação de Charlie a Hugo e pela forma como o parceiro dela, Anders Bratt, se relaciona com ela de modo a evitar os ciúmes da própria mulher.

Charlie poderá não ser a amiga que queremos ter, mas é uma figura muito curiosa de desvendar. A forma como se entrega ao caso faz-nos ficar ainda mais interessados, ainda que muitas vezes nos vejamos a condená-la por algumas atitudes. O facto de Charlie ter um passado em Gullspång leva-a a criar empatia com a desaparecida Annabelle, mas também com outros jovens. Ainda assim, gostaria que a protagonista fizesse sentir maior empatia.

É através de Charlie que percebemos as carências, isolamento e pobreza desta localidade. Ela vê para lá das aparências, porque conhece o lado mais obscuro daquela população. Através disto, a autora faz-nos refletir sobre discrepâncias sociais entre as grandes cidades e as zonas mais remotas. este facto faz com que este livro se torna mais do que um thriller, mas como uma chamada de atenção social conseguida através de uma análise pertinente. Neste caso estamos a falar da Suécia, mas facilmente identificamos o nosso país nesta situação.

Os desenvolvimentos da investigação sobre o desaparecimento de Annabelle fazem-nos entender melhor esta localidade. Acabamos por ganhar carinho por esta jovem promissora que é limitada pela família e pelo local onde vive. Os segredos de Annabelle conferem profundidade a esta figura misteriosa que acaba por se revelar na totalidade. Faz-nos pensar que existem pessoas que são realmente vítimas de circunstâncias que não podem controlar. Ainda assim, gostariamos de a ver a lutar mais por ser melhor e por fugir da decadência a que parece se socorrer.

Lina Bengtsdotter apresenta esta história através de quatro pontos de vista que vão alternando. Ao início, alguns destes focos parecem bem distantes da história principal, mas com o desenrolar da narrativa tudo se vai ligando. Ao início poderá existir alguma dificuldade em entender o motivo de um ponto de vista em concreto, que parece não ter qualquer relevância para a história principal. Contudo, mais para o fim do livro, tudo faz sentido.

 Annabelle tem um desfecho imprevisível. Confesso que gostaria de algo um pouco diferente, mas percebo que esta escolha vem dar força a uma mensagem que a autora quis passar ao longo de toda a obra. Lina Bengtsdotter revela-se uma escritora talentosa, capaz de falar de personagens humanas e de construir histórias fortes e com enredos cativantes.


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Opinião: Quarenta Dias Sem Sombra

Título Original: Le Dernier Lapon (2014)
Autor: Olivier Truc
Tradução: Mário Dias Correia
ISBN: 9789897770180
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

Kautokeino, Lapónia Central, 10 de Janeiro. Noite polar, frio glacial. Amanhã o Sol, desaparecido há quarenta dias, vai renascer. Amanhã, entre as 11h14m e 11h41m, Klemet voltará a ser um homem, com uma sombra. Amanhã, o Centro Cultural vai expor um tambor de xamã oferecido por um companheiro de Paul-Émile Victor.
Mas o tambor é roubado durante a noite. As suspeitas irão desde os fundamentalistas protestantes aos independentistas samis. A morte de um criador de renas não contribui para melhorar a situação. A Lapónia, na aparência tão tranquila, vai revelar-se uma terra de conflitos, de cóleras e de mistérios. Klemet, o lapão, e Nina, a jovem colega de equipa, agentes de polícia das renas, lançam-se numa investigação frustrante. Mas, em Kautokeino, ninguém gosta de quem faz ondas. Ordenam-lhes que voltem às patrulhas de motoneve pela tundra e à pacificação das eternas querelas entre criadores de renas.
Os mistérios do 72.º tambor vão alcançá-los. Porque confiou, em 1939, um dos guias samis à expedição francesa aquele tambor? De que mensagem era portador? Que contam os joïks tradicionais que o velho tio de Klemet canta? Que vem fazer à aldeia aquele francês que gosta demasiado de raparigas muito novas e que parece conhecer tão bem a geologia da região? A quem se dirigem as orações da piedosa Berit? Que esconde a beleza selvagem de Aslak, que vive à margem do mundo moderno com a sua mulher meio louco?

Opinião:

Existem livros que me chegam às mãos e que começo a ler sem expetativas. Foi o que aconteceu com este Quarenta Dias Sem Sombra. Não conhecia o autor, nunca tinha lido uma história que acontecesse na Lapónia e desconhecia os sami, povo étnico desta região nórdica. O que, então, me poderia cativar nesta obra? A resposta foi surgindo com o decorrer da leitura: praticamente tudo! Estava perante uma grande surpresa, um livro que me tirou o sono, obrigando a ler pela noite dentro.

A primeira sensação que fica é que somos realmente transportados para a Lapónia ao ler este livro. Apesar do calor do verão que atualmente se faz sentir, tremi com o frio do fim do inverno, visualizei perfeitamente a tundra coberta de neve, senti-me perdida na escuridão que ocupa quase 24 horas, ouvi o silêncio apenas quebrado pelo vento e pelas renas a pastarem. Este é um ambiente incrível e pouco conhecido, mas que surge como o cenário perfeito para um thriller que não nos larga.

As personagens são intrigantes e deixam perceber uma construção cuidada. Klemet, que surge como protagonista, é um polícia de renas (conheciam tal profissão? Existe mesmo! Já explico melhor do que se trata). Klemet é sami e tem uma personalidade muito fechada. Logo ao início percebe-se que se protege de algo, deixando a ideia de que já sofreu de discriminação, tendo optado por uma postura mais reservada. Apesar de uma aparência conformada, sente-se um fogo latente que poderá impulsioná-lo. Ao início, ele só se revela minimamente quando está a desempenhar funções e a mediar conflitos entre criadores de renas. Aqui sentimos a sua compaixão e o seu coração.

Existe ainda uma personagem que funciona como coprotagonista desta história. Trata-se de Nina, uma jovem originária do sul da Suécia. Por ser nova da Lapónia, é através de Nina que o leitor vai entendo este local, os seus povos e a forma como tudo funciona. Esta foi uma das personagens com a qual senti maior empatia. É que, tal como ela, fiquei intrigada pelos sami e procurei saber mais sobre eles, senti choque por ser tratada como inferior por ser mulher, fiquei indignada pelas faltas de respeito perpetuadas por personagens intolerantes, desejei descobrir a verdade sobre os crimes que aconteceram.

Nesta aventura, existem dois mistérios a serem resolvidos: um roubo e um assassinato. Ambos remetem para a cultura sami e levam-nos a descobrir melhor este povo. É impressionante perceber que existem realmente pessoas que vivem em território inóspito e que têm como principal função criar renas. Os conflitos entre criadores são baseados em factos verídicos e explicam-se pelo facto de o gelo prejudicar o acesso dos animais a alimento, o que o faz procurar noutros locais e invadir território atribuído a outro criador. É aqui que entra a polícia das renas. Esta força de segurança tem a função de mediar todos os problemas e conflitos provocados pela criação destes animais. E acreditem, deu para perceber que não se trata de uma tarefa simples.

O desenrolar da ação está construído de forma a agarrar sempre o leitor. É verdade que existem momentos mais parados, morosos e descritivos, mas tal não me prejudicou a leitura. Pois são esses mesmos momentos que me permitiram realmente sentir que estava no espaço descrito e que me fizeram conhecer melhor os sami. Os crimes não acontecem por acaso e fazem sentido na história que o autor quer contar. As personagens secundárias completam este quadro e fazem-nos acreditar que esta história poderia mesmo acontecer.

No leque de personagens secundárias, encontramos diferentes situações. Destaco as figuras preconceituosas, que nos chocam e causam revolta, quer seja pela forma como tratam os outros como pelo desrespeito pelo próximo de forma a se obter poder ou dinheiro. As personagens femininas têm um grande peso, até porque todas elas evidenciam uma história de assédio ou abuso, o que representa uma situação bastante real, especialmente numa região dominada pelo machismo, mas que muitas vezes é abafada. Por último, quero salientar aqueles que estão ligados à forma mais tradicional da cultura sami, ainda que por diferentes formas, como é o caso de Aslak e Nils Ante.

Olivier Truc surpreendeu-me com Quarenta Dias Sem Sombra. Este consegue entreter, instruir e ainda servir como chamada de atenção. O autor faz-nos refletir sobre uma cultura que está em perigo de desaparecer por ser constantemente desprezada. Desinteresse, discriminação, incompreensão, interesses económicos e alterações climáticas são alguns dos aspetos que estão em cima da mesa e devem ser analisados. Este é o primeiro livro de uma saga, mas pode ser lido em separado e sem necessidade de se ler o próximo para compreender a trama. Ainda assim, anseio para que o segundo volume seja publicado. Vou querer ler.


Nota: No dia 13 deste mês, tive a oportunidade de participar num encontro de bloggers com Olivier Truc, promovido pela Planeta. Foi uma oportunidade incrível. Já tinha lido o livro e estava muito curiosa sobre certos pontos, sobre os quais o autor falou abertamente. Foi impressionante perceber como um jornalista francês, que está a viver na Suécia, se apaixonou pelo sami. Olivier Truc falou deles como amigos, uma vez que os visita com regularidade. Garantiu que mais do que contar uma história, queria dar voz a um povo que, regra geral é esquecido ou considerando inferior, mesmo dentro do próprio país. Como tal, quando o livro foi publicado, foi com surpresa que recebeu os elogios da crítica, que aplaudiu a obra e a nomeou para diversos prémios.
Olivier Truc é um autor muito simpático, com talento para a arte de contar histórias e com coragem para colocar o dedo na ferida. Um homem com coragem de participar em patrulhas com a polícia das renas, mesmo quando uma tempestade se aproxima. Uma pessoa que quer mostrar que os países nórdicos, considerados exemplares, também têm graves falhas que precisam de ser corrigidas. Foi um prazer conhecê-lo. Obrigada Planeta.


terça-feira, 4 de setembro de 2018

Opinião: Uma Flor para Outra Flor (As Guerreiras Maxwell #4)

Título Original: Una flor para otra flor (2017)
Autor: Megan Maxwell
Tradução: Ana Maria Pinto da Silva
ISBN: 9789897770746
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

Estar apaixonado pela mulher que deseja esquecer não é algo que o jovem e impetuoso highlander Zac Philips aceite de bom grado. Há um tempo Zac pousou os olhos em Sandra, uma jovem de cabelo castanho que o cativou com o seu sorriso. Mas quando o pai de Sandra faleceu, os avós maternos obrigaram-na e à mãe a deixar as Highlands e a regressar a Carlisle, um lugar onde não conseguem ser felizes, sobretudo quando os avós estão empenhados em arranjar um marido à neta.

Disposto a salvar a amada, Zac foi até Carlisle, mas ao chegar deparou com Sandra rindo divertida com um dos ingleses. Assombrado e de coração partido, regressou às Highlands determinado a esquecê-la. Para ganhar tempo, Sandra ia afastando os pretendentes e aumentando a inimizade dos avós e, por fim, a culpa pela morte da avó.

Para complicar ainda mais a sua vida, aparece em cena Wilson Fleming, um ex-pretendente da mãe, que o abandonou por um highlander. O ódio consome-o e, para a ver sofrer, a melhor maneira é infernizar a vida da filha.

Opinião:

Ler um livro de Megan Maxwell é ter a certeza que vamos encontrar uma história divertida, sensual, romântica e com muitas reviravoltas. E esse regra mantém-se neste Uma Flor para Outra Flor, o quarto livro da saga "As Guerreiras Maxwell". Confesso que, quando iniciei esta leitura, tinha algum receio de me sentir perdida na história, uma vez que não li o terceiro volume. Felizmente nada disso aconteceu, pois os elementos anteriores foram explicados de forma a que esta aventura fosse entendida sem restar espaço para dúvidas.

Assim, conheci Sandra, uma jovem de rebelde e de personalidade forte. Tal como todas as protagonistas criadas por esta autora, Sandra é capaz de tudo para proteger os que ama, fazendo os possíveis para conciliar isso com a realização dos seus sonhos. Mesmo que não se aprecie ou compreenda todas as suas decisões, não se pode deixar de dar valor a isto. Acredito que o ponto forte da autora está mesmo na mensagem de força, coragem e empoderamento feminino que procura transmitir às suas leitoras.

Sandra, claro, tem um interesse amoroso que faz mover a narrativa. Neste caso trata-se de Zac, o irmão mais novo de Meghan, a protagonista da primeira obra da saga. Não fiquei grande fã desta personagem. Zac protagoniza momentos divertidos com Sandra, devido ao caricato da situação e dos choques que existem entre os dois, mas algumas atitudes mais machistas e conservadores foram apresentadas com maior rudeza do que seria esperado. Além, disso, o facto de manter ligação a outra mulher nunca pode ser vista com leveza, até porque parece que Sandra vê a outra como culpada dessa situação enquanto desculpa Zac. Na minha opinião, por maior antipatia que exista por essa mulher, é preciso ter noção de que foi ele que escolheu estar com ela, apesar de, na verdade, ter sentimentos por Sandra.

O desenrolar da narrativa é rápido e repleto de reviravoltas que ajudam a impulsionar a leitura. Megan Maxwell repete neste livro a fórmula com a qual tem feito sucesso, intercalando momentos de felicidade com contratempos até que, finalmente, se chega a uma conclusão. Não é um método que me atraia particularmente, mas admito que aqui funciona. É que existe sempre a sensação de que há sempre algo de novo a acontecer, um novo obstáculo a ser ultrapassado. Assim, surge um misto de frustração por o par romântico não conseguir ficar junto devido a questões que nos parecem ser facilmente resolvidas, mas também o desejo de continuar a ler para perceber como tudo irá ser resolvido.

Tal como já tinha acontecido anteriormente com esta saga, tenho de admitir que as incongruências históricas me provocam grande confusão. Esta é uma história de época, passada na Escócia, mas nem todos os elementos parecem ser representativos desse tempo ou local. As mulheres, fortes e guerreiras, remetem-nos para a atualidade. Os homens têm valores um pouco mais antiquados, quase a fazer lembrar os que os nossos avós e bisavós esperavam das suas mulheres. A sociedade tenta parecer feudal, mas acaba por se afastar um pouco desse conceito. Como tal, sinto que esta história tanto poderia passar-se nesse período como num outro qualquer mais recente.

Uma Flor para Outra Flor segue a linha dos outros romances da saga em que se enquadra. Tem como principal objetivo entreter, passar uma mensagem feminina de força e fazer sonhar. Perante isto, podemos então dizer que se trata de  um livro que cumpre com o que lhe era previsto. Quem procura romances históricos poderá encontrar falhas, por isso deverá ter em mente que se trata de uma aventura que não procura explorar uma época, mas sim contar uma história de amor. Com isto em mente, encontramos uma leitura divertida e leve.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Opinião: Eu Sou Eric Zimmerman

Título Original: Yo Soy Eric Zimmerman (2017)
Autor: Megan Maxwell
Tradução: Cristina Vaz
ISBN: 9789897770531
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

O meu nome é Eric Zimmerman e sou um poderoso empresário alemão, caracterizo-me por ser um homem frio e distante, que usufrui do sexo sem amor e sem compromisso.
Numa das viagens a Espanha para visitar uma das minhas delegações conheci uma jovem chamada Judith Flores. Ela fez-me rir, cantar e até dançar e eu não estava acostumado a isso. Quando me apercebi, sentia mais por ela do que devia, distanciei-me, mas regressei, pois essa mulher atraía-me como um íman.
A partir desse momento, começámos uma relação recheada de fantasia e erotismo e adorei ensinar Judith a gozar o sexo de uma forma que nunca imaginara.

Opinião:

Esta novidade da autora Megan Maxwell apresenta um ponto de vista diferente de uma história que já é conhecida. A autora volta às aventuras dos livros da trilogia Pede-me o Que Quiseres para recontar tudo do ponto de vista de Eric Zimmerman, o interesse amoroso da protagonista Judith Flores. Como tal, ficamos a conhecer o que este homem sentiu em todos os momentos que levaram ao desfecho feliz com a mulher por quem se apaixonou.

Se na trilogia principal era possível perceber que Eric e Judith têm personalidades opostas, agora fica mais do que evidente. Já sabemos que ela é uma mulher latina energética, impulsiva e de "pavio curto", e agora fica ainda mais saliente o lado controlador dele. Eric é um macho alfa, mas a forma como o demonstra não é propriamente agradável. Numa época em que o sexo feminino luta por direitos iguais, independência e reconhecimento, ver um homem com uma personalidade tão dominante e repressiva não é propriamente agradável.

É verdade que Eric passa por uma transformação, isso já se sabe, mas agora percebo que isso acontece como forma de obter o amor de Judith, não sendo necessariamente algo que ele perceba que tem de corrigir para evoluir. Estar dentro da cabeça dele e perceber a origem dos seus amuos constantes não me fez sentir qualquer empatia por esta personagem. Pelo contrário, só me deu a certeza de que é um homem mimado, que não sabe lidar com uma resposta negativa e que cria conflitos sem ter um verdadeiro motivo forte.

Perante tudo isto, a narrativa resulta numa sequeência de momentos de felicidade e afastamento entre estas duas personagens. Entende-se a química entre Eric e Judith, apesar das diferenças que existem entre ambos, mas gostaria que os problemas que atravessam fossem mais plausíveis ou interessantes. O que acaba por tornar a leitura mais agradável são os momentos de humor, sempre associados à personagem de Judith.

Depois de ter conhecido Megan Maxwell, posso dizer que foi interessante perceber que a sua escrita consegue mesmo transmitir a energia, alegria, intensidade e vitalidade próprias da autora. A linguagem é direta, a história tem ritmo, mesmo que os assuntos nem sempre sejam os mais interessantes ou cativantes. Neste volume, percebe-se se procedeu a um resumo da trilogia original, o que dá força à ideia que já tinha de que os outros livros não precisavam de ser tão longos para contarem esta história.

Eu Sou Eric Zimmerman poderá ser uma boa leitura para quem ficou fã da trilogia original. Apesar de não apresentar nada de original, este livro consegue entreter e fazer recordar. Ainda assim, quem não leu a trilogia original pode muito bem apostar neste livro sem necessidade de ler os restantes volumes, uma vez que tudo volta a ser contado.

 

terça-feira, 24 de abril de 2018

Opinião: Quando Tu Voltaste

Título Original: The One That Got Away (2017)
Autor: Maria Realf
Tradução: Raquel Dutra Lopes
ISBN: 9789897770432
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

Lizzie Sparkles devia ser a rapariga mais feliz do mundo... está a três meses de se casar com quem acha ser o Tal, no casamento dos seus sonhos! Passou os últimos três meses em êxtase. Mas, um fim-de-semana quando está a experimentar o vestido de noiva recebe notícias perturbadoras: o amor do passado regressa à sua vida como uma bomba! Depressa percebe que estas notícias ameaçam atrapalhar e eliminar os seus planos tão cuidadosamente elaborados.

O regresso inesperado de Alex muda tudo e Lizzie enfrenta um dilema impossível. Como poderá esquecer o passado, quando se depara com ele... e lhe pede mais uma oportunidade? E é forçada a fazer uma escolha que mudará a sua vida para sempre.

Uma história de amor comovedora e inesquecível, uma leitura emotiva, que não deixará os leitores indiferentes.

Opinião:

Um romance que sobre dúvidas, amores do passado, perdão, decisões difíceis, perda... e a preparação de um casamento! Quando Tu Voltaste apresenta a história de Lizzie, uma jovem que é contactada por um grande amor do passado enquanto está a preparar o enlace com um outro homem. Se isto vos deixa adivinhar uma grande crise no coração e mente da protagonista, fiquem desde já a saber que estão certos.

Maria Realf, a autora, conta esta história ao intercalar capítulos do presente e do passado de Lizzie. Por um lado observamos o entusiasmo da protagonista junto de Josh, homem com quem vive há alguns anos e ao lado de quem voltou a encontrar o amor após uma grande desilusão do passado. Já nos capítulos referentes a outros temos, assistimos ao desabrochar de um namoro intenso entre Lizzie e Alex, romance esse que sabemos, à partida, não vai terminar bem. Nas primeiras páginas, percebemos as diferenças entre estes dois relacionamentos, sendo um mais estável e seguro enquanto o outro é pujante e avassalador. Torna-se inevitável tomar partidos.

Claro que, ao longo das páginas, existe uma curiosidade crescente de conhecer o que Alex fez a Lizzie para a deixar tão magoada. Ainda assim, o seu reaparecimento, deixa perceber que há sentimentos que não morrem facilmente. Admito que me custou aceitar todas as escolhas da protagonista ao longo da história. Consigo perceber as dúvidas que sentia, mas não conseguia esquecer que ela estava, ao mesmo tempo, a ir para a frente com um compromisso sério com um destes homens. Lizzie arrasta a situação, coloca-se em situações que a deixam confortável sem fazer uma escolha e, como seria de esperar, acaba por causar uma mágoa semelhante àquela que sofreu no passado.

Apesar de não aprovar todas as atitudes da protagonista, não perdi a vontade de ver o que iria fazer a seguir. Além disso, o facto de a autora desvendar, aos poucos, o passado de Lizzie e Alex faz-nos não querer largar o livro até tudo estar exposto. E quando isso acontece, existe uma nova reviravolta que nos faz querer perceber que desfecho Maria Realf terá na manga para esta história. O final faz sentido, está bem conseguido e faz-nos pensar em superação e na verdadeira dimensão do amor.

Para quem gosta de casamentos, este livro vai ser uma delícia. É que, ao longo da narrativa, assistimos a Lizzie nos mais variados momentos de preparação do seu enlace com Josh. Desde a prova dos vestidos, à escolha das flores, dos convites, ao ensaio da cerimónia e às despedidas de solteiro, Quando Tu Voltaste permite-nos entrar em alguns dos passos mais importantes do noivado. Algo divertido, emocionante e que nos deixa a paixão de Maria Realf por casamentos, ou não tivesse a autora trabalhado em revistas relacionadas com este tema.

Quando Tu Voltaste é um romance amoroso. Apesar de nem sempre compreendermos as escolhas de Lizzie, conseguimos entender o drama que enfrenta. Um história que fala de um amor que não termina, de superação e da coragem necessária para admitir sentimentos e lutar por uma felicidade maior. Um livro recomendado para os leitores mais românticos.


quinta-feira, 15 de março de 2018

Opinião: A Profecia Negra (As Provações de Apolo #2)

Título Original: The Dark Prophecy (2017)
Autor:  Rick Riordan
Tradução: Nuno Bombarda de Sá
ISBN: 9789897770111
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

Toda a gente sabe que não se pode meter com Zeus, mas o filho Apolo parece não perceber...
Para castigar Apolo, o deus do Olimpo, Zeus, decide enviá-lo para a Terra, transformado no adolescente Lester. Sem a sua beleza anterior, Apolo vê-se transformado num rapaz cheio de borbulhas, feio e trapalhão... e claro sem poderes!
A única forma que tem de regressar ao Olimpo é devolver a luz às profecias dos oráculos. Mas o que poderá fazer um Apolo sem poderes?

Opinião:

Sim, Rick Riordan escreve livros destinados a um público mais jovem, com histórias cujo final é sempre previsível e personagens muitas vezes imaturas. Contudo, eu continuo a adorar ler estes livros. O motivo? São muito divertidos e dão uma visão original da mitologia sobre a qual se inspira. Nesta nova série, "As Provações de Apolo", o autor pega num deus bastante conhecida do Olimpo e coloca-o no meio de uma aventura de heróis e semideuses. O resultado é refrescante quando comparado com todos os outros livros.

Em A Profecia Negra, voltamos a acompanhar Apolo na sua demanda desesperada por obter o perdão de Zeus e recuperar a sua condição divina. Esta personagem continua a ser hilariante, mas nota-se algum crescimento, nomeadamente o aparecimento de vestígios de compaixão e um leve toque de altruísmo. Gosto dos momentos em que Apolo mais parece uma diva, chocada por não ser constantemente louvada e agraciada. Os seus confrontos com figuras míticas enquanto adolescente desajustado continuam a resultar apesar de este ser o segundo volume das suas aventuras.

Rick Riordan não deixa este protagonista sozinho na sua demanda, recuperando personagens que fizeram sucesso em obras anteriores. Desta vez Percy Jackson não aparece, apesar de ser mencionado, mas há outros nomes queridos que têm um papel fundamental nesta narrativa. Além disso, claro que surgem novas personagens, sendo impressionante pensar como ainda existem figuras históricas ou mitológicas não retratadas por este autor nas suas muitas aventuras que surgem de novo neste livro. A inclusão de casais não heterossexuais e a própria definição da orientação sexual de Apolo são também uma boas opções, pois é algo feito sem preconceitos.

Gosto da ideia de vilão desta trilogia, diferente do que acontecia nos livros passados. Apesar de muitas vezes surgir como sátira, a verdade é que o autor, no seu modo divertido, continua a conseguir dar-nos algumas informações histórias. Gostei de saber um pouco mais sobre alguns dos imperadores de Roma. Apesar de não haver descrições detalhadas, Rick Riodan aguça a curiosidade e levou-me a pesquisar sobre estas figuras.

O desenrolar dos acontecimento é muito rápido, o que proporciona uma leitura ritmada. Não posso dizer que a trama seja imprevisível, pois, apesar dos perigos, temos sempre a certeza de que os nossos heróis vão conseguir superar todos os obstáculos. Não existe em qualquer momento uma verdadeira sensação de perigo, sendo que a nossa curiosidade vai para o modo como as personagens superam as adversidades. Continua a existir muito humor, quer seja pelos diálogos como pelas situações em si.

A Profecia Negra mantém as características das aventuras criadas por Rick Riordan. É verdade que em muitos momentos gostaria de ser realmente surpreendida com reviravoltas diferentes, mas este livro é um dos mais previsíveis do autor. Ainda assim, consegue divertir e proporcionar momentos agradáveis. É que além do humor e das pequenas sementes de curiosidade sobre a época grega e romana que o autor nos deixa, há ainda uma reflexão sobre o que é amizade e o que nos leva a sacrificar pelos outros. Fica o desejo de continuar a acompanhar esta saga.


Outras opiniões a livros de Rick Riordan:
Percy Jackson e a Maldição do Titã (Percy Jackson #3)
Percy Jackson e o Último Olimpiano (Percy Jackson #5)
O Herói Desaparecido (Os Heróis do Olimpo #1)
O Filho de Neptuno (Os Heróis do Olimpo #2)
A Marca de Atena (Os Heróis do Olimpo #3)
A Casa de Hades (Os Heróis do Olimpo #4)
O Sangue do Olimpo (Os Heróis do Olimpo #5)
A Pirâmide Vermelha (Crónicas de Kane #1)
O Trono de Fogo (Crónicas de Kane #2)
O Oráculo Escondido (As Provações de Apolo #1)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Opinião: O Homem de Giz

Título Original: The Chalk Man (2016)
Autor: C. J. Tudor
Tradução: Victor Antunes
ISBN: 9789896579937
Editora: Planeta (2018)

Sinopse:

A história começa em 1986 e, após um hiato de trinta anos, o passado surge para transformar a vida de Eddie. As influências de Stephen King e o toque de Irvin Welsh, conferem ao livro não só um tipo de narrativa diferente como um suspense ao limite. O que contribui para que a história tenha um desfecho muito real e chocante. O Homem de Giz conta-nos a história de um grupo de crianças, não poupando nos pormenores sociais onde estão inseridas e em como as influências de famílias disfuncionais contribuem para exacerbar o imaginário infantil.
A história começa quando aos doze anos Eddie e os amigos tiveram contacto com o misterioso Homem de Giz. Uma personagem central na trama e Eddie será assombrado por ela. As estranhas figuras de giz conduzem Eddie e os amigos a um cadáver de uma rapariga pouco mais velha que eles e esta descoberta irá marcámos para sempre. Tudo aconteceu há trinta anos, e Eddie convenceu-se de que o passado tinha ficado para trás. Até ao dia em que recebeu uma carta que continha apenas duas coisas: um pedaço de giz e o desenho de uma figura em traços rígidos. À medida que a história se vai repetindo, Eddie vai percebendo que o jogo nunca terminou.

Opinião:

O passado e o presente cruzam-se neste thriller delicioso. O Homem de Giz era um livro que aguardava com expectativa e que revelou ser uma leitura compulsiva, intrigante e intensa. C. J. Tudor apresenta-nos um mistério que não é totalmente perceptível de imediato, mas transmite sempre a sensação de que algo de errado está para acontecer, se não mesmo a decorrer naquele exacto momento. E qualquer pessoa pode ser o culpado, o que aumenta a tensão ao passar de cada página.

Uma dos primeiros aspectos que me chamou a atenção foi o facto de a autora conseguir criar personagens imperfeitas e empáticas. Quero com isto dizer que as figuras que vão aparecendo ao longo da narrativa tem problemas próprios, o que as torna humanas, mas é curioso verificar que elas não nos são logo expostas. As personagens vão sendo desvendadas aos poucos e poucos, revelando-se ainda mais problemáticas do que poderíamos imaginar e, por isso mesmo, aliciantes.

Além do mais, sentimos uma grande ligação com estas figuras por as conhecermos de momentos bem distintos. Afinal, a trama acontece nos anos de 1986 e 2016. São 30 anos que permitem um desenvolvimento em Eddie e nos seus amigos, mas que, mesmo assim, mostram que a essência de cada uma destas figuras permanece inalterada. As pessoas evoluem, tornam-se adultas, enfrentam novos desafios, mas não deixam de ser quem sempre foram, por muito que tentem esconder, disfarçar ou negar.

Eddie, o protagonista, provoca diferentes sensações. Por um lado senti simpatia pelo rapaz meio desajustado e pelo homem solitário em que se tornou, mas por outro senti que muitas vezes não estava a contar-nos toda a história, ou que estava a ser ingénuo. Uma personagem que aumenta o mistério da obra. Os seus amigos, Gav Gordo, Metal Mickey, Hoppo e Nicky, formam um grupo heterógeneo que, à primeira vista, pode transmitir a ideia de que representa um estereotipo de grupos de miúdos dos anos 80, mas que se revela mais do que isso. A própria comunidade em que habitam sugere uma ideia de fachada para disfarçar as imperfeições de quem a compõe.

Vermos um grupo de crianças directamente relacionado com situações de homicídio pode chocar. C. J. Tudor faz-nos questionar a inocência própria dessa idade e leva-nos a duvidar até mesmo das figuras que aparentam menor capacidade para magoar os outros. Não é fácil adivinhar quem foi o assassino, nem os seus motivos, mas tudo faz sentido quando é apresentado. Além disso, dei por mim a pensar que quem pratica o crime pode não ser o único culpado. Podem existir outras figuras capazes de feitos condenáveis e inesperados em situações extremas por proveito próprio.

O desenrolar da narrativa é rápido, apesar dos saltos temporais. Existem sempre a vontade de descobrir o que vai acontecer a seguir e de descortinar as personalidades e objectivos de cada uma das figuras que vai aparecendo. O grande mistério só é mesmo desvendado no final, provocando surpresa e levando o leitor a pensar em como é perigoso tomar decisões precipitadas. E as últimas páginas conseguem provocar um arrepio.

O Homem de Giz superou as expectativas. É difícil imaginar que se trata de uma obra de estreia, pois C. J. Tudor revelou-se uma verdadeira mestre na arte de criar uma intriga forte, uma conclusão surpreendente e personagens reiais. Gostei muito deste livro e espero que a autora continua a apostar na escrita. Estou curiosa para saber o que poderá fazer a seguir desta história tão impressionante.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Opinião: Mirror Mirror

Título Original: Mirror Mirror (2017)
Autor: Cara Delevingne e Rowan Coleman
Tradução: Nuno Bombarda de Sá
ISBN: 9789897770081
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

Red, Leo, Rose e Naomi são inadaptados. Red tem uma mãe alcoólica e um pai que nunca está presente. O irmão de Leo arrasta-o para um obscuro e violento caminho. Rose volta-se para os rapazes e o álcool para adormecer a dor do passado.
Naomi foge de casa em busca de uma liberdade que não consegue encontrar. Estão sozinhos contra o mundo até formarem a sua outra família na banda, Mirror Mirror.
O único sítio onde podem ser eles mesmos. Um dia Naomi desaparece, e é encontrada meio morta no Tamisa. Lutando pela vida, a polícia acredita que se tentou suicidar. Os amigos ficam devastados; supostamente devem tomar conta uns dos outros, mas como não viram os sinais de alerta?
Mas quando uma série de pistas leva o grupo a suspeitar que nem tudo é o parece, Red, Leo e Rose deverão enfrentar os seus próprios segredos e medos obscuros. Nada será o mesmo de novo, pois uma vez que o espelho é partido, não pode ser consertado.

Opinião:

Mirror Mirror é o primeiro livro de Cara Delevingne. A conhecida modelo e atriz juntou-se a Rowan Coleman para criar esta história que tem como ponto central um grupo de quatro adolescentes inadaptados. Cada um destes jovens lida com os seus próprios demónios, mas  consegue encontrar nos outros a amizade, a aceitação, o reconhecimento e o apoio necessário para lutar por um futuro melhor. Contudo, o desaparecimento de Naomi provoca um grande choque nos outros três elementos, que tentam, a todo o custo, perceber o que se passou com ela. Isto enquanto lidam com problemas familiares, sociais e amorosos.

Tenho que confessar que não foi fácil ler este livro. Tal não se prendeu pela história, que é fácil de acompanhar e até previsível, nem pela linguagem utilizada, que é atual apesar de conter demasiado calão. A minha dificuldade prendeu-se com a personagem que narra os acontecimentos. Red tanto é apresentado como um rapaz como uma rapariga. Ao início fiquei com a percepção de que me tinha enganado a ler algo, depois fiquei com dúvidas sobre problemas na tradução mas depois fiquei com a ideia de que se podia tratar de uma personagem transsexual, mas nada disso fazia sentido. É que o género com que esta personagem era tratada mudava de um momento para o outro, muitas vezes pela mesma personagem, não havendo distinção entre momentos do passado e do presente. E chega a ser ridículo ver a família e os professores a tratarem esta figura sempre pela alcunha e nunca pelo nome. Como tal, a minha atenção muitas vezes era desviada para esta incerteza, não me permitindo concentrar na história. Quando esta questão é, finalmente, esclarecida, fica a dúvida para tal apenas ter acontecido numa fase tão avançada da trama. Não havia necessidade para tal.

As três personagens que procuram por Naomi vêm de meios familiares desiquilibrados. Isto leva-nos a pensar que a base de uma sociedade é realmente a família, e quando esta falha tudo à nossa volta desmorona. As autoras dão a entender que não existe um padrão de normalidade dentro de uma família, sendo que o mais importante não é corresponder a um modelo mas sim haver amor, respeito, compreensão e diálogo. Quando isto falha, todos se sentem perdidos. E isso é tratado de forma diferente em cada caso. Red dedica-se à irmã e revolta-se contra os pais. Leo não quer perder quem ama e acaba por se envolver em situações que não deseja. Rose refugia-se em relações fugazes e no álcool. Todos procuram ser amados e um equilíbrio difícil de conquistar.

Não fiquei cativada por nenhuma personagem em particular. A indefinição sobre Red acabou por me irritar e por não ajudar na criação de uma ligação mais forte a esta figura. Rose é demasiado dramática e egocêntrica, não sendo propriamente alguém de quem gostaria de ser amiga, apesar de ter pena do que lhe aconteceu. Leo é o esterótipo de rapaz rebelde e sensual que esconde as suas inseguranças. Naomi não permite grande conhecimento e Ash, apesar de intrigante, parece irreal para uma jovem. Todos tentam passar a sensação de que são os miúdos fixes da escola apesar de não se sentirem como tal, o que provoca alguns revirares de olhos ao longo da leitura. Faz lembrar aquelas entrevistas a atrizes e modelos que garantem nunca se terem sentido bonitas. Custa acreditar.

O enredo não transmite a sensação de estarmos a ler algo de novo. Sentimos desde o início para onde tudo se está a encaminhar, apesar de poder existir um ou outra surpresa pelo caminho. Apesar de reconhecermos que os amigos de Naomi podem encontrar informações a que a polícia terá maior dificuldade de acesso, algumas descobertas e revelações parecem demasiado irreais e forçadas para um grupo de adolescentes. Além disso, a forma como certos assuntos são abordados não me agradou de todo. Apresentar como normal e aceitável comportamentos de risco e delinquentes entre adolescentes é uma opção discutível.

Mirror Mirror é um livro destinado a um público mais jovem, que procura abordar questões relacionadas com a adolescência o mesmo tempo apresenta uma mistério que precisa de ser resolvido. Cara Delevingne e Rowan Coleman quiseram falar de perigos que ameaçam os adolescentes e de como a força da amizade e do amor é transformadora e pode salvar. A história e as personagens têm algumas falhas, pontos que precisariam de maior trabalho. Um livro que até entretém, mas que não marca particularmente por não ser credível ou empático.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Opinião: O Oráculo Escondido (As Provações de Apolo #1)

Título Original: The Hidden Oracle (2016)
Autor:  Rick Riordan
Tradução: Nuno Bombarda de Sá
ISBN: 9789896579678
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

Após irritar o pai Zeus, o deus Apolo é expulso do Olimpo. Fraco e desorientado, aterra em Nova Iorque como um adolescente normal. Agora, sem os poderes divinos, a divindade de quatro mil anos tem de aprender a sobreviver no mundo moderno até encontrar uma forma de recuperar o favor de Zeus.

Agora, o ex-deus terá de solucionar esses mistérios, recuperar o Oráculo e, mais importante, voltar a ser o imortal belo e gracioso que todos amam.

Opinião:

Rick Riordan já escreveu sobre semi-deuses da mitologia grega, romana, nórdica e egípcia. Quando soube que iria ser publicada uma nova saga, "As Provações de Apolo", perguntei-me no que o autor poderia inovar para surpreender os seus leitores. Afinal, já abordou em tantos livros a história de Percy Jackson e seus companheiros do Campo dos Mestiços que custava perceber qual iria ser o factor novidade. E não é que Rick Riordan voltou a conseguir? O autor pegou em personagens já nossas conhecidas e mudou tudo a fazer com quem um deus se tornasse na personagem principal destas novas aventuras.

Atenção, que o deus eleito não é um qualquer. Trata-se de Apolo, que já tinha aparecido noutras obras. É engraçado pensar que Rick Riordan teve a ousadia de pegar numa das divindades às quais concedeu umas das personalidades menos empáticas. Apolo é tão egocêntrico que se vê sempre no centro de todas as situações, mesmo daquelas que não têm qualquer ligação a ele. Ele acredita ser perfeito, que todos o devem admirar e prestar vassalagem, mas quando se vê sem os seus poderes divinos, depara-se com grandes dificuldades. E proporciona-nos muitos momentos divertidos. Afinal, que melhor castigo podia Zeus dar a este filho do que tirar-lhe as suas forças extraordinárias e encerrá-lo dentro do corpo de um adolescente com peso a mais e a pele cheia de acne? Acreditem, vem aí drama.

Ao acompanharmos Apolo na sua demanda para obter o perdão de Zeus, reencontramos muitas das personagens que nos acompanharam noutras aventuras. Se é agradável voltar a estar com estas figuras conhecidas, também achei boa opção não torná-las demasiado relevantes nesta história. Assim, matamos saudades mas deixamos outras pessoas brilharem, como é o caso de Apolo e de Meg, uma nova semi-deusa que, com o deus exilado, proporciona momentos caricatos. Eles são opostos um do outro mas encontram-se ligados por um elo inquebrável. Além disso, todo o mistério à volta do passado e origem de Meg torna-a uma personagem ainda mais curiosa. E não se preocupem que as revelações são feitas ainda neste volume!

A narrativa acontece na primeira pessoa, o que nos permite perceber melhora evolução de Apolo ao longo da trama. Ele vai começando a ver com outros olhos as pessoas e o mundo que as rodeia, acabando por desenvolver altruísmo e compaixão. Isto acontece de forma gradual, sendo credível. O desenrolar da acção também está muito bem conseguido, não deixando espaço para momentos mortos. Há sempre algo a acontecer, há sempre um perigo à espreita. Afinal, além de Apolo querer recuperar o seu lugar no Olimpo, ele também percebe que há algo novo a ameaçar o mundo.

O novo inimigo não é imediatamente revelado. É possível perceber que existe algo ou alguém a ver a decisão de Zeus como um oportunidade de destruir Apolo e depois os outros deuses, mas inicialmente não se percebe quem é e quais são os seus motivos. Contudo, quando estas informações finalmente são reveladas, fazem sentido e apresentam um rival novo e original. Confesso que não estava à espera desta revelação nem da reviravolta que acontece quase ao mesmo tempo. Sim, este pode ser um livro destinado a um público mais jovem, mas a originalidade e intensidade da história também cativam outros leitores.

Tenho a certeza de que quem se divirtiu a ler outros livros de Rick Riordan vai adorar este. Tem muita ação, inúmeros momentos hilariantes, as personagens apresentam evolução, há uma reviravolta muito bem conseguida e ainda é transmitida uma boa mensagem relativa ao companheirismo. Se tinha dúvidas de que o autor iria conseguir pegar no seu mundo e dar-lhe uma lufada de ar fresco, ficou provado que não tinha razões para tal. Esta nova saga tem tudo para ser uma das mais entusiasmantes deste universo.

Outras opiniões a livros de Rick Riordan:
Percy Jackson e a Maldição do Titã (Percy Jackson #3)
Percy Jackson e o Último Olimpiano (Percy Jackson #5)
O Herói Desaparecido (Os Heróis do Olimpo #1)
O Filho de Neptuno (Os Heróis do Olimpo #2)
A Marca de Atena (Os Heróis do Olimpo #3)
A Casa de Hades (Os Heróis do Olimpo #4)
O Sangue do Olimpo (Os Heróis do Olimpo #5)
A Pirâmide Vermelha (Crónicas de Kane #1)
O Trono de Fogo (Crónicas de Kane #2)

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Opinião: O Senhor das Sombras (Os Artifícios Negros #2)

Título Original: Lord of Shadows (2017)
Autor: Cassandra Clare
Tradução: Catarina F. Almeida
ISBN: 9789897730818
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

Emma Carstairs vingou finalmente a morte dos pais, mas o sabor da vingança não é tão doce como imaginara. Dividida entre o desejo proibido que sente por Julian Blackthorn, o seu parabatai, e a consciência da terrível tragédia que se abaterá sobre eles se esse amor for consumado, Emma simula uma relação amorosa com Mark. Mark, contudo, passou os últimos cinco anos da sua existência em Faerie… Será que alguma vez vai conseguir esquecer o êxtase da Caçada Selvagem e abraçar de corpo e alma a sua condição de Caçador de Sombras? Entretanto, em Faerie, as cortes não estão silenciosas. O rei Unseelie conspira o fim de toda a comunidade de Nefelins, e a rainha da Corte Seelie é uma aliada falível da causa dos Caçadores de Sombras.

Opinião:

Quis demorar a leitura deste livro. Depois de ter adorado Lady Midnight, estava ansiosa por saber o que Cassandra Clare reservava para os seus leitores com O Senhor das Sombras. Além disso, voltar a caminhar ao lado de Caçadores de Sombras revela-se sempre divertido e intenso. Como não gostar de ficar neste mundo e querer prolongar a estadia? Como tal, a leitura só não avançou com maior rapidez por contenção, por desejar prolongar e saborear a experiência.

Tal como aconteceu com o livro anterior, a história é contada através do ponto de vista de diversas personagens. Emma e Julian são os protagonistas, mas existem outro enredos paralelos que estão a acontecer ao mesmo tempo que a história destes dois Caçadores de Sombras se desenvolve. E, claro, existe uma aventura superior a tudo isto e que está a colocar estes defensores do mundo em perigo.

É curioso que, desta vez, a minha percepção sobre as personagens mudou um pouco. Recordo-me que em Lady Midnight gostei bastante de Emma e adorei a forma como a autora explorou a evolução da relação que ela tem com o seu parabatai. Contudo, desta vez, não me consegui sentir tão ligada a estas duas figuras. Continuo a admirar a coragem de Emma e senti-me curiosa com o lado mais negro de Julian, mas a relação deles está cada vez mais melodramática e pouco interessante. Claro que desejo vê-los a ultrapassarem os obstáculos e a encontrarem a felicidade, mas o grande foco neste drama específico não me convenceu.

Por outro lado, a dinâmica entre Cristina, Mark e Kieran ganhou um novo ritmo e tornou-se muito entusiasmante. Sim, voltamos a ter aqui um drama amoroso, mas este é apresentado de uma forma diferente. A presença de Kieran muda muito e faz com que esta personagem seja muito cativante. Não é fácil entender todas as suas motivações ou decisões, mas é diferente e, por isso, imprevisível. Cristina também acaba por apresentar uma evolução mais apelativa, provando que a minha primeira impressão dela estava errada. Ela pode aparentar ser mais aborrecida do que Emma, mas não é isso que acontece. De todo!

No meio disto tudo, quero ainda destacar os capítulos de Kit, Livvy e Ty. Percebe-se imediatamente que existe uma grande química entre estas três personagens. Contudo, a nossa percepção da natureza do laço que os une vai alterando conforme a leitura avança. Gostei muito da evolução da figura que sofre de autismo, um alerta para a inclusão. Aliás, toda esta obra leva-nos a pensar seriamente nesta questão. A autora não se limita a pegar numa oposição tendo como única justificação o mal puro, preferindo alertar para a ambição desmedida de poder, o repúdio pelo desconhecido e a crença de que existem vidas superiores a outras.

Os perigos antigos persistem, e para complicar a vida aos nossos heróis surgem ainda outros. A autora não só apresenta desafios de lados que são esperados, como é o caso dos Unseelie, como entre aqueles que, supostamente, deviam lutar pelos mesmos objetivos. Cassandra Clare volta a explorar os desafios que existem em Idris, fazendo-nos adivinhar desde o início que há algo de muito grave prestes a despoletar. Não é difícil perceber o que pode acontecer, mas ainda assim, custa aceitar que tudo poderia ter uma resolução mais pacifíca e menos dolorosa.

Agora espero ansiosamente pela publicação do volume final desta trilogia. Queen of Air and Darkness está previsto chegar ao mercado literário norte-americano em Dezembro de 2018, não se sabendo quando tal acontecerá em Portugal. Sim, é desesperante pensar que ainda falta tanto tempo para voltar a entrar nesta história e mundo. Contudo, é também tão bom quando encontramos livros que nos prendem e entusiasmam desta forma...

Outras opiniões a livros de Cassandra Clare:
A Cidade dos Ossos (Caçadores de Sombras #1)
A Cidade das Cinzas (Caçadores de Sombras #2)
A Cidade de Vidro (Caçadores de Sombras #3)
A Cidade dos Anjos Caídos (Caçadores de Sombras #4)
A Cidade das Almas Perdidas (Caçadores de Sombras #5)
A Cidade do Fogo Celestial (Caçadores de Sombras #6)
Anjo Mecânico (Caçadores de Sombras: As Origens #1)
Príncipe Mecânico (Caçadores de Sombras: As Origens #2)
Princesa Mecânica (Caçadores de Sombras: As Origens #3)
Lady Midnight (Os Artifícios Negros #1)
As Crónicas de Bane
A Prova do Ferro (Magisterium #1) com Holly Black
A Manopla de Cobre (Magisterium #2) com Holly Black

domingo, 12 de novembro de 2017

Opinião: A Mulher do Meu Marido

Título Original: My Husband's Wife (2016)
Autor: Jane Corry
Tradução: Mário Dias Correia
ISBN: 9789896579531
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

Lily é advogada e, quando casa com Ed, está decidida a deixar para trás os segredos do passado. Quando aceita o seu primeiro caso criminal, começa a sentir-se estranhamente atraída pelo cliente. Um homem acusado de assassínio. Um homem pelo qual estará em breve disposta a arriscar tudo.
Mas será ele inocente?
E quem é ela para julgar?
Mas Lily não é a única a ter segredos. A sua pequena vizinha Carla só tem nove anos. Mas já percebeu que os segredos são coisas poderosas, para obter o que deseja.
Quando Lily encontra Carla à sua porta, dezasseis anos depois, uma cadeia de acontecimentos é posta em marcha e só pode acabar de uma forma… a pior que Lily podia imaginar.

Opinião:

O título deste livro de Jane Corry prendeu-me logo a atenção. É que ainda antes de começar a leitura fico com a sensação de que vou ler uma história onde as emoções estarão à flor da pele e no qual poderá assistir a um crime passional. As minhas deduções mostraram-se certas, mas A Mulher do Meu Marido acaba por ser mais do que isso.

Esta é uma obra que pode ser analisada em duas partes. Na primeira assistimos a um julgamento duvidoso e ao início problemático de um casamento em paralelo com uma história de infância que se desenvolve num seio desequilibrado. Na segunda, que acontece 12 anos mais tarde, assistimos às consequências de todas as acções registadas anteriormente e percebemos como estas alteraram para sempre os seus intervenientes. Confesso que a primeira fase não me cativou tanto como a segunda. O início da leitura revelou-se algo demorado, talvez por ter dificuldades em ligar-me às personagens. Já a segunda parte apresentou uma evolução mais apelativa e reviravoltas que surpreenderam.

A história vai sendo narrada sempre na perspectiva de duas personagens, Lily e Carla. É curioso notar que a minha percepção de cada uma destas figuras foi alterando conforme o desenrolar da narrativa. Ao início senti mais ligação a Carla do que a Lily, mas na segunda parte da trama isso alterou-se. Acho que tal se deveu ao facto de, na fase inicial, Carla ser uma criança com muitas carências. É amada pela mãe, é certo, mas nunca para ser uma prioridade para ninguém e, por isso, nunca se sentindo parte de nada. Desejei vê-la a alcançar o equilíbrio emocional, mal tal estava sempre ligado a outras figuras que não tinham tal preocupação. Já Lily surge com tal insegurança que acaba por ter atitudes exageradas e por tomar decisões extremas. Esta é uma mulher com quem não é fácil simpatizar pois, apesar de ter os seus momentos de bondade, tem demasiadas fraquezas pessoais que poderiam ser facilmente contornadas se ela assim o desejasse.

É curioso ver a evolução que estas duas personagens apresentam na segunda parte da obra. Passados 12 anos, Carla torna-se uma jovem mulher ambiciosa que tenta alcançar um modelo que viu noutros mas que não compreende totalmente. Como tal, acaba por fazer escolhas pouco louváveis e por se deparar com uma situação que lhe causa repulsa apesar de, inicialmente, desejar. Já Lily acaba por se tornar mais próxima do leitor a partir do momento em que aceita as suas vulnerabilidades e procura superá-las de modo a alcançar estabilidade para si e para quem mais ama. Tratam-se de duas mulheres inteligentes, manipuladoras e que nos causam curiosidade.

Paralelamente à história pessoal destas personagens assistimos a um caso criminal que dá muito que falar e que acaba por despoletar um outro. Gostei que a autora estivesse constantemente a criar reviravoltas sobre o que realmente aconteceu nestes crimes, despertando a curiosidade do leitor e levando-o a criar diversas hipóteses sobre o que realmente poderá ter acontecido. Ao mesmo tempo, são criados diferentes perfis de cada personagem envolvida, ficando a noção que se tratam de figuras complexas e com as quais a autora se divertiu a "brincar".

A Mulher do Meu Marido revela-se uma leitura complexa, onde nada pode ser o que aparenta e onde todas as histórias apresentam diferentes camadas. Apesar de alguma lentidão inicial, gostei muito da história apresentada e fiquei satisfeita e surpreendida com a forma como Jane Corry construiu cada figura e com o final concedido a cada uma. Um thriller psicológico que brinca com a mente do leitor e que deixa a dúvida no ar até à última página.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Opinião: Antes de Ires

Título Original: Before you go (2016)
Autor: Clare Swatman
Tradução: Mário Dias Correia
ISBN: 9789896579258
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

Esta história começa com um fim. Mas este fim é apenas o princípio. Um romance paro todos aqueles que acreditam no poder do amor, e que acreditam que nunca é tarde de mais para mudar as coisas. Um romance muito emocional, envolvente e profundo para todos os públicos. Um livro que explora os sentimentos, os sentimentos de culpa e os remorsos. Uma abordagem diferente sobre o luto e o amor.

Opinião:

Antes de Ires é um livro que nos sensibiliza para a importância de vivermos em pleno, de não perdermos tempo com problemas pequenos. Através de uma história romântica à qual muitos leitores se podem identificar, Clare Swatman, a autora, recorda-nos que tudo tem um fim, e que, melhor do que nos arrependermos depois pelos nosso atos, é sermos capazes de, agora, conseguirmos definir prioridades.

Zoe e Ed são o casal protagonista desta obra. Ao longo desta página, ficamos a conhecer como começou esta relação e de que forma evoluiu. E o  mais curioso é que, apesar dos altos e baixos comuns a qualquer namoro ou casamento, o leitor já sabe como esta história vai terminar. Como tal, aqui o que muda é a percepção da mesma vivência. Por um lado percebemos como Zoe encarou a sua vida ao lado de Ed sem ter ideia do que iria acontecer, por outro vemos como ela vive cada momento quando já sabe que o tempo dos dois é mais curto do que seria esperado.

Os obstáculos que Zoe e Ed enfrentam são bastante realistas.O empenho na carreira, o tomar o outro como garantido, as prioridades relacionadas com família, o acreditar que há tempo para tudo, o não falar sobre o que realmente está a atormentar, o criar bolas de neve com pequenos problemas,... tudo isto são questões bastante comuns a outros casais e que nos levam a refletir sobre os nossos erros nas relações com os outros.

Por já se saber o final, a história não traz grandes surpresas. A autora leva-nos a pensar no desgaste de uma relação, no quão importante é a comunicação e em como é tão precioso chegar a um consenso em todos os temas que podem condicionar a vida a dois. Esta é uma mensagem forte para qualquer leitor, quer seja no que toca a uma relação amorosa, quer familiar ou de amizade. Existe uma pequena reviravolta mais perto do final, mas o suspense e a emoção nunca chegam a ser arrebatadores. A leitura é feita com leveza.

O destino e a sua fatalidade são assuntos que são constantemente abordados. A autora questiona se o nosso futuro está traçado ou se as nossas ações, escolhas e decisões realmente o podem alterar. Não fiquei completamente agradada com o rumo que esta questão seguiu, pois gosto de acreditar que o nosso futuro está nas nossas mãos. Contudo, nem sempre foi isso o que ficou demonstrado, tirando um detalhe que, apesar de tudo, pode fazer a diferença.

Leitura agradável e que é feita com rapidez, Antes de Ires é um romance com um conceito diferente, apesar de ter alguns clichés associados ao género. Acreditava que iria ficar mais arrebatada, mas, ainda assim, gostei que a autora chamasse a atenção para tantas questões tão comuns e que atormentam tantas pessoas, quer seja em situações de casal ou não.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Opinião: Angélica e Lorenzo (Linhas do Destino #1)

Autor: Lettie S. J.
ISBN: 9789896579579
Editora:
Planeta (2017)

Sinopse:

Um amor escrito nas estrelas e o encontro de dois amantes num fulgor magnético que nada nem ninguém poderá separar. Um romance sensual, erótico, com protagonistas jovens (17 e 19 anos), que aborda problemas muito actuais, como o bullying e a violência no namoro, mas numa história irresistível, verosímil e de leitura imparável. A acção passa-se perto do Porto - na cidade da Póvoa de Varzim (onde a autora mora) e tem a originalidade e a força de ter como protagonista um par romântico muito jovem e de nacionalidades diferentes:- uma brasileira com um português-italiano.

Opinião:


Angélica e Lorenzo é o primeiro livro de uma série que tem como base o romance entre dois adolescentes. Lettie S. J., a autora, procurou apresentar um romance daqueles que parecem ter destinados desde o início dos tempos entre uma doce jovem brasileira e um rapaz de descendência portuguesa que viveu muitos anos em Itália. Decidi apostar nesta obra por me parecer leve e à espera de uma história que romântica e até algo mística que se passasse em solo lusitano. Contudo, o que encontrei foi um pouco diferente.

O início da leitura não transmitiu a melhor impressão. Isto deveu-se ao facto de o português utilizado ser maioritariamente do Brasil, o que me levou a sentir estranheza imediata e ficado logo de pé atrás. É verdade que a Língua é a mesma, mas existem tantas diferenças entre ambas que acaba por gerar incómodo. Isso notou-se descrições, mas ainda mais nos diálogos, devido à gíria utilizada pelas personagens mais jovens. Percebo que Angélica, por exemplo, utilize algumas dessas expressões, mas acabou por ser exagerado e abranger outras personagens, tendo sido difícil aceitar que a ação decorre em Portugal. Perante isto, acredito que deveria ter sido feito um trabalho de adaptação quando foi tomada a decisão de publicar o livro em Portugal.

Apesar desta estranheza com a linguagem utilizada, decidi prosseguir com a leitura, curiosa com a história, que prometia falar de um amor predestinado. A autora apresenta-nos os protagonistas, cada um no seu próprio ambiente e a lidar com os seus problemas, e depois mostra-nos o primeiro contacto que tiveram um com o outro e como tudo se desenvolve a partir daí. Confesso que não consegui sentir empatia nem por Angélica nem por Lorenzo. Penso que tal se deve ao facto de os achar demasiado exagerados, melodramáticos, e por não conseguir acreditar na forma como a relação de ambos se desenvolveu.

Consigo entender a ideia de atração imediata, mas não acreditei no facto de eles terem ficado apaixonados e já terem garantindo que iriam namorar um com o outro quando nem sequer tinham ainda trocado uma palavra. A relação deles acabou por se desenvolver de uma forma demasiado rápida, originando situações que se tornaram descabidas e precipitadas. Entendo que a autora quis mostrar que a união deles estava escrita nas estrelas, mas nem isso foi bem explicado. E mesmo assim, seria sempre bom ver algum conhecimento e adaptação antes de tudo acontecer. Além disso, existiram demasiadas coincidências descaradas que retiraram subtileza à narrativa.

O desenrolar da narrativa acaba por não atingir o potecial que poderia ter. A autora apresenta diversos elementos opositores aos protagonistas, mas nem todos acabam por ser devidamente explorados. Neste volume, focou-se muito no romance de Angélica e Lorenzo, que tem um início com demasiados dramas, sendo difícil acreditar que estamos a falar de um namoro de poucos dias. Só no final da obra é que a questão do bullying surge com maior força, sendo que toda a problemática da família de Lorenzo acaba por surgir realmente, parecendo estar a ser guardada para um próximo livro. A trama acaba por ficar fraca e ser pouco apelativa.

O ponto mais positivo desta obra foi a forma como o bullying foi abordado. A história começa com uma cena de violência e faz-nos pensar sobre o que faríamos se tivéssemos no lugar de Angélica. Afinal, é muito fácil falar em intervenção, mas a autopreservação muitas vezes fala mais alto. Mais tarde, somos levados a pensar em comum a violência psicológica consegue ser tão manipuladora e restritiva, muitas vezes deixando mazelas mais duradouras do que a agressão física. O assédio sexual também acaba por ser exposto, chamando a atenção para o facto de que a insinuação também é grave e que quando não travada pode levar a situações mais perigosas.

No geral, Angélica e Lorenzo é um livro que pode agradar ao público mais jovem. É uma história bastante ingénua, cujos conceitos poderiam ter sido explorados de uma forma mais credível. As personagens precisavam de construção que as aproximasse mais realidade, e o romance necessitava de uma abordagem mais cautelosa. Mesmo a componente da predestinação poderia ter ser explorada de uma outra forma, talvez mais mística, de forma a pelo menos justificar a forte ligação dos protagonistas.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Opinião: O Milésimo Andar

Título Original: The Thousandth Floor (2016)
Autor: Katharine McGee
Tradução: Nuno Bombarda de Sá
ISBN: 9789896579340
Editora: Planeta (2017)

Sinopse: 

Uma torre de mil andares. A visão brilhante de um futuro onde tudo é possível se assim o desejarmos. Nova Iorque, cidade de sonhos e inovação daqui a cem anos. Todos querem qualquer coisa… e todos têm algo a perder. O exterior impecável de Leda Cole esconde um vício secreto por uma droga que nunca devia ter experimentado e por um rapaz em quem nunca devia ter tocado. A vida bela e descuidada de Eris Dodd-Radson desmorona-se quando uma traição lhe destrói a família. O trabalho de Rylin Myers num dos andares mais altos mergulha-a num mundo e num romance inimaginável… mas essa vida nova custar-lhe-á a que tinha antes? E a viver acima de todos, no milésimo andar, está Avery Fuller, uma rapariga que parece ter tudo, mas que vive atormentada pela única coisa que nunca poderá ter.

Segredos, escândalos e traições numa Nova Iorque como nunca a viu.

Opinião:

Se alguma vez imaginaram como seria a série de sucesso “Gossip Girl” se ocorresse no futuro, então encontram a resposta a essa questão em Milésimo Andar. Livro fresco, divertido, intrigante, romântico e repleto de drama. A autora Katharina McGee criou um novo mundo, praticamente tudo passado num edifício gigantesco, onde a alta sociedade vive focada nos seus problemas, alheia às dificuldades dos que lutam pelo sobrevivência nos pisos mais empobrecidos.

Não se pode dizer que exista uma personagem principal nesta trama, uma vez que a autora decidiu dividir a história pela perspectiva de cinco figuras. Desta forma, existe a certeza de que nos vamos sentir ligados com pelo menos um destes jovens, já que todos têm personalidades, vivências, objetivos e obstáculos distintos. Contudo, e apesar de não ser apontado um protagonista, a verdade é que, para mim, existe uma personagem que se destaca: Avery.

Avery é descrita como fisicamente perfeita. Afinal, ela nasceu após um longo estudo aos genes dos seus pais para ser a mais bela. A nível de personalidade, também não há muito para se lhe apontar, sendo que o mais interessante desta figura é mesmo o segredo que guarda. É possível perceber, logo desde o início, de que forma esta situação pode desenrolar-se, por isso não se trata propriamente de uma surpresa quando a revelação é feita. Digo que Avery tem um papel de maior destaque pois é a única que se encontra ligada a todas as outras personagens, logo a sua intervenção é sempre relevante em todos os enredos. Acredito que acabei por torcer por ela não tanto por empatia mas sim por oposição a Leda, sua amiga e rival.

Antipatizei com Leda desde o início. Gostei que lhe fosse dado um fundo problemático, pois isso conferia mais profundidade à personagem, mas a sua personalidade interesseira, manipuladora e oportunista não me agradou. Compreendo que sofreu e sofre grandes mágoas e desilusões, mas as ferramentas que encontra para se fazer valer não são as mais éticas. Com o decorrer da narrativa, tudo o que me desagradou nela torna-se mais vincado, mas ainda assim fiquei admirada com o fim que lhe foi dado.

Eris chamou-me a atenção desde o primeiro momento e apreciei bastante da forma como a autora a levou a deparar-se com os contrastes entre ricos e pobres. Já Rylin, por seu lado, forneceu um caráter romântico diferente à história, fazendo quase lembrar a história da Cinderela. Eris e Rylin são as personagens que nos levam a conhecer as classes mais desfavorecidas, dando uma visão mais ampla e realista sobre este mundo futurista. Tratam-se de duas personagens bem construídas e com fundamentos plausíveis. Tendo em conta história de cada uma, tentam ultrapassar as dificuldades que encontram através de diferentes meios e através de valores distintos.

Watt foi uma lufada de ar fresco. Além de ser a única personagem masculina com destaque, é também um jovem muito interessante devido ao dispositivo ilegal que implantou na própria cabeça. As suas conversas e discussões com Nadia davam sempre alguma leveza à trama e eram divertidas de assistir. Ele acaba por bastante relevante para uma revelação final e para a forma como as outras quatro personagens terminam.

Trata-se claramente de uma obra destinada ao público jovem-adulto, sendo que a intriga entre jovens adolescentes pode, muitas vezes, parecer demasiado dramática. O desenrolar da ação não é propriamente surpreendente, mas tem vários momentos que captam a atenção e fazem querer continuar a leitura. Foi divertido acompanhar estas personagens nas suas peripécias. Confesso que o final do livro afastou-se um pouco daquilo que esperava ou desejava, mas isso apenas deu mais vontade de pegar no livro que continua esta aventura.