Mostrar mensagens com a etiqueta Gailivro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Gailivro. Mostrar todas as mensagens

domingo, 28 de setembro de 2014

Opinião: A Viagem

Título original: Shift (2010)
Autor: Tim Kring e Dale Peck
Tradutor: Pedro Garcia Rosado
ISBN: 9789895577903
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

23 Novembro, 1963
Para: Director McCone
De: J. J. Angleton, Director,

Contra-informação
Assunto: Consequências para a Companhia dos acontecimentos de ontem em Dallas.
Facto: Desde 1953 que a Companhia desenvolve um programa secreto denominado MK-ULTRA.
Facto: O programa testou LSD em milhares de cidadãos Americanos.
Facto: O objectivo? Controlo da mente. A criação do agente infiltrado perfeito. O candidato da Manchúria.
Facto: O KGB desenvolvei programas similares.
Facto: Lee Harvey Oswald viveu na União Soviética de 1959 a 1962.
Conjectura: Terá o LSD matado JFK?

Opinião:
“Os tipos que escrevem ficção científica sempre souberam que o bem e o mal não se excluem mutuamente. Quanto mais lutarem mais essas forças adversárias se parecerão uma com a outra.”

Tim Kring não é propriamente um nome desconhecido, afinal é o criador de Heroes, uma conhecida série onde pessoas aparentemente comuns percebem que tem capacidades extraordinárias. Tim juntou-se ao escritor Dale Peck e juntos escreveram um livro de ficção científica. Exploram uma teoria da conspiração envolta em romance que tenta explicar a morte de John F. Kennedy (mas não numa forma realista, como é evidente).

A Viagem começa em 2012, quando uma figura humana feita de fogo surge durante poucos segundos no céu. São muitas as testemunhas que presenciam este estranho acontecimento que parece não ter qualquer ligação com o que aí vem. Mas tem, não se assustem com o início da leitura parecer não ter sentido, porque tem.

A acção principal desenrola-se no ano de 1963. O leitor fica a conhecer Chandler Forrestal, um homem que não se desliga da vida de estudante universitário que, certa noite, é seduzido pela bela Nazanin Haverman. O que Chandler não sabe é que em vez de estar a ser conduzido para uma noite de luxúria fugaz, está a ser levado para dentro do Projecto Orfeu, onde prostitutas recrutadas pela CIA fornecem aos seus clientes uma droga experimental. Os efeitos desta droga são filmados e analisados por um terceiro que permanece oculto durante todo o processo e os cientistas procuram, desta forma, encontrar a mistura certa para aumentar as funcionalidades da mente humana que permitiriam a telepatia.

Quando Chandler e Nazanin percebem que algo de errado está acontecer, fogem e são perseguidos pelo perigoso e misterioso Melchior. No meio desta perseguição surge BC Querrey que se vê envolvido na trama ao tentar proteger o seu país. E o que tem tudo isto a ver com o assassinato do trigésimo quinto presidente dos Estados Unidos da América? Melchior explica:

“Agora, como achas que as pessoas reagiriam se descobrissem que, ponto um, o presidente tem uma namorada clandestina e, que, ponto dois, a rapariga está a fornecer-lhe uma droga que tem o potencial de tornar o líder do mundo livre susceptível ao controlo da mente e que, ponto três, esta droga está a ser testada pela CIA, organização que por acaso montou em Cuba há poucos anos uma pequena guerra privada que quase deu origem à Terceira Guerra Mundial?”

Os autores exploram o ambiente da Guerra Fria, o medo do comunismo da ex-URSS, a questão dos mísseis de Cuba, tudo isto, envolto no clima de espionagem adjacente, às lutas contra o racismo, ao medo constante daquilo que é diferente, às desconfianças existentes entre liberais e republicanos e aos conceitos hippies da paz e do amor. Esta atmosfera é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes de A Viagem.

As personagens parecem sempre saber mais do que aquilo que expressam e cada uma tem os seus próprios objectivos que tentam ver concretizados a todo o custo. Contudo, a trama tem muita informação que pode tornar a leitura um pouco confusa ou fazer com que o leitor não sinta uma grande ligação com a narrativa. Não são apenas os factos históricos e mitológicos que podem ou não ser do conhecimento de todos, mas todos os novos conceitos podem não ser facilmente compreendidos e considerados aborrecidos.

Quem aprecia mitologia grega vai gostar do paralelismo entre o mito de Orfeu, os efeitos do LSD e a relação entre as duas personagens mais afectadas. Também vai ser vivido um amor improvável e vai ser necessário existir uma descida aos infernos para resgatar aquilo que parece estar perdido para sempre. Desta forma percebe-se a inspiração para o homem em chamas e para as descrições de alguns efeitos da droga.

Não é um livro destinado a um público geral, mas sim a quem aprecia teorias da conspiração e histórias de ficção científica, ou, até mesmo, aos apreciadores de Heroes, que querem conhecer mais do trabalho de Kring. 

domingo, 6 de julho de 2014

Opinião: O Necromante (Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel #4)

Autor: Michael Scott
Título Original: The Necromancer (2010)
Tradução: Leonor Bizarro Marques
ISBN: 9789895577781
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

Depois de Fugirem para Ojai, Josh e Sophie Newman seguiram para Paris, conseguiram escapar de Londres e finalmente estão em casa. Com tudo o que viram e e aprenderam ao longo das últimas semanas, os gémeos estão mais confusos do que nunca em relação ao seu futuro. Josh e Sophie ainda não dominam as magias necessárias para derrotar os Anciãos Negros, perderam Scatty e continuam ser perseguidos pelo doutor Jonh Dee. Mas, o que mais os perturba é o facto de questionarem se podem ou não confiar no casal Flamel. Será que os gémeos de ouro e de prata podem confiar em alguém?

Opinião:

Tal como aconteceu com os volumes anteriores, O Necromante tem um ritmo alucinante. A narrativa do quarto volume da Saga Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel decorre em apenas dois dias, mas neste curto espaço de tempo muito acontece, muito é revelado e novas personagens são apresentadas.

Os gémeos Josh e Sophie continuam a ser as personagens mais relevantes, afinal, está cada vez mais evidente de que se tratam dos gémeos da profecia. A primeira coisa que se nota neste volume é no clima de desconfiança. É fácil perceber o que motiva esta sensação que é justificada por algumas das revelações feitas. A união entre os irmãos é evidente, apesar de ao longo da leitura eles verem um no outro alguém diferente.

Apesar de compreender os gémeos, senti-me solidária para com Nicholas e Perenelle. O casal imortal sofre com os erros do passado e, ao mesmo tempo, vê-se a enfraquecer. A dor de ambos é perceptível, assim como a determinação de fazerem o que é certo. Gostei de ver que, apesar das fraquezas, eles estão dispostos a dar o pouco que têm pelo bem comum.

Como Michael Scott já habituou nos volumes anteriores, surgem muitas mais criaturas e seres fantásticos das mais diversas culturas. Este aspecto é um dos mais interessantes. Torna a leitura mais rica e complexa, para além de que mostra que conceitos de diferentes origens podem ligar muito bem. Surgem também novas personagens, das quais destaco Aoife e Virginia Dare, duas figuras femininas muito diferentes, mas ambas misteriosas.

O encadeamento dos acontecimentos está bem conseguido e a história fluí a um ritmo rápido. Contudo, existe uma sensação que uma boa parte da narrativa pouco acrescenta à saga, sendo que apenas nos momentos finais são feitas revelações de maior interesse. O final surpreende e sugere que a continuação vai ser ainda melhor. E se por um lado isso é bom, pois puxa para o próximo livro, por outro faz com que este tenha sabido a pouco. Percebe-se que este volume funciona mais como uma preparação para algo maior.

A rapidez dos acontecimentos unidos ao conhecimento de história e mitologia de Michael Scott voltam a ser os pontos fortes. O Necromante não é o melhor livro da saga, mas diverte, entusiasma e faz desejar a leitura da continuação.

Outras opiniões a livros de Michael Scott:
O Alquimista ("Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel" #1)
O Mágico ("Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel" #2)
A Feiticeira ("Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel" #3) 

terça-feira, 6 de maio de 2014

Opinião: Espíritos de Gelo

Autor: Raphael Draccon
ISBN: 9789895579013
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

Ele acordou nu acorrentado naquele lugar fétido e mal iluminado. Ao lado dele, havia dois encapuzados de tamanhos desproporcionais e sadismos parecidos. À frente, um interrogador bizarro com uma camisa surrada do Black Sabbath e um semblante sério no rosto que não lembrava um homem, mas sim uma Coisa. Uma criatura que se alimentava de medo. Um interrogador com a face de um macabro palhaço. »Se você não se lembrar do que aconteceu nas últimas horas, nós faremos com que sofra ainda mais. Como se estivesse num dos nove círculos do Inferno», fora o que eu disse, já pensando em iniciar um eletrochoque.

Opinião:
“Se fosse não se lembrar do que aconteceu nas últimas horas, nós faremos com que sofra ainda mais, como se estivesse em um dos nove círculos do Inferno…
Foi o que eles disseram antes do terceiro eletrochoque
Essa nem foi uma das piores partes”

Raphael Draccon revela Espíritos de Gelo, que revela a história de um homem que acorda num sítio desconhecido, amarrado a uma cadeira e com uma costura no lugar dos rins. Para piorar a situação, à sua frente estão três figuras assustadoras que querem desvendar o passado do protagonista através de técnicas atrozes. Vítima de tortura, o jovem começa a recordar o seu passado, e, lentamente, percebe os motivos que o levaram a chegar àquela difícil situação.

O leitor reconhece com facilidade a lenda urbana do homem que acordou numa banheira cheia de gelo e sem um rim, depois de uma noite da qual não consegue recordar. Draccon explora ainda outros temas, como as sociedades secretas que buscam o prazer, a dicotomia entre Deus e Satanás e o valor da traição.

Narrada na primeira pessoa, a trama revela-se envolvente, apesar de o arranque inicial não o sugerir. A história dá saltos entre a situação em que o protagonista se encontra e entre a sua história. No leitor, cresce o desejo de perceber o que aconteceu, assim como, ao mesmo tempo, reflete sobre as ações do jovem bon vivant que se encontra sob tortura.

A maior falha desta edição poderá ser a falta de um trabalho de tradução. O livro está escrito segundo o português do Brasil, o que faz com que surjam certos conceitos e até mesmo expressões que podem não ser compreendidas na totalidade ou até gerar algum desagrado ao leitor.

No geral, esta é uma obra interessante, que prende e mantém o suspense. O final revela-se bastante apropriado e satisfatório.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Opinião. A Lâmina (A Primeira Lei #1)

Título original: The Blade Itself (2006)
Autor: Joe Abercrombie
Tradutor: Renato Carreira
ISBN: 9789895578382
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

A sorte de Logen Novededos, bárbaro infame, esgotou-se finalmente. Apanhado num combate em que não se deveria ter envolvido, está prestes a tornar-se um bárbaro morto, deixando para trás apenas canções más e amigos mortos.
Jezal dan Luthar, modelo de egoísmo, não tem em mente nada mais perigoso do que conquistar a glória no círculo de esgrima. Mas a guerra aproxima-se e, nos campos de batalha do Norte gélido, luta-se com regras muito mais sangrentas.
Ao inquisidor Glokta, torturado convertido em torturador, nada agradaria mais do que ver Jezal regressar a casa num caixão. Mas também é verdade que o seu ódio será extensível a todos os que conhece. Extirpar a traição no coração da União, uma confissão de cada vez, não deixa grande espaço para amizades e o mais recente rasto de cadáveres poderá conduzir directamente ao coração enfermo do governo... se conseguir sobreviver durante tempo suficiente para o seguir...

Opinião: 
Joe Abercrombie é autor britânico que chegou a Portugal pelas mãos da 1001 Mundos. A Lâmina é apresentada ao leitor como o primeiro livro da trilogia A Primeira Lei, uma obra onde se torna difícil fazer a distinção entre bem e mal.

Neste primeiro volume, o autor apresenta-nos um mundo medieval através de três personagens improváveis, mas capazes de cativar ao longo da leitura:

Logen Novededos é um bárbaro mortífero com um longo percurso marcado pela chacina e uma habilidade incomum. Contudo, surge como alguém esgotado e sem motivos para continuar, mas que ganha forças devido a uma nova e estranha companhia.

Jezal dan Luthar é um jovem militar egocêntrico, proveniente de uma família abastada, que usa os outros em benefício próprio, sem pensar nas consequências. Egoísta e irresponsável, vai ver as suas atitudes alterarem quando novas pessoas entrarem na sua vida e a virarem ao contrário.

O inquisidor Glokta é um homem que ficou aleijado na sequência de anos de tortura. Agora, e ironicamente, é um cruel torturador que não tem piedade das suas vítimas. Contudo, consegue ser uma personagem fascinante, cheia de ódio e dona de uma perspicácia ímpar.

Apesar de a narrativa ser centrada nestas três personagens, Joe Abercrombie apresenta outras bastante complexas e cativantes, como é o caso do poderoso e misterioso Bayaz e da irreverente e independente Ardee West.

Uma obra que combina elementos do género fantástico a um enredo sangrento composto por personagens duvidosas que se conhecem ao longo de uma série de acontecimentos e que revelam ser mais do que aquilo que aparentam ao início.

Apesar de a leitura não agarrar nos primeiros capítulos, a verdade é que o ritmo vai aumentando com o passar das páginas, fazendo com que o leitor chegue ao final a desejar por mais. As primeiras páginas parecem apresentar demasiada informação, mas, com o decorrer da narrativa o autor prova que tudo aconteceu por uma razão e, nas últimas páginas, o leitor consegue fazer a ligação entre todos os eventos e percebe que foi levado para uma trama mais intrincada do que parecia.

Os diálogos são o ponto forte do livro. Diretos, mordazes e bem adaptados às personalidades distintas das personagens, criam momentos de grande interesse e brindam o leitor com um humor negro e sarcástico.

Uma obra que apenas peca por revelar a sua grande força nas páginas finais, que fazem desejar pela leitura rápida do segundo volume da trilogia, Forca.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Opinião: Hex Hall (Hex Hall #1)

Título original: Hex Hall (2010)
Autor: Rachel Hawkins
Tradução: Maria João Freire de Andrade
ISBN: 9789895577590
Editora: Gailivro (2010)

Sinopse:

Um bilhete só de ida para um colégio interno perdido nos pântanos do Louisiana era talvez a última coisa que Sophie Mercer esperava receber pelos seus dezasseis anos. Mas Sophie não é uma adolescente igual às outras. Sophie é uma feiticeira e, tal como os outros prodigium, feiticeiros, fadas, lobisomens e vampiros, Sophie não podem frequentar uma escola normal. O que Sophie esperava ainda menos era ser companheira de quarto de Jenna, a única vampira da escola, e ver-se enredada numa trama para descobrir quem anda a assassinar os alunos da escola ao mesmo tempo que tem que lidar com os seus novos poderes, a descoberta da importância do seu Pai na hierarquia dos feiticeiros e a sua paixão pelo namorado da sua mais recente inimiga.

Opinião:
Rachel Hawkins abre as portas de Hex Hall, onde conhecemos Sophie Mercer, uma jovem de 16 que guarda um grande segredo: é bruxa. Sophie tenta viver em sociedade, mas os seus feitiços descontrolados acabam sempre por ser descobertos e obriga que fuja com a mãe para uma outra cidade, até ao dia em que gera o pânico num baile de finalistas. Sophie é então obrigada a ir para Hecate Hall (ou Hex Hall), uma escola para “Prodígios” delinquentes. Ao entrar nesta nova escola, conhece bruxas brancas e negras, mutáveis, lobisomens, fadas e até vampiros.

Com um enredo bastante simples, Hex Hall apresenta uma protagonista com presença de espírito, auto-crítica, corajosa e sarcástica. Quanto às restantes personagens, parecem não trazer nada de novo ao género literário, sendo possível enquadrá-las dentro de determinados estereótipos:

  • O grupo das “meninas más” é bastante básico, uma vez que é constituído pelas raparigas bonitas do local que, para além de fúteis, têm influência e poder para destabilizar o local; 
  • O “rapaz interessante” é o habitual “bad boy”, que afinal é sensível, carinhosos e (estupefacção) até engraça com a protagonista; 
  • Existe também a professora cruel que já foi muito poderosa, mas que foi castigada e agora vinga-se nos alunos, que parece bastante medíocre para quem já foi tão temida; 
  • A melhor amiga é das poucas personagens cativantes, tanto pela sua excentricidade, como pela incerteza quanto à verdadeira natureza.

É a personalidade de Sophie que dá vivacidade à história – que faz lembrar uma versão muito abreviada de uns certos livros sobre um certo jovem feiticeiro que tinha uma cicatriz estranha na testa. Ora então vejamos: uma jovem com poderes mágicos que vive afastada dos seus semelhantes; uma instituição dedicada a estes jovens; um melhor amigo que não é visto com bons olhos; um arqui-inimigo que inicialmente queria ser aliado mas cujo sentimento passou a ódio por embirração; um director que admira o protagonista mas tenta manter a imparcialidade; um professor que tem assuntos pendentes com familiares do protagonista; grupos que querem atacar a instituição e principalmente o protagonista por algum motivo passado; o protagonista tem poderes inatos e poderosos a serem explorados. E sim, até existe um guarda de campos!

É verdade que Hex Hall possuí as características que o distinguem, mas o leitor dificilmente conseguirá afastar as referências anteriormente apontadas e as respectivas comparações durante a leitura. Destaque para um certo vilão cuja identidade poderá surpreender (mas que também faz acreditar que, num próximo livro, a autora procederá à explicação dos seus actos e o absolverá…a ver vamos!).


Nota-se que há uma preocupação da autora a criar imagens na cabeça do leitor, mas estas não são propriamente originais.O próprio modo como a acção se desenrola faz lembrar mais uma obra cinematográfica do que uma obra literária, devido ao estilo de escrita limpo e bastante claro. Os diálogos poderão não agradar completamente aos leitores, pois estão mais direccionados para um público adolescente, sendo possível encontrar diversas vezes expressões como “iá” e “tipo”.

Os nomes que a autora deu à instituição são curiosos, uma vez que o nome oficial consiste numa referência à deusa grega da magia (Hecate), enquanto a alcunha afirma que aquela é a casa das bruxas (hex).

Divertido, fresco, mas com pouco a acrescentar ao género, este é um livro que irá cativar um público mais jovem, mas que também poderá ser uma boa escolha para quem procura algo leve e fácil de ler.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Opinião: Uma Grandiosa e Terrível Beleza

Título original: A Great and Terrible Beauty (2003)
Autor: Libba Bray
Tradução: Susana Serrão
ISBN: 9789895578702
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

Gemma Doyle não é igual às outras raparigas de postura irrepreensível, que só falam quando interpeladas, que conservam a postura, que permanecem deitadas e que pensam na Inglaterra quando lhes é pedido. Não, Gemma é uma ilha. Aos dezasseis anos é enviada para a Academia Spence, em Londres, após uma tragédia que assombrou a sua família na Índia. Sozinha, carregando o peso da culpa e propensa a visões do futuro que têm o mau hábito de se concretizar, Gemma é alvo de uma recepção gelada. Mas Gemma não está só… ela foi seguida por um jovem misterioso, que quer que a sua mente se feche às visões. Em Spencer os poderes de Gemma ganham força. Ela vê-se enredada com as raparigas mais influentes da escola e descobre a ligação da sua mãe a um grupo obscuro conhecido por a Ordem. E será aí que o seu destino a espera… se Gemma acreditar nele. "Uma Grandiosa e Terrível Beleza" é o tipo de livro que não conseguimos largar… É uma vasta tapeçaria de saias rodadas, de sombras dançantes e de coisas que se escondem na escuridão. É um retrato vivo da época vitoriana, altura em que as raparigas eram educadas para serem esposas de homens ricos… E é a história de uma rapariga que viu um caminho diferente.

Opinião:

Depois de ter gostado tanto de Os Adivinhos, fiquei com vontade de conhecer outras obras de Libba Bray. Foi assim que me voltei a deparar com Uma Grandiosa e Terrível Verdade, um livro que já tinha visto nas estantes das livrarias mas que nunca tinha realmente cativado a atenção. Até há bem pouco tempo.

Logo no início da leitura houve vários aspectos que me agradaram. A autora sabe transportar o leitor, sem o maçar com descrições demasiado detalhadas, para ambientes bem distintos, sendo possível sentir a azáfama, vida e calor da Índia para logo a seguir sentirmos a frieza, etiqueta e rigidez de Londres na época vitoriana. Confirmei também que Libba Bray consegue criar personagens reais, humanas, que tanto nos incomodam com as suas imperfeições como nos cativan.

Destaco Gemma Doyle, a protagonista que reconhece ser mimada e teimosa, mas que acaba por ser envolver numa intriga que a faz amadurecer, fazer escolhas, perceber o quão dura a vida pode ser e até pensar até que ponto o perdão é relevante para que se aceite a si própria. Também apreciei bastante o grupo de amigas que Gemma encontrou em Spencer, sendo Felicity a representação da ambição feminina num mundo de homens, Pippa o exemplo de uma menina que se confronta com um casamento-contrato e Ann a jovem que reconhece nunca ter o futuro com que sonha devido às suas origens.

Ao ficar a conhecer estas raparigas, o leitor é levado, inevitavelmente, a reflectir sobre a condição feminina nesta época. Percebe-se perfeitamente a dor que estas jovens sentem por não se conseguirem fazer ouvir, por se sentirem objectos de exibição e por verem os seus sonhos e liberdade cada vez mais distantes. Contudo, é também curioso ver o conformismo da situação inversa em figuras mais românticas e sonhadoras. Libba Bray consegue ainda evocar a ideia de que o ser humano não é perfeito, pois tanto é detentor de luz como de escuridão. Desta forma, a autora mostra através das suas personagens e dos desafios que estas enfrentam de que as escolhas são crucias para a exaltação do bem ou do mal.

Apesar de este livro me ter agradado, a verdade é que também teve momentos menos entusiasmantes. A ação tinha um bom encadeamento, mas certos factos que deveriam ser mistério acabaram por se revelar demasiado previsiveis, o que quebrou um pouco a magia da leitura. A componente fantástica é interessante, mas os seus elementos mais cruciais acabam por não ser explorados da forma que era desejada.

Uma Grandiosa e Terrível Beleza é apenas o primeiro volume de uma trilogia e, apesar dos seus pontos fracos, cativou-me e fez ter vontade de continuar a acompanhar as aventuras destas jovens. Um livro curioso e que recomendo aos fãs de histórias com um teor mais obscuro e que misture fantasia com história.

Outras opiniões a livros de Libba Bray:
Os Adivinhos (Os Adivinhos #1)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Opinião: Cordeiro – O Evangelho Segundo Biff

Título original: Lamb: The Gospel According to Biff, Christ's Childhood Pal (2002)
Autor: Christopher Moore
Tradução: Leonor Bizarro Marques
ISBN: 9789895577019
Editora: Gailivro (2010)

Sinopse: 

Centenas de milhares de pessoas em todo o mundo leram - e releram - a história irreverente, iconoclasta e divinamente divertida da infância de Jesus Cristo, segundo o testemunho do seu amigo de infância, Levi bar Alphaeus (também conhecido por Biff). Agora, também tu poderás descobrir o que realmente aconteceu entre a manjedoura e o Sermão do Monte. Numa nova nota final, expressamente concebida para esta edição, Christopher Moore responde às questões mais colocadas pelos leitores acerca do livro e de si, desde a primeira publicação de Cordeiro. Fresco, divertido, pungente e sábio, Cordeiro tem sido alvo de regozijo para os leitores de todo o mundo.

Opinião:
“Vocês acham que sabem como esta história vai acabar, mas não sabem. Confiem em mim, eu estive lá e sei”.

É desta forma que Christopher Moore apresenta Levi bar Alphaeus, mais conhecido por Biff, o melhor amigo de Jesua. 2000 anos após a morte do Messias, foi ressuscitado com o objectivo de escrever um Evangelho que complemente os que compõe a Bíblia actual. É no quarto de hotel, tendo como guarda o anjo Raziel, que Biff recorda os tempos passados e escreve o testemunho da sua vivência com Jesus Cristo.

Biff conheceu Jesua (Jesus Cristo) quando ambos eram muito jovens, e desde então tornaram-se inseparáveis. Jesua sabia que era o filho de Deus, sabia que teria um papel preponderante para a libertação do seu povo, preocupando-se com a qualidade das suas capacidades, as quais tentava enaltecer com uma dura aprendizagem. Biff era um jovem judeu, com ambições de se tornar idiota da aldeia (mas não da sua, e sim de outra), que vivia, sem esconder, uma grande paixão por Maria, mãe de Jesua, e outra por Madá (Maria Madalena), o amor da vida de Jesua.

Apesar das diferenças entre as duas personagens, Jesua e Biff revelam uma grande cumplicidade, que mesmo nos momentos mais difíceis, não permite o abandono do outro. Jesua sente a necessidade de partir de casa para procurar os três reis magos, que profetizaram o seu nascimento. Biff acompanha o amigo nesta demanda que os leva para o Norte de África, China e Índia e os coloca em contacto com culturas diversificadas, marcadas pelo paganismo, Budismo e Hinduísmo, respectivamente.

A jornada vivida por Jesua faz com que este se aproxime cada vez mais da revelação do seu estado divino, mas é Biff, que apesar de não ser propriamente um modelo cristão, o único que o continua a fazer a ligação do Messias à sua condição humana.

Enquanto o salvador do Mundo caminha em direcção a um estado divino, Biff aprende lutas marciais, explora o campo sexual e destrói a paciência de monges.

Christopher Moore prova, com este livro, o porque de ser considerado um dos escritores mais divertidos da actualidade. O autor apresenta uma história repleta de imaginação, situações caricatas e diálogos divertidos, mas também repleta de uma grande sabedoria.

Os aspectos que mais agradaram consistem na forma como o autor integrou as mais conhecidas parábolas do Novo Testamento na jornada de Jesua e Biff, a ligação das principais crenças e religiões da época com o desenvolvimento da filosofia inerente ao Cristianismo, e, a forma como acontecimentos com uma grande relevância cristã, como a Última Ceia, foram retratados.

Contudo, o final do livro é muito abrupto, havendo algumas situações que podiam ter tido um desenvolvimento mais adequado, e outras questões que ficaram por responder. No entanto, estes aspectos menos positivos não tiram qualquer valor à história.

Cordeiro – O Evangelho Segundo Biff oferece momentos de diversão, mas também oportunidades de reflexão, e como tal, importa finalizar com um resumo de Biff relativamente aos sermões de Jesua:

“Devíamos ser amáveis com as pessoas, até mesmo com patifes

E se acreditávamos:

a) que Jesua era o Filho de Deus

b) que ele viera para nos salvar (e)

c) se reconhecêssemos em nós o Espírito Santo (tal como crianças pequenas, diria ele) (e)

d) não blasfemássemos contra o Espírito Santo (ver C)

conseguiríamos:

e) viver para sempre

f) num sítio aprazível

g) provavelmente no céu

no entanto:

h) se pecássemos (e/ou)

i) se fossemos hipócritas (e/ou)

j) se valorizássemos as coisas acima das pessoas

k) não cumprindo a, b, c e d

estaríamos

l) fodidos”

Definitivamente, uma forma diferente de apresentar a mensagem de Jesus Cristo. Um livro recomendado a todos os que gostam de leituras com sentido de humor e que não se chocam facilmente.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Opinião: União


Título original: Matched (2010)
Autor: Ally Condie
Tradução: Susana Serrão
ISBN: 9789895577842
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:






Cassia sempre confiou nas escolhas dos Funcionários. É um pequeno preço a pagar por uma vida longa, um emprego perfeito, um companheiro ideal. Quando o seu melhor amigo aparece no ecrã da União, Cassia tem a certeza absoluta de que ele é o certo… até ao momento em que vê um outro rosto aparecer no ecrã, por breves instantes, antes de este ficar negro. Agora Cassia vê-se confrontada com escolhas impossíveis: entre Xander e Ky, entre a única vida que conhece e um caminho que nunca ninguém ousou seguir - entre a perfeição e a paixão.

Opinião:

Ally Condie é uma antiga professora de inglês de secundário, do Utah, EUA, que agora se dedicada a tempo inteiro à escrita. Com União, o primeiro livro de uma trilogia, a autora apresenta uma sociedade futurista onde cada aspecto da vida pessoal é controlado. Os cidadãos estão inteiramente limitados nas suas escolhas, pois tudo é decidido de forma a alcançar ou aparentar perfeição. Sendo assim, toda a vida é controlada, sendo que, por exemplo, é a sociedade que decide quando um casal pode ter filhos, qual é a sua alimentação diária, os sonhos são vigiados, as profissões são escolhidas consoante as capacidades individuais, existem sistemas destinados a encontrar o parceiro ideal para cada um, a arte é restrita, a história foi apagada e todos morrem ao chegar aos 80 anos.

Cassia Reyes é a protagonista desta trama. Como qualquer outro jovem, ao completar 17 anos prepara-se para um dos momentos mais aguardados da sua vida: ir ao Banquete da União onde vai finalmente conhecer o rapaz com quem se vai casar. Uns pequenos precalços fazem com que esta rapariga coloque em dúvida o sistema em que vive e a partir daí tudo se complica.

Ally Condie apostou numa fórmula certa, isto se o seu objectivo era cativar os leitores deslumbrados pela saga Crepúsculo (Gailivro), de Meyer, pela série Casa da Noite das Cast (Saída de Emergência) e similares. Não é uma obra original. Está demasiado focada num triângulo amoroso forçado – não ter vampiros não é sinónimo de diferença, é apenas mais uma variante do mesmo. Mesmo a apresentação daquele mundo, que acaba por ser o ponto mais forte da narrativa, faz com que o leitor faça constantes comparações com obras anteriores, como é o caso de The Giver, de Lois Lowry, na descrição geral da vida em sociedade, e até mesmo da série Uglies, de Scott Westerfeld, na questão da perfeição almejada no futuro e na rebelião fora das portas das cidades.

A caracterização das personagens é fraca e bastante agarrada aos estereótipos gerais. Assim, temos Cassia, a bela e dotada protagonista que vive um conflito interior, Xander, o típico jovem perfeito que todas as raparigas desejam encontrar, e Ky, o misterioso rapaz portador de um passado doloroso. Neste primeiro volume não foi possível observar grandes evoluções de personalidade, mas pode ser que a autora trate desta falha num próximo.

Mas existem mais prblemas. O desenrolar dos acontecimentos é lento, uma vez que a escrita está mais focada no campo introspectivo, o que pode tornar a leitura aborrecida. Para além disso, existem vários aspectos que não são facilmente "engolidos": como é que uma rapariga que passou toda a sua vida encantada com o melhor amigo que, por acaso, parece ser perfeito, de repente perde o interesse nele e começa a focar a sua atenção no rapaz que sempre ignorou, apenas porque ele lhe apareceu no chip da sua união por “erro”? Claro que esta mania pelo novo rapaz acabou em algo mais… E qual é a obsessão dos Funcionários da sociedade por este jovem de 17 anos igual a tantas outros? Toda a atenção que lhe é dada chega a ser ridícula. Esta trama não guarda grandes surpresas, uma vez que o desenrolar dos eventos se torna demasiado evidente.

Este não é um livro aconselhável a um público mais adulto que já conhece obras mais elaboradas e originais, mas sim a jovens que apreciaram os títulos apresentados ao longo do texto e que querem ler mais do mesmo.


NOTA: Os direitos desta trilogia  foram adquiridos pela Disney e pela Offspring Entertainment.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Opinião: Criaturas Maravilhosas

Título Original: Beautiful Creatures (2009)
Autor: Kami Garcia e Margaret Stohl
Tradutor: Ana Beatriz Manso
ISBN: 9789895577576
Editora: Gailivro(2010)

Sinopse:

Lena Duchannes é diferente de qualquer pessoa que a pequena cidade sulista de Gatlin alguma vez conheceu. Ela luta para esconder o seu poder e uma maldição que assombra a família há gerações. Mas, mesmo entre os jardins demasiado crescidos, os pântanos lodosos e os cemitérios decrépitos do Sul esquecido, há um segredo que não pode ficar escondido para sempre.

Ethan Wate, que conta os meses para poder fugir de Gatlin, é assombrado por sonhos de uma bela rapariga que ele nunca conheceu. Quando Lena se muda para a mais infame plantação da cidade, Ethan é inexplicavelmente atraído por ela e sente-se determinado a descobrir a misteriosa ligação que existe entre eles. Numa cidade onde nada acontece, um segredo poderá mudar tudo.


Opinião:


Criaturas Maravilhosas é o exemplo perfeito de um livro que surgiu após o sucesso da saga “Luz e Escuridão” de Stephenie Meyer. A fórmula usada é a mesma que vimos no livro “Crepúsculo”: um casal de adolescentes apaixona-se perdida e incondicionalmente mas tem de enfrentar o obstáculo de um deles ser humano e o outro não. A diferença está em que a história é narrada pelo rapaz e é a rapariga que é sobrenatural. Estes aspetos são o suficiente para o livro ser considerado original? Obviamente que não.

Lena e Ethan, o casal principal vivem um amor à primeira vista tão comum em romances demasiado exagerados e estereotipados. O rapaz, antes de a conhecer, passa a vida a sonhar com ela e quando finalmente a conhece tem de enfrentar uma série de obstáculos para a conquistar (acha ele). A verdade é que Lena também está rendida aos encantos daquele humano completamente comum, só que uma maldição a leva a não querer envolver-se com ninguém. Mas claro que o amor acaba por ser mais forte e eles lá acabam por viver um romance (aposto que ninguém estava à espera disto! Uma história previsível como podem ver).

A trama é desenvolvida de uma forma lenta e sem grandes surpresas. A leitura é arrastada ao longo de mais de 400 páginas, sendo que os principais aspetos focados são o quanto os protagonistas gostam um do outro. As coisas só ficam interessantes quando a maldição e a família de Lena se tornam os temas explorados, pois é aqui que o mistério e a intriga aparecem.

Tal como já foi referido, a trama é narrada por Ethan. Porém, esta não é feita de forma persuasiva. Este rapaz adolescente criado por duas autoras não convence por parecer demasiado “o que uma miúda quer”. Provas? Então digam-me, acreditam que os rapazes comuns de 16 anos são capazes de descrever pormenorizadamente as roupas das amadas, não pensam nem uma única vez em saltar para cima delas e são fãs de poesia? E acreditam ainda no facto de eles saberem de cor todos os vestidos usados por Scarlett O’Hara? Pois eu não.

Já Lena, é a típica medida desajustada que tenta encontrar o seu lugar no mundo. Não é aceite pelos seus pares por ser considerada diferente. Estas características são mais do que comuns, o que resultam na tentativa de os leitores do sexo feminino (público ao qual o livro é destinado) se sentirem identificados. Um método muito usado neste tipo de tramas.

E se os protagonistas não pareceram ser estimulantes o suficiente, existem outras personagens que, felizmente, agarram o leitor. Falo de Macon, o misterioso tio de Lena que é tido por todos como louco por viver de forma tão isolada e também as primas de Lena, que trazem uma lufada de ar fresco à trama. É este núcleo que abre portas ao lado mais mágico do livro, contudo, de uma forma pouco explorada.

Criaturas Maravilhosas revelou-se um livro fraco, pouco imaginativo e com um desenvolvimento aborrecido. Terminei esta leitura por teimosia e por não gostar de deixar livros a meio. Não tenho qualquer intenção de continuar a acompanhar esta saga que já conta com um outro volume publicado em Portugal, o Trevas Maravilhosas.


Nota: A adaptação cinematográfica de Criaturas Maravilhosas chega a Portugal já amanhã, dia 28 de fevereiro.

sábado, 10 de novembro de 2012

Opinião: Prazeres Inconfessos (Série Anita Blake #1)



Título original: Guilty Pleasures (1993)
Autor: Laurell K. Hamilton
Tradutor: Leonor Bizarro Marques

ISBN: 9789895577880 
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

Monica Vespucci usava um crachá que dizia “Os Vampiros também são Pessoas”. Não era um início de noite prometedor. Tinha cabelo curto, habilmente cortado, e uma maquilhagem perfeita. O crachá devia ter-me alertado para o tipo de despedida de solteira que planeara. Há dias em que sou demasiado lenta a perceber as coisas. “Eu usava jeans negros, botas até ao joelho e uma blusa carmesim, de mangas compridas, para esconder a bainha da faca que trazia no pulso direito, e as cicatrizes no meu braço esquerdo. Deixara a minha arma na mala do carro, pois não achava que a despedida de solteira se pudesse descontrolar por aí além…”   

Opinião:

Prazeres Inconfessos é o primeiro livro de uma colecção que já atingiu os 20 volumes, de autoria de Laurell K. Hamilton. A autora apresenta um mundo alternativo, onde vampiros, lobisomens e outras criaturas sobrenaturais coexistem com humanos. Esta ideia pode fazer lembrar a série de Sookie Stackhouse criada por Charlaine Harris – editada em Portugal pela Saída de Emergência – e popularizadas pela série televisiva True Blood, mas é necessário ter em conta que Hamilton escreveu o primeiro livro desta colecção oito anos antes de Harris.

Neste primeiro livro, o leitor fica a conhecer a heroína Anita Blake, uma mulher de personalidade forte e com uma profissão muito peculiar.

“Antes de mais sou uma animadora. Caçar vampiros é… uma actividade paralela”

Anita é uma humana, com estranhas capacidades. Além de ajudar as autoridades a apanhar vampiros que atentam contra a vida humana, ainda é capaz de convocar ou desconvocar os mortos. Sim, estou a falar de zombies, e sim, é isso que significa ser “animadora”.

A trama inicia-se quando Anita é convidada para a despedida de solteira de uma das suas poucas amigas. Pouco dada a momentos de divertimento nocturno, a caçadora aceita sair, sem desconfiar que a noite pode não correr como imaginava. Contra a sua vontade, é levada para o Prazeres Inconfessos, um clube de strip de vampiros que pertence a Jean-Claude, um dos poucos mestres da cidade.


A animadora vai ser apanhada numa armadilha preparada pela vampira mais antiga da cidade, para a obrigar a ajudar numa investigação. Para defender a vida de inocentes, a jovem não consegue recusar e inicia uma aventura para ajudar seres que despreza.

Aquele que parece ser mais um romance paranormal igual a tantos outros que surgem no mercado, revela-se uma boa surpresa. Uma heroína que está focada nos seus valores e na concretização dos seus objectivos e, por isso, coloca os seus desejos e sentimentos de parte para um bem maior. A capa desta edição pode enganar um pouco o leitor e dar a ideia que o ponto principal da narrativa envolve um romance, mas não é isso que acontece, pelo menos com este primeiro livro da série.

Com uma escrita simples, Hamilton oferece ao leitor descrições precisas e momentos de humor negro que enriquecem a narrativa.

“É difícil usar uma arma em St. Louis no verão (…) Se usarmos um casaco para cobrir a arma derretemos de calor e se guardamos a arma na mala de mão, somos mortas, porque nenhuma mulher consegue encontrar nada dentro da mala, em menos de doze minutos. É uma regra.”

Laurell K. Hamilton apresenta uma história cheia de acção, mistério, muita sedução e uma heroína que consegue marcar a diferença. Contudo, esta série poderá ter sido mais marcante na época em que foi lançada, uma vez que o mercado literário já possui outros bons exemplos de livros que são facilmente comparáveis a este.

Prazeres Inconfessos é uma leitura agradável, para quem gosta da junção do género policial com o fantástico e de heroínas distintas, com questões morais pertinentes e capacidade de alterar alguns das suas ideias mais vincadas. 



Outros livros de Laurell K. Hamilton:
O Beijo das Sombras

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Opinião: Cornos


Título original: Horns (2010)
Autor: Joe Hill
Tradutor: Pedro Garcia Rosado
ISBN:  9789895577613
Editora: Gailivro (2010)

 Sinopse:

Ignatius Perrish passou a noite embriagado e a fazer coisas terríveis. Na manhã seguinte acordou com uma ressaca tremenda, uma dor de cabeça violenta... e um par de cornos a sair-lhe das têmporas.No início Ig pensou que os cornos eram uma alucinação, fruto de uma mente danificada pela fúria e pelo desgosto. Passara um ano inteiro num purgatório solitário e privado depois da morte da sua amada, Merrin Williams, violada e assassinada em circunstâncias inexplicáveis. Um colapso mental teria sido a coisa mais natural do mundo. Mas nada havia de natural nos cornos, que eram bem reais.

Em tempos, o íntegro Ig usufruíra da vida dos bem-aventurados, Ig tinha estabilidade, dinheiro e um lugar na comunidade. O único suspeito do crime, Ig nunca foi acusado ou julgado. Mas também nunca foi ilibado. No tribunal da opinião pública de Gideon, New Hampshire, Ig é e será sempre culpado. Nada que ele possa dizer ou fazer importa. Todos o abandonaram e parece que o próprio Deus também. Todos com excepção do demónio que está dentro de si... E, agora, Ig está possuído por um poder novo e terrível que condiz com o seu novo look assustador - um talento macabro que tenciona usar para descobrir o monstro que matou Merrin e que destruiu a sua vida.

Opinião:

Cornos é a história de um rapaz que procura recuperar a verdade ao mesmo tempo que trava uma luta interna entre o bem e o mal. Esta não é uma história feliz, afinal, a trama começa num ponto em que diversos acontecimentos atrozes já tomaram lugar e já mudaram vidas.

Ig é um jovem que já foi feliz, mas que acabou por se tornar um pária, por ser visto como o autor da violação e assassinato da namorada. Inconformado pelo terrível acontecimento e por não conseguir provar a sua inocência, o jovem acaba por entrar numa espiral de declínio, ao mesmo tempo que uns cornos lhe crescem na cabeça e lhe permitem conhecer tudo o que aqueles que o rodeiam pensam.

Se, inicialmente, Ig não é visto com bons olhos devido à conduta que decidiu seguir após a morte da namorada, depressa o leitor deseja que o verdadeiro criminoso seja descoberto, de forma a ilibar Ig. Afinal, o jovem sofre não só com o desgosto mas também com a rejeição daqueles que outrora amou. O seu novo poder faz com que passe por momentos lamentáveis, nomeadamente quando percebe que a família tem vergonha dele e o quer longe. Ig depressa revela ser uma personagem interessante e complexa.

Livro de leitura rápida, onde está sempre algo a acontecer, alguns segredos podem parecer ser desvendados depressa demais, mas a verdade é que a sua revelação apenas acarreta mais questões que o leitor quer ver respondidas. Contudo, os saltos temporais e as mudanças de perspetiva ao longo da narrativa podem gerar alguma confusão e dificultar a leitura aos mais desatentos.

Inserido no género do terror, Cornos é pode ser assustador, sem recorrer a lugares comuns do género. Afinal, existe a componente fantástica de surgirem cornos na cabeça da personagem principal, mas a trama principal acaba por girar em torno de uma cruel realidade.

Leitura interessante, prova que Joe Hill não é apenas o filho de Stephen King, mas que é também um autor de muito talento.

Nota: Cornos prepara-se para ter adaptação cinematográfica. O filme está em pré-produção, conta com Daniel Radcliffe e Juno Temple no elenco e tem estreia marcada para 2013.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Opinião: A Feiticeira


Autor: Michael Scott
Título Original: The Sorceress (2009)
Tradução: Leonor Bizarro Marques
ISBN: 9789895577026
Editora: Gailivro (2010)

Sinopse:

Após a batalha travada em Paris, que causou grande destruição, Nicholas Flamel vê o seu tempo e o da sua amada Perenelle a esgotar-se. Mas não é só a sua morte que o preocupa, pois o alquimista sabe que se perecer o mundo tal como o conhecemos acaba.

Ao mesmo tempo, Sophie e Josh dão provas de que realmente são os gémeos da profecia e, como tal, ambos têm que ser protegidos ao mesmo tempo que precisam de voltar a viajar para se encontrarem com um novo Ancião que lhes ensinará a magia elementar da água. Contudo, existem cada vez mais inconvenientes, é que para além de estarem a ser perseguidos, o homem que procuram é louco e instável, o que poderá colocá-los em risco.

Paralelamente, Perenelle continua cativa em Alcatraz, rodeada pelos espíritos daqueles que morreram na ilha prisão e por seres poderosos que a querem ver morta.

Opinião:

O terceiro volume da série “Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel” apresenta um ritmo alucinante que faz com que seja difícil parar a leitura. Desta vez, o palco principal onde decorre a ação é a cidade de Londres, de onde o maléfico John Dee é natural.

As provações que foram vividas até ao momento fazem com que os gémeos se tornem cada vez mais céticos das verdadeiras intenções de todos os que o rodeiam. Para além desta evolução, ambos questionam-se, cada vez mais, sobre o que realmente são e perguntam-se pela sua real função desta guerra sem igual. Isto torna-os mais unidos, apesar de ficar a ideia que ambos vão passar por uma violenta prova que poderá ditar o fim da forte ligação que possuem neste momento da trama.

Tal como no volume anterior, o autor continua a somar personagens interessantes e imprevisíveis à narrativa. Desta vez, destaco William Shakespeare, Billy the Kid, Gilgamesh, Cernunnos e os seus Caçadores Demoníacos, Marte e Palamedes. É curioso ver como figuras históricas e mitológicas que parecem não possuir qualquer relação se encontram relacionadas nesta obra, de um modo tão encantador e convincente.

A ação que decorre em Alcatraz fica mais emocionante. Perenelle começa a dar provas de ser a feiticeira que todos os seus inimigos temem. Para além de ultrapassar, com inteligência algumas situações arriscadas, a mulher de Nicholas tem ainda a perspicácia de conseguir aliados preciosos.

As descrições, apesar de não serem tão precisas como no volume anterior, continuam a conseguir levar o leitor a sentir o ambiente de tensão vivido por todas as personagens. A escrita é fácil de acompanhar, bastante simples e clara. No final, são apresentadas algumas notas do autor acerca de dois dos locais mencionados na narrativa, o que, mais uma vez, demonstra o trabalho de pesquisa que foi feito para a construção da obra.

“A Feiticeira” volta a mostrar que Michael Scott possui grandes conhecimentos de história e na área do misticismo, para além de que é capaz de unir essas qualidades à construção de uma história cativante. A curiosidade aumenta a cada livro. 

Outros livros de Michael Scott:
O Alquimista (livro 1 de "Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel")
O Mágico (livro 2 de "Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel")

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Opinião: O Mágico


Título original: The Magician: The Secrets of the Immortal Nicholas Flamel (2008)
Autor: Michael Scott
Tradução: Leonor Bizarro Marques
ISBN: 9789895575824
Editora: Gailivro (2009)

Sinopse:

Depois dos acontecimentos passados nos Estados Unidos da América narrados no volume anterior, "O Alquimista", os gémeos Josh e Sophie chegam a Paris através de um portal de mágico, na companhia do misterioso Nicholas Flamel, o imortal, e de Scatach, uma deusa guerreira e temerária.

O grupo foge do terrível Dr. Joh Dee, que os persegue com a intenção de recuperar as páginas do Codex, livro que roubou e que pode levar o seu detentor a obter grandes poderes que podem salvar os destruir o mundo.

Flamel encontra-se na cidade em que viveu uma parte importante da sua vida, e, apesar das muitas alterações que observa, existem elementos que são imutáveis. Para ajudar, o grupo de fugitivos encontra novos aliados: o talentoso e charmoso Conde de Saint-Germain, e a bela e pura Joana D’Arc. Toda a ajuda é necessária, afinal, Paris é controlada por Niccolo Machiavelli, um homem poderoso e misterioso que fará tudo para alcançar aquilo que deseja (afinal, "os fins justificam os meios").

Opinião:

Este segundo volume apresenta algumas evoluções relativamente ao primeiro. Para além de a história dar um significativo passo em frente, aquela que poderia ser considerada uma das maiores falhas em "O Alquimista" é aqui ultrapassada, uma vez que as personagens apresentam um crescimento significativo, na medida em que as suas personalidades tornam-se mais complexas e distintas. O autor demonstra ainda que mesmo aqueles que podem ser considerados heróis não são perfeitos e são possuidores de certas características que surgem como um obstáculo às suas acções.

O desenrolar da acção é mais rápido e cheio de peripécias, sendo que a mitologia e as lendas continuam a ter um grande peso e a ser um dos factores mais cativantes na leitura. Estão constantemente a surgir novos seres e a serem mencionados determinados conceitos que fazem parte do uma tradição popular universal, o que torna a narrativa apelativa.

A velocidade da narrativa e as descrições fazem com que o autor consiga levar o leitor por uma viagem por Paris, desde a uma passagem por uma Torre Eiffel luminosa a uma descida pelos caminhos proibidos das Catacumbas, cujas descrições permitem sentir a huminadade do local e o terror da escuridão.

Se "O Alquimista" prometia ser mais interessante, "O Mágico" revela uma aventura emocionante com muitos mistérios por resolver. Com esta evolução é com grande expectativa que se aguarda a leitura de "A Feiticeira", o terceiro volume desta série.


Outras opiniões a livros de Michael Scott
O Alquimista (livro 1 de "Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel")

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Opinião: O Alquimista


Título original: The Alchemyst: The Secrets of the Immortal Nicholas Flamel (2008)
Autor: Michael Scott
Tradução: Leonor Bizarro Marques
ISBN: 9780385733571
Editora: Gailivro (2009)

Foi hoje anunciado que a produtora AMPCO Films adquiriu os direitos do livro “O Alquimista” e o que a produção do filme vai começar em fevereiro de 2013. Ao que tudo indica, será o próprio Michael Scott, o autor do livro, o responsável pelo guião desta adaptação cinematográfica.

Considerando esta notícia, achei que este era o momento certo para publicar a minha opinião acerca do primeiro livro da série “Os Segredos de O Imortal Nicholas Flamel”.

Sinopse:

Josh e Sophie são irmãos gémeos, que conseguiram arranjar trabalhos de verão na mesma rua. Enquanto Sophie conhece os odores de uma casa de chá, Josh tenta entender-se dentro de uma livraria que está na posse de um estranho casal. O que os dois irmãos não sabem é que convivem diariamente com dois humanos que descobriram o segredo da pedra filosofal: Nicholas e Perenelle Flamel. Este casal antigo é perseguido por um outro alquimista que possui intenções questionáveis: John Dee, uma personalidade bastante conhecida do século XVI.

Os irmãos encontram-se envolvidos numa luta para recuperar um livro antigo e poderoso e descobrem alguns segredos impensáveis: parece que a magia realmente existe e que todas as histórias, lendas e mitos têm um fundo de verdade muito maior do que era esperado!


Opinião:

Michael Scott pretendia criar uma série que envolvesse temas míticos e lendários com a demanda de dois irmãos gémeos. Esta ideia só tomou um rumo quando o autor visitou em Paris, aquela que foi a casa de Nicholas Flamel, alquimista, astrólogo, vendedor, livreiro e escrivão do século XIV. Foi assim que surgiu este livro, o primeiro de uma série.

A construção de um mundo onde todas as divindades e seres sobrenaturais e místicos existem é o principal atractivo deste livro. O autor revela que possui um vasto conhecimento destes assuntos e, para além disso, sabe entrelaçar aspectos de diferentes origens o que permite a aquisição de novos conhecimentos. Assim, o leitor conhece a existência de um povo anterior à humanidade, explora a verdadeira natureza da magia enquanto capacidade obtida através da plena captação sensorial e acompanha as intrigas criadas por Morrighan, a deusa celta da guerra e da morte, e Bastet, a deusa egípcia da fertilidade (não, não existe aqui qualquer erro, existe mesmo uma mistura de mitologias), por exemplo.

Enquanto o mundo criado pelo autor é tão interessante e apelativo, as personagens parecem carecer de uma construção mais sólida e profunda, uma vez que parecem terem sido criadas segundo certos estereótipos onde o aprofundamento parece improvável, sendo difícil par ao leitor criar empatia. O facto de os gémeos, personagens principais, serem adolescentes de 15 anos pode, à partida, afastar alguns leitores cansados das tramas destinadas a um público mais jovem. O facto de, por vezes, se tornar complicado distingui-los graças às personalidades bastante semelhantes também não ajuda.

"O Alquimista" revela ser um livro de leitura agradável, a qual não deve ser iniciada com expectativas elevadas. Os pormenores simbólicos e os conhecimentos do autor são, sem dúvida, os aspectos que marcam a diferença.