terça-feira, 15 de maio de 2012

Entrevista a Sofia Teixeira


A tirar o Mestrado em Engenharia Informática e de Computadores no Instituto Superior Técnico, Sofia Teixeira concilia os estudos com a manutenção do blog Morrighan. Este espaço nasceu com o objetivo de ser uma página pessoal, onde a autora colocava conteúdos de interesse próprio, muito ligados ao misticismo e esoterismo. Com o tempo, o blog começou a ter uma vertente mais literária e, neste momento, é tido por muitos como uma referência dentro do género. Sofia Teixeira, que decidiu apostar na divulgação de autores nacionais, já foi convidada a participar em apresentações de livros e em debates acerca de temas relacionados com a literatura.
Agradeço à Sofia o apoio na criação deste espaço e a forma entusiasta e direta com que respondeu à entrevista que lhe foi proposta.

Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Qual o papel do blog Morrighan na tua vida?

Sofia Teixeira (S.T.) - O blog Morrighan começou como um espaço muito pessoal. Colocava lá pequenos textos relacionados com o paganismo ou mitologia e não era mais do que um pequeno bloco de notas online. Até que no Verão de 2009 li uma data de livros que gostei e decidi partilhar naquele meu cantinho o que tinha achado desses livros. Numa das minhas visitas pela blogosfera encontrei um autor português a oferecer um livro seu e como lia muito pouco de autores portugueses, decidi que queria divulgá-los mais e dar-lhes mais atenção. A partir daí confesso que tudo se descontrolou um bocado e sem dar conta o blog atingiu proporções que nunca tinha idealizado nem pensado que fosse possível atingir. Vieram as entrevistas, contactos às editoras e por parte das mesmas, uma troca gigante de informação que culminou numa popularidade inesperada. Aos poucos e poucos, o que era um cantinho meu, tornou-se num cantinho de muita gente e esta partilha 'obrigou-me' a gastar muito mais tempo em dedicação ao blog.
Neste momento o blog Morrighan é uma parte de mim. Já não sei o que é passar um dia, ou uma semana, sem partilhar algo com os meus leitores. Apesar de agora ter uma vertente literária muito forte, coloco lá um pouco de tudo do que gosto. Recuso-me a classificar o blog Morrighan como um blog estritamente literário. É um blog pessoal que transmite parte daquilo que sou. O meu gosto pelos livros, pela música, pela arte, pela mitologia e pelo paganismo. E é isto que o blog Morrighan é, a minha casa online.

U.B.C. - Morrighan é uma das faces da deusa mais incompreendida devido à dualidade vida e morte. Porquê esta escolha de nome?
S.T. - Como disse na pergunta anterior, o blog surgiu através da sua parte mística. Morrighan sempre foi a deusa que mais admirei na mitologia celta, principalmente por me identificar com tantos aspetos da sua personalidade. A incompreensão que existe perante esta deusa, faz parte da sua complexidade o acabou por me atrair ainda mais. É-me um pouco complicado falar desta relação entre mim e a escolha da deusa porque confesso que é bastante pessoal. Inclusive no blog tenho dois posts um pouco relacionados com esta pergunta que podem visitar aqui Morrighan: A Incompreendida Deusa Celta e aqui Deusa Morrighan.
U.B.C. - Como é que um espaço com temáticas místicas e esotéricas se tornou num blog literário tão reconhecido?
S.T. - Ora, esta é uma pergunta que me fazem umas quantas vezes e para a qual dificilmente algum dia obterei uma resposta certeira. Penso que acabou por ser um reconhecimento público de todo o meu esforço e dedicação principalmente na divulgação dos autores portugueses. Porque foi por aí que o blog começou a ser mais visualizado em termos literários. Através da colaboração que existiu de ambas as partes, minha e dos autores, blog começou a circular na blogosfera na sua vertente literária e a partir daí cresceu, cresceu e cresceu, sem muitas vezes eu ter qualquer noção do impacto que este estava a ter. Quando me começaram a chegar mails de autores e de editoras a pedir divulgação ou a estabelecer parcerias, percebi que realmente o seu conteúdo começava a ter algum impacto. Hoje tenho quase 1300 seguidores no blogger, mais de 2100 no Facebook e confesso que mesmo assim não consigo ter noção do quanto é que o blog tem influência ou não no mundo literário. Não é hipocrisia, é mesmo verdade. Quando me dizem que o meu blog é dos mais prestigiados ou dos que é mais tido em conta no mundo literário, eu fico com cara de parva sem saber o que dizer, porque realmente deste lado não tenho essa perceção toda.
U.B.C. - A leitura sempre esteve muito presente na tua vida?
S.T. - Tenho que dizer que nem por isso. Os meus pais nunca foram de ler e quando era miúda acabava por ler os livros da Anita que me ofereciam ou os livros de Uma Aventura que pedia emprestados aos meus primos. De vez em quando lá comprava banda desenhada da Disney, mas como não haviam muitas posses financeiras, só mais tarde quando comecei a ter o meu dinheiro é que comecei a comprar mais livros em alfarrabistas ou feiras do livro e aí sim, a minha paixão pela leitura disparou e tornou-se irreversível.
U.B.C. - Quais os teus géneros preferidos?
S.T. - Muitas pessoas associam o meu blog ao género do fantástico como se eu só gostasse de fantástico. A sua parte mística ajuda um pouco a dar essa impressão, mas a verdade é que gosto de tudo um pouco. Adoro fantasia e ficção científica, são sem dúvida os géneros que leio mais, mas um bom policial/thriller seduz-me imenso tal como um bom romance histórico. No entanto, tento cada vez mais ir variando, pois quando leio muitos livros do mesmo género seguidos, acabo por me cansar. Às tantas fica impossível não fazer associações entre as diversas obras e por isso gosto de variar.
U.B.C. - Quais são os autores cujas novidades não consegues perder?
S.T. - De autores portugueses não consigo perder Filipe Faria, David Soares e Pedro Ventura. Acompanho muitos mais autores nacionais, mas estes são sem dúvida os meus preferidos.
De autores internacionais tornei-me viciada em George R.R. Martin, Patricia Briggs, Juliet Marillier, Suzanne Collins e mais recentemente Catherine Fisher.
U.B.C. - Que critérios usas para decidir quais os conteúdos a publicar?
S.T. - Esta é uma pergunta muito interessante. Não sei se os leitores têm noção, mas todos os dias chegam à minha caixa de correio imensos comunicados de imprensa de milhentas novidades. Por muito que possa desagradar às editoras ao dizer isto, não publico todas. Para algum conteúdo ser publicado no blog, primeiro tenho que ver algum sentido em publicá-lo e de preferência achar que pode vir a ser útil ao meu público. Se fosse a publicar tudo o que me aparece na caixa de correio era o caos e penso que se daria uma dispersão de conteúdos desnecessária.
O avatar utilizado por Sofia Teixeira
U.B.C. - Quais são as tuas principais dificuldades e facilidades na escrita de opiniões de obras literárias?
S.T. - As minhas opiniões são isso mesmo, opiniões. Não são críticas ou resenhas, mas sim a minha visão pessoal dos livros. Desde o 10º ano que a minha formação é em informática. Estive no Tecnológico de Informática no Secundário, estou a acabar mestrado em Engenharia Informática e por isso a minha formação na área das letras é bastante próxima de nenhuma. Confesso que escrever não é algo para a qual eu ache que tenha jeito e acabo por escrever quase como falo o que não é, de todo, o mais correto, por assim dizer. Se formos a outros blogs puramente literários, encontramos opiniões muito mais estruturadas, líricas até. As minhas são um pouco cruas e brutas. Esse é outro aspeto que faz com que fique surpreendida por tanta gente gostar delas. Talvez seja por conseguir transmitir melhor, desta maneira, o que senti ao ler o livro.
U.B.C. - Quem segue o blog vê uma grande preocupação pela divulgação do autor nacional. Acreditas estar a fazer a diferença para desmistificar a ideia de que só o que vem de fora tem qualidade?
S.T. - Tenho que acreditar. Foi com esse propósito que há dois anos comecei as entrevistas. Mesmo que não tivesse o mais de milhar de seguidores que tenho agora, teria que acreditar que os poucos que seguissem o blog iam sentir isso. Aliás, soa a arrogância, mas acho que posso dizer com bastante audácia que tenho feito alguma diferença. Os meus leitores dizem-mo, os autores agradecem-me as divulgações e têm acontecido umas quantas situações engraçadas que provam um pouco isso. Ainda nesta feira do livro de Lisboa, eu encontrava-me no espaço Presença com o autor Filipe Faria e chega um grupo de leitores que perante uma pergunta do autor uma das raparigas diz 'Eu vi no blog Morrighan que ela já estava a ler o teu livro e que estava a gostar'. A rapariga nem sabia quem eu era pessoalmente e o autor calhou de se virar para mim e dizer 'A Morrighan está mesmo aqui'. Depois de umas gargalhadas, teceram-se uns quantos elogios ao blog e calhou vir ao de cima o tema dos autores portugueses, sendo unânime que o blog estava de parabéns. E este é apenas um caso. Eu só posso ficar imensamente grata pelo reconhecimento.
U.B.C. - Atualmente, como vês o mercado literário português a reagir ao autor português?
S.T. - Mal. Apesar de melhor do que há dois ou três anos. Não sei se foi pela minha iniciativa que inspirou outras ou se foi outra coisa qualquer, mas mais blogs começam a destacar os autores portugueses, a fazerem entrevistas e isto acaba por ter algum impacto. Reconheço que há muito mais pessoas a quererem ler autores portugueses, mas mesmo assim existe um estigma muito grande em acreditar que há realmente qualidade entre nós.
U.B.C. - Com um blog com tantas visitas, de certeza que já recebeste comentários bons, mas também menos bons. Como lidas com isso?
S.T. - Com muita descontração e naturalidade. Faz tudo parte do processo e há que aceitar que nem toda a gente gosta do mesmo. Felizmente os comentários menos bons têm sido quase sempre em relação ao layout do blog. Dizem que devia ser modernizado ou que as cores deviam mudar. E eu ouço e considero todos os comentários que me fazem, mas ainda não tive coragem de mudar o blog. Todo o seu formato faz parte da personalidade dele e por isso as mudanças nunca seriam radicais. Quanto aos comentários bons, são sempre um bálsamo para o meu ego. Ninguém imagina o trabalho (apesar de ser com todo o gosto) que dá atualizar e manter um blog desta dimensão sempre atualizado. Por isso quando chegam os comentários, bons ou menos bons, acabo por assimilá-los e fazer um balanço para tentar ter noção do que os meus leitores acham para ter isso em conta.
U.B.C. - Pelo que deixas transparecer, és uma mulher de muitos ofícios: faculdade, blog, basquetebol... É fácil conciliar tudo?
S.T. - Faculdade, blog, basquetebol, investigação e ainda mais um projeto ou outro em que me meto de vez em quando. Fácil? Não. Vale a pena o esforço? Vale. Considero-me uma pessoa muito dinâmica e (in)felizmente, não sei bem, interesso-me por demasiados ofícios. Gosto de fazer coisas bastante diferentes umas das outras. E é como se costuma dizer... 'Quem corre por gosto não cansa!' (Não é bem verdade, cansa IMENSO! Mas havendo reconhecimento, faz com que tudo valha a pena).
U.B.C. - Que esperas conseguir alcançar através do teu blog?
S.T. - Eu nunca esperei alcançar nada com o blog. Por incrível que pareça é verdade. No máximo o que pretendo alcançar com o blog é que quem o visite e o leia se sinta bem, goste do espaço e volte a visitá-lo como recompensa desse gosto. É bom quando os autores reconhecem o trabalho que faço e se calhar chegamos aí ao ponto fulcral da questão - o reconhecimento. Não é disso que tenho falado durante a entrevista quase toda? De forma mais ou menos consciente, penso que é o que toda a gente procura, reconhecimento e até alguma gratidão pelo esforço e pela dedicação.

12 comentários:

Morrighan disse...

Muito obrigada mais uma vez, Cláudia :)

Beijinhos

Cláudia disse...

Não me tens que agradecer nada =) Tal como já te disse, as respostas estão muito interessantes. Fiquei feliz por teres aceite este pequeno desafio.
Beijo*

Vitor Frazão disse...

É das poucas vezes que tenho de dizer que tanto a entrevistada como a entrevistadora estão de parabéns. Boa perguntas e boas respostas.

Cláudia, este teu cantinho está a ter uma infância muito auspiciosa. :)

Cláudia disse...

Obrigada pelas palavras simpáticas Vitor. Beijinho*

Vitor Frazão disse...

Não tens que agradecer. Se não acreditasse nelas não as teria dito. Continua com o bom trabalho. :)

Cláudia disse...

Vou fazer por isso =)

Unknown disse...

Boa ideia :) entrevistar quem normalmente está sempre do outro lado da entrevista.
Obrigada :) gostei imenso de saber mais sobre a Sofia :)

Cláudia disse...

Obrigada Liliana =)

Morrighan disse...

Obrigada Liliana e mais uma vez, obrigada Cláudia :)

Beijinhos às duas*

Fiacha disse...

Não é por nada mas a Cláudia tudo o que faz, faz bem.

Tenho apreciado a sua evolução em vários locais e este blog será mais cedo ou mais tarde uma mais valia, seguramente, espero ter pedalada para acompanhar :D

Quanto à Sofia, ainda me lembro quando começou a divulgar o seu blog e sim teve uma evolução enorme e tem todo o mérito.

Gostei da entrevista, interessante e posso dizer que tenho o prazer de conhecer ambas (dois borrachos :D), embora conheça bem melhor a Cláudia, já andamos nisto à uns tempinhos.

Continuem ;)

Cláudia disse...

Obrigada Paulo :) Fico lisonjeada com as tuas palavras.
Beijinho*

Morrighan disse...

Obrigada Paulo!

Realmente já andamos nisto há bastante tempo!

Beijinhos*