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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Entrevista a fundadores do projecto literário "Imaginauta"

O Imaginauta é um nome novo e que promete dar que falar. Tem como principal objectivo trazer à luz do dia boas obras independentes que se destaquem no panorama nacional e é apresentado ao mesmo tempo que lança o livro "Comandante Serralves - Despojos de Guerra". Estive à conversa com os fundadores deste projecto literário que deseja fazer a diferença e está aberto a colaborações.
Desde já, agradeço a disponibilidade, prontidão e simpatia dos elementos que compõe o Imaginauta.
  
Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Como e quando surgiu a ideia de criar o Imaginauta?
Imaginauta (I) - Lembram-se daquela anedota infantil da pescada, que antes de o ser, já o era? O mesmo se passou com o Imaginauta. Antes sequer de surgir no campo das ideias, já acontecia sob a forma de projectos dispersos… Alguns de nós estiveram envolvidos na fundação da “Lusitânia”, outros na do site “Fantasy&Co”, etc. Nasceu então a vontade de criar uma marca para ligar iniciativas heterogéneas.

U.B.C. - O que o Imaginauta traz de diferente ao panorama literário nacional?
I - Isso é algo que em breve esperamos ouvir do público. Será sinal que estamos a fazer o nosso trabalho bem. O que queremos é fazer surgir coisas que nos apaixonem, que pensamos que possam encher um bocadinho as muitas lacunas que sentimos. Por exemplo, o nosso primeiro produto, o Serralves desbrava certos conceitos que não vemos muito comummente explorados em Portugal. Primeiro de tudo, é uma história com vários episódios que à primeira vista são independentes, mas que se interligam, como é muito comum na banda desenhada de super-heróis ou séries de televisão. Depois, é uma história no espaço, sem medo de se assumir como uma aventura de ficção científica. Por fim, desde o início estamos preparados para expandir este universo em vários formatos.

U.B.C. - Percebe-se que o nome do projecto surgiu da união de duas palavras. Podem explicar o que querem transmitir com a palavra “Imaginauta”?
I - O Imaginauta é um viajante, capaz de atravessar vários planos da imaginação, trazendo-nos os muitos mundos alternativos que visita. Quase dá uma história por si só, não é?

U.B.C. - Quem pode participar e colaborar?
I - Toda a gente está convidada a contactar-nos por correio@imaginauta.com e deixar as suas sugestões, propostas, ideias, sonhos, desejos, obras, críticas, etc… Não temos nenhum djinn distribuidor de desejos, mas somos bons ouvintes e entusiasmamo-nos facilmente. Quem sabe não ocorre alguma sinergia.

U.B.C. - A ficção parece ser a base deste projecto. Existe algum género literário de eleição dentro deste projecto?
I - Confessamos que gostamos de ver brincar com a realidade, dando-lhe uns empurrões, uns esticões, virando-a de pernas para o ar… Mas não nos limitamos, os Mundos pelos quais o Imaginauta passou são muitos, e diversos de mais para estar a tentar arranjar uma caixinha para catalogar cada um. Só no Serralves Começámos com algo que mistura Space Opera com um sentimento pulp e um cheirinho de Hard Sci Fi.

U.B.C. - O Imaginauta dá-se a conhecer e anuncia a publicação de um livro, “Comandante Serralves – Despojos de Guerra”. Isto quer dizer que também será uma editora?
I - Não somos uma editora, de todo. Não temos um catálogo planeado, não nos focamos apenas em livros e não temos uma estratégia orientada para o lucro (mas mais para um orçamento zero).

U.B.C. - Quanto a “Comandante Serralves – Despojos de Guerra”, como surgiu a ideia de fazer um livro a diversas mãos?
I - Surgiu através de um conto, escrito por um dos autores, que teve o privilégio de passar por uma leitura de um editor que deu valiosos conselhos sobre a história. Num deles, ressalvou o worldbuiding e como a história parecia pertencer a um arco maior. Que de certo modo lhe fazia lembrar um episódio de uma série com três ou quatro temporadas. E aí fez faísca. Porque não? Porque não entregar este mundo a outros escritores, dar-lhes a liberdade de explorarem outras perspectiva, de preencher este universo com as suas criações, personagens e acontecimentos? A partir daí, foi só procurar os autores certos e trabalhar, trabalhar, trabalhar, durante mais de um ano.

U.B.C. - Quem são os seis autores que participam neste livro?
I - Para isso, terão de ir às nossas apresentações. Iremos fazer uma no Porto, no Central Comics Fest, dia 12 e outra em Lisboa em data a anunciar também em Julho.

U.B.C. - Onde e quando o livro poderá ser adquirido?
I - Estamos a planear lançar o livro (e talvez alguns extras) em Setembro. Os leitores que quiserem deitar a mão às histórias do intrépido comandante poderão fazê-lo no dia do lançamento, em outros eventos presenciais em que participemos e encomenda on-line em ligação a anunciar.

U.B.C. - Existe a hipótese de fazerem outras colectâneas como a do Comandante Serralves? Qualquer voluntário pode tentar a sorte e participar?
I - Tudo depende da recepção dos leitores. O Serralves ainda tem muitas aventuras para contar, muitas características das personagens e do universo em si para revelar. Existem até alguns “rabos de fora” de propósito para os leitores mais atentos, que poderão ser explorados no futuro. Caso se faça um novo volume de histórias, claro que vamos querer ouvir as vozes dos autores que se enamoraram com o universo apresentado. No entanto, mesmo que não seja lançado nenhum novo volume, nada impede (nada mesmo, força nisso!) de surgirem por aí obras baseadas nos Despojos de Guerra que o Imaginauta possa declarar canónicas. Tudo dentro de um espírito de licenciamento Creative Commons com atribuição de uso não comercial.

U.B.C. - O que esperam obter através do Imaginauta?
I - Muitas horas de trabalho e algumas dores de cabeça compensadas por leitores satisfeitos e um prazer imenso de ver boas obras cá fora. Com sorte e engenho, talvez tornar o Imaginauta uma pedrada no charco.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Entrevista a Nuno Nepomuceno

Licenciado em Matemática, Nuno Nepomuceno desde cedo soube que não era apenas um homem de números, mas também de letras. Sem revelar a ninguém, decidiu enviar um dos seus manuscritos para o Prémio Literário Book.it para jovens autores. Foi o vencedor do galardão e publicou o seu primeiro romance, O Espião Português. Neste momento, encontra-se a trabalhar no segundo tomo desta trilogia.
Um forte agradecimento ao Nuno por toda a simpatia e pela disponibilidade.


Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Quando começou a ligação com a escrita?
Nuno Nepomuceno (N.N.) - Já tem algum tempo, pois trata-se de uma ambição antiga. Fiz uma tentativa inicial ainda durante a universidade e, pouco tempo depois, voltei a trabalhar num manuscrito. Contudo, foi há oito anos que decidi fazer um esforço sério. Acho que se tratou de uma questão de maturidade. Acabei por demorar mais do que pensara porque tive de realizar uma paragem a meio, além de nunca ter colocado um objectivo ou prazo no projecto. Quando comecei a escrever O Espião Português, fi-lo somente para mim.

U.B.C. - Como surgiu a ideia de escrever sobre este "Espião Português"?
N.N. - Queria experimentar escrever algo e a espionagem é um género que me agrada em particular. Por outro lado, no seu estado puro, acaba por ser pouco visto, pelo que achei que seria interessante e diferente do que habitualmente é apresentado pelos autores nacionais. Como estava habituado a ler e a ver filmes e séries sobre o assunto, sentia-me algo à vontade, acabando por ser uma opção natural. A ideia de apresentar o André como um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros surgiu por necessidade. Precisava que as suas constantes viagens fossem credíveis. Ao mesmo tempo, acabei por ter alguma sorte, já que me parece que resultou muito bem.

U.B.C. - A história ser uma trilogia é um objectivo inicial?
N.N. - Sim, é. Não se trata de prolongar ou esticar um conceito até à exaustão, mas quando comecei a delinear o enredo, achei logo que se tornaria num livro demasiado longo para ser apresentado só num volume. Não quero com isto dizer que para ler um, teremos forçosamente de conhecer os anteriores. Tenho tido esse cuidado e espero criar tomos independentes. Mas há todo um universo e conjunto de personagens que se vão manter, o que também me parece interessante do ponto de vista dos leitores, já que podem criar uma maior familiaridade com os mesmos.

U.B.C. - Quais as principais dificuldades no processo criativo?
N.N. - Essencialmente é não me repetir. Ou seja, continuar a apresentar situações diferentes, não estar sempre a fazer o mesmo, evitar seguir uma receita ou modelo. Considero que acabei por ser bem sucedido em  O Espião Português. Tanto vemos o André envolvido numa perseguição que decorre num palácio antigo, num centro de conferências da União Europeia, num clube nocturno vanguardista, ou a participar numa operação repartida por diversas dimensões espaciais com múltiplos arcos narrativos que se entrelaçam e estendem a outras personagens. E em todas as ocasiões tive a preocupação de definir objectivos distintos. Foi e continua a ser um grande desafio.

U.B.C. - Em que te baseias para a construção das personagens?
N.N. - Começo sempre por definir como e quem são. Idade, cabelo, olhos, constituição física, ocupação, entre outras características. Os pormenores resultam da função que cada personagem tem na história. Por exemplo, o núcleo central da Cadmo, isto é, o André, a Marie, a Monique e o Anssi, são apresentados como muito atraentes. Isto foi intencional, já que foram escolhidos segundo elevados critérios físicos e psicológicos, além de assim contribuírem para um tom sofisticado e elegante que sempre quis que o livro tivesse. Já noutras personagens, o mais importante é que transmitam outra gama de sensações, como a grande bonomia do ministro dos negócios estrangeiros, a extrema afectuosidade dos pais do André, ou a atracção impossível que ele sente por uma das operacionais da agência rival.

U.B.C. - De que forma ficaste a conhecer o Prémio Literário Book.it?
N.N. - Por mero acaso. Fui à página da LeYa na internet à procura do contacto. Estava a pensar em submeter o manuscrito para apreciação editorial, mas acabei por ver a referência ao concurso entre a secção de notícias. Já conhecia a rede de livrarias, embora não fosse cliente devido à inexistência de uma loja na minha zona de residência. Mesmo assim, pareceu-me uma boa oportunidade. Resolvi fazer o download do impresso de inscrição e experimentar concorrer. Ao contrario deste ano, a organização disponibilizou apenas dois meses para as candidaturas. Mesmo assim, ainda consegui fazer uma última revisão, as devidas formatações, e enviar a candidatura atempadamente.

U.B.C. - O que significou vencer este concurso literário?
N.N. - É uma grande oportunidade. Sinto-me orgulhoso por O Espião Português ter sido o escolhido e por a revista Lux Woman, a Book.it, a ASA, e os grupos Sonae e Leya reconhecerem que tenho qualidade.  Achava que tinha apresentado algo diferente do que é habitualmente escrito em Portugal, mas, até aquela altura, tal só tinha funcionado contra mim. E depois recebi o telefonema da Book.it. Finalmente alguém tinha dedicado parte do seu tempo a ler o meu livro e, no fim, quando comparado com todos os outros, achara que merecia ser publicado. Tratou-se de um momento muito feliz, mas que me deixou com um problema em mãos. Não sabia qual seria o destino de O Espião Português, razão pela qual o escrevi em segredo. Num mês contei aos meus pais, no outro às minhas irmãs, e só uma semana antes é que disse aos meus amigos. Foram momentos algo embaraçosos, embora o apoio tenha sido incondicional.

U.B.C. -  Qual foi a sensação de teres o teu primeiro livro publicado nas mãos? E vê-lo nas livrarias?
N.N. - Foi algo estranho. O Espião Português foi lançado em Novembro do ano passado. Contudo, desde Setembro que tinha o ficheiro com a capa no meu computador. Tinham-me pedido para não a mostrar e manter a notícia em segredo, devido ao exclusivo da revista LuxWoman. Acumulei ansiedade durante um mês e meio, mas acabou por compensar. Quando cheguei à Book.it de Campo de Ourique, a montra estava cheia só com o meu livro. Fiquei a rir-me para os vidros como um tontinho.

U.B.C. -  Na tua perspectiva, como tem sido a recepção dos leitores a esta obra?
N.N. - Felizmente, tem sido bastante positiva. Disponibilizei um endereço de email através da minha página oficial na internet, além de actualizar regularmente o meu perfil no Facebook, e são já vários os leitores que me enviaram os parabéns e destacaram o que mais gostaram no livro. E há sempre os números que o demonstram. No fim da primavera passada, foram ultrapassadas as 2000 unidades vendidas. Pode parecer pouco, mas num mercado como o nosso e que passa actualmente por grandes dificuldades, é um marco muito importante. Sobretudo, sendo eu um estreante.

U.B.C. - E como está a ser lidar com as criticas menos positivas?
N.N. - Tento encará-las com naturalidade. Ainda não recebi uma crítica integralmente negativa. Ao invés, todas elas têm sido boas, com uma ou outra ressalva menos positiva, embora saiba que esse dia acabará por chegar, seja com O Espião Português ou qualquer outro projecto.  Mesmo assim, tento extrair o melhor de todas. Não vejo a escrita como algo estanque e tenho a consciência de que ainda tenho muito para aprender. E compreender o impacto que o meu trabalho tem nos outros é a melhor forma de o concretizar.

U.B.C. -  Chegaste alguma vez a sentir que a palavra “Português” no título pudesse funcionar como factor de repulsão ou atracção?
N.N. - Sim, a palavra “Português” está no título porque foi considerado mais comercial. O manuscrito que venceu o Prémio Book.it tinha outro nome, bem mais comprido e complexo. O Espião Português foi uma sugestão da Carmen Serrano, a editora da ASA que trabalhou comigo. Considerou-o mais imediato, apelativo e, mesmo assim, completamente adequado ao livro. Não tinha pensado nele, mas estou contente por o ter aceite. São três palavras que resumem brilhantemente tudo o que compreende.

U.B.C. -  Como está a correr a elaboração do segundo volume? Podes falar um pouco sobre o que vais tentar transmitir com ele?
N.N. - Está a progredir a bom ritmo. Não tenho escondido que tenho outra profissão tanto ou ainda mais exigente do que esta, pelo que, por vezes, é difícil conciliá-las. Mas escrever é algo que faço com muito gosto e tenho procurado reorganizar o meu tempo de forma a criar uma maior disponibilidade. Estou a usufruir da pequena experiência que adquiri e tenho um sentimento muito positivo em relação ao que já está redigido. Não quero adiantar muito sobre o enredo, mas posso contar que iniciar-se-á quatro meses depois do fim de O Espião Português. Vai assentar no trinómio dúvida-confiança-traição e, apesar de apresentar alguns dos conceitos que são transversais a toda a série, espero que consiga marcar a diferença face ao primeiro volume. Será um livro com uma carga psicológica intensa, além de mais complexo, denso e romântico. O André não é o único protagonista e a acção divide-se entre Lisboa e outra capital europeia. As constantes viagens, a estrutura narrativa não linear, e o estilo intimista e sofisticado vão manter-se. A palavra-chave será evolução. Acho que deixei margem de progressão no primeiro volume. Amadureci, estou menos ingénuo, já sei melhor o que resulta ou não, e é nesse sentido que me encontro a trabalhar.

U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características enquanto autor?
N.N. - Pergunta difícil, esta. Ainda me sinto a crescer e não creio que a minha escrita esteja já completamente definida. Mas tento proporcionar uma leitura fluída, compulsiva, e que vá mais além, ou seja, preocupo-me em não escrever apenas acção, tiros e pontapés, mas também em transmitir uma mensagem universal que possa agradar a um público mais alargado. Por outro lado, e usando de alguma imodéstia, considero-me pouco convencional face ao tradicional autor português. A minha narrativa é composta por constantes avanços, cortes, retrocessos, e decorre em vários locais emblemáticos da Europa. Ler um livro meu acaba por ser uma forma alternativa de viajar, bem como de navegar por entre um universo fantástico que nos faz sonhar.

U.B.C. - Qual pensas ser o papel da internet na divulgação desta obra?
N.N. - Tem sido muito importante, quase fulcral. As entidades ligadas ao O Espião Português têm feito um esforço por divulgar o livro, mas este é um mercado extremamente competitivo e feroz. Através das diversas parcerias que tenho realizado com alguns bloggers, tenho conseguido mantê-lo à vista do público e todos têm sido muito generosos, simpáticos e profissionais comigo. A internet é a fonte de informação mais directa e acessível que temos ao nosso alcance e, apesar de ser algo novo neste meio, estou surpreso pela qualidade e variedade de conteúdos dos blogues portugueses. Esta entrevista realizada por uma biblioteca em construção é uma iniciativa muito interessante e que deve ser louvada. A imprensa tradicional deveria vê-la como um exemplo.

U.B.C. - Como é que uma formação ligada à Matemática e a escrita se ligam?
N.N. - Aparentemente, são completamente díspares, não é? Não sou dessa opinião. Acho que o nível de abstracção envolvido acaba por ser similar, além de um romance policial obrigar o seu autor a trabalhar simultaneamente com inúmeras variáveis que se interligam, algo pelo qual a Matemática é sobejamente conhecida. E, além disto, antes da minha formação académica, sou português. Tenho o dever de tratar bem a minha língua.

U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
N.N. - O Daniel Silva é uma referência incontornável. A série do "Gabriel Allon" é fenomenal e o seu autor tem revelado uma inteligência extraordinária na forma como a tem mantido interessante e actual. Também admiro bastante o Ken Follet. Acho que aprendo imenso cada vez que leio um dos seus livros. Estão sempre muito bem construídos. E depois existem vários outros autores que são companhias frequentes como a dupla Nicci French ou o Christopher Paolini, por exemplo.

U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros hobbies que ocupam o teu tempo?
N.N. - O tempo livre começa a escassear, mas o pouco que vou tendo, ocupo-o a ler ou a fazer desporto. São vários os género que me agradam, desde o policial, à fantasia, pontuados pelo ocasional romance histórico. Gosto de me identificar com uma personagem e imaginar-me no centro da acção. Por outro lado, procuro ir de forma regular ao ginásio, pois é algo que me ajuda a descontrair, além de me permitir comer sem grandes restrições. Faço uma sobremesa todos os fins-de-semana. Sou muito guloso.

U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
N.N. - Continuar a escrever, ser publicado, e apresentar-me cada vez mais com maior qualidade. Se assim for, o resto, seja ele qual for, acabará por vir por acréscimo.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Entrevista a Célia Correia Loureiro


Célia Correia Loureiro é licenciada em Informação Turística pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Setorial, mas garante que a sua vocação é a escrita. Nascida em Almada, em 1989, começou a criar histórias desde muito cedo. Com duas obras publicadas através da Alfarroba, a autora pretende continuar a levar os leitores a viajar consigo através de tramas emocionantes.
Um forte agradecimento à Célia pela sua disponibilidade e simpatia.

Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - O que é que a escrita significa para ti?
Célia Correia Loureiro (C.C.L.) - Um escape, um mundo paralelo onde posso dispôr das coisas, das pessoas, dos sentimentos delas e da natureza a meu bel-prazer. É poder, um poder limitado, porque só existe por entre as páginas de um livro, mas ainda assim intenso e satisfatório.

U.B.C. - Como é que um curso ligado à área de Turismo e Hotelaria se liga e a escrita se ligam?
C.C.L - O curso proveio, certamente, do meu anjinho da guarda. Isto porque eu não fazia ideia do que queria fazer da minha vida ou daquilo para que poderia, eventualmente, ter jeito. Gostava (e gosto) de História, de línguas, de lugares. Na escrita conseguia conjugá-los todos, mas não outras necessidades mais “básicas”, como sejam comer ou viver. Na escrita não se vive, reflecte-se sobre a vida ou criam-se vidas alternativas. Mas não se “vive”. E eu precisava de viver para escrever, daí que não faça sentido, para mim, um full time na escrita, mesmo que pagasse.

U.B.C. - Quando começaste a escrever com o objetivo de publicar?
C.C.L - É difícil de identificar um momento. Sempre escrevi. Quando me sentei pela primeira vez em frente a um computador, lá para 1997/8, não pedi para me porem jogos. Perguntei “Isto dá para escrever?”. Acho que as pessoas ao meu redor que sabiam desse hábito tinham mais desejo de ver-me publicada do que eu própria. Porque eu era um pouco insegura em relação ao interesse que os outros poderiam ter naquilo que eu punha cá para fora. “Já procuraste uma editora?”, “Quando é que publicas um livro?”. Quando esse desejo se tornou mais meu do que deles comecei a mexer-me, mas confesso que aos 17 ou 18 anos se deve esperar. Eu devia, fui recusada, como é evidente, e hoje agradeço ao universo por ter planeado tudo desse modo. Não seria tão apreciada hoje se a minha primeira obra tivesse sido uma daquelas que escrevi em 2006. Mas acho que é justo dizer que nunca pensei, como hoje ainda não penso “quero ser escritora”, ou nessa altura nem sequer pensava em escrever coisas “publicáveis”, tirava e tiro prazer da escrita como qualquer artista de rua tira da sua arte. Só que agora sei que há pessoas que também retiram algo do que escrevo e sinto essa pressão de cumprir as expectativas de quem me lê e apoia.

(2011)
U.B.C. - Podes explicar como foi o processo de publicar Demência?
C.C.L - Foi complicado encontrar uma editora disposta a apostar numa autora nova. Na altura fiquei com a ideia de que fui “escolhida” porque apresentei umas três ou quatro obras - de qualidade dúbia, algumas - e viram que havia alguma consistência. Isto é; a cada nova obra conseguia melhorar algo em relação à anterior. É o que gosto de pensar, que tenho potencial para crescer mais (no que escrevo, não na literatura, embora quem saiba ambas se entrelacem). E deram-me essa hipótese. Apostámos juntos, porque dar a cara por uma obra também não é tão fácil quanto se possa julgar. Foram muito abertos às minhas sugestões - e vice-versa. A capa, inclusive, é uma fotografia da minha autoria.

U.B.C. - E quanto ao O Funeral da Nossa Mãe? Foi mais fácil?
C.C.L - Sim, foi. Porque já havia uma relação de confiança mútua entre mim e a editora. Já sabíamos o que esperar uns dos outros, já conhecíamos o nosso modo de funcionar e ambos nos forçámos por aperfeiçoar ainda melhor este livro - revisão, design, tudo. Fui eu que disse que tinha outro livro na gaveta e a editora recebeu-o bem, sendo honesta quanto à sua apreciação do mesmo e dos pontos em que deveria melhorar. Foi um processo mais calmo, mas nem por isso menos emotivo.

U.B.C. - O que te deu mais prazer em publicar estes livros?
C.C.L - Escrever um livro é um trabalho solitário e, por vezes, incompreendido. Parece trabalho deitado à rua em troca de nada. Na minha passagem de ano vou levar livros para fazer pesquisa, o portátil e os óculos. Tudo elementos que deveriam ficar em casa, mas eu preciso de trabalhar. Quem me estabeleceu essa urgência e esses prazos sou eu mesma. Quero trabalhar exaustivamente no livro actual até o elevar ao melhor que as minhas capacidades e recursos me permitem neste momento. Mas publicá-lo é sair desse isolamento, pôr em suporte físico aquilo que é notável que me rouba tantas horas. É o resultado da soma dos meus alheamentos e ausências e tardes na biblioteca. E ter pessoas que não me conhecem mas a quem os meus livros tocaram a contactar-me, é por demais gratificante! Devo-lhes essas horas e, por fim, juntamo-nos todos no livro (físico) e trocamos impressões. Não tem paga.

U.B.C. - Quais foram as principais dificuldades?
C.C.L - Chegar à qualidade que eu própria considerava mínima para lançar algo para o colo das pessoas e ir buscar-lhes dinheiro ao bolso - isto é, não queria ficar com a ideia de que as pessoas estavam a atirar dinheiro à rua, porque sou muito self conscient quanto ao que vale a pena, ou não, investir, bem como à qualidade do que escrevo e ao modo como se inserem no mercado livreiro disponibilizado pelas editoras. Mas depois de ler algumas obras de autores nacionais de “renome”, convenci-me que não era nem de sombras tão má e talvez pudesse safar-me nisto de agradar aos leitores.

U.B.C. - E qual foi a sensação de ter o primeiro livro nas mãos?
C.C.L - Inexplicável. Não sei porquê mas emocionei-me mais com o segundo - mesmo sendo segundo e a capa do primeiro tendo sido fotografada pelo mim. Acho que é assim porque, quando lancei o primeiro, tive receio de que fosse tudo fruto do acaso e da sorte. Com o segundo percebi que é a sério, não foi um devaneio.

U.B.C. - Como está a ser lidar com as críticas?
C.C.L - Como em tudo na vida; após a filtragem do "construtiva/meramente ofensiva", pego no que me dizem e tento melhorar. Tomei muita atenção ao que me tem sido dito, o meu objectivo é encontrar o leitor a meio caminho. Isto é se fizer uma frase demasiado grande, retalho-a para não o maçar, mas direi exactamente a mesma coisa. Em geral recebi críticas muito construtivas que me ajudaram a repensar o que escrevo e a colocá-lo do melhor modo, a fim de que o leitor tire tanto prazer da leitura da obra quanto eu tirei da sua construção, mas não posso vergar-me completamente ao que me é dito, ou comprometeria a minha quota de criatividade e alegria na tarefa

U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características como autora?
C.C.L - Eu gosto de escrever sobre vidas banais - erros, caminhos, decisões difíceis, acaso, destinos, amores, enganos, desilusões, choque de interesses. Não procurem o bom e o mau nos meus livros, porque não acredito na ditadura do preto e do branco. Encontrarão um mundo de cinzentos que oscilam - provavelmente vão amar e odiar, em simultâneo, as minhas personagens. Elas erram, pagam pelos erros (voluntariamente ou não). Dizem que sou muito descritiva - eu gosto disso, porque também quando leio preciso de saber onde tenho os pés. Tento conter-me nesse campo, mas contem com alguma descrição. Gosto do passado, estes dois romances publicados debruçam-se sobre o modo como o que ficou para trás trouxe as personagens até à actualidade. Contem com algumas amarguras e amores trocados também.

(2012)
U.B.C. - Quais são as principais inspirações para o teu trabalho literário?
C.C.L - A vida e as pessoas ao redor, mais do que tudo. Ou talvez os segredos e as hipocrisias e as confissões. É dessas coisas - as indizíveis - que gosto de falar. Soarei maluca se admitir que, por exemplo para O Funeral da Nossa Mãe, só ganhei impulso para escrevê-lo porque sonhei com um episódio da história? Isto é, eu sabia que queria fazer esse livro mas ainda não tinha conexão emocional a ele. E então acordei angustiada com esse sonho esquisito que tive, e finalmente tinha esse clique para escrever o livro. Se calhar estou a ser vaga mas o sonho punha-me numa posição em que gostava muito de alguém, e essa pessoa de mim, mas não podíamos estar juntos e a culpa era nossa; simplesmente não funcionava. E foi assim que eu soube exactamente o que a Carolina iria sentir nessas 430 páginas do romance. E lugares - os lugares que o nosso país desconcertam-me, espero viver para fazer jus a todos.

U.B.C. - De que forma é que a internet tem ajudado na divulgação dos dois livros?
C.C.L - A internet aproximou-me dos leitores e, desse modo, sinto que ganhei também amigos, conhecidos e caras familiares nos vários cantos do país (e Angola, e Suíça e Alemanha e até Brasil) e, por isso mesmo, gosto de sentir que estou acessível para quem quer que queira dirigir-se-me a respeito da escrita.

U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
C.C.L - Margaret Mitchell (E Tudo o Vento Levou), Emily Brontë (O Monte dos Vendavais), Anita Shreve (A Praia do Destino) e houve uma altura em que me senti puxada para o místico pela Joanne Harris (Chocolate).

U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros hobbies que ocupam o teu tempo?
C.C.L - Adoro fotografia, viagens (conhecer o meu país é tão bom!) pintar e, claro, ler!

U.B.C. - Existe algum projeto literário em curso?
C.C.L - Existe um “mega” projecto literário em curso. Na última entrevista em que me colocaram esta questão expliquei que estava a escrever uma trilogia (temporáriamente conectada pelo signo do vinho, produto tão português), e que comecei por escrever o volume III, estava a acabar o II (que terminei e está agora em fase de revisão) e só me faltava o I. Entretanto, devido ao rumo inesperado que o II tomou, escreverei um novo entre o II e o III. Serão agora IV volumes. São romances históricos: I - 1755 (Terramoto de Lisboa), II - 1809 (Invasões Franceas), III - 1832 (Guerra Civil) e o IV - 1910 (Implantação da República). Títulos finais em desenvolvimento.

U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
C.C.L - Espero receber, em troca, risos, lágrimas, abraços, cartas de leitores, mensagens de apoio e de entusiasmo, críticas construtivas, palavras de identificação e compreensão para com os meus enredos. Isto é, aliás, o que já tenho vindo a ter. Mas não vou mentir: se pudesse alcançar um maior raio de leitores beneficiaria muito disso, ficaria muito orgulhosa de mim própria e teria mais motivação ainda para continuar a dar às teclas.

Opiniões do blog a obras de Célia Correia Loureiro:

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Entrevista a Vasco Ricardo

Nasceu em França, mas Portugal é o país do seu coração. Vasco Ricardo garante que desde cedo que sente uma enorme vontade de escrever, e esse amor já deu diversos frutos. Escritor dedicado, possui um blog (http://vascoricardo.blog.com) onde publica novidades relacionadas com o seu trabalho que merece ser acompanhado.
Um agradecimento ao Vasco pela simpatia que demonstrou ao longo da elaboração desta entrevista.

Uma Bibliotea em Construção (U.B.C.) - Quando começaste a escrever com o intuito de publicar? Qual foi o motivo?
Vasco Ricardo (V.R.) - Acho que quando comecei a escrever histórias mais longas, e de uma forma mais séria, a vontade de publicar sempre esteve presente, por vezes de um jeito mais óbvio, noutras nem tanto. Haverá algo mais enriquecedor para uma pessoa do que agradar aos outros através daquilo que criamos? Penso que não.

U.B.C. - Qual é a maior dificuldade que encontras na escrita?
V.R. - Tudo aquilo que não está relacionado com a escrita propriamente dita. Rever, publicar, procurar, prever reacções.

U.B.C. - E qual é o maior prazer?
V.R. - Tudo o que envolve o processo da escrita.

U.B.C. - Quais são as tuas características enquanto autor?
V.R. - Aquilo que escrevo tem sido ou thriller ou algo muito próximo disso. Tento fazer descrições de toda a cena, sem contudo me estender em demasia. Gosto de manter a acção interessante. Gosto de simplicidade na escrita, de não dar em excesso mas sem deixar algo por dizer. Tenho sempre mensagens a transmitir no meio de um enredo corrido.

U.B.C. - Podes revelar-nos como está a ser a tua experiência no mundo editorial?
A minha experiência é curta e pouco interessante. Os contactos foram sempre efectuados através de e-mail até ter optado pela Pastelaria Studios Editora. Com eles tenho mantido uma óptima relação. Ambos temos cumprido os nossos papéis e tudo tem corrido bem.

(2012)
U.B.C. - Qual foi a sensação de ter, pela primeira vez, um exemplar de A Trama da Estrela nas mãos?
V.R. - Não tentando ser demasiadamente ingrato ou, de alguma forma, insensível, senti-me bem, mas não eufórico. Faz parte de mim esta maneira algo fria de absorver o momento. Nunca estou excessivamente feliz, nem excessivamente triste. Reajo a estas situações com calma e ponderação. Afinal de contas, nada alcancei até à data.

U.B.C. - Como é lidar com as críticas?
V.R. - São críticas. Boas ou más devem ser ouvidas, assimiladas e registadas como tal. Apenas isso. Uma boa crítica não faz de mim melhor, da mesma forma que uma crítica negativa não faz de mim pior. Sou o que sou, faço o que faço, tentando sempre ser cada vez melhor (também com ajuda dessa tais opiniões).

U.B.C. - No teu blog, é possível ver diversas fotos que leitores te enviaram do teu livro. Como é receber estas imagens?
Sim, são uma doçura estes leitores. A verdade é que são uns bondosos por procederem de tal forma. Também gosto de me manter próximo deles, seja no facebook ou noutro meio qualquer. É maravilhoso saber que se dão ao trabalho de pegar na máquina ou no telemóvel, fotografar o livro e ter a delicadeza de o partilhar comigo.

U.B.C. - A internet é uma boa ajuda na divulgação do teu trabalho? De que forma?
V.R. - Sem dúvida. É um óptimo instrumento para quem não tem uma máquina de marketing montada como sucede com os grandes grupos editoriais. Tanto no blog como através do facebook, costumo mostrar todas as novidades relativamente aos livros, como críticas, entrevistas, opiniões, lançamentos e por aí fora.

(2012)
U.B.C. - Está quase a chegar ao mercado um novo livro teu, O Diplomata. Que nos podes dizer dele?
V.R. - Sim, será lançado no início do mês de Dezembro e estará, juntamente com a A Trama da Estrela, presente numa série de livrarias que atempadamente comunicarei no blog e no facebook. É um livro intenso, não só devido à acção como também a uma forte carga psicológica. É um thiller à volta de um político influente que segue um caminho pouco comum na sua classe política.

U.B.C. - E já há outro projeto em mãos?
V.R. - Tenho sempre. Desde há três anos para cá que desenvolvo ficções atrás de ficções e já jurei para mim mesmo iniciar a seguinte a 1 de Janeiro do próximo ano, assim que a divulgação de O Diplomata abrandar.

U.B.C. - Quais são as tuas referências literárias?
V.R. - Muitas. Leio livros algo variados e pertencentes a quase todos os géneros literários. Não gosto de nomear autores de eleição. Mas posso dizer que este ano, por exemplo, e consultando o meu goodreads, adorei livros que foram escritos por George Orwell, Donato Carrisi, Jonathan Coe, Frederic Foresyth e Simon Scarrow.

U.B.C. - Quais foram os últimos livros que te encantaram?
V.R. - Os últimos livros que me encantaram verdadeiramente foram ‘A Bofetada’, de Christos Tsiolkas, e ‘Os Anões da Morte’, de Jonathan Coe. De entre autores nacionais, foi ‘A Manhã do Mundo’, de Pedro Guilherme-Moreira.

U.B.C. - Tirando as leituras, o que gostas de fazer no tempo livre?
V.R. - Ultimamente, e devido à minha filha de dois anos e meio, a família tem ocupado a totalidade do meu tempo livre. E ainda bem que assim é.

U.B.C. - O que desejas para o teu futuro enquanto autor?
V.R. - Ser lido e que os leitores desejem sempre sentir o livro seguinte.

domingo, 18 de novembro de 2012

Entrevista a Sérgio Ferreira


Licenciado em Economia, Sérgio Ferreira alia a sua área de formação com a escrita. Autor de diversos artigos de opinião publicados em jornais locais, apresenta agora o seu primeiro livro, "Ao Encontro do Teu Silêncio", através da Corpos Editora.

Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Como surgiu o gosto pela escrita?
Sérgio Ferreira (S.F.) - Pela necessidade de insistir numa sociedade mais coerente e, por isso, consciente – sobretudo ao nível dos afectos e dos sentimentos, nomeadamente: o Amor.

U.B.C. - O que é que a escrita significa para si?
S.F. - Significa uma evasão ao quotidiano; um crescimento e desenvolvimento cultural; maior socialização.

U.B.C. - Quais são as suas características enquanto autor?
S.F. - Ênfase do Sentimento e dos sentimentos, do Ser Humano. Aprofundar e investigar o tema Amor.

(2012)
U.B.C. - Tem quantos trabalhos publicados? 
S.F. -  Sim, a presente obra “Ao encontro do teu silêncio” e artigos em jornais locais ( artigos de opinião).

U.B.C. - Que temas gosta de abordar nos seus trabalhos? 
S.F. - O maior dos Temas: o Amor.

U.B.C. - Qual a maior dificuldade que encontrou no processo criativo?  
S.F. -  A abordagem das personagens “eu” / “tu” sob a forma de monólogo.

U.B.C. - Pode contar-nos como foi a sua experiência no mundo editorial? 
S.F. -  Positiva e com valor grande recetividade. Reconheço eficácia, presença e divulgação.

U.B.C. - Qual é a sensação de ver o seu trabalho publicado e disponível para o público?  
S.F. - Como se quase atingisse o objectivo primordial: “tocar as estrelas, no céu”.

U.B.C. - Como é lidar com as críticas?  
S.F. - De modo construtivo: permitem-me evoluir e aprofundar-me enquanto ser humano; Um maior aprimoramento do meu autoconhecimento.

U.B.C. - Quais são as suas referências literárias? 
S.F. - Francisco Sá Carneiro; Nelson Mandela; Eça de Queirós; Miguel Torga; Vergílio Ferreira mas sobretudo Fernando Pessoa.

U.B.C. - Está, neste momento, a trabalhar em algum novo projeto? 
S.F. - Sim: tenho inúmeras letras que solicitam partilha imediata. Escrevo de forma exaustiva, tal como sinto; Novos livros me esperam – em fase de elaboração.

U.B.C. - Quais são os desejos para o futuro enquanto escritor? 
S.F. - Avaliar as minhas competências enquanto Ser Humano; adquirir conhecimentos sólidos, partilhá-los sob a forma de mensagem. Sobretudo alertar consciências; desabrochar para a falência dos sentimentos e da sede deles em sociedade. Ser mais e melhor. Sempre.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Entrevista a L. C. Lavado


Licenciada em Gestão de Marketing, L. C. Lavado dedica muito do seu tempo à escrita e à produção de histórias. A morar na Suíça, esta escritora portuguesa tem vindo a marcar posição na produção nacional de fantasia urbana, através da publicação de ebooks que podem ser adquiridos na Amazon e na Smashwords. 
As aventuras e pensamentos desta escritora podem ser acompanhados no seu blog pessoal (http://www.lc-lavado.com/).
Um profundo agradecimento à Liliana pela entrevista e pelas conversas interessantes via internet.

Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - O que é que a escrita significa para ti?
L. C. Lavado (L.L.) - Depende do momento em que a pergunta é feita.
L.L. - Se me perguntarem quando estou a trabalhar na revisão de um livro, eu diria: uma grande dor de cabeça. Se for quando estou a trocar email com os meus leitores betas: uma grande comédia. Neste instante, em que estou a começar a escrever um livro novo:  é o que mais gosto de fazer na vida.

U.B.C. - Quando e como é que este processo começou a ter o intuito de “fazer livros”?
L.L. - Ao contrário do que acontece com a maioria dos escritores, que usualmente começam por escrever contos e novelas e mais tarde livros, eu nunca escrevi nenhum dos dois. Para mim foi um impulso de momento.
Um dia estava numa livraria à procura de um livro e não encontrei nenhum que fosse aquilo que “gostava de ler naquele momento”, e então decidi. Se não havia um escritor que fosse capaz de escrever a história que eu queria ler, porque é que eu não o deveria fazer? E assim foi. Saí da livraria sem nenhum livro, cheguei à faculdade, liguei o portátil e comecei a escrever.

(2012)
U.B.C. - Estás a viver na Suíça há quanto tempo?
L.L. - Estudei em Lisboa e também foi lá que iniciei a minha vida profissional.
Estou a viver na Suíça desde Maio 2010.

U.B.C. - O facto de não estares no país lusófono é impedimento para a escrita?
L.L. - Não é impedimento,  pelo contrário, é uma forma de me sentir mais próxima da minha língua materna e continuar ligada às origens.
Apenas se torna mais difícil criar relações com quem partilha este interesse pela escrita. Combinar um encontro para um café com alguém que leu um livro meu e quer trocar ideias, passa a ter de se reduzir a um vai e vem de emails.

U.B.C. - Podes explicar como foi o processo de publicar os teus livros como e-books?
L.L. - Muito longo, mas pode ser reduzido a três grandes momentos.
Submeter o manuscrito aos Leitores-Beta para críticas e consequente revisão.
Trabalhar o livro para corresponder aos parâmetros exigidos pelos grandes retalhistas como Amazon e a Apple.
Contactar Bloguers de interesse para pedir colaboração na promoção do livro.
Em três passos pode parecer simples, mas é necessário quase um ano de dedicação para o fazer.

U.B.C. - Quais foram as principais dificuldades?
L.L. - Pessoalmente, foi a revisão.
Para mim é uma tarefa extremamente árdua e desgastante. Mesmo com grande esforço, com a ajuda dos leitores-beta, parece existir sempre mais uma gralha a ser descoberta.

(2010)
U.B.C. - E qual foi a sensação de saber que estava tudo bem encaminhado?
L.L. - Depois de ter conseguido publicar o 1° livro, “Inverso” na Amazon foi uma mistura de orgulho de “tarefa cumprida” e ao mesmo tempo a realização, de que era possível fazê-lo, que com esforço e persistência, era possível partilhar as histórias que criei com leitores de todo o mundo.
O meu entusiasmo foi partilhado num dos posts que publiquei no meu blogue http://www.lc-lavado.com/2012/08/inversoamazon.html

U.B.C. - Como está a ser lidar com as críticas?
L.L. - Tenho sorte de a maioria das críticas serem muito favoráveis e de mesmo as menos entusiastas serem de leitores bem educados, o que torna tudo muito mais tolerável. Mas nada impede que fiquem com o coração “a bater a mil” sempre que vejo uma nova crítica no Goodreads, num Blogue ou abro um mail de um leitor.

U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características como autora?
L.L. - A minha escrita distingue-se por frases curtas, linguagem limpa, e abundância de diálogos, o que combinados,  oferecem uma grande dinâmica às minhas histórias.
Em todos os meus livros, mesmo os géneros diferindo entre Romance de época , YA e Fantasia Urbana, há sempre um mistério a ser revelado e um toque de humor que torna a leitura lúdica... bem, talvez o humor esteja um pouco esquecido no 1° livro...

U.B.C. - Quais são as principais inspirações para o teu trabalho?
L.L. - Todos os meus livros nasceram da vontade de criar aventuras e personagens que me permitissem ser outras pessoas através deles.
Cada um teve a sua própria inspiração, uma “história por de trás da história”.

U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
L.L. - Sherrilyn Kenyon, Alex Bell, Carlos Ruiz Zafón, Laurell K. Hamilton.

U.B.C. - Qual o género onde te sentes mais à vontade?
L.L. - Fantasia Urbana.

U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros hobbies que ocupam o teu tempo?
L.L. - Eu adoro tudo o que conte histórias... cinema, teatro, música.

(previsto para 2013)
U.B.C. - Neste momento, estás envolvida em algum novo projeto?
L.L. - Neste momento tenho dois grandes projectos.
A revisão de “O Diabo dos Anjos”, um livro que escrevi ainda em Portugal e que tem muito trabalho para ser feito antes da publicação em Janeiro de 2013.
E um novo livro que comecei a escrever este mês, com o título “Fantasmas de Pedra”. Este será o livro 2 do “Inverno de Sombras, e que vai contar a história do Claude e Andrea, dois personagens que eu não previa, mas que conquistaram um grande interesse dos muitos leitores.

U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
L.L. - Alcançar o maior número de leitores possível e proporcionar a todos eles boas horas de leitura.
Ajudar a combater os baixos índices de leitura dos portugueses.
Ser reconhecida como uma jovem escritora portuguesa empreendedora.

Opiniões a livros de L. C. Lavado:

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Entrevista a Carlos Rodrigues


Apesar de estar profissionalmente dedicado ao Direito, Carlos Rodrigues não consegue colocar a escrita de parte. Natural de Vale de Cambra, dedica-se à escrita de colunas para um regional local. Num momento de inspiração, decidiu aproveitar para realizar um sonho antigo: escrever um livro. Assim nasceu Eu, Ela e os Vampiros, o início de uma saga dedicada ao público jovem onde a fantasia se mistura com a realidade portuguesa. 
Um agradecimento a Carlos Rodrigues por ter respondido com prontidão e simpatia a esta entrevista.

Uma Biblioteca em Construção (U. B. C.) - O que é que a escrita significa para ti?
Carlos Rodrigues (C. R. ) - As nossas interacções são filtradas pelos nossos conhecimentos e experiências, vivências e culturas. Principalmente o nosso diálogo é mediado por todos esses factores que, no meu ponto de vista, reduzem a riqueza de ideias e magia que vai na mente de cada um e formata-a em letras e frases para que possam ser compreendidas pelo mundo envolvente. Ora, escrever, para mim, significa libertar-me de todos esses filtros e reduções e deixar fluir, através da caneta que desliza pelo papel, todo o mundo de ideias e magia que tenho dentro de mim.

U.B.C. - Como é que o Direito e a escrita se ligam?
C. R. - Boa pergunta! Na medida em que… não se ligam directamente. O Direito liga-se às minhas aspirações profissionais (infelizmente minadas pela crise económica); por outro lado, a escrita liga-se a uma resposta a um apelo tão natural e necessário como respirar. Escrever é deixar a minha imaginação fluir. O Direito é a ferramenta que irá trazer aquela satisfação profissional, aquilo que me vejo a fazer todos os dias. Ligam-se na medida em que são duas expressões da minha pessoa, expressões que formam e completam a minha imagem e identidade. 

U.B.C. - Podes explicar como foi o processo de publicar o livro Eu, Ela e os Vampiros?
C. R. - Baseado na sua opinião (publicada no blog), creio que foi a leitora que mais se aproximou da minha realidade no que toca a essa obra. Isto porque o processo de publicar o livro começou precisamente por decidir ressuscitar este projecto e dar-lhe um certo conteúdo, mas um conteúdo meramente introdutório que deixasse a vontade de saber mais. A intenção é lançar os próximos volumes, e sim, aumentar-lhes a densidade, enredo e ligação às personagens. Alguns nomes são propositados. Alguns diálogos são propositados.
O processo de passar de manuscrito a obra foi um desafio. Uma aventura fantástica, repleta de emoções e sensações e uma companhia presente: a Chiado Editora. Tendo decidido publicar a minha obra, a Editora tem sido uma presença constante e arrisco-me, em tons de sinceridade, carinhosa em todo este processo. Este processo que é uma magia de ver um sonho a ganhar forma e volume, um sonho do tamanho do Mundo a caber na palma das nossas mãos e, embora objecto inerte, gritar em vida e encher a nossa alma em infinitas cores. Receber o livro foi assim gratificante. Tê-lo finalmente na forma que só em sonhos me atrevia a imaginá-lo foi sentir um objectivo, que me transcende, realizado.
Tudo começou numa tarde de Primavera. Dotado de algum tempo livre e a veia da imaginação a pulsar forte, decidi deixar a caneta fluir. Eventualmente, veio o último ponto final, depois a procura de Editoras e, passados alguns dias, receber a resposta positiva da Editora. E assim se iniciou uma espiral de novidades, o design da capa, a paginação e a própria mini- biografia foram um desafio que encarei de forma séria, embora um sorriso e um suspiro de alegria melodiassem este quotidiano de… escritor quase publicado.

U.B.C. - Porquê o género fantástico?
C. R. - Porque não? O género fantástico permite-me tudo, neste caso permitiu-me ligar a magia a adolescentes e fazê-los viver aventuras pelo nosso Mundo mas numa perspectiva inovadora. E o género fantástico tem a versatilidade de, bem tratado, agradar a praticamente todos, desde miúdos a graúdos.

(2012)
U.B.C. - O que te deu mais prazer em publicar este livro?
C. R. - A adesão e o interesse dos meus amigos e conhecidos, o carinho com que tenho sido recebido nas várias sessões de divulgação do mesmo e o orgulho que vejo nos olhares de quem me escuta. Estes factores têm sido a minha motivação e, sem dúvida, o que me deu mais prazer nesta aventura.
Igualmente, o companheirismo da Chiado Editora. Nunca é demais reiterar os meus votos de agradecimento pelo apoio e orientação. Sim, o que me deu mais prazer foi ter a sensação de que a minha obra tem valor e que merece ver a luz do dia como um livro.

U.B.C. - Quais foram as principais dificuldades?
C. R. - O investimento financeiro e pessoal. “Escrever é fácil, todos o fazem”, todos o dizem, mas creio que nem todos estão cientes do amor que temos que nutrir pelas personagens, do rigor na criação dos enredos e cenários e, acima de tudo, no diálogo que deve existir entre o Autor e a sua obra. Só assim pode nascer uma obra, seja ela um livro ou outra manifestação artística. O que leva tempo e tem retrocessos. Mas a maior dificuldade residiu no inevitável investimento e na minha aceitação em me sujeitar às críticas. Gostaria de ter iniciado a minha vida de obras publicadas por outro tipo de obras, mas creio que esta é a mais apelativa.

U.B.C. - E qual foi a sensação de ter o primeiro livro nas mãos?
C. R. - Cumpre aqui um esclarecimento. “Eu, Ela e os Vampiros” é um projecto que já nasceu em 2005. Na altura, a título pessoal, dei-lhe a forma de livro, mas a imaturidade e o talento ainda por cultivar ditaram que não seria uma obra com a aceitação esperada. Volvidos sete anos, cultivado o talento e ganha a devida maturidade literária, decidi ressuscitar a obra, mudar-lhe alguns detalhes e dar-lhe a densidade de enredo que merece. E merecia, acima de tudo, o nome de “obra”. Por isso, procurei Editoras e sujeitei-a a todas as críticas que desse processo surgiriam. E agora tenho um livro. E considero este o meu primeiro livro.
A sensação foi sem dúvida fenomenal, inesquecível e marcante, como uma nova vida a nascer nas minhas mãos, um raio de sol que roubei do céu, escondi no meu coração e que irradia no meu olhar. Foi apenas isso que é tudo para mim. 

U.B.C. - Como está a ser lidar com as críticas?
C. R. - Porque têm sido na sua maioria positivas e construtivas, não tem sido tão difícil como esperava. Estou bastante receptivo às críticas, até porque o projecto EEV, como lhe chamo entre amigos, é um projecto de crescimento e magia, para o qual todos aqueles que me envolvem o respirar contribuíram, desde um gesto mais simples até à mais poderosa das palavras. E é um projecto que quero levar aos quatro cantos do mundo e cantá-lo aos sete mares e oceanos. Com essa exposição vem a crítica. Se for construtiva, tanto melhor. Venha ela. Uma gralha não é um problema, mas sim uma desafio, uma oportunidade de crescer.

U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características como autor?
C. R. - Enquanto Autor vejo-me como persistente, dedicado, emotivo e sincero. Crio um laço com a caneta e o papel, uma ligação que supera a minha compreensão, uma dança a uma melodia que só eu escuto mas que faz do meu coração a porta de entrada para o mundo de magia que baila no meu olhar. Por isto, também me considero um Autor sonhador.
Roubando as palavras a amigos, vejo-me acima de tudo como um Autor que se multiplica em infinitas partículas de existências em todas e cada uma das suas palavras, o que distingue a minha escrita e a torna tão… apelativa.

U.B.C. - Com o terminar da leitura de Eu, Ela e os Vampiros, percebe-se que haverá uma continuação. O próximo livro já está a ser escrito?
C. R. - O segundo volume da saga está a ser, efectivamente, sonhado e elaborado. A escassez de tempo livre dita que o ritmo de escrita seja menor do que eu gostaria que fosse. Mas sim, as aventuras de Carlos e Diana não ficam por aí. Se considerarmos a minha obra uma refeição, o primeiro volume (A estátua da Igreja) é apenas uma entrada. Que espero que todos os leitores saibam saborear e apreciar.

U.B.C. - Quantos volumes terá esta saga?
C. R. - A saga está pensada para quatro volumes.

U.B.C. - Quais são as principais inspirações para este trabalho?
C. R. - O quotidiano e a minha imaginação, bem como o anime, em cujas personagens, na sua força e dedicação, eu revejo algumas das minhas acções a título pessoal. A imaginação da minha sobrinha, a magia que lhe baila no olhar; a humildade e ligação aos sentimentos que me foi transmitida pela minha família, mais precisamente pela minha mãe. Estas são as principais inspirações.

U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
C. R. - Cinjo-me aos autores portugueses. Gostaria de não sortear os nomes deles, em jeitos de desrespeito pelo seu talento e percurso. Mas se me pede para nomear autores, num instante um trio de nomes atravessa a minha mente: José Saramago, a inspiração sem medida nem rigor, a força das palavras pura e dura; Alice Vieira, o carinho e ternura em forma de letras que nos embala a criança que existe dentro de nós; e Vergílio Ferreira, o guerreiro das palavras e das aparições que são a existência dos outros na nossa essência.

U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros hobbies que ocupam o teu tempo?
C. R. - O desporto (embora não ocupe tanto tempo quanto devia, confesso…), as caminhadas à beira mar e, ao final do dia, de manta e chocolate, ver séries e filmes sem fim, enquanto sonho com algumas viagens, as que fiz e as que quero fazer.
Namoriscar e amar também entram nesse rol. Mas são brincadeiras inconfessadas. 

U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
C. R. - O reconhecimento como Autor Português, a atenção dos leitores e a sua adesão. Não particularmente às minhas obras, mas às obras dos nossos conterrâneos, que são de uma beleza e perfeição que, dadas as tendências mundiais, se tendem a perder num tempo que não volta atrás. E são tesouros enterrados nas areias de uma qualquer ampulheta de que ninguém quer saber mas que a todos afecta. Tesouros perdidos num tempo que poderiam conhecer a luz do dia com o louvor que merecem.
Espero vir a alcançar a posição de ponte e inspiração para a leitura e a escrita. Nomeadamente de e por autores portugueses. Dos que já são e dos que o venham a ser.
O futuro está na simplicidade.