quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Entrevista a Carlos Rodrigues


Apesar de estar profissionalmente dedicado ao Direito, Carlos Rodrigues não consegue colocar a escrita de parte. Natural de Vale de Cambra, dedica-se à escrita de colunas para um regional local. Num momento de inspiração, decidiu aproveitar para realizar um sonho antigo: escrever um livro. Assim nasceu Eu, Ela e os Vampiros, o início de uma saga dedicada ao público jovem onde a fantasia se mistura com a realidade portuguesa. 
Um agradecimento a Carlos Rodrigues por ter respondido com prontidão e simpatia a esta entrevista.

Uma Biblioteca em Construção (U. B. C.) - O que é que a escrita significa para ti?
Carlos Rodrigues (C. R. ) - As nossas interacções são filtradas pelos nossos conhecimentos e experiências, vivências e culturas. Principalmente o nosso diálogo é mediado por todos esses factores que, no meu ponto de vista, reduzem a riqueza de ideias e magia que vai na mente de cada um e formata-a em letras e frases para que possam ser compreendidas pelo mundo envolvente. Ora, escrever, para mim, significa libertar-me de todos esses filtros e reduções e deixar fluir, através da caneta que desliza pelo papel, todo o mundo de ideias e magia que tenho dentro de mim.

U.B.C. - Como é que o Direito e a escrita se ligam?
C. R. - Boa pergunta! Na medida em que… não se ligam directamente. O Direito liga-se às minhas aspirações profissionais (infelizmente minadas pela crise económica); por outro lado, a escrita liga-se a uma resposta a um apelo tão natural e necessário como respirar. Escrever é deixar a minha imaginação fluir. O Direito é a ferramenta que irá trazer aquela satisfação profissional, aquilo que me vejo a fazer todos os dias. Ligam-se na medida em que são duas expressões da minha pessoa, expressões que formam e completam a minha imagem e identidade. 

U.B.C. - Podes explicar como foi o processo de publicar o livro Eu, Ela e os Vampiros?
C. R. - Baseado na sua opinião (publicada no blog), creio que foi a leitora que mais se aproximou da minha realidade no que toca a essa obra. Isto porque o processo de publicar o livro começou precisamente por decidir ressuscitar este projecto e dar-lhe um certo conteúdo, mas um conteúdo meramente introdutório que deixasse a vontade de saber mais. A intenção é lançar os próximos volumes, e sim, aumentar-lhes a densidade, enredo e ligação às personagens. Alguns nomes são propositados. Alguns diálogos são propositados.
O processo de passar de manuscrito a obra foi um desafio. Uma aventura fantástica, repleta de emoções e sensações e uma companhia presente: a Chiado Editora. Tendo decidido publicar a minha obra, a Editora tem sido uma presença constante e arrisco-me, em tons de sinceridade, carinhosa em todo este processo. Este processo que é uma magia de ver um sonho a ganhar forma e volume, um sonho do tamanho do Mundo a caber na palma das nossas mãos e, embora objecto inerte, gritar em vida e encher a nossa alma em infinitas cores. Receber o livro foi assim gratificante. Tê-lo finalmente na forma que só em sonhos me atrevia a imaginá-lo foi sentir um objectivo, que me transcende, realizado.
Tudo começou numa tarde de Primavera. Dotado de algum tempo livre e a veia da imaginação a pulsar forte, decidi deixar a caneta fluir. Eventualmente, veio o último ponto final, depois a procura de Editoras e, passados alguns dias, receber a resposta positiva da Editora. E assim se iniciou uma espiral de novidades, o design da capa, a paginação e a própria mini- biografia foram um desafio que encarei de forma séria, embora um sorriso e um suspiro de alegria melodiassem este quotidiano de… escritor quase publicado.

U.B.C. - Porquê o género fantástico?
C. R. - Porque não? O género fantástico permite-me tudo, neste caso permitiu-me ligar a magia a adolescentes e fazê-los viver aventuras pelo nosso Mundo mas numa perspectiva inovadora. E o género fantástico tem a versatilidade de, bem tratado, agradar a praticamente todos, desde miúdos a graúdos.

(2012)
U.B.C. - O que te deu mais prazer em publicar este livro?
C. R. - A adesão e o interesse dos meus amigos e conhecidos, o carinho com que tenho sido recebido nas várias sessões de divulgação do mesmo e o orgulho que vejo nos olhares de quem me escuta. Estes factores têm sido a minha motivação e, sem dúvida, o que me deu mais prazer nesta aventura.
Igualmente, o companheirismo da Chiado Editora. Nunca é demais reiterar os meus votos de agradecimento pelo apoio e orientação. Sim, o que me deu mais prazer foi ter a sensação de que a minha obra tem valor e que merece ver a luz do dia como um livro.

U.B.C. - Quais foram as principais dificuldades?
C. R. - O investimento financeiro e pessoal. “Escrever é fácil, todos o fazem”, todos o dizem, mas creio que nem todos estão cientes do amor que temos que nutrir pelas personagens, do rigor na criação dos enredos e cenários e, acima de tudo, no diálogo que deve existir entre o Autor e a sua obra. Só assim pode nascer uma obra, seja ela um livro ou outra manifestação artística. O que leva tempo e tem retrocessos. Mas a maior dificuldade residiu no inevitável investimento e na minha aceitação em me sujeitar às críticas. Gostaria de ter iniciado a minha vida de obras publicadas por outro tipo de obras, mas creio que esta é a mais apelativa.

U.B.C. - E qual foi a sensação de ter o primeiro livro nas mãos?
C. R. - Cumpre aqui um esclarecimento. “Eu, Ela e os Vampiros” é um projecto que já nasceu em 2005. Na altura, a título pessoal, dei-lhe a forma de livro, mas a imaturidade e o talento ainda por cultivar ditaram que não seria uma obra com a aceitação esperada. Volvidos sete anos, cultivado o talento e ganha a devida maturidade literária, decidi ressuscitar a obra, mudar-lhe alguns detalhes e dar-lhe a densidade de enredo que merece. E merecia, acima de tudo, o nome de “obra”. Por isso, procurei Editoras e sujeitei-a a todas as críticas que desse processo surgiriam. E agora tenho um livro. E considero este o meu primeiro livro.
A sensação foi sem dúvida fenomenal, inesquecível e marcante, como uma nova vida a nascer nas minhas mãos, um raio de sol que roubei do céu, escondi no meu coração e que irradia no meu olhar. Foi apenas isso que é tudo para mim. 

U.B.C. - Como está a ser lidar com as críticas?
C. R. - Porque têm sido na sua maioria positivas e construtivas, não tem sido tão difícil como esperava. Estou bastante receptivo às críticas, até porque o projecto EEV, como lhe chamo entre amigos, é um projecto de crescimento e magia, para o qual todos aqueles que me envolvem o respirar contribuíram, desde um gesto mais simples até à mais poderosa das palavras. E é um projecto que quero levar aos quatro cantos do mundo e cantá-lo aos sete mares e oceanos. Com essa exposição vem a crítica. Se for construtiva, tanto melhor. Venha ela. Uma gralha não é um problema, mas sim uma desafio, uma oportunidade de crescer.

U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características como autor?
C. R. - Enquanto Autor vejo-me como persistente, dedicado, emotivo e sincero. Crio um laço com a caneta e o papel, uma ligação que supera a minha compreensão, uma dança a uma melodia que só eu escuto mas que faz do meu coração a porta de entrada para o mundo de magia que baila no meu olhar. Por isto, também me considero um Autor sonhador.
Roubando as palavras a amigos, vejo-me acima de tudo como um Autor que se multiplica em infinitas partículas de existências em todas e cada uma das suas palavras, o que distingue a minha escrita e a torna tão… apelativa.

U.B.C. - Com o terminar da leitura de Eu, Ela e os Vampiros, percebe-se que haverá uma continuação. O próximo livro já está a ser escrito?
C. R. - O segundo volume da saga está a ser, efectivamente, sonhado e elaborado. A escassez de tempo livre dita que o ritmo de escrita seja menor do que eu gostaria que fosse. Mas sim, as aventuras de Carlos e Diana não ficam por aí. Se considerarmos a minha obra uma refeição, o primeiro volume (A estátua da Igreja) é apenas uma entrada. Que espero que todos os leitores saibam saborear e apreciar.

U.B.C. - Quantos volumes terá esta saga?
C. R. - A saga está pensada para quatro volumes.

U.B.C. - Quais são as principais inspirações para este trabalho?
C. R. - O quotidiano e a minha imaginação, bem como o anime, em cujas personagens, na sua força e dedicação, eu revejo algumas das minhas acções a título pessoal. A imaginação da minha sobrinha, a magia que lhe baila no olhar; a humildade e ligação aos sentimentos que me foi transmitida pela minha família, mais precisamente pela minha mãe. Estas são as principais inspirações.

U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
C. R. - Cinjo-me aos autores portugueses. Gostaria de não sortear os nomes deles, em jeitos de desrespeito pelo seu talento e percurso. Mas se me pede para nomear autores, num instante um trio de nomes atravessa a minha mente: José Saramago, a inspiração sem medida nem rigor, a força das palavras pura e dura; Alice Vieira, o carinho e ternura em forma de letras que nos embala a criança que existe dentro de nós; e Vergílio Ferreira, o guerreiro das palavras e das aparições que são a existência dos outros na nossa essência.

U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros hobbies que ocupam o teu tempo?
C. R. - O desporto (embora não ocupe tanto tempo quanto devia, confesso…), as caminhadas à beira mar e, ao final do dia, de manta e chocolate, ver séries e filmes sem fim, enquanto sonho com algumas viagens, as que fiz e as que quero fazer.
Namoriscar e amar também entram nesse rol. Mas são brincadeiras inconfessadas. 

U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
C. R. - O reconhecimento como Autor Português, a atenção dos leitores e a sua adesão. Não particularmente às minhas obras, mas às obras dos nossos conterrâneos, que são de uma beleza e perfeição que, dadas as tendências mundiais, se tendem a perder num tempo que não volta atrás. E são tesouros enterrados nas areias de uma qualquer ampulheta de que ninguém quer saber mas que a todos afecta. Tesouros perdidos num tempo que poderiam conhecer a luz do dia com o louvor que merecem.
Espero vir a alcançar a posição de ponte e inspiração para a leitura e a escrita. Nomeadamente de e por autores portugueses. Dos que já são e dos que o venham a ser.
O futuro está na simplicidade.

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