Apesar de estar profissionalmente dedicado ao Direito, Carlos Rodrigues não consegue colocar a escrita de parte. Natural de Vale de Cambra, dedica-se à escrita de colunas para um regional local. Num momento de inspiração, decidiu aproveitar para realizar um sonho antigo: escrever um livro. Assim nasceu Eu, Ela e os Vampiros, o início de uma saga dedicada ao público jovem onde a fantasia se mistura com a realidade portuguesa.
Um agradecimento a Carlos Rodrigues por ter respondido com prontidão e simpatia a esta entrevista.
Um agradecimento a Carlos Rodrigues por ter respondido com prontidão e simpatia a esta entrevista.
Uma Biblioteca em Construção (U. B. C.) - O que é que a escrita significa
para ti?
Carlos Rodrigues (C. R. ) - As nossas interacções
são filtradas pelos nossos conhecimentos e experiências, vivências e culturas.
Principalmente o nosso diálogo é mediado por todos esses factores que, no meu
ponto de vista, reduzem a riqueza de ideias e magia que vai na mente de cada um
e formata-a em letras e frases para que possam ser compreendidas pelo mundo
envolvente. Ora, escrever, para mim, significa libertar-me de todos esses
filtros e reduções e deixar fluir, através da caneta que desliza pelo papel,
todo o mundo de ideias e magia que tenho dentro de mim.
U.B.C. - Como é que o Direito e a escrita se ligam?
C. R. - Boa pergunta! Na medida em que… não se ligam
directamente. O Direito liga-se às minhas aspirações profissionais
(infelizmente minadas pela crise económica); por outro lado, a escrita liga-se
a uma resposta a um apelo tão natural e necessário como respirar. Escrever é
deixar a minha imaginação fluir. O Direito é a ferramenta que irá trazer aquela
satisfação profissional, aquilo que me vejo a fazer todos os dias. Ligam-se na
medida em que são duas expressões da minha pessoa, expressões que formam e
completam a minha imagem e identidade.
U.B.C. - Podes explicar como foi o processo de publicar o livro Eu, Ela
e os Vampiros?
C. R. - Baseado na sua opinião (publicada no blog), creio que
foi a leitora que mais se aproximou da minha realidade no que toca a essa obra.
Isto porque o processo de publicar o livro começou precisamente por decidir
ressuscitar este projecto e dar-lhe um certo conteúdo, mas um conteúdo
meramente introdutório que deixasse a vontade de saber mais. A intenção é
lançar os próximos volumes, e sim, aumentar-lhes a densidade, enredo e ligação
às personagens. Alguns nomes são propositados. Alguns diálogos são
propositados.
O processo de passar de
manuscrito a obra foi um desafio. Uma aventura fantástica, repleta de emoções e
sensações e uma companhia presente: a Chiado Editora. Tendo decidido publicar a
minha obra, a Editora tem sido uma presença constante e arrisco-me, em tons de
sinceridade, carinhosa em todo este processo. Este processo que é uma magia de
ver um sonho a ganhar forma e volume, um sonho do tamanho do Mundo a caber na
palma das nossas mãos e, embora objecto inerte, gritar em vida e encher a nossa
alma em infinitas cores. Receber o livro foi assim gratificante. Tê-lo
finalmente na forma que só em sonhos me atrevia a imaginá-lo foi sentir um
objectivo, que me transcende, realizado.
Tudo começou numa tarde
de Primavera. Dotado de algum tempo livre e a veia da imaginação a pulsar
forte, decidi deixar a caneta fluir. Eventualmente, veio o último ponto final,
depois a procura de Editoras e, passados alguns dias, receber a resposta
positiva da Editora. E assim se iniciou uma espiral de novidades, o design da
capa, a paginação e a própria mini- biografia foram um desafio que encarei de
forma séria, embora um sorriso e um suspiro de alegria melodiassem este
quotidiano de… escritor quase publicado.
U.B.C. - Porquê o género fantástico?
C. R. - Porque não? O género fantástico permite-me tudo,
neste caso permitiu-me ligar a magia a adolescentes e fazê-los viver aventuras
pelo nosso Mundo mas numa perspectiva inovadora. E o género fantástico tem a
versatilidade de, bem tratado, agradar a praticamente todos, desde miúdos a
graúdos.
C. R. - A adesão e o interesse dos meus amigos e conhecidos,
o carinho com que tenho sido recebido nas várias sessões de divulgação do mesmo
e o orgulho que vejo nos olhares de quem me escuta. Estes factores têm sido a
minha motivação e, sem dúvida, o que me deu mais prazer nesta aventura.
Igualmente, o
companheirismo da Chiado Editora. Nunca é demais reiterar os meus votos de
agradecimento pelo apoio e orientação. Sim, o que me deu mais prazer foi ter a
sensação de que a minha obra tem valor e que merece ver a luz do dia como um
livro.
U.B.C. - Quais foram as principais dificuldades?
C. R. - O investimento financeiro e pessoal. “Escrever é
fácil, todos o fazem”, todos o dizem, mas creio que nem todos estão cientes do
amor que temos que nutrir pelas personagens, do rigor na criação dos enredos e
cenários e, acima de tudo, no diálogo que deve existir entre o Autor e a sua
obra. Só assim pode nascer uma obra, seja ela um livro ou outra manifestação
artística. O que leva tempo e tem retrocessos. Mas a maior dificuldade residiu
no inevitável investimento e na minha aceitação em me sujeitar às críticas.
Gostaria de ter iniciado a minha vida de obras publicadas por outro tipo de
obras, mas creio que esta é a mais apelativa.
U.B.C. - E qual foi a sensação de ter o primeiro livro nas mãos?
C. R. - Cumpre aqui um esclarecimento. “Eu, Ela e os
Vampiros” é um projecto que já nasceu em 2005. Na altura, a título pessoal,
dei-lhe a forma de livro, mas a imaturidade e o talento ainda por cultivar
ditaram que não seria uma obra com a aceitação esperada. Volvidos sete anos, cultivado
o talento e ganha a devida maturidade literária, decidi ressuscitar a obra,
mudar-lhe alguns detalhes e dar-lhe a densidade de enredo que merece. E
merecia, acima de tudo, o nome de “obra”. Por isso, procurei Editoras e
sujeitei-a a todas as críticas que desse processo surgiriam. E agora tenho um
livro. E considero este o meu primeiro livro.
A sensação foi sem
dúvida fenomenal, inesquecível e marcante, como uma nova vida a nascer nas
minhas mãos, um raio de sol que roubei do céu, escondi no meu coração e que
irradia no meu olhar. Foi apenas isso que é tudo para mim.
U.B.C. - Como está a ser lidar com as críticas?
C. R. - Porque têm sido na sua maioria positivas e
construtivas, não tem sido tão difícil como esperava. Estou bastante receptivo
às críticas, até porque o projecto EEV, como lhe chamo entre amigos, é um
projecto de crescimento e magia, para o qual todos aqueles que me envolvem o
respirar contribuíram, desde um gesto mais simples até à mais poderosa das
palavras. E é um projecto que quero levar aos quatro cantos do mundo e cantá-lo
aos sete mares e oceanos. Com essa exposição vem a crítica. Se for construtiva,
tanto melhor. Venha ela. Uma gralha não é um problema, mas sim uma desafio, uma
oportunidade de crescer.
U.B.C. - Quais pensas serem as tuas principais características como autor?
C. R. - Enquanto Autor vejo-me como persistente, dedicado,
emotivo e sincero. Crio um laço com a caneta e o papel, uma ligação que supera
a minha compreensão, uma dança a uma melodia que só eu escuto mas que faz do
meu coração a porta de entrada para o mundo de magia que baila no meu olhar.
Por isto, também me considero um Autor sonhador.
Roubando as palavras a
amigos, vejo-me acima de tudo como um Autor que se multiplica em infinitas
partículas de existências em todas e cada uma das suas palavras, o que
distingue a minha escrita e a torna tão… apelativa.
U.B.C. - Com o terminar da leitura de Eu, Ela e os Vampiros,
percebe-se que haverá uma continuação. O próximo livro já está a ser escrito?
C. R. - O segundo volume da saga está a ser, efectivamente,
sonhado e elaborado. A escassez de tempo livre dita que o ritmo de escrita seja
menor do que eu gostaria que fosse. Mas sim, as aventuras de Carlos e Diana não
ficam por aí. Se considerarmos a minha obra uma refeição, o primeiro volume (A
estátua da Igreja) é apenas uma entrada. Que espero que todos os leitores
saibam saborear e apreciar.
U.B.C. - Quantos volumes terá esta saga?
C. R. - A saga está pensada para quatro volumes.
U.B.C. - Quais são as principais
inspirações para este trabalho?
C. R. - O quotidiano e a minha imaginação, bem como o anime, em cujas personagens, na sua
força e dedicação, eu revejo algumas das minhas acções a título pessoal. A
imaginação da minha sobrinha, a magia que lhe baila no olhar; a humildade e
ligação aos sentimentos que me foi transmitida pela minha família, mais
precisamente pela minha mãe. Estas são as principais inspirações.
U.B.C. - Quais são os teus autores de referência?
C. R. - Cinjo-me aos autores portugueses. Gostaria de não
sortear os nomes deles, em jeitos de desrespeito pelo seu talento e percurso.
Mas se me pede para nomear autores, num instante um trio de nomes atravessa a
minha mente: José Saramago, a inspiração sem medida nem rigor, a força das
palavras pura e dura; Alice Vieira, o carinho e ternura em forma de letras que
nos embala a criança que existe dentro de nós; e Vergílio Ferreira, o guerreiro
das palavras e das aparições que são a existência dos outros na nossa essência.
U.B.C. - Para além da ligação à escrita e à literatura, quais são os outros
hobbies que ocupam o teu tempo?
C. R. - O desporto (embora não ocupe tanto tempo quanto
devia, confesso…), as caminhadas à beira mar e, ao final do dia, de manta e
chocolate, ver séries e filmes sem fim, enquanto sonho com algumas viagens, as
que fiz e as que quero fazer.
Namoriscar e amar também
entram nesse rol. Mas são brincadeiras inconfessadas.
U.B.C. - Que desejas vir a alcançar no mundo literário?
C. R. - O reconhecimento como Autor Português, a atenção dos
leitores e a sua adesão. Não particularmente às minhas obras, mas às obras dos
nossos conterrâneos, que são de uma beleza e perfeição que, dadas as tendências
mundiais, se tendem a perder num tempo que não volta atrás. E são tesouros
enterrados nas areias de uma qualquer ampulheta de que ninguém quer saber mas
que a todos afecta. Tesouros perdidos num tempo que poderiam conhecer a luz do
dia com o louvor que merecem.
Espero vir a alcançar a posição de ponte e
inspiração para a leitura e a escrita. Nomeadamente de e por autores
portugueses. Dos que já são e dos que o venham a ser.
O futuro está na simplicidade.
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