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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Opinião: O Enigma do Quarto 622

Título Original:
L'Énigme de la Chambre 622 (2020)
Autor: Joël Dicker
Tradutor: José Mário Silva
ISBN:  9789897840357
Editora: Alfaguara (2020)

Sinopse:

Numa noite de Dezembro, um cadáver jaz no chão do quarto 622 do Palace de Verbier, um luxuoso hotel nos Alpes suíços. A morte misteriosa ocorre em plena festa anual de um prestigiado banco suíço, nas vésperas da nomeação do seu presidente. A investigação policial nada conclui e a passagem do tempo leva a que o caso seja praticamente esquecido.

Quinze anos mais tarde, o escritor Joël Dicker hospeda-se nesse mesmo hotel para recuperar de um desgosto amoroso e para fazer o luto do seu estimado editor. Ao dar entrada no hotel para o que esperava ser uns dias de tranquilidade e inspiração, não imaginava que acabaria a investigar esse crime do passado. Não o fará sozinho: Scarlett, uma bela mulher hospedada no quarto ao lado do seu, acompanhá-lo-á na resolução do mistério, ao mesmo tempo que vai decifrando a receita para escrever um bom livro.

O que aconteceu naquela noite de Inverno no Palace de Verbier? Que crime terrível teve lugar no quarto 622? E porquê? Estas são as perguntas-chave deste thriller veloz, construído com a habitual mestria de Joël Dicker, que pela primeira vez nos leva ao seu país para narrar uma história surpreendente. Um triângulo amoroso, jogos de poder, traição e inveja - nada falta a esta intriga magnética, em que a verdade é muito diferente do que imaginávamos.


Opinião:

O Enigma do Quarto 622 é o primeiro livro que leio de Joël Dicker. E que bela surpresa se revelou! Obra publicada pela Alfaguara, leva-nos por um mistério que agarra desde a primeira página. O que parecia ser um thriller igual a tantos outros depressa se revela distinto e original. E isto muito se deve à perícia do autor para contar histórias.

A personagem principal desta obra é um homem com o mesmo nome que o autor do livro. Um gesto ousado que parece promover proximidade entre a mente por trás dessta história, mas também uma forma de Dicker conseguir homenagear um homem que lhe foi muito especial e que perdeu a vida em 2018: o editor que o lançou:  Bernard de Fallois. É que ao mesmo tempo que nos vemos envolvidos no mistério central, ficamos a conhecer o profissional que ajudou ao sucesso internacional do autor, numa homenagem que o imortaliza. Um gesto bonito e que em nada prejudica a trama central.

O assassinato em si e todo o que o envolve está muito bem conseguido. É que antes de querermos saber o que aconteceu no quarto, o autor leva-nos a conhecer um leque de personagens complexas e muito apelativas, fazendo-nos pensar nos motivos que cada uma poderia ter para matar ou ser morta. Sim, porque só mais à frente na trama é que percebemos a identidade da vítima e isso apenas impele para uma leitura mais interessada e rápida. 

As figuras desta história vão sendo descobertas aos poucos, como se a cada capítulo lhes fosse retirada mais uma camada até que estejam finalmente expostas. Todas se revelam bastante interessantes, apesar de acabarem por encaixar em certos esterótipos algo esperados. No conjunto, apresentam um drama que tem um crime como motor e que assenta em temas como a família, estatuto, profissão, amor, relações, desejo e, sobretudo, ambição. 

Esta é uma história bem construída, que está constantemente a levantar dúvidas no leitor muito graças ás reviravoltas mas também à forma como as personagens vão sendo desconstruídas. Ao mesmo tempo, é engraçado ver a brincadeira criada pelo autor de ter uma personagem com o seu próprio nome, levando o leitor a questionar sobre o que pode ou não ser verdade em alguns momentos da narrativa. Um livro singular e que faz perceber o motivo para Joël Dicker estar a ser um caso de sucesso.  


terça-feira, 29 de julho de 2014

Opinião: Delirium (Delirium #1)

Título Original: Delirium (2011)
Autor: Lauren Oliver
Tradução: Alice Rocha
ISBN: 9789896722685
Editora: Alfaguara (2014)

Sinopse: 

Houve um tempo em que o amor era a coisa mais importante do mundo. As pessoas eram capazes de ir até ao fim do mundo para o encontrar. Faziam tudo por amor. Até matar. Finalmente, no século XXII, os cientistas descobrem a cura para o delírio do amor, uma perigosa pandemia que infecta milhões de pessoas todos os anos. E o governo passa a exigir que todos os cidadãos recebam o tratamento ao cumprirem 18 anos.
Quando faltam apenas noventa e cinco dias para a tão aguardada cirurgia, Lena faz o impensável e sucumbe a uma irreprimível e incontrolável paixão…

Opinião:

A premissa principal de Delirium intrigou-me tanto que só descansei quando comecei a ler este livro. Como seria a sociedade se o amor fosse visto como a mais fatal das doenças? Quais seriam as características do amor mais assustadoras? Como seriam estas pessoas isentas do sentimento mais nobre? Eram estas as principais perguntas que tinha antes de iniciar a leitura e foi com gosto que me deparei com as respostas dadas por Lauren Oliver.

A primeira sensação que tive é que o mundo retratado em Delirium tem muitas semelhanças ao nosso. Apesar de ser distópico, possui uma organização que não gera estranheza. Parece mesmo que os únicos pontos de maior diferença são a cura do amor aos 18 anos e o isolamento. Isso faz com que não seja difícil perceber como a sociedade funciona. Contudo, quando comecei a observar as personagens secundárias, fiquei impressionada. Lauren Oliver conseguiu construir uma forma subtil de retirar o amor da humanidade, mas tal não deixou de ser um choque para mim. O desapego, o desinteresse, a apatia e a vontade de viver segundo regras consegue assustar. Ao início parece algo de menor valor, mas com o passar das páginas é inevitável reparar que retira algo de muito humano.

Lena, a protagonista, é uma personagem muito bem construída. Gostei bastante da evolução dela e da sensação que dá de que podia ser alguém real. Percebe-se que, ao início, é alguém que está dentro do sistema e que aceita tudo o que lhe é dito. Com o decorrer da leitura, é interessante verificar como Lena confronta uma outra realidade e outras ideias. Acreditei nas suas dúvidas, angústias quando começou a colocar em causa tudo o que lhe foi ensinado.

Hana, a melhor amiga de Lena, é uma personagem secundária que cativa logo desde o início. A irreverência desta rapariga é bem evidente, o que faz com que ela funcione como o contrário da protagonista. Ela demonstra uma grande vontade de viver e de ser feliz, o que revela ideias que chocam com as que são instituídas pela sociedade. Apesar de isso não afectar completamente Lena, a verdade é que faz crescer no leitor a vontade de assistir a um movimento rebelde.

E se Lena e Hana me agradaram bastante, o mesmo não posso dizer de Alex. Esta parece ser a típica personagem masculina de um romance distópico destinado a jovens adultos e protagonizado por uma mulher. Ele é o típico rapaz dedicado, devoto, bonito, corajoso e com um passado misterioso. O esperado romance entre Alex e Lena faz com que uma boa parte desta leitura acabe por cair em lugares comuns e numa dinâmica monótona e que não guarda nada que surpreenda.

Apesar de não ter ficado rendida a Alex, não posso deixar de verificar que o seu papel é muito importante para a trama. Afinal, é ele que leva Lena a quebrar regras e a colocar-se em situações de grande perigo. E se é verdade que muitos destes momentos são emocionantes, também é verdade que carecem de consistência. Digo isto porque a autora dá-nos a sensação de que existe um grande controlo, mas Alex e Lena conseguem contornar isso com grande facilidade. Isto faz com que a certo ponto eu tenha deixado de temer o perigo.

A escrita de Lauren Oliver é graciosa e que apela às emoções. Não se prende com grandes descrições cénicas, mas mais com a exploração da sua personagem principal. Isso faz com que seja possível criar empatia de uma forma quase automática. A construção da história pode apresentar algumas falhas e alguns pontos que precisavam de ser limados, mas acaba por fazer sentido e por seguir um rumo que apesar de ser o esperado não deixa de surpreender.

Delirium é uma distopia muito diferente que marca o início de uma trilogia. O perigo está ligado ao retirar de algo profundamente humano, o que nos deixa a pensar até que ponto vale a pena lutar pelo amor, nas suas mais diferentes formas e pela liberdade de sentir. O envolvimento nesta leitura e a forma como ela termina, faz com que tenha uma grande vontade de continuar a acompanhar esta história de Lauren Oliver.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Opinião: Enciclopédia da Estória Universal Vol. 1 – Recolha de Alexandria

Autor: Afonso Cruz 
ISBN: 9789896721343
Editora: Alfaguara (2012)

Sinopse:

Este é um livro de factos - e de ficções, burlas, citações - esquecidos ou ignorados pela História e Este primeiro volume da «Enciclopédia da Estória Universal», entre várias citações, curiosidades, mitos e anedotas orientais, inclui ainda entradas sobre monges que vivem pendurados em enormes prateleiras de livros e que nunca tocam no chão; diz-nos que Alice no País das Maravilhas nasceu de uma enxaqueca; conta a história do sultão Osman III, que abominava música e mulheres; e narra episódios da vida de Umit Arslan, o governador otomano que tinha fama de comer leões. Num tom, por vezes solene, outras irónico, mas sempre lúdico, esta enciclopédia revela-nos toda a História que a História esqueceu ou ignorou.

Opinião:


Original, cativante e impressionante. A Enciclopédia da Estória Universal – Recolha de Alexandria, de Afonso Cruz é um verdadeiro mimo.

Organizado por ordem alfabética, o autor apresenta um conjunto de estórias e de citações que embalam o leitor e o levam a ler mais uma e mais uma e mais uma, até ao momento em que chega ao final do livro a desejar encontrar mais páginas.

Mas os factos apresentados são reais ou ficção? A dúvida acompanha a leitura, até a um ponto em que não esta já não é importante, uma vez que a mensagem por trás de cada um destes relatos é assimilada.

A escrita é fácil de acompanhar, o grafismo é agradável e convidativo. Os temas são de interesse geral, expostos em diferentes formas, uns com um teor mais sério (será?), outros repletos de humor ou de ironia. Existem ainda aqueles que nos tocam de forma especial, talvez não por serem novidade, mas pela nova forma em que estão apresentados. Entre conversas com figuras históricas e viagens por locais imaginários, esta é uma obra de grande interesse e que deveria ser tida em atenção por todos. Aconselho.

domingo, 16 de junho de 2013

Opinião: Jesus Cristo bebia cerveja

Autor: Afonso Cruz
ISBN: 9789896721336
Editora: Alfaguara (2012)

Sinopse:

“Parece que a morte vem sempre à tona da água.”, frases como estas marcam o tom do novo e esperado romance de Afonso Cruz.
Com a originalidade que o caracteriza, Afonso Cruz, constrói uma narrativa de personagens singulares e marcantes, numa terra quase imaginária, que é o Alentejo.
Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma histórica comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida, como o amor, o sacrifício e a cerveja.

Opinião:

Depois de ter lido (ou deverei dizer devorado?) Enciclopédia da Estória Universal - Recolha de Alexandria, fiquei com vontade de pegar num romance de Afonso Cruz. A oportunidade surgiu com Jesus Cristo bebia cerveja.

Obra de ficção, apresenta-nos uma aldeia alentejana, com características iguais a tantas outras.Todas as pessoas se conhecem, todos comentam a vida dos outros, existe inveja e incompreensão mascarada. A entrada neste ambiente provinciano é fácil, devido às excelentes descrições, mas também dura, uma vez que o autor não esconde o lado mais degradante da vida.

O vasto leque de personagens tem Rosa como protagonista. Rapariga jovem que, ao início, parece ser indiferente a todo o que a rodeia. Nascido no seio de uma família pobre, acabou aos cuidados dos avós e, mais tarde, viu esses papéis a serem invertidos. Algumas das cenas que retratam a miséria em que Rosa e a avó vivem podem mesmo chocar, mas tratam-se de um retrato de muitas realidades às quais a sociedade tenta fechar os olhos. Com o tempo, percebemos que Rosa ama a avó e, como tal, toma como seu principal objetivo levá-la a Jerusalém.

Apesar de Rosa não ser uma beleza, a sua juventude atrai as atenções masculinas, nomeadamente a do pastor Ari e a do professor Borja. Aqui, torna-se interessante analisar as diferenças entre estas personagens. Ari é a representação da simplicidade do campo, enquanto Borja é o erudito da cidade.

A narrativa possui altos e baixos, mas não momentos indiferentes. Apreciei algumas as reflexões que são constantemente feitas, quer seja sobre temas mais básicos, quer seja sobre assuntos mais complexos e pesados. Contudo, de um momento para o outro o autor passa para circunstâncias que causam incómodo e que podem não ser bem aceites. Fica a sensação que a trama progride num sentido de degradação, talvez um pouco como a vida humana. O final é chocante e parece surgir demasiado depressa.

O título pode gerar alguma confusão, mas com o decorrer da leitura, o leitor percebe as intenções do autor neste sentido. Afinal, a narrativa mostra-nos que o sagrado e o profano estão mais próximos do que pode parecer à primeira vista.

Terminada a leitura, fica a sensação de que a narrativa não é perfeita, mas que marca, de certa forma. O conceito base é original e a escrita de Afonso Cruz prende pela sua peculiaridade. Jesus Cristo bebia cerveja é um livro interessante e que me faz continuar a ter vontade de ler mais obras do autor.