A tirar o Mestrado em Engenharia
Informática e de Computadores no Instituto Superior Técnico, Sofia Teixeira
concilia os estudos com a manutenção do blog
Morrighan. Este espaço nasceu com o objetivo de ser uma página pessoal, onde a
autora colocava conteúdos de interesse próprio, muito ligados ao misticismo e
esoterismo. Com o tempo, o blog
começou a ter uma vertente mais literária e, neste momento, é tido por muitos
como uma referência dentro do género. Sofia Teixeira, que decidiu apostar na
divulgação de autores nacionais, já foi convidada a participar em apresentações
de livros e em debates acerca de temas relacionados com a literatura.
Agradeço à Sofia o apoio na criação deste espaço e a forma entusiasta e direta com que respondeu à entrevista que lhe foi proposta.
Uma Biblioteca em Construção (U.B.C.) - Qual o papel do blog Morrighan na tua vida?
Sofia Teixeira (S.T.)
- O blog Morrighan começou como
um espaço muito pessoal. Colocava lá pequenos textos relacionados com o
paganismo ou mitologia e não era mais do que um pequeno bloco de notas online. Até que no Verão de 2009 li uma
data de livros que gostei e decidi partilhar naquele meu cantinho o que tinha
achado desses livros. Numa das minhas visitas pela blogosfera encontrei um
autor português a oferecer um livro seu e como lia muito pouco de autores
portugueses, decidi que queria divulgá-los mais e dar-lhes mais atenção. A
partir daí confesso que tudo se descontrolou um bocado e sem dar conta o blog atingiu proporções que nunca tinha
idealizado nem pensado que fosse possível atingir. Vieram as entrevistas,
contactos às editoras e por parte das mesmas, uma troca gigante de informação
que culminou numa popularidade inesperada. Aos poucos e poucos, o que era um
cantinho meu, tornou-se num cantinho de muita gente e esta partilha
'obrigou-me' a gastar muito mais tempo em dedicação ao blog.
Neste momento o blog Morrighan é uma parte de mim. Já não sei o que é passar um dia, ou uma semana, sem partilhar algo com os meus leitores. Apesar de agora ter uma vertente literária muito forte, coloco lá um pouco de tudo do que gosto. Recuso-me a classificar o blog Morrighan como um blog estritamente literário. É um blog pessoal que transmite parte daquilo que sou. O meu gosto pelos livros, pela música, pela arte, pela mitologia e pelo paganismo. E é isto que o blog Morrighan é, a minha casa online.
Neste momento o blog Morrighan é uma parte de mim. Já não sei o que é passar um dia, ou uma semana, sem partilhar algo com os meus leitores. Apesar de agora ter uma vertente literária muito forte, coloco lá um pouco de tudo do que gosto. Recuso-me a classificar o blog Morrighan como um blog estritamente literário. É um blog pessoal que transmite parte daquilo que sou. O meu gosto pelos livros, pela música, pela arte, pela mitologia e pelo paganismo. E é isto que o blog Morrighan é, a minha casa online.
U.B.C.
- Morrighan é uma das faces da deusa mais incompreendida devido à
dualidade vida e morte. Porquê esta escolha de nome?
S.T. - Como disse na pergunta anterior, o blog surgiu através da sua parte mística. Morrighan sempre foi a
deusa que mais admirei na mitologia celta, principalmente por me identificar
com tantos aspetos da sua personalidade. A incompreensão que existe perante
esta deusa, faz parte da sua complexidade o acabou por me atrair ainda mais.
É-me um pouco complicado falar desta relação entre mim e a escolha da deusa
porque confesso que é bastante pessoal. Inclusive no blog tenho dois posts um pouco relacionados com esta
pergunta que podem visitar aqui Morrighan: A Incompreendida Deusa Celta e aqui Deusa Morrighan.
U.B.C.
- Como é que um espaço com temáticas místicas e esotéricas se
tornou num blog literário tão reconhecido?
S.T. - Ora, esta é uma pergunta que me fazem umas quantas vezes e
para a qual dificilmente algum dia obterei uma resposta certeira. Penso que
acabou por ser um reconhecimento público de todo o meu esforço e dedicação
principalmente na divulgação dos autores portugueses. Porque foi por aí que o blog começou a ser mais visualizado em
termos literários. Através da colaboração que existiu de ambas as partes, minha
e dos autores, blog começou a
circular na blogosfera na sua vertente literária e a partir daí cresceu,
cresceu e cresceu, sem muitas vezes eu ter qualquer noção do impacto que este
estava a ter. Quando me começaram a chegar mails
de autores e de editoras a pedir divulgação ou a estabelecer parcerias, percebi
que realmente o seu conteúdo começava a ter algum impacto. Hoje tenho quase
1300 seguidores no blogger, mais de 2100 no Facebook e confesso que mesmo assim
não consigo ter noção do quanto é que o blog
tem influência ou não no mundo literário. Não é hipocrisia, é mesmo verdade.
Quando me dizem que o meu blog é dos
mais prestigiados ou dos que é mais tido em conta no mundo literário, eu fico
com cara de parva sem saber o que dizer, porque realmente deste lado não tenho
essa perceção toda.
U.B.C.
- A leitura sempre esteve muito presente na tua vida?
S.T. - Tenho que dizer que nem por isso. Os meus pais nunca foram
de ler e quando era miúda acabava por ler os livros da Anita que me ofereciam
ou os livros de Uma Aventura que pedia emprestados aos meus primos. De vez em
quando lá comprava banda desenhada da Disney, mas como não haviam muitas posses
financeiras, só mais tarde quando comecei a ter o meu dinheiro é que comecei a
comprar mais livros em alfarrabistas ou feiras do livro e aí sim, a minha
paixão pela leitura disparou e tornou-se irreversível.
U.B.C.
- Quais os teus géneros preferidos?
S.T. - Muitas pessoas associam o meu blog ao género do fantástico como se eu só gostasse de fantástico.
A sua parte mística ajuda um pouco a dar essa impressão, mas a verdade é que
gosto de tudo um pouco. Adoro fantasia e ficção científica, são sem dúvida os
géneros que leio mais, mas um bom policial/thriller
seduz-me imenso tal como um bom romance histórico. No entanto, tento cada vez
mais ir variando, pois quando leio muitos livros do mesmo género seguidos,
acabo por me cansar. Às tantas fica impossível não fazer associações entre as
diversas obras e por isso gosto de variar.
U.B.C.
- Quais são os autores cujas novidades não consegues perder?
S.T. - De autores portugueses não consigo perder Filipe Faria,
David Soares e Pedro Ventura. Acompanho muitos mais autores nacionais, mas
estes são sem dúvida os meus preferidos.
De autores internacionais tornei-me viciada em George R.R. Martin, Patricia Briggs, Juliet Marillier, Suzanne Collins e mais recentemente Catherine Fisher.
De autores internacionais tornei-me viciada em George R.R. Martin, Patricia Briggs, Juliet Marillier, Suzanne Collins e mais recentemente Catherine Fisher.
U.B.C.
- Que critérios usas para decidir quais os conteúdos a publicar?
S.T. - Esta é uma pergunta muito interessante. Não sei se os
leitores têm noção, mas todos os dias chegam à minha caixa de correio imensos
comunicados de imprensa de milhentas novidades. Por muito que possa desagradar
às editoras ao dizer isto, não publico todas. Para algum conteúdo ser publicado
no blog, primeiro tenho que ver algum
sentido em publicá-lo e de preferência achar que pode vir a ser útil ao meu
público. Se fosse a publicar tudo o que me aparece na caixa de correio era o
caos e penso que se daria uma dispersão de conteúdos desnecessária.
O avatar utilizado por Sofia Teixeira |
U.B.C.
- Quais são as tuas principais dificuldades e facilidades na
escrita de opiniões de obras literárias?
S.T. - As minhas opiniões são isso mesmo, opiniões. Não são críticas
ou resenhas, mas sim a minha visão pessoal dos livros. Desde o 10º ano que a
minha formação é em informática. Estive no Tecnológico de Informática no
Secundário, estou a acabar mestrado em Engenharia Informática e por isso a
minha formação na área das letras é bastante próxima de nenhuma. Confesso que
escrever não é algo para a qual eu ache que tenha jeito e acabo por escrever
quase como falo o que não é, de todo, o mais correto, por assim dizer. Se
formos a outros blogs puramente
literários, encontramos opiniões muito mais estruturadas, líricas até. As
minhas são um pouco cruas e brutas. Esse é outro aspeto que faz com que fique
surpreendida por tanta gente gostar delas. Talvez seja por conseguir transmitir
melhor, desta maneira, o que senti ao ler o livro.
U.B.C.
- Quem segue o blog vê uma grande preocupação pela divulgação do
autor nacional. Acreditas estar a fazer a diferença para desmistificar a ideia
de que só o que vem de fora tem qualidade?
S.T. - Tenho que acreditar. Foi com esse propósito que há dois anos comecei as
entrevistas. Mesmo que não tivesse o mais de milhar de seguidores que
tenho agora, teria que acreditar que os poucos que seguissem o blog iam
sentir isso. Aliás, soa a arrogância, mas acho que posso dizer com
bastante audácia que tenho feito alguma diferença. Os meus leitores
dizem-mo, os autores agradecem-me as divulgações e têm acontecido umas
quantas situações engraçadas que provam um pouco isso. Ainda nesta feira
do livro de Lisboa, eu encontrava-me no espaço Presença com o autor
Filipe Faria e chega um grupo de leitores que perante uma pergunta do
autor uma das raparigas diz 'Eu vi no blog Morrighan que ela já estava a
ler o teu livro e que estava a gostar'. A rapariga nem sabia quem eu
era pessoalmente e o autor calhou de se virar para mim e dizer 'A
Morrighan está mesmo aqui'. Depois de umas gargalhadas, teceram-se uns
quantos elogios ao blog e calhou vir ao de cima o tema dos autores
portugueses, sendo unânime que o blog estava de parabéns. E este é apenas
um caso. Eu só posso ficar imensamente grata pelo reconhecimento.
U.B.C.
- Atualmente, como vês o mercado literário português a reagir ao
autor português?
S.T. - Mal. Apesar de melhor do que há dois ou três anos. Não sei
se foi pela minha iniciativa que inspirou outras ou se foi outra coisa qualquer,
mas mais blogs começam a destacar os
autores portugueses, a fazerem entrevistas e isto acaba por ter algum impacto.
Reconheço que há muito mais pessoas a quererem ler autores portugueses, mas
mesmo assim existe um estigma muito grande em acreditar que há realmente
qualidade entre nós.
U.B.C.
- Com um blog com tantas visitas, de certeza que já recebeste
comentários bons, mas também menos bons. Como lidas com isso?
S.T. - Com muita descontração e naturalidade. Faz tudo parte do
processo e há que aceitar que nem toda a gente gosta do mesmo. Felizmente os
comentários menos bons têm sido quase sempre em relação ao layout do blog. Dizem que
devia ser modernizado ou que as cores deviam mudar. E eu ouço e considero todos
os comentários que me fazem, mas ainda não tive coragem de mudar o blog. Todo o seu formato faz parte da
personalidade dele e por isso as mudanças nunca seriam radicais. Quanto aos
comentários bons, são sempre um bálsamo para o meu ego. Ninguém imagina o
trabalho (apesar de ser com todo o gosto) que dá atualizar e manter um blog desta dimensão sempre atualizado.
Por isso quando chegam os comentários, bons ou menos bons, acabo por
assimilá-los e fazer um balanço para tentar ter noção do que os meus leitores
acham para ter isso em conta.
U.B.C.
- Pelo que deixas transparecer, és uma mulher de muitos ofícios:
faculdade, blog, basquetebol... É fácil conciliar tudo?
S.T. - Faculdade, blog,
basquetebol, investigação e ainda mais um projeto ou outro em que me meto de
vez em quando. Fácil? Não. Vale a pena o esforço? Vale. Considero-me uma pessoa
muito dinâmica e (in)felizmente, não sei bem, interesso-me por demasiados
ofícios. Gosto de fazer coisas bastante diferentes umas das outras. E é como se
costuma dizer... 'Quem corre por gosto não cansa!' (Não é bem verdade, cansa
IMENSO! Mas havendo reconhecimento, faz com que tudo valha a pena).
U.B.C.
- Que esperas conseguir alcançar através do teu blog?
S.T. - Eu nunca
esperei alcançar nada com o blog. Por
incrível que pareça é verdade. No máximo o que pretendo alcançar com o blog é que quem o visite e o leia se
sinta bem, goste do espaço e volte a visitá-lo como recompensa desse gosto. É
bom quando os autores reconhecem o trabalho que faço e se calhar chegamos aí ao
ponto fulcral da questão - o reconhecimento. Não é disso que tenho falado
durante a entrevista quase toda? De forma mais ou menos consciente, penso que é
o que toda a gente procura, reconhecimento e até alguma gratidão pelo esforço e
pela dedicação.
12 comentários:
Muito obrigada mais uma vez, Cláudia :)
Beijinhos
Não me tens que agradecer nada =) Tal como já te disse, as respostas estão muito interessantes. Fiquei feliz por teres aceite este pequeno desafio.
Beijo*
É das poucas vezes que tenho de dizer que tanto a entrevistada como a entrevistadora estão de parabéns. Boa perguntas e boas respostas.
Cláudia, este teu cantinho está a ter uma infância muito auspiciosa. :)
Obrigada pelas palavras simpáticas Vitor. Beijinho*
Não tens que agradecer. Se não acreditasse nelas não as teria dito. Continua com o bom trabalho. :)
Vou fazer por isso =)
Boa ideia :) entrevistar quem normalmente está sempre do outro lado da entrevista.
Obrigada :) gostei imenso de saber mais sobre a Sofia :)
Obrigada Liliana =)
Obrigada Liliana e mais uma vez, obrigada Cláudia :)
Beijinhos às duas*
Não é por nada mas a Cláudia tudo o que faz, faz bem.
Tenho apreciado a sua evolução em vários locais e este blog será mais cedo ou mais tarde uma mais valia, seguramente, espero ter pedalada para acompanhar :D
Quanto à Sofia, ainda me lembro quando começou a divulgar o seu blog e sim teve uma evolução enorme e tem todo o mérito.
Gostei da entrevista, interessante e posso dizer que tenho o prazer de conhecer ambas (dois borrachos :D), embora conheça bem melhor a Cláudia, já andamos nisto à uns tempinhos.
Continuem ;)
Obrigada Paulo :) Fico lisonjeada com as tuas palavras.
Beijinho*
Obrigada Paulo!
Realmente já andamos nisto há bastante tempo!
Beijinhos*
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