domingo, 28 de setembro de 2014

Opinião: A Viagem

Título original: Shift (2010)
Autor: Tim Kring e Dale Peck
Tradutor: Pedro Garcia Rosado
ISBN: 9789895577903
Editora: Gailivro (2011)

Sinopse:

23 Novembro, 1963
Para: Director McCone
De: J. J. Angleton, Director,

Contra-informação
Assunto: Consequências para a Companhia dos acontecimentos de ontem em Dallas.
Facto: Desde 1953 que a Companhia desenvolve um programa secreto denominado MK-ULTRA.
Facto: O programa testou LSD em milhares de cidadãos Americanos.
Facto: O objectivo? Controlo da mente. A criação do agente infiltrado perfeito. O candidato da Manchúria.
Facto: O KGB desenvolvei programas similares.
Facto: Lee Harvey Oswald viveu na União Soviética de 1959 a 1962.
Conjectura: Terá o LSD matado JFK?

Opinião:
“Os tipos que escrevem ficção científica sempre souberam que o bem e o mal não se excluem mutuamente. Quanto mais lutarem mais essas forças adversárias se parecerão uma com a outra.”

Tim Kring não é propriamente um nome desconhecido, afinal é o criador de Heroes, uma conhecida série onde pessoas aparentemente comuns percebem que tem capacidades extraordinárias. Tim juntou-se ao escritor Dale Peck e juntos escreveram um livro de ficção científica. Exploram uma teoria da conspiração envolta em romance que tenta explicar a morte de John F. Kennedy (mas não numa forma realista, como é evidente).

A Viagem começa em 2012, quando uma figura humana feita de fogo surge durante poucos segundos no céu. São muitas as testemunhas que presenciam este estranho acontecimento que parece não ter qualquer ligação com o que aí vem. Mas tem, não se assustem com o início da leitura parecer não ter sentido, porque tem.

A acção principal desenrola-se no ano de 1963. O leitor fica a conhecer Chandler Forrestal, um homem que não se desliga da vida de estudante universitário que, certa noite, é seduzido pela bela Nazanin Haverman. O que Chandler não sabe é que em vez de estar a ser conduzido para uma noite de luxúria fugaz, está a ser levado para dentro do Projecto Orfeu, onde prostitutas recrutadas pela CIA fornecem aos seus clientes uma droga experimental. Os efeitos desta droga são filmados e analisados por um terceiro que permanece oculto durante todo o processo e os cientistas procuram, desta forma, encontrar a mistura certa para aumentar as funcionalidades da mente humana que permitiriam a telepatia.

Quando Chandler e Nazanin percebem que algo de errado está acontecer, fogem e são perseguidos pelo perigoso e misterioso Melchior. No meio desta perseguição surge BC Querrey que se vê envolvido na trama ao tentar proteger o seu país. E o que tem tudo isto a ver com o assassinato do trigésimo quinto presidente dos Estados Unidos da América? Melchior explica:

“Agora, como achas que as pessoas reagiriam se descobrissem que, ponto um, o presidente tem uma namorada clandestina e, que, ponto dois, a rapariga está a fornecer-lhe uma droga que tem o potencial de tornar o líder do mundo livre susceptível ao controlo da mente e que, ponto três, esta droga está a ser testada pela CIA, organização que por acaso montou em Cuba há poucos anos uma pequena guerra privada que quase deu origem à Terceira Guerra Mundial?”

Os autores exploram o ambiente da Guerra Fria, o medo do comunismo da ex-URSS, a questão dos mísseis de Cuba, tudo isto, envolto no clima de espionagem adjacente, às lutas contra o racismo, ao medo constante daquilo que é diferente, às desconfianças existentes entre liberais e republicanos e aos conceitos hippies da paz e do amor. Esta atmosfera é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes de A Viagem.

As personagens parecem sempre saber mais do que aquilo que expressam e cada uma tem os seus próprios objectivos que tentam ver concretizados a todo o custo. Contudo, a trama tem muita informação que pode tornar a leitura um pouco confusa ou fazer com que o leitor não sinta uma grande ligação com a narrativa. Não são apenas os factos históricos e mitológicos que podem ou não ser do conhecimento de todos, mas todos os novos conceitos podem não ser facilmente compreendidos e considerados aborrecidos.

Quem aprecia mitologia grega vai gostar do paralelismo entre o mito de Orfeu, os efeitos do LSD e a relação entre as duas personagens mais afectadas. Também vai ser vivido um amor improvável e vai ser necessário existir uma descida aos infernos para resgatar aquilo que parece estar perdido para sempre. Desta forma percebe-se a inspiração para o homem em chamas e para as descrições de alguns efeitos da droga.

Não é um livro destinado a um público geral, mas sim a quem aprecia teorias da conspiração e histórias de ficção científica, ou, até mesmo, aos apreciadores de Heroes, que querem conhecer mais do trabalho de Kring. 

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