terça-feira, 27 de março de 2018

Opinião: Ready Player One - Jogador 1

Título Original: Ready Player One (2011)
Autor: Ernest Cline
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722358231
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Em 2044 o mundo tornou-se um lugar triste, devastado por conflitos, escassez de recursos, fome, pobreza e doenças. Wade Watts só se sente feliz na realidade virtual conhecida como OASIS, onde pode viver, jogar e apaixonar-se sem constrangimentos. Quando o criador do OASIS morre, deixa a sua imensa fortuna e o controlo da realidade virtual a quem conseguir resolver os enigmas que aí escondeu. Os utilizadores têm apenas como pistas a cultura pop dos anos 1980. Começa assim uma frenética e perigosa caça ao tesouro. Nos primeiros anos, milhares de jogadores tentam solucionar o enigma inicial sem sucesso. Até que Wade por acaso desvenda a primeira chave. De um momento para o outro, vê-se numa corrida desesperada para vencer o prémio, uma corrida que rapidamente continua no mundo real e que põe em risco a sua vida.

Opinião:

Tinha este livro debaixo de olho desde que saiu, mas a oportunidade para o ler nunca mais chegava. Contudo, quando soube que a adaptação para a Sétima Arte de Ready Player One - Jogador 1 estava a chegar às salas de cinema, tomei uma decisão: pára tudo! Tinha mesmo de ler este livro antes do filme sair. Assim fiz. E ainda bem! Afinal, tinha um grande livro parado na prateleira há demasiado tempo.

Ready Player One - Jogador 1 apresenta uma mistura improvável mas que resulta muito bem. Nesta obra, Ernest Cline retrata um futuro próximo no qual o fosso social é maior do que aquele que se regista atualmente. O excesso de população coloca em causa os recursos naturais, não havendo meios básicos suficientes para todos. Como tal, as pessoas vivem em cidades caóticas onde o espaço é obtido em altura, de forma limitada e muitas vezes em modos degradantes. Este é um conceito que nos faz pensar sobre as consequências das nossas acções atuais para o futuro, alertando para a necessidade de se tomar medidas agora para prevenir males maiores daqui a uns anos.

Apesar de todas estas dificuldades, a humanidade consegue encontrar uma forma de escape. Uma mistura de videojogo com redes sociais e realidade virtual alcança uma popularidade sem precedentes, sendo um método eficaz para as pessoas de todos os estratos sociais encontrarem prazer ao mesmo tempo que acabam por ser controladas. OASIS é o sistema perfeito para cada um encontrar uma nova vida. Neste espaço, somos capazes de ter o corpo que desejamos graças à personalização do avatar, ter formação académica, trabalhar, conviver e até ter aventuras. E quando um prémio milionário entra em jogo tudo isto se torna ainda mais atrativo. Como leitora, imaginava-me dentro desta realidade virtual onde tudo é possível e conseguia entender o fascínio e apelo sentido pelas personagens.

Wade Watts é a personagem principal desta obra. Foi fácil sentir empatia por este rapaz. Ele vive numa situação de grande carência, não só financeira como de afetos. Além disso, sente-se desajustado de todos os meios em que se envolve, sendo em OASIS que consegue fazer valer a sua individualidade. Ainda assim, o facto de ter pouco dinheiro leva-o a não conseguir aceder a outros níveis do jogo, permanecendo num nível básico. Com tudo isto, o autor leva-nos a pensar em como é fácil julgar alguém pela aparência. É que Wade é sempre tido como inferior, quer na realidade, por não ser fisicamente atrativo, como no jogo, onde tem um avatar primário. É a partir do momento em que os seus conhecimentos e capacidade de raciocínio se começam a destacar que todos começam a reparar nele a tê-lo em conta.

As personagens secundárias que vão surgindo parecem estar apenas a cumprir um papel, uma vez que o grande foco vai mesmo para o protagonista. Wade parece um cavaleiro solitário na sua demanda, mesmo quando consegue encontrar apoio. O teor mais romântico que existe faz sentido, mesmo que a certa altura corra o risco de parecer exagerado. Felizmento tudo volta aos seus eixos e Wade acaba por surpreender com decisões inesperadas que dão uma nova visão desta sociedade e das organizações que a controlam, ainda que não diretamente. Aqui, fica uma chamada de atenção para o papel das grandes corporações no controlo de mentalidades.

O mistério que envolve esta narrativa está bem conseguido e proporciona uma leitura interessada e ritmada. Ao início, o criador de OASIS fornece uma série de pistas que conduzem a uma extensa fortina, sendo curioso verificar que todos os passos nesta aventura são dados tendo em conta a cultura pop dos anos 80. As referências a filmes, séries, livros, música, jogos e muitos mais criam uma grande proximidade do leitor. É curioso ver estes conteúdos, mais antigos, envolvidos num cenário futurista e de alta tecnologia. Além disso, nota-se que tal não foi feito ao acaso, fazendo tudo sentido e não parecendo excessivo ou disparatado. Como leitora, ficava deliciada com as referências.

Este livro é uma verdadeira delícia para quem cresceu no final do século XX e adora cenários futuristas. Ao mesmo tempo, existe uma chamada de atenção para questões sociais e ambientais e para a crescente dependência da tecnologia. A leitura, intensa e de acção rápida, é sempre feita com um sentido de nostalgia pelas nossas primeiras memórias ligadas á cultura pop. Música, cinema, obras literárias e muito mais são recordadas ao longo destas páginas. E que bom foi recordar tudo isto. Ernest Cline merece um aplauso.

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