segunda-feira, 25 de abril de 2016

Opinião: Uma Chama Entre Cinzas

Autor: Sabaa Tahir
Título original: An Ember in the Ashes (2015)
Tradução: Isabel Nunes
ISBN: 9789722357777
Editora: Editorial Presença (2016)

Sinopse:

Elias pertence aos Ilustres, as famílias da elite do Império. Desde os seis anos que treina na Academia Militar de Blackcliff para se tornar um dos soldados mais implacáveis ao serviço dos Marciais.
Laia pertence aos Eruditos, um povo oprimido pelo jugo firme dos Marciais. Quando o seu irmão é preso e acusado de traição, Laia procura a ajuda da Resistência. Em troca, tem de se infiltrar como escrava em Blackcliff.
Quando se conhecem, Elias e Laia percebem que as suas vidas estão interligadas — e que as escolhas de ambos podem mudar o destino do Império.
Este mundo ricamente detalhado, com traços da Roma Antiga, é o palco de uma aventura empolgante que tem cativado milhares de leitores.

Opinião:

Fiquei cativada por Uma Chama Entre Cinzas a partir da primeira página. Sabaa Tahir apresenta-nos uma história contada a duas vozes que é imaginativa, coerente, intrigante e muito apelativa. A leitura tem um início rápido e desde logo é possível perceber que vão existir muitos momentos de ação. Além disso, o ambiente e as personalidades das personagens são também pontos fortes deste livro que marca o início de uma saga que promete continuar a marcar pela diferença e qualidade.

Laia e Elias são as duas figuras centrais da narrativa. Desde logo, é curioso verificar que ambos representam partes diferentes desta sociedade onde os Ilustres subjugam os Eruditos. Com isto, é possível ter uma visão mais abrangente deste mundo, o que nos permite conhecer as disparidades existentes e querer saber mais sobre como tudo acabou por ficar neste estado. Além disso, observar o fosso social e as injustiças praticadas faz com que nós, leitores, sintamos piedade pelos que sofrem e desejemos o castigo de quem abusa do poder.

O facto de Laia e Elias pertencerem a realidades diferentes faz com que ambos tenham ganhado características distintas, mas é curioso verificar que, apesar de tudo, também há muito a uni-los. Isto explica-se pelo facto de ambos partilharem valores semelhantes. Com isto, a autora faz-nos refletir sobre a natureza humana e o facto de o Homem não ser apenas resultado do meio em que se encontra, mas também de muitas outras circunstâncias. Desta forma, Laia rebela-se e ganha coragem devido à vontade de encontrar o seu irmão e Elias sente piedade por ter tido uma infância com uma estrutura familiar baseada no amor.

Gostei de conhecer Laia, que acabou por se colocar numa situação de grande perigo por amor. A sua força é de louvar. Porém, não consegui deixar de me sentir um pouco irritada com a sua ingenuidade, apesar de tal ser a intenção da autora. Elias foi a figura de que mais gostei. O seu passado, as suas dúvidas, os sentimentos pela sua família de sangue, a sua ligação aos companheiros e o seu sentido de proteção conseguiram impressionar-me. Além disso, as provas em que se vê envolvido e a sua vontade de fazer a mudança pela sociedade fizeram-me admirá-lo e a desejar o seu sucesso.

Mas as personagens principais não são as únicas a fazer a história. As figuras secundárias também estão muito bem pensadas e enriquecem toda a obra. Sempre que Helene surgia, eu sentia-me atraída. Adorei a ligação que ela tinha com Elias e também o facto de sentir que dentro da sua mente existiam muitas dúvidas e questões, apesar de ser evidente que a fidelidade conseguia sobrepor-se a tudo. Quanto à Comandante, posso dizer que até sentia a frieza da sua presença, tão precisa era a sua descrição. Também Marcus conseguia fazer sentir-me repugnada, sendo que Izzi, por seu lado, despertava em mim um instinto de proteção.

Além de a ação acontecer num reino imaginário, existem muitas outras componentes fantásticas. Os Augures são o grupo que mais me chamou a atenção, porém, não existe muita informação sobre eles, e fica a vontade de perceber melhor quais são as suas funções e intenções. Também existem outras criaturas que têm rápidas aparições e que sugerem que existem forças muito poderosas que irão ser enfrentadas pelos nossos heróis.

A obra está muito bem escrita. Tem um bom ritmo, concilia bem os momentos de ação com os de reflexão e não se deixa cair em descrições excessivas. Os capítulos são intercalados com visões de Laia e Elias. Posso dizer-vos que, sempre que acabava um capítulo de Laia, eu ficava com vontade de voltar logo à visão dela. E curiosamente, quando a narração de Elias era interrompida, eu desejava ler depressa o de Laia para voltar à dele! As visões eram tão fortes que parar de ler tornou-se numa tarefa muito difícil.

Gostei muito de Uma Chama Entre Cinzas e mal posso esperar pelo próximo volume. Fica a ideia de que ainda há muito para explorar, assim como existem várias revelações a serem feitas. Apesar de ser considerada uma obra juvenil, tenho a certeza que apresenta vários elementos que irão agradar aos leitores adultos e mais experientes. Recomendo.

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