quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Opinião: O Livro do Pó - La Belle Sauvage (#1)

Título Original: La Belle SauvageThe Book of Dust 1 (2017)
Autor: Philip Pullman
Tradução: Rosário Monteiro
ISBN: 9789722361538
Editora: Editorial  Presença (2018)

Sinopse:

Malcolm Polstead tem onze anos. Os pais gerem A Truta, uma estalagem muito frequentada nas margens do rio Tamisa, perto de Oxford. Malcolm é muito atento a tudo o que o rodeia, mas sem chamar a atenção dos outros. Talvez por isso, fosse inevitável vir a tornar-se num espião. É na estalagem que ele, juntamente com o seu génio Asta, descobre uma intrigante mensagem secreta sobre uma substância perigosa chamada Pó. Quando o espião, a quem a mensagem era dirigida, lhe pede que preste redobrada atenção ao que por ali se passa, o rapaz começa a ver suspeitos em todo o lado: o explorador Lorde Asriel; os agentes do Magisterium; Coram, o cigano; a bela mulher cujo génio é um macaco malicioso... Todos querem descobrir o paradeiro de Lyra, uma menina, ainda bebé, que parece atrair toda a gente como se fosse um íman. Malcolm está disposto a enfrentar todos os perigos para a encontrar...

Opinião:

É difícil escrever com exactidão o entusiasmo que senti quando soube que Philip Pullman estava a preparar o lançamento de uma nova saga passada no universo de "Mundos Paralelos". Adoro essa trilogia e mal podia esperar para saber o que aí vinha. A publicação em Portugal voltou a ser feita pela Editorial Presença, editora que detém os direitos dos outros livros, e comecei a ler esta nova aventura assim que me chegou às mãos. Depressa regressei aos meus tempos de adolescente em que acompanhava Lyra e sonhava com a forma que o meu génio deveria ter.

O Livro do Pó - La Belle Sauvage é o primeiro volume da saga homónima e revela ser uma prequela de "Mundos Paralelos". Contudo, tal não significa que seja realmente necessário ter lido esses livros para perceber esta nova história. O mundo e aspectos principais voltam a ser explicados. Muitas personagens já conhecidas de quem leu a primeira trilogia voltam a fazer-nos companhia, inclusive Lyra, a heroína carismática da anterior trilogia. Contudo, desta vez o protagonismo é dado a uma outra personagem: Malcolm. Simpatizar com este rapazinho foi tão imediato como quando conheci Lyra. Só que enquanto esta tinha uma personalidade com a qual poderia não ser fácil de lidar, Malcolm é mais doce, responsável e carinhoso. Contudo, encerra nele uma fúria impressionante que nos faz pensar sobre o que acontece quando reprimimos tudo o que nos causa dor e frustração.

É muito enternecedor ver a forma como ele se aproxima das freiras do priorado, como ajuda os pais, trata os estranhos, protege os que ama e defende as suas convicções. Além disso, Philip Pullman continua a conseguir fazer estas personagens transmitirem e inocência e ingenuidade próprias da idade. Malcolm é credível, é muito fácil imaginá-lo como uma figura real. Além disso, é um menino muito inteligente, o que faz com que certos momentos mais introspectivo, nomeadamente conversas com o seu génio, se revelem bastante curiosos.

Apesar da maioria dos capítulos serem dedicados a Malcolm, existem outros que transmitem o ponto de vista de outras personagens. Aqui, a dra, Hannah Relf é quem se destaca. Académica cujo destino se cruza com o do protagonista, esta personagem faz a ligação com conteúdos mais pesados que estão a ser tratados entre figuras de grande poder e que fazem oposição à forma de governo vigente. Desta forma, o teor porventura mais infantil é quebrado com informações de maior relevo para o panorama geral da obra. Além disso, é através de Hannah que voltamos a ouvir falar de um aparelho de extrema relevância: o aletiómetro.

O desenrolar da acção começa de uma forma algo lenta, mas nem por isso maçadora. Adorei saborear o regresso a este universo, de conhecer as novas personagens, descobrir esta aventura e deliciar-me com as ligações à trilogia anterior. Contudo, a certo momento, o ritmo começa a acelerar até se tornar frenético. É nesta fase que percebemos a grande importância de La Belle Sauvage, canoa que surge no título da obra. É também aqui que descobrimos Alice e vemos surgir uma ligação inesperada mas muito bem conseguida.

São muitos os contratempos que Malcolm encontra ao longo da sua jornada para colocar a bebé Lyra a salvo. Alguns são facilmente transpostos para a realidade, como é o caso de Bonneville, um homem que aparenta algo que não é, capaz de tudo para alcançar as suas ambições. Outros são mais fantasiosos e levam-nos a pensar nos mistérios do mundo e na forma como estes muitas vezes são encarados. Todos estes obstáculos aumentam a tensão até às páginas finais do livro.

Concluída a leitura, posso garantir que este é um regresso feliz. O Livro do Pó- La Belle Sauvage não desilude, reunindo todos os ingredientes que cativaram em "Mundos Paralelos" ao mesmo tempo que apresenta uma história nova. Estou muito feliz por Philip Pullman ter decidido criar esta nova aventura e espero, com ansiedade, o segundo volume desta nova saga. E continuo sem conseguir decidir qual deveria ser a forma do meu génio tivesse...


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