domingo, 5 de maio de 2013

Opinião: Mildred Pierce

Título original: Mildred Pierce (1941)
Autor: James M. Cain
Tradutor: Manuel Santos Marques

ISBN: 9789896721640
Editora: Suma de Letras (2013)

Sinopse:

Mildred Pierce foi abençoada com umas pernas de fazer perder a cabeça, jeito para a cozinha e uma personalidade que não é para brincadeiras. Tudo isso lhe foi útil quando teve de sobreviver ao divórcio e à pobreza e abrir o caminho de saída da baixa classe média. Mas Mildred tem também duas fraquezas: uma tendência para se apaixonar por homens indolentes e uma devoção irracional pela filha mimada e egoísta. Cain é um observador nato da natureza humana, das suas idiossincrasias, fraquezas e motivações. Mildred Pierce, o romance de 1941, é de uma força emocional devastadora e executa uma crítica social contundente. Mildred Pierce, a heroína, é uma personagem memorável, com cujas ambições e mágoas qualquer leitor poderá identificar-se.

Opinião:

Com Mildred Pierce, James M. Cain fornece uma nova perspetiva feminina sobre a época que sucedeu a Grande Depressão nos Estados Unidos da América.

O início da leitura não foi propriamente fácil, não pelo tipo de escrita mas por se tratar de um género que não estou acostumada a ler. Contudo, quando me senti embrenhada na trama, não consegui largar o livro até descobrir o que iria acontecer a Mildred e a todos os que a rodeavam.

Tendo em conta que esta obra foi escrita em 1941, existe uma grande naturalidade na exposição da época. Isso faz com que o leitor seja facilmente transportado para aquela época, sem sentir que os elementos característicos sejam apresentados de forma forçada ou desadequada. As personagens possuem uma mentalidade muito peculiar e torna-se interessante observar as suas preocupações, desejos e até motivações políticas.

As personagens que povoam esta obra são tão complexas e humanas que nos fazem acreditar que são reais.  Mildred, a protagonista, é no início, uma jovem mulher que sempre viveu debaixo da alçada de um homem e que sente vontade de ter a sua independência devido a algumas circunstâncias da sua vida. Ao início, esta mulher é vista como determinada, trabalhadora, astuta e dotada de uma personalidade forte que a poderá levar a alcançar grandes feitos, mas à medida que a vamos conhecendo percebemos que existe um outro lado. Mildred é também uma mulher que sofre de um constante sentimentos de inferiorização, o que faz com que dificilmente se sinta realizada. Isto acontece especialmente é criticada pela sua filha mais velha, Veda.

Veda é uma personagem que representa muita daquilo que eu detesto numa pessoa. Desde cedo é possível perceber que se trata de uma menina mimada, egoísta e manipuladora. Arrogante e ambiciosa, desdenha do trabalho humilde e honesto, sente-se superior a todos os outros e vive para as aparências. Como tal, tem na mãe o seu alvo preferido. É capaz de dizer as palavras mais cruéis à progenitora quando não lhe é dado o que acha que é devido e rapidamente altera o seu comportamento para a agarrar. Odiá-la é instantâneo e, ao mesmo tempo, surpreendente.

E se ao início Mildred é observada com compreensão e até empatia, a sua devoção cega a Veda levou-me a vê-la com outros olhos e, em certos momentos, a achar que as desgraças que lhe aconteciam lhe eram devidas. O seu amor incondicional não é saudável e acaba por ajudar Veda a torna-se numa mulher insensível e crente de os fins justificam os meios. Existiu um acontecimento que me chocou em especial e que pode ser lido no botão "spoiler".



Para além da relação desequilibrada que Mildred tem com a sua filha mais velha, é possível ver que o campo amoroso é, de certo modo, semelhante. Os homens parecem surgir devido a uma grande necessidade de aceitação e afeto, talvez para colmatar o sentimento de inferioridade que não se desvanece nem com o sucesso nos negócios.

No final da leitura, dei por mim a pensar no que seria de Mildred se tivesse mais fé nela. A conclusão acaba por ser uma lição de vida e algo que eu desejava ter visto acontecer mais cedo.

Este é um livro que vai fazer agradar quem gosta de ler histórias sobre a época que retrata, de quem aprecie personagens humanas e pouco convencionais e não está à espera de um típico final feliz.

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