terça-feira, 4 de abril de 2017

Opinião: A Rapariga de Antes

Título Original: The Girl Before (2017)
Autor: J.P. Delaney
Tradução: Ester Cortegano
ISBN: 9789896652029
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

«Por favor, faça uma lista de todos os bens que considera essenciais na sua vida.»

O pedido parece estranho, até intrusivo. É a primeira pergunta de um questionário de candidatura a uma casa perfeita, a casa dos sonhos de qualquer um, acessível a muito poucos.
Para as duas mulheres que respondem ao questionário, as consequências são devastadoras.

Emma: A tentar recuperar do final traumático de um relacionamento, Emma procura um novo lugar para viver. Mas nenhum dos apartamentos que vê é acessível ou suficientemente seguro. Até que conhece a casa que fica no n.º 1 de Folgate Street. É uma obra-prima da arquitectura: desenho minimalista, pedra clara, muita luz e tectos altos. Mas existem regras. O arquitecto que projectou a casa mantém o controlo total sobre os inquilinos: não são permitidos livros, almofadas, fotografias ou objectos pessoais de qualquer tipo. O espaço está destinado a transformar o seu ocupante, e é precisamente o que faz…

Jane: Depois de uma tragédia pessoal, Jane precisa de um novo começo. Quando encontra o n.º 1 de Folgate Street, é instantaneamente atraída para o espaço — e para o seu sedutor, mas distante e enigmático, criador. É uma casa espectacular. Elegante, minimalista. Tudo nela é bom gosto e serenidade. Exactamente o lugar que Jane procurava para começar do zero e ser feliz. Depois de se mudar, Jane sabe da morte inesperada do inquilino anterior, uma mulher semelhante a Jane em idade e aparência. Enquanto tenta descobrir o que realmente aconteceu, Jane repete involuntariamente os mesmos padrões, faz as mesmas escolhas e experimenta o mesmo terror que a rapariga de antes.

O que aconteceu à rapariga de antes?

Opinião:

A Rapariga de Antes apresenta um mistério que nos é relatado através de duas mulheres. É um livro que possui uma premissa diferente e que cativa pela originalidade. A ideia de uma casa que é alugada mediante uma série de regras pode causar estranheza, mas, ainda assim, gera curiosidade e acaba por ser a base para uma leitura cativante.

Ao início, Emma e Jane parecem ter muitos pontos em comum, mas conforme a leitura vai avançando, descobrimos que, afinal, elas são bastante diferentes. Os capítulos destas duas personagens surgem intercalados e, apesar de ambos estarem escritos na primeira pessoa, apresentam estilos distintos, quase como forma de nos mostrar que se tratam de figuras diferentes que têm formas de pensar e agir que em pouco se assemelham.

A construção de Emma está muito bem conseguida. Ela não é uma mulher que gostaria de ter como amiga, mas é alguém que tem profundidade e que gera interesse. Gostei de ir descobrindo a sua verdade e de perceber as suas diferentes facetas. Conforme mais pistas nos são dadas sobre esta figura, mais próximos da verdade ficamos. Já Jane, apesar de também ter uma história base forte, acaba por prender mais devido ao facto de ser através dela que encontramos os dados necessários para desvendar Emma e Edward Monkford, o arquiteto da casa onde ambas as protagonistas acabam por ir viver, em tempos separados.

A casa que fica no n.º1 de Folgate Street é o espaço principal da ação. É curioso que o papel importante desta casa faz com que ela também se pareça uma personagem. A sua descrição leva-nos a imaginar um espaço amplo, de linhas direitas, sem grandes adornos e onde o branco impera. Mas se tal imagem pode, à primeira vista, sugerir a ideia de paz e despojamento, a verdade é que a casa acaba por se revelar um lugar sufocante, opressor, limitador e onde a mente e a alma parece ficar presa.

Uma morte no casa do n.º1 de Folgate Street  é o motor da ação. Senti-me curiosa com a intriga e isso levou-me a ler com rapidez. Perante um thriller, existe sempre a noção de que todos os pormenores contam e de que existem poucas coincidências, o que me levou a analisar tudo o que era apresentado e a formular diversas hipóteses. Tal como é normal neste género, existe uma tentativa de desviar atenções para outras personagens de modo a manter o mistério por algum tempo, acabando por ser divertido ver como isso foi feito. Contudo, a certo ponto, é possível perceber o que realmente aconteceu, e penso que teria sido mais interessante se o autor tivesse conseguido manter o suspense por mais algum tempo. Mesmo assim, as últimas páginas são lidas num instante.

J.P. Delaney não só proporciona bons momentos com esta obra como ainda nos faz pensar sobre relações abusivas, a mentira entre casal, a dor da perda e o afastamento da sociedade.  Se gostam de livros que possuem um mistério e puxam pela capacidade de ler nas entrelinhas, então vão apreciar a leitura de A Rapariga de Antes. 

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