sábado, 22 de dezembro de 2012

Opinião: Limite

Título original: Limit (2009)
Autor: Frank Schätzing
Tradutor: Dora Reis
ISBN: 9789722039895
Editora: Publicações Dom Quixote (2012)


Sinopse:

Maio de 2025: o fornecimento energético da Terra parece estar assegurado, desde que os Estados Unidos começaram a extrair Hélio-3 da Lua. As tecnologias pioneiras da corporação gigante Orley Enterprises revolucionaram a aeronáutica; americanos e chineses disputam direitos de exploração numa renhida corrida espacial.

A ação transporta-nos para o meio das tumultuosas guerras mercenárias africanas, uma contenda pelo petróleo e energias alternativas, onde imperam ambições de domínio espacial - acabando depois na Lua, onde um grupo de viajantes de Orley se vê subitamente confrontado com uma ameaça mortífera.


Opinião:


Limite é divulgado como um romance onde se trava uma batalha pelos recursos energéticos, mas revela ser mais que isso.

A ação tem lugar em 2025, época em que o petróleo deixa de ser a principal fonte de energia, em detrimento do Hélio-3, extraído da Lua. A Orley Enterprises, um gigante corporativo dos Estados Unidos da América, detém as tecnologias que permitem a exploração deste combustível e disputam com a China os direitos sobre a corrida espacial. Julian Orley, o excêntrico dono da corporação, chama uma série de convidados ilustres para uma viagem de lazer a um hotel construído no satélite natural, procurando, com isso, obter parcerias vantajosas.

Ao mesmo tempo, o detetive Owen Jericho, especializado em sistemas de redes informáticas, a viver em Xangai, fica encarregue de encontrar Yoyo, uma dissidente desaparecida. Owen rapidamente descobre que os motivos por trás da fuga da jovem rapariga vão muito além de problemas com o governo chinês. Envolvido numa conspiração maior do que pensava, acaba por fazer uma viagem de risco entre o Berlin e Londres, de modo a entender as informações secretas que colocaram Yoyo em risco de vida.

O leitor, inicialmente, poderá deparar-se com alguma confusão relativamente aos dois enredos, que parecem tão distintos e sem pontos de ligação e, a certo ponto, um pouco aborrecidos. Contudo, essa sensação rapidamente desvanece. A verdade é que o autor os trata dessa forma, numa primeira fase, talvez num modo de levar à criação de intimidade entre o leitor e as muitas personagens existentes, que são descritas com grande detalhe.

Com o decorrer da narrativa, percebe-se onde estão os pontos que ligam as duas histórias que, inicialmente, pareciam distintas, e a leitura acaba por ganhar um ritmo mais acelerado.

Frank Schatzing prova que não só possui uma escrita fluída e clara, como tem uma grande capacidade de criar histórias complexas que proporcionam muitas surpresas agradáveis. Destaca-se ainda os seus conhecimentos de diferentes áreas, tais como tecnologia espacial, reações de mercado e informática, que refletem um trabalho de pesquisa aprofundado. Porém, existem certos momentos onde as extensas descrições destes conteúdos que podem travar o ritmo da leitura, e até fazer questionar quanto necessidade de estarem na obra.

As personagens são um ponto interessante de Limite. O leitor percebe rapidamente os seus intentos, contudo, algumas com menor relevância poderão surgir dentro de estereótipos demasiado previsíveis. No final da obra, é possível encontrar um guião de personagens, o que ajuda, em muito, a orientação na narrativa.

É visível que o grande intuito de Frank Schatzing foi provocar a reflexão sobre as necessidades energéticas do mundo contemporâneo, mas sobretudo, quanto ao jogo de domínio que existe, e que não é tão perceptível quanto pode parecer. Mais do que disputas entre governos, o autor mostra que o poder nem sempre está nas mãos de entidades conhecidas. Em Limite, as facções mais poderosas do mundo iniciam uma nova luta não armada pela posse dos territórios detentores do tão precioso combustível, gerando a reflexão sobre a divisão dos espaços exteriores ao nosso planeta. Paralelamente, assiste-se a outros detalhes de grande interesse, tal como a evolução das redes sociais que levam à existências de vidas completamente virtuais e ao facto de a história repetir sempre os mesmo erros.

O número de páginas desta edição (1095), assim como o tamanho de letra e as pequenas margens podem não cativar inicialmente, mas a verdade é que Limite revela ser uma boa trama, que não só proporciona bons momentos como ainda faz reflectir acerca do mundo atual e do futuro. Um livro a ter em atenção.

2 comentários:

addle disse...

Eu já tinha visto o livro, mas não me tinha chamado muita atenção. Mas agora fiquei curiosa...

Cláudia disse...

Realmente o livro passou muito despercebido, mas eu gostei bastante de o ler.