segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Opinião: Silêncio de Gelo

Título Original: Rof (2012)
Autor: Ragnar Jónasson
Tradução: Maria da Fé Peres
ISBN: 9789898917256
Editora: TopSeller (2018)

Sinopse:

Em 1955, dois jovens casais mudam-se para o fiorde desabitado e isolado de Hedinsfjördur, na Islândia. A sua estadia termina quando uma das mulheres morre de forma misteriosa. O caso nunca é resolvido. Cinquenta anos mais tarde, surge uma fotografia antiga que mostra que, afinal, os dois casais não se encontravam sozinhos no fiorde.

Em Siglufjördur, uma pequena cidade próxima, o jovem polícia Ari Thór tenta perceber o que realmente aconteceu naquela noite fatídica, após ter sido procurado por um familiar da vítima. Numa altura em que a cidade se encontra de quarentena devido a um vírus mortal, Ari conta apenas com a ajuda de Ísrún, uma jornalista de Reiquiavique, para desvendar o caso. Porém, Ísrún encontra-se também a investigar um outro caso sinistro, que envolve o rapto de um bebé e o atropelamento mortal do filho de um ex-político.

Conseguirão eles resolver dois casos que só encontram explicação num passado mergulhado no silêncio?

Opinião:

Ragnar Jónasson é apresentado como um autor de destaque dentro do thriller nórdico. Ainda não tinha lido nenhuma das suas obras, e decidi estrear-me com Silêncio de Gelo. É certo que se trata de um livro que se encontra inserido no meio de uma série, mas isso não impede uma leitura clara e atenta. Além disso, foi um prazer voltar à Islândia, país que se destaca pela beleza natural, invernos rigorosos e concentração populacional em poucos pontos do território, deixando espaço para o isolamento.

Vi este livro quase como dividido em duas histórias. Num lado temos um casal jovem que parece estar ameaçado por uma figura misteriosa, sendo que do outro temos um homem que encontrou uma fotografia de família antiga e pediu ajuda à polícia para saber a identidade de uma figura que desconhece. Em ambos os casos, o que parece ser algo simples torna-se complicado e acaba por trazer revelações inesperadas e mais complexas do que se esperava. E os novos dados que vão surgindo nas duas situações vão aumentando a curiosidade do leitor quanto ao que ainda está para chegar.

O agente de autoridade Ari Thór e a jornalista Ísrún são as figuras responsáveis pela resolução dos dois casos. Talvez por este ser o quarto livro de uma série, senti que ambas as personagens foram colocadas na trama como se eu já as conhecesse, o que não corresponde à verdade. Não é que sinta que existiam informações subentendidas que eu deveria entender, mas faltou espaço para a apresentação de cada uma, de modo a que não consegui criar empatia com estas duas figuras. Fiquei com a ideia de que se tratam de personagens reservadas, retrospectivas e completamente dedicas ao seu trabalho. Não posso dizer que me tenham marcado.

Apreciei a resolução dos casos e a forma como o autor conseguiu explorar a natureza humana de cada um dos envolvidos. Numa das situações, fica a ideia de que não conseguimos fugir dos erros que cometemos no passado e que o castigo acaba sempre por chegar, ainda que não seja bem aquele que era esperado. Na outra, somos levados a pensar em segredos de família e na forma como certas pessoas acabam por ser manipuladas por quem acredita estar a ser protegido. A ideia de vingança é também bastante presente, com o autor a alertar para os perigos da execução da mesma, uma vez que muitas vezes pode afectar inocentes e trazer um peso ainda maior à vida de quem já foi magoado. A dificuldade da aceitação da verdade é também uma componente que marca esta leitura.

Ao longo da narrativa, é impossível não reparar num ambiente distinto. Ao longo da obra, sente-se o peso da solidão, do afastamento, do silêncio dos lugares inóspitos e do afastamento premeditado dos outros. Consegui sentir a atmosfera da Islândia, tanto na descrição dos locais como na introspecção e reflexão das personagens. O autor surpreendeu-me com esta habilidade, tanto como com a capacidade de criar intrigas sólidas, inesperadas e coerentes.

Silêncio de Gelo revelou-se uma leitura agradável. A história parece que é acompanhada por uma sombra que nos faz recordar que todos os seres humanos escondem um lado mais negro. Apesar de alguns momentos mais parados e até irrelevantes, o resultado final acaba por ser muito positivo. Fiquei com vontade de continuar a acompanhar este autor.



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