domingo, 24 de fevereiro de 2019

Opinião: Que Sombra Te Acompanha

Autor: Tiago Gonçalves
ISBN: 9789898921000
Editora: Mosaico (2018)

Sinopse:

Todos somos emigrantes, nem que seja só uma vez. Todos deixámos o nosso lugar de origem para vivermos noutro lugar, nem que seja só por algum tempo. Pouco importa se vamos de uma cidade para outra, de um país para outro, ou se apenas de um lugar para outro. Talvez só abandonemos as raízes em que nascemos por outras completamente diferente. Talvez só emigremos profissionalmente. Pouco importa, as dúvidas acompanham-nos, as questões que colocámos também.
Neste livro acompanhamos um sonhador que partiu na procura do mundo que lá não tinha. Agora ele é uma sombra do que foi, sem a alma de outrora, vivendo confortado com pouco conforto. Nesta tarde, contudo, encontra mais do que procura e do que pediu. Nunca quis mas hoje revisita a sua vida numa conversa que é mais que um fortuito reencontro.

Opinião:

Este é um livro pequeno que convida o leitor a fazer uma pausa. Que Sombra te Acompanha não só nos faz parar na nossa rotina para uma curta leitura, como ainda nos leva a refletir sobre o que nos trouxe ao momento em que nos encontramos e faz pensar sobre o que desejamos daqui para a frente. Desta forma, Tiago Gonçalves prova que pequenas narrativas podem deixar a sua marca no leitor.

Logo no início conhecemos Alfredo, o protagonista desta obra. Percebemos que se trata de um homem que já passou por muito e que encontra conforto no movimentos e caos da cidade. Está conformado com esta existência, surgindo, no entanto, mais como um observador. Pelo menos é nesta fase que o encontramos, mais introspectivo e pouco activo. Tal é aceite com calma, até que existe um elemento que abala esta serenidade e o leva a questionar-se.

Em oposição com a cidade, surge a aldeia onde viveu na infância. Alfredo é levado a confrontar o movimento, novidade, esperança e sonho que ambicionava encontrar no espaço urbano com a calmaria, estagnação, previsibilidade e declínio do que é rural. Contudo, é interessante constatar que nem tudo o que podia ter sido assim se tornou, e nem tudo do que se queria escapar era realmente nefasto. Alfredo reconhece que o conjunto das suas experiências fazem dele quem é e que não deve desprezar as suas origens.

O título desta obra remete para o lado mais negro da vida. Afinal, o autor recorda que todos nós guardamos mágoas, dúvidas, arrependimentos, desilusões e tristezas, sendo que a sucessão destas nos transformam em quem somos. A luz está lá, com todas as qualidades inerentes, mas nunca devemos esquecer a sombra nem ignorá-la. Por vezes temos que a confrontar para continuar a evoluir. Temos que a reconhecer.

A leitura é feita com prazer, sendo fácil reparar no gosto do autor pela escrita. Existem algumas repetições ou ideias expostas de forma pouco directa, mas tal serve para, talvez, conferir um aspecto mais poético à obra. No final, percebemos que é fácil sentir empatia por este homem, que por um breve momento colocou o seu percurso em perspectiva, ao mesmo tempo que imagina o que será do seu futuro. E tal como ele, também o leitor é convidado a parar e a ser melhor do que aquilo que está actualmente a ser. A continuar a sonhar e a lutar por isso.


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