segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Opinião: O Homem das Castanhas

Título Original: Kastanjemanden (2018)
Autor: Soren Sveistrup
Tradução: Rita Figueiredo
ISBN: 9789896657390
Editora: Suma de Letras (2018)

Sinopse:

Uma tempestuosa manhã de Outubro. Num tranquilo subúrbio de Copenhaga, a Polícia faz uma descoberta terrível. No recreio de um colégio, uma jovem é encontrada brutalmente assassinada, e falta-lhe uma das mãos. Pendurado por cima dela, um pequeno boneco feito com castanhas.

A jovem e ambiciosa detective Naia Thulin é designada para desvendar o caso. Com o seu colega Mark Hess, um investigador que acabou de ser expulso da Europol, descobre uma misteriosa prova sobre «o homem das castanhas», nome com que os media baptizaram o assassino.

Existem evidências que o ligam a uma menina que desapareceu um ano antes e foi dada como morta: a filha da ministra Rosa Hartung. Mas o homem que confessou o assassínio da menina, um jovem que sofre de uma doença mental, já está atrás das grades e o caso há muito encerrado.

Quando uma segunda mulher é encontrada morta e, junto dela, mais um boneco de castanhas,

Thulin e Hess suspeitam de que possa haver uma ligação entre o caso Hartung e as mulheres assassinadas. Mas qual…? Thulin e Hess entram numa corrida contra o tempo. O assassino tem uma missão… e está longe de a terminar.

Opinião:

Numa época em que os thrillers estão entre os livros mais procurados, por vezes torna-se complicado escolher um que ainda consiga surpreender e marcar pela diferença. Quando comecei a ler O Homem das Castanhas, estava curiosa com o que esta obra poderia trazer de novo ao género. Apesar de alguns pontos que podem ser encontrados noutras histórias deste estilo, uma coisa vos garanto: este é um livro que marca pela intensidade, personagens cativantes, reviravoltas e dificuldade em desvendar o grande mistério da narrativa.

Thulin e Hess são os dois agentes de forças policiais que acompanhamos na resolução de um crime. São duas figuras diferentes, que têm em comum o facto de estarem desiludidas com a situação profissional atual. Ainda assim, as suas mentes são desafiadas por este mistério e, apesar de tudo, eles empenham-se ao máximo para o resolver. É curioso que, ao início, sentia-me cativada com a independência feminina de Thulin, mas no final estava rendida ao misterioso Hess. Estas duas figuras são a prova de que as primeiras impressões podem trazer conclusões erradas e que as pessoas são muito mais do que aquilo que aparentam e do que os rumores que correm sobre elas.

 A construção deste enredo está incrível. Ao início, Soren Sveistrup parece estar a contar diferentes histórias dentro do mesmo livro, sem que nada faça adivinhar em como elas se tocam. Contudo, com o avançar da leitura, torna-se impressionante constatar todas as ligações que existem, ficando provando que esta é uma narrativa que foi bem pensada. O leitor fica sempre intrigado com o que está a acontecer e quer continuar a ler para saber o que vem a seguir, na ânsia de perceber o cruzamento entre os diferentes dados disponibilizados. No final, é impossível não ficar impressionado com a mestria do autor em ligar tudo de forma tão natural e credível.

Os crimes em questão são descritos de uma forma que choca o leitor. Não estamos lá a ver o que se passou, mas é impossível não sentir arrepios e até aversão com algumas das descrições. Nestes casos, o ponto que sempre mais me intriga é a motivação do assassino ou assassinos. Devo dizer que nesta obra esse factor está muito bem conseguido. Tanto que, ao longo da leitura, somos levados a questionar, por diversas vezes, os limites mais extremos da natureza humana. Custa acreditar que tal maldade e sadismo possa existir, especialmente quando o seu perpetuador acredita piamente na verdade dos seus atos.

Quando estou a ler este tipo de histórias, há algo que é inevitável fazer: tentar a tudo custo adivinhar quem cometeu o crime, como e porquê. Fico orgulhosa quando chego a estas conclusões antes do susposto, mas também fico com a sensação que o autor não se esforçou para esconder estes mistérios. Sobre  O Homem das Castanhas, posso dizer-vos: não estive nem lá perto! Fiquei muito surpreendida com as revelações. O autor teve a excelente capacidade de nos fazer sempre olhar para outro lado enquanto escondia a verdade. No final, tudo é exposto de uma forma que nos deixa impressionados e sem perder a coerência e força da história. Aplaudo esta capacidade.

O Homem das Castanhas revela-se um livro que se destaca dentro do seu género. Com um ambiente negro, personagens reais, uma história bem construída, crimes impressionantes e reviravoltas impressionantes, esta obra tem tudo para agarrar o leitor da primeira à última página. Trata-se do primeiro romance de Soren Sveistrup, guionista de vários sucessos de televisão. Só espero que o autor não fique por aqui nas obras literárias e que os próximas tenham a mesma qualidade desta. Recomendo.


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