Opinião: Se Eu Fosse Tua

Título Original: If I Was Your Girl (2016)
Autor: Meredith Russo
Tradução: Isabel Veríssimo
ISBN: 9789896652197
Editora: Nuvem de Tinta (2017)

Sinopse:

Só porque tens um passado, não quer dizer que não possas ter um futuro. Mudar de escola no último ano e ser a miúda nova do liceu nunca é fácil para ninguém. Amanda Hardy não é excepção: se quiser fazer amigos e sentir-se aceite, terá de baixar as defesas e deixar que os outros se aproximem. Mas como, quando guarda um segredo tão grande? Quando tenta a todo o custo esconder o seu passado e começar uma vida nova?
Para piorar as coisas, apaixona-se perdidamente pelo rapaz mais popular do liceu e tudo o que mais quer é contar-lhe a verdade. Será que ele é tão especial quanto parece? Poderá confiar nele?

Uma história inspiradora e comovente que nos enche o coração e nos ensina que o amor mais verdadeiro e profundo nasce da coragem de sermos nós mesmos.

Opinião:

Se Eu Fosse Tua procura sensibilizar os leitores o que é ser transgénero. Este livro apelou-me por, antes de o descobrir, nunca ter lido nada que tivesse este tema como questão principal. Ainda que destinada a um público mais jovem, trata-se de uma leitura que faz pensar sobre as dúvidas de identidade que o assunto acarreta, sobre a forma como a família e a sociedade lida com o tema e ainda sobre discriminação.

Meredith Russo, a autora deste livro, assume-se como transgénero e a apresenta uma história que dá a conhecer um pouco da sua experiência, semelhante à de muitas pessoas que têm a mesma identidade de género que ela. Contudo, a autora explica que o livro não é autobiográfico, mas sim uma forma genérica de passar uma mensagem a um grande público. Para tal criou Amanda, a protagonista.

É muito fácil simpatizar com Amanda, uma figura cuja construção está muito bem conseguida. A certeza que ela tem sobre quem realmente é e o sofrimento que passa para ter liberdade para o ser cria uma grande empatia. A narração, feita na primeira pessoa, ajuda-nos a aproximar dela e a compreender as suas dúvidas, receios e sonhos. Como tal,o que fica certo é que ela é, na verdade, uma adolescente comum em termos psicológicos. E isso é que é importante, pois é o que a define, não o corpo.

As personagens secundárias desta obra acabam por corresponderem a certos estereótipos. Isto, normalmente, não me agrada, mas neste livro faz todo o sentido, afinal, a autora procurou mostrar os comportamentos mais comuns que as existem para com os transgéneros. Como tal, senti raiva pelos que se tornavam agressivos, carinho pelos que aceitavam a protagonista sem receios, desprezo pelos que usavam a sua verdade como arma, esperança pelos que desafiavam convenções para estarem a seu lado.

Por Amanda ser adolescente, está, naturalmente, à procura no seu lugar no mundo e a lidar com muitas questões próprias desta fase da vida. Os laços de amizade, a relação com os pais e as primeiras paixões são temas incontornáveis. O campo amoroso acaba por ser aquele que tem maior destaque. Aqui, a autora transmite mensagens que são dirigidas para pessoas de diferentes identidades sexuais, sendo que a verdade, a confiança e o diálogo são valorizados.

Este livro é muito cativante, mas senti que também foi abordada com alguma ingenuidade em certos aspectos. Apesar de Amanda ter de passar por situações difíceis, a verdade é que há aspectos que não são abordados ou que são ultrapassados com ligeireza. Afinal, os pais dela, a bem ou a mal, são grandes suportes e fazem diversas demonstrações de amor, sendo comum, nestes casos, ouvir falar em decisões mais drásticas. A própria transformação foi abordada de forma muito subtil, não sendo convenientemente explorada a forma como é feita e os efeitos psicológicos que isso tem na própria pessoa ao longo de todo o processo.

A história em si pode não ser perfeita ou surpreendem, mas, ainda assim, Se Eu Fosse Tua é um livro relevante. Apesar de parecer destinado a um público mais jovem, a verdade é que deve ser lido por um público mais vasto. Através da história de Amanda somos levados a colocar-nos na pele de uma transgénero, a sentir o quão sufocante é estar num corpo cujo género não é aquele com que nos identificamos e ainda lidar com uma sociedade que nos coloca um rótulo e discrimina. Acredito que o contacto com esta realidade promove a compreensão, conhecimento e tolerância pela diferença.