quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Opinião: Anna e o Homem Andorinha

Título Original: Anna and the Swallow Man (2017)
Autor: Gavriel Savit
Tradução: Ester Cortegano
ISBN: 9789896651909
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse: 

Cracóvia, 1939. Um milhão de soldados marcham e mil cães ladram. Este não é um lugar para crescer.
Anna tem apenas sete anos no dia em que o alemães levaram o seu pai, professor de Linguística, durante a purga de intelectuais na Polónia. Está sozinha quando encontra o Homem-Andorinha, um astuto trapaceiro, alto e estranho, com mais de um ás na manga; um impostor que consegue até que os soldados com quem se cruza só vejam aquilo que ele quer que vejam.

O Homem-Andorinha não é o pai de Anna - ela sabe-o bem -, mas também sabe que, como o seu pai, está em perigo e, tambémc omo o seu pai, tem o dom das línguas: fala russo, polaco, alemão iídiche e a linguagem dos pássaros. Quando o misterioso indivíduo consegue que uma bela andorinha lhe pouse na mão para que Anna deixe de chorar, a menina fica encantada. E decide segui-lo até onde ele for.
Ao longo da viagem, Anna e o Homem-Andorinha escaparão a bombas e a soldados e também farão amigos. Mas, num mundo louco, tudo pode ser um perigo. Também o Homem-Andorinha.

Opinião:

Anna e o Homem Andorinha é um livro que não me larga. Já terminei a leitura, mas não consigo afastar-me da história. A trama agarrou-me desde o início e só descansei quando cheguei à última página. A leitura foi feita com a sensação de perigo iminente, mas também com o assombro de observar uma guerra tão terrível através dos olhos ingénuos e doces de uma criança.

Gavriel Savit oferece-nos uma nova perspectiva sobre a invasão da Polónia, acontecimento que deu origem à II Guerra Mundial. A protagonista da trama é Anna, uma menina que, numa fase inicial, tem sete anos. Nesta fase da vida, não é fácil entender o motivo de tudo estar a mudar, e torna-se quase impossível imaginar o perigo e ameaça que se vive. É apenas quando o pai de Anna desaparece que ela percebe que o mundo está realmente a mudar. As pessoas já não são as mesmas, ninguém dá a mão a uma menina perdida. Ninguém a não ser o Homem Andorinha.

Com o encontro destas duas figuras, inicia-se então uma grande aventura. Anna e o Homem Andorinha viajam sem parar por uma terra devastada e insegura. As tácticas de sobrevivência utilizadas impressionam, mas o que mais marca o leitor é a capacidade de Gavriel Savit expor situações, emoções e eventos sem realmente os descrever. O leitor consegue entender todo o terror que está a ser vivido, mesmo quando os olhos da criança que observa se prendem com pormenores que facilmente poderiam passar despercebidos.

É curioso ver que, ao início, Anna é uma menina que sente necessidade de correr atrás de alguém, de se sentir protegida por um adulto. Tudo o que o eu guardião faz parece mágico, tanto que este homem é observado com um misto de fascínio, medo e respeito. Para o leitor, ele é um homem comum, mas para a criança é um ser extraordinário. Contudo, é curioso verificar que estas percepções trocam de lugar a partir do momento em que Anna deixa a infância.

Durante o desenrolar da trama, Anna revela-se uma personagem em evolução. Mais do que contar uma série de eventos, parece que o objetivo do autor é mesmo mostrar o que acontece a uma criança que passa por estas situações. Como uma criança sobrevive a uma tragédia e se torna numa mulher. Como heróis fantásticos se revelam humanos. Como os monstros podemos ser nós. Como não faz sentido castigar o outro pela diferença. Como podemos ser capazes do pior. Como podemos ser capazes do melhor.

Acredito que ainda vou ficar mais algum tempo a refletir sobre esta obra. Anna e o Homem Andorinha foi um daqueles livros inesperados, que me surgiram nas mãos sem esperar, que me disseram mais do que estava à espera. É uma leitura que consegue transmitir beleza e, ao mesmo tempo recordar um horror que preferimos esquecer que existiu. Recomendo.

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