segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Opinião. A Sombra de um Passado

Autor: Carina Rosa
ISBN: 9789897660306
Editora: Coolbooks (2014)

Sinopse:

Conseguirá o verdadeiro amor apagar uma grande paixão?
Clara e Santiago vivem um casamento feliz e juntos planeiam construir um palácio de sonho para viverem com a filha. Mas quando, numa concentração de motas, Clara reencontra o homem que quase destruiu a sua vida, o passado mistura-se com o presente e a sua felicidade ao lado de Santiago é ameaçada. Hugo regressa após dez anos na prisão e Clara sabe que ele quererá vingança por ter sido abandonado e por tudo o que ela construiu na sua ausência. As inseguranças da menina inocente que foi um dia regressam e, com elas, a culpa e o sentimento doentio que nutriu em tempos por Hugo.
A sombra de um passado é uma história de amor, de sonhos e de perdas que nos leva ao mundo do crime, das drogas e da discriminação racial. Um tributo à família, aos que amam e sabem amar-se e à felicidade nas pequenas coisas.

Opinião:

Não somos o nosso passado, mas sim o resultado dos ensinamentos que retiramos de experiências anteriores. Penso que esta ideia foi uma das inspirações de Carina Rosa para a escrita de A Sombra de Um Passado. Romance que agarra, faz-nos pensar sobre escolhas e a forma como as paixões podem afectar.

Clara, a protagonista desta trama, é uma mulher que refez a sua vida e que teme o regresso do passado. E se aceito que ela tenha uma história complicada que me leva a pensar sobre as mais diferentes formas de abuso e violência, a verdade é que não me senti cativada por ela. Penso que isso aconteceu pelo facto de Clara se ter mostrado tão indecisa e por constatar que continua a nutrir sentimentos por alguém que lhe fez tão mal. Isso leva-a a entrar em situações que apenas lhe vão complicar a vida, tal como seria de prever.

Contudo, não deixo de achar a transformação de Clara interessante. Graças a diversas analepses, ficamos a conhecer a protagonista nos seus dias de juventude e constatamos que era muito diferente da mulher nervosa, exigente e ponderada que nos foi apresentada. Clara era a típica jovem que anseia por liberdade e que para a conseguir acaba por se colocar em situações de perigo. Um aviso para as consequências da protecção excessiva dos pais, que acabam muitas vezes por surtir o efeito oposto ao que é desejado.

Ao conhecer as dificuldades ultrapassadas por Clara, percebe-se muitas das suas atitudes, mas isso não significa que se goste delas. Não apreciei a frieza com que tantas vezes tratava o marido ou as exigências que lhe fazia, não gostei das omissões que fez e que me fizeram pensar sobre até pode ir uma mentira e não gostei das opções ingénuas que acabou por fazer. Porém, não me sentir atraída por uma personagem não quer dizer que não a tenha entendido. Clara é fraca e dependente de afectos.

Já Hugo acabou por se revelar uma boa surpresa. Desde o início é-nos apresentado como um vilão e ele próprio acaba por continuar a tomar muitas atitudes que o comprovam, mas é curioso ver o quanto ele atrai. Sempre que ele surgia eu queria saber mais sobre ele, tentar perceber o que fez dele o que é. Por isso mesmo, apreciei bastante o passado que a autora lhe concedeu e, apesar de achar que o destino desta personagem deveria ter sido mais duro, acabo por intender as intenções do desfecho que lhe foi concedido.

Curiosamente, Santiago, é o oposto de Hugo. Colocá-los os dois lado a lado é quase como comparar o bem e o mal, o que acaba por ser uma opção interessante. Santiago é um marido com qualidades que qualquer mulher deseja: dedicado, amoroso, trabalhador e incansável na realização dos sonhos da sua cara-metade. Ao início achei-o demasiado perfeito, mas mais perto do final da trama gostei de conhecer um outro lado deste homem.

É inevitável não reparar que existe também uma forte intenção da autora em criticar o racismo. Apesar de apreciar essa ideia, acho que a forma encontrada acabou por se revelar um pouco forçada. Gostaria de ver esta questão debatida de um modo que estivesse mais impregnado na trama e, por isso, mais subtil.

Confesso ainda que não apreciei que cada capítulo tivesse um título, pois eles revelavam logo o que ia aconteceu. Eu gosto de ser surpreendida ao longo da leitura, mas ao passar os olhos pelo índice fiquei rapidamente a saber como a história iria decorrer. Penso que a experiência de leitura teria sido muito mais intensa se no início de cada capítulo não tivesse a informação sobre o respectivo conteúdo. Afinal, havia muito por onde me surpreender! Para além disso, teria sido bom ter visto algumas questões mais desenvolvidas.

E se é verdade que, para mim, esta leitura, teve diversas falhas, também é verdade que a trama em si me cativou o suficiente para querer ler o livro rapidamente de modo a ficar a conhecer o destino dado a cada personagem e a lição que cada uma aprendeu. Que Carina Rosa é uma contadora de histórias, disso não há dúvida, mas fica também a sensação de que é uma escritora em crescimento e evolução.

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