quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Opinião: Memórias de Um Amigo Imaginário

Título Original: Memoirs of an Imaginary Friend (2012)
Autor: Matthew Dicks
Tradução: Victor Andrade
ISBN: 9789896573331
Editora: Planeta (2013)

Sinopse:

Um romance perfeito para quem já teve um amigo – verdadeiro ou não. Matthew Dicks inspirou-se no imaginário de uma criança autista que conheceu e criou uma calorosa história de amor e lealdade, narrada por uma personagem improvável: Budo, o amigo imaginário de Max, o menino autista.
Budo é uma voz original e inesquecível, pois é capaz de falar sobre a vida, o amor, a amizade, a infância, a morte, e a paternidade, como uma personagem poderosa e inteligente dentro da cabeça de uma criança autista.
Mas os amigos imaginários só podem existir desde que os seus amigos reais continuem a acreditar neles. Mas um dia Max deixa de acreditar!
E quando Max fica em perigo, mesmo tendo a criança deixado de acreditar nele, Budo arrisca tudo, incluindo a sua existência, para salvá-lo, ou melhor resgatá-lo do que todos à sua volta querem que Max seja e que nunca poderá ser.

Opinião:

As crianças têm uma capacidade única de imaginar e Matthew Dicks soube explorar isso neste livro. Memórias de Um Amigo Imaginário cativou-me de imediato. Não estranhei o tom quase infantil da obra, pois tudo é transmitido de uma forma genuína, pura e forte.

Budo é o narrador e protagonista desta trama. É quase impossível não gostar desta personagem que surge como amigo leal e protetor de Max, um menino autista. Budo apresenta-se como produto da imaginação de Max, mas ao longo da leitura dá a perceber que é muito mais do que isso. Ele possui traços que dificilmente poderiam ser produto da imaginação de uma criança e estes tornam-se mais evidentes em momentos onde é necessário tomar grandes decisões. Isto levou-me a pensar sobre quem seria realmente Budo para o escritor, se apenas um produto imaginário e, por conseguinte, uma parte mais madura, responsável e atenta ao mundo exterior da criança autista ou se uma personagem por si só e mais independente do que julgava.

É através de Budo que nos é permitido conhecer Max. É interessante que em momento algum se fala em autismo no livro, mas é evidente que este é um tema central. Max, como criança que sofre desta disfunção de desenvolvimento, é um rapaz muito fechado, sendo por isso graças ao seu amigo imaginário que ficamos a conhecer melhor os seus pensamentos e personalidade. E que bom é ver esse lado! Achei muito interessante ver de que forma Max lida com os outros e o que sente quando o faz. Os pequenos esquemas que cria para sentir controlo na sua vida, os seus interesses e a forma como lida com questões que podem parecer básicas fornecem-lhe profundidade e deixam o leitor rendido.

Matthew Dicks soube ainda explorar a dinâmica da família de Max, mais uma vez exposta por Budo. O autor criou um núcleo consistente, onde os dois progenitores revelam reações díspares à condição do filho, muito representativas do que acontece em casos reais. Também o ambiente escolar e a forma como professores e alunos lidam com um elemento significativamente diferente mostra que o autismo ainda não é bem compreendido pela sociedade.

Confesso que foi difícil fazer paragens nesta leitura. A trama consegue mesmo agarrar, apesar de, aparentemente, ser tão simples. Contudo, as situações descritas por Budo fazem lembrar um conto fantástico, muito devido à ingenuidade e à pureza inerentes. Também os outros amigos imaginários que surgem suscitam curiosidade, muito devido às suas diferenças e às necessidades que representam. A certo momento existe uma reviravolta que cria tensão e que marca um grande ponto de viragem. O autor consegue então transmitir a ideia de altruísmo e amadurecimento graças a momentos e decisões críticas.

Apesar da linguagem simples, o autor consegue transmitir muitas emoções. Certos momentos conseguem arrancar sorrisos, quer seja devido às situações quer seja a certos elementos do discurso, e outros ainda que fazem entristecer. No final, não me senti completamente satisfeita, não por causa do rumo da história, mas sim por certas situações terem ficado por explicar ou por carecerem de um maior desenvolvimento. Contudo, percebo a razão de tal ser assim.

Memórias de Um Amigo Imaginário é um livro que recomendo. Amoroso e cativante, mostra que as crianças têm muito para nos ensinar e recorda que o amor incondicional pode ser vivido a diversos níveis.

2 comentários:

Anónimo disse...

Admito que não estava nada curiosa por este livro, mas a tua crítica mudou isso :)

Boas leituras!

Cláudia disse...

É muito bonito. Acredito que se tiveres oportunidade de o ler também vais gostar :)