segunda-feira, 5 de março de 2018

Opinião: Boneca de Trapos

Título Original: Ragdoll (2017)
Autor: Daniel Cole
Tradução: José Remelhe
ISBN: 9789896652920
Editora: Suma de Letras (2018)

Sinopse:

William Fawkes, um controverso detetive conhecido por «Wolf», acabou de ser reintegrado no seu posto após ter sido suspenso por agressão a um suspeito. Ainda sob avaliação psicológica, Fawkes regressa ao ativo, ansioso por um caso importante. se encontra com a sua antiga colega e amiga, a inspetora Emily Baxter, num local de crime, tem a certeza de que é aquele o grande caso: o corpo que encontram é formado pelos membros de seis vítimas, suturados de modo a formar uma marioneta, que ficou conhecida como «Boneca de Trapos». Fawkes é incumbido de identificar as seis vítimas, mas tudo se complica quando a sua ex-mulher, que é repórter, recebe uma carta anónima com fotografias do local do crime, acompanhada de uma lista na qual constam os nomes de seis pessoas e as datas em que o homicida tenciona assassiná-las. O último nome da lista é o de Fawkes. A sentença de morte com data marcada desperta as memórias mais sombrias de Wolf. O detetive teme que os assassinatos tenham mais a ver com ele — e com o seu passado — do que qualquer um possa imaginar.

Opinião:

Crimes horríveis, um assassino que é um mistério, um detective atormentado pelo passado e um grupo de inspectores que tentam dar o melhor no seu trabalho enquanto cada um lida com os seus próprios demónios pessoais. O resultado desta junção? Boneca de Trapos, um thriller que cativa, choca e nos impele para uma aventura impressionante. É que neste livro não queremos apenas apanhar o criminoso e descobrir o que o motivou. Desejamos também descortinar as personagens que trabalham para o lado da Lei.

O prólogo deste livro leva-nos para uma situação que, numa primeira análise, parece não ter qualquer ligação com os crimes principais deste livro. Nestas primeiras páginas conhecemos William Fawkes, também conhecido por Wolf, o detective protagonista desta obra. A situação em que ele se encontra deixa-nos perceber que está no limite do desespero. Como tal, anos após estes eventos, é com alguma relutância que alguns dos seus colegas o aceitam numa nova e macabra investigação.

Wolf é uma personagem que vai sendo desconstruída ao longo das páginas deste livro. Ao início, temos a ideia de um homem dedicado à profissão, que perdeu tudo devido à obsessão por um caso e que agora quer provar que ainda tem muito para dar. Mas Wolf é muito mais do que isso. Este protagonista pouco convencional pode não criar empatia imediata, mas apela à nossa curiosidade e surpreende à medida que se vai revelando. O homem forte dá lugar a uma figura destruída e que procura salvação. Os métodos que encontra para alcançar os seus desejos criam dúvidas e fazem-nos pensar sobre até onde podemos transpor limites sem condenarmos o que temos de bom.

Se é verdade que Wolf é uma personagem forte, o mesmo podemos dizer das figuras secundárias. Destaco  Baxter, que sugere ser uma simples colega de Wolf para se revelar uma figura que usa a máscara de mulher forte para ocultar as suas inseguranças e fraquezas. Edmunds, o novato menosprezado que pretende provar o seu valor, ainda que isso coloque em causa a vida familiar. Finlay, o mentor que parece ser um pilar fundamental de todo o grupo e traz algumas lufadas de ar fresco nos momentos mais pesados. Andrea, a ex-mulher que também é uma jornalista ambiciosa e disposta a tudo para conquistar o lugar que acredita merecer. Todas estas personagens não são básicas e conseguem impressionar, mesmo que não concordemos com os seus métodos ou motivações.

A sensação de perigo é constante. Ao mesmo tempo que queremos perceber a morte de seis pessoas inicialmente anónimas, estamos sempre na expectativa de descobrir o que liga cada uma daquelas figuras e que é o seu assassino. E como se tal não bastasse, surge ainda uma lista de futuras vítimas, com a data de morte de cada uma. Como tal, a tensão aumenta de página para página, ao mesmo tempo que mais mortes acontecem, de forma completamente incompreensível e sem que as forças policiais consigam fazer nada para contornar esta situação. Tudo isto faz o suspense aumentar e leva o nosso protagonista a voltar a entrar numa espiral de aflição. E é este desespero que faz com que cada uma das personagens revele o tem de pior.

O encadeamento dos acontecimentos faz com que o interesse na leitura não se perca, ainda que o ritmo, muitas vezes, seja mais lento do que o desejado. Este é um livro com muitas personagens, logo existem diversas figuras a conhecer bem, de modo a ser possível entender a narrativa por completo. O estilo de escrita de Daniel Cole não é elaborado, o que ajuda a entrar facilmente na história. O ambiente parece sempre negro, e as revelações que são feitas estão bem conseguidas.

Boneca de Trapos revelou-se uma figura que marca. Com um vilão inesperado e repleto de requintes de malvadez, Daniel Cole leva-nos a questionar a natureza humana e o que leva alguém a pensar que é superior a isso. As personagens fortes desta obra dão força a um enredo que só por si é apelativo, tornando este livro num thriller a ter em conta. Apesar de se tratar do primeiro volume de uma saga, Boneca de Trapos pode ser lido como stand alone. Mas acredito mesmo que depois de o lerem vão querer mais... Fica o aviso.

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