quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Opinião: Princesa Mecânica (Caçadores de Sombras: As Origens #3)

Título original: Clockwork Princess (2013)
Autor: Cassandra Clare
Tradução: Nuno Daun e Lorena
ISBN: 9789896574482
Editora: Planeta (2013)

Sinopse: 

Último livro da prequela de sucesso da série «Caçadores de Sombras», que nos mostra as suas Origens. Tessa Gray devia estar contente, como todas as noivas! Mas, enquanto se prepara para o casamento, uma rede de sombras envolve os Caçadores de Sombras do Instituto de Londres. Surge um novo demónio, ligado pelo sangue e secretismo a Mortmain, o homem que tenciona usar um exército de impiedosos autómatos, os Instrumentos Infernais, para destruir os Caçadores de Sombras. O perigo, a traição, os segredos, os feitiços, o amor e a morte entrelaçam-se quando os Caçadores de Sombras quase se autodestroem na conclusão de cortar a respiração da trilogia de os Caçadores de Sombras, as Origens.

Opinião:

Princesa Mecânica é um final emocionante para uma prequela que supera completamente a série original. Esta é uma história mais envolvente, com muitos momentos de ação, povoada por personagens que criam empatia e que apresentam visível desenvolvimento, repleta de elementos fantásticos que fazem sentido e dotada de reviravoltas que surpreendem e fazem não querer largar o livro.

Adorei esta leitura. É curioso pensar que entrei nesta trilogia um pouco a medo, muito por causa da desilusão associada ao arrastar sem sentido da série "Caçadores de Sombras". Mas lidos todos os volumes chego à conclusão que "Caçadores de Sombras. As Origens" é muito superior. Se, como eu, ficaram cativados com o mundo criado por Cassandra Clare, então vão com toda a certeza ficar deliciados com estes livros.

A ação começa logo nas primeiras páginas. Um confronto inicial promove novas uniões mas também acaba por provocar uma consequência mais dramática há muito esperada. As figuras do Instituto de Londres passam então por uma fase de sofrimento, de coragem e na qual grandes decisões têm de ser tomadas. O facto de estas personagens possuírem uma construção mais humana provoca empatia, sendo então difícil de aceitar certas situações e digo isto num bom sentido, pois é sinal de que o leitor consegue realmente entrar na história e viver todas aquelas aventuras.

No primeiro volume desta trilogia, Tessa revelou-se uma protagonista que não me impressionava. Contudo, a autora desenvolveu-a até se tornar numa figura mais agradável. Sim, continua a ser um poço de virtudes o que muitas vezes se pode tornar aborrecido, mas os confrontos e provações por que ela passa levam-na a desenvolver um estilo mais combativo. Neste volume assiste-se ao lado de guerreira de Tessa, o que é mais estimulante e dá origem a momentos muito intensos. Também a força dos seus valores são colocados à prova e o final que lhe é reservado revela-se um misto de alegria, tristeza e beleza, tornando-se marcante e até chocante.

Durante os dois volumes anteriores falou-se muito no forte elo de ligação que une Will a Jem, mas penso que apenas em Princesa Mecânica senti a sua verdadeira essência. A ideia de parabatai ganhou uma intensidade crescente até culminar numa situação que me emocionou particularmente. Cada vez mais fico com a ideia de que estes dois rapazes são metades de um todo, complementos perfeitos que apesar de completamente distintos não conseguem estar desassociados. Afinal, a distância física acaba por não se revelar uma verdadeira distância, e circunstâncias que podiam causar revolta acabam por gerar felicidade e até solidariedade. A relação de Will e Jem é, sem dúvida, a mais bem conseguida de toda a trilogia, mais do que aquela que os liga individualmente a Tessa. É impressionante como Cassandra Clare leva o leitor a sentir regozijo e dor com estas duas personagens.

Apesar de o trio Tessa, Will e Jem ser o principal da obra, é ainda bom ver que a autora decidiu dar ainda destaque a todos os moradores do Instituto de Londres. Charlotte volta a ser a voz da luta das mulheres pela igualde de direitos numa época em que tal parecia tão distante. É com curiosidade que se assiste ao contraste entre os momentos em que se evidencia como líder natural e aqueles em que se deixa ir abaixo devido aos seus receios e às provações impostas por outros. Henry vai ganhando destaque e revela-se símbolo do steampunk. Cientista que é tido por muitos como lunático, acaba por se revelar o visionário responsável por projetos de grande importância. A introdução de Cecily revela-se uma grande aposta. Os momentos apresentados no seu ponto de vista acrescentam informação relevante e ainda uma carga de humor muito apreciada. Já Sophie continua a conquistar e a ser uma das personagens muito acarinhada, já que é fácil a identificação com esta rapariga que tem grandes sonhos mas que não se julga capaz de os alcançar devido à falta de confiança em si própria.

A narrativa é intensa e surpreende em diversos momentos. E como eu gosto de ser surpreendida desta forma! Não existem momentos parados, há sempre algo a acontecer e existe uma sensação de perigo constante. Mesmo quando existe separações a autora leva-nos a acompanhar todos os lados para que nos seja dada a informação mais completa. É evidente que esta trilogia foi muito bem pensada desde o início, já que existem elementos que foram apresentados nos outros volumes e que agora se ligam para apresentar factos que fazem todo o sentido. De realçar ainda o espaço que a autora deixou para explicar o que aconteceu a todas as figuras que entraram nesta trama passada na época vitoriana.

Houve apenas uma situação que me deixou reticente. Esta aconteceu já na fase final do livro e, por isso, vou tentar apresentá-la sem desvendar o que acontece. Dá-se uma reviravolta que me parece forçada e uma tentativa da autora agradar a todos os seus fãs. Existem aspetos que não foram bem explicados e que parecem não coincidir com a rigidez de uma determinada fação. Contudo, aproveito ainda para vos confessar que acontece uma outra situação do final que me comoveu pela sua beleza e também tristeza e que provou que a autora consegue compor cenários que ficam na memória.

Quero ainda destacar as muitas ligações que são possíveis de fazer entre esta trilogia e a série "Caçadores de Sombras". Apesar de ser possível ler ambas em separado, é bom ver quão bem as duas ligam não só devido a algumas personagens transversais, mas também devido a outros elementos. É inevitável pensar que situações ocorridas em "A Origem" proporcionaram outras que se deram na série original. A árvore genealógica presente no final dá ainda outros detalhes deliciosos (mas deixo um aviso: se não querem estragar algumas das surpresas desta história não a vejam!).

Princesa Mecânica foi sem dúvida um livro que muito me agradou e que, apesar dos momentos de grande entretenimento, me fez pensar na força das relações e no que é preciso para se ter uma vida plena e feliz. Uma leitura que supera as expetativas e que vai, com toda a certeza, manter-se na minha memória. Recomendo!

Outras opiniões a livros de Cassandra Clare:
A Cidade dos Ossos (Caçadores de Sombras #1) 
A Cidade das Cinzas (Caçadores de Sombras #2)
A Cidade de Vidro (Caçadores de Sombras #3)
A Cidade dos Anjos Caídos (Caçadores de Sombras #4)
A Cidade das Almas Perdidas (Caçadores de Sombras #5)
Anjo Mecânico (Caçadores de Sombras: As Origens #1)
Príncipe Mecânico (Caçadores de Sombras: As Origens #2)

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