domingo, 27 de outubro de 2013

Opinião: A Guerra Diurna (Ciclo a Noite dos Demónios #3)

Título Original: The Daylight War (2013)
Autor: Peter V. Brett
Tradução: Renato Carreira
ISBN: 9789892324494
Editora: Asa (2013)

Sinopse:

Na noite da Lua Nova, os demónios erguem-se em força, procurando as mortes dos dois homens com potencial para se tornarem o lendário Libertador, o homem que, segundo a profecia, reunirá o que resta da humanidade num esforço derradeiro para destruir os nuclitas de uma vez por todas.
Arlen Fardos foi outrora um homem comum, mas tornou-se algo mais: o Homem Pintado, tatuado com guardas místicas tão poderosas que o colocam à altura de qualquer demónio. Arlen nega constantemente ser o Libertador, mas, quanto mais se esforça por se integrar com a gente comum, mais fervorosa se torna a crença destes. Muitos aceitariam segui-lo, mas o caminho de Arlen ameaça conduzir a um local sombrio a que apenas ele poderá deslocar-se e de onde poderá ser impossível regressar.
A única esperança de manter Arlen no mundo dos homens ou de o acompanhar reside em Renna Curtidor, uma jovem corajosa que arrisca perder-se no poder da magia demoníaca.
Ahmann Jardir transformou as tribos guerreiras do deserto de Krasia num exército destruidor de demónios e proclamou-se Shar’Dama Ka, o Libertador. Tem na sua posse armas ancestrais, uma lança e uma coroa, que consubstanciam a sua pretensão e vastas extensões das terras verdes se curvam já ao seu poderio.
Mas Jardir não subiu ao poder sozinho. A sua ascensão foi programada pela sua Primeira Esposa, Inevera, uma sacerdotisa ardilosa e poderosa cuja formidável magia de ossos de demónio lhe permite vislumbrar o futuro. Os motivos de Inevera e o seu passado encontram-se envoltos em mistério e nem Jardir confia nela por completo.
Outrora, Arlen e Jardir foram próximos como irmãos. Agora, tornaram-se os maiores rivais. Enquanto os inimigos da humanidade se erguem, os únicos dois homens capazes de os derrotarem encontram-se divididos pelos mais mortais de todos os demónios: aqueles que se escondem no coração humano.

Opinião:

Peter V. Brett prova que a espera de cerca de três anos por A Guerra Diurna valeu a pena. O terceiro volume do Ciclo a Noite dos Demónios mantém os ingredientes dos dois livros anteriores e ainda assim consegue surpreender.

Este livro começa com capítulos dedicados a uma das personagens mais misteriosas e intrigantes: Inevera. Esta figura tão forte passa então a ser observada de um novo ponto de vista, já que a sua infância e formação são exploradas de uma forma bastante cativante. É com interesse que se ficam a conhecer as suas relações familiares mas sobretudo os segredos da educação das Dama'ting. Os momentos dedicados ao treino de Inevera são completamente aliciantes e tornam a leitura compulsiva. É então possível conhecer as motivações desta mulher e, de certa forma, compreendê-la. Depois destes capítulos, Inevera revela-se uma personagem mais forte, já que não é contemplada em toda a sua plenitude.

Para além de ser possível ficar a conhecer mais profundamente Inevera e as circunstâncias que a levaram a desenvolver tal personalidade, é também descoberta uma nova vertente cultural e social da Krasia. A hierarquia desta sociedade fortemente inspirada na cultura islâmica continua a fascinar, nomeadamente nas evoluções apresentadas ao longo deste volume. É com interesse que se vê o desenvolvimento do papel da mulher como o de poucos homens pertencentes a uma casta mais baixa.

Neste volume, os momentos dedicados a Ahmann Jardir são mais escassos, mas suficientes. Em contrapartida, Arlen ganha uma certa relevância, nomeadamente devido às novas capacidades que desenvolve e à evolução da sua relação com Renna. E se o primeiro parece concentrado na formação de um domínio superior, o segundo está focado na libertação e salvação de populações. Dois objectivos distintos, mas que são apresentados por ambas as partes como necessários para o combate contra os nuclitas. É interessante ver como figuras preponderantes de culturas que chocam apresentam soluções díspares para solucionar o mesmo problema.

Leesha toma uma série de decisões que podem desagradar, apesar de continuar a ser uma das personagens mais amadas. Por isso mesmo, é com solidariedade que se assiste à sua dor em certas circunstâncias e, a certo momento, percebe-se que o papel desta personagem poderá ganhar uma relevância diferente daquela que teve até ao momento. Roger, por seu lado, acaba por se encontrar uma situação que proporciona momentos que tanto são de divertidos como de tensão. O violinista fica no centro de um verdadeiro choque de culturas, o que salienta as diferenças entre as sociedades criadas por Peter V. Brett e levam a inevitáveis comparações entre os confrontos entre cristãos e muçulmanos durante a Idade Média.

A Guerra Diurna apresenta ainda os primeiros capítulos dedicados aos demónios do Núcleo. Finalmente é possível ficar a conhecer os pensamentos de alguns destes seres que durante dois volumes foram apresentados como donos de um instinto puramente animal. Afinal, os nuclitas também são dotados de razão e é possível ficar a perceber que também vivem numa sociedade hierarquizada, semelhante a uma monarquia. A curiosidade sobre estes seres aumenta à medida que os seus planos são levemente divulgados e fica a vontade de conhecer melhor o mundo em que habitam.

Os combates apresentados são bastante intensos e o confronto directo com príncipes nuclitas resulta no momento alto destes momentos de ação. Porém, o confronto mais entusiasmante ficou guardado para o fim e o seu desfecho faz ansiar pela chegada rápida do próximo volume desta saga. Peter V. Brett soube como deixar os seus leitores surpreendidos e ao mesmo tempo frustrados por não poderem continuar a acompanhar as aventuras destas personagens tão cativantes.

Apesar do seu grande volume, A Guerra Diurna é um livro que é devorado com avidez graças a personagens bem construídas e credíveis e a um enredo aliciante. Um volume que não defrauda os anteriores e que explora um mundo que consegue continuar a surpreender. Fica a vontade de perceber que mais estará Peter V. Brett a tramar. Recomendo.

Nota: Esta série terá cinco volumes. O quarto, The Skull Throne, tem publicação prevista para 2015. The Core deverá ser o título do livro que encerra esta história, não tendo ainda data de previsão de publicação.

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