quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Opinião: O Dia em que Perdemos a Cabeça

Título Original: El dia que se perdió la cordura (2017)
Autor: Javier Castillo
Tradução: Jorge Pereirinha Pires
ISBN: 9789896657376
Editora: Suma de Letras (2019)

Sinopse:

Centro de Boston, 24 de Dezembro, um homem caminha nu, trazendo nas mãos a cabeça decapitada de uma jovem mulher.
O Dr. Jenkins, director do centro psiquiátrico da cidade, e Stella Hyden, agente do FBI, vão entrar numa investigação que colocará em risco as suas vidas e a sua concepção de sanidade. Que acontecimentos fortuitos ocorreram na misteriosa Salt Lake City há dezassete anos? E por que estão todos a perder a cabeça agora?

Opinião:

Fico sempre impressionada com a capacidade que alguns autores têm em trocarem as voltas ao leitor ao longo de uma história. Javier Castillo faz isso em O Dia em Que Perdemos a Cabeça. O primeiro capítulo deixa uma ideia quase clara do que poderá ter acontecido. Um homem surge na rua nu, coberto de sangue e a segurar a cabeça de uma mulher. Esta ideia leva-nos a uma série de ideias preconcebidas e que condicionam a nossa percepção do rumo da trama. Mas será esta a linha de pensamento correta?

Este é um thriller que não deixa de surpreender. Apesar das 450 páginas, trata-se de um livro que se lê com rapidez e vontade, tal é a ânsia de desvendar o que vem a seguir neste mistério. Existe sempre algo inesperado no enredo, e as próprias personagens revelam-se de formas diferentes ao longo da leitura. Começamos ao lado do dr. Jenkins e de Stella Hyden na tentativa de perceber quem é aquele homem que surgiu com uma cabeça nas mãos, o que ele fez e os motivos para o fazer. Nada é claro, e, com o passar das páginas, começamos até a duvidar das figuras que tínhamos como centrais e de maior moralidade.

Paralelamente, existem capítulos que relatam acontecimentos de há 17 anos. Ao príncipio pode parecer que estes relatos nada têm a ver com a trama principal, mas com o tempo começamos por perceber as ligações. E estas tornam-se cada vez mais fortes. Acompanhamos a adolescente Amada numas férias de família que começam com sinais estranhos mas macabros. Só com o tempo percebemos como tal está relacionado com a atualidade e com o crime hediondo relato no início da trama. E estas ligações estão muito bem feitas. Algumas acabam por serem fáceis de adivinhar, mas outras nem tanto.

O desenrolar da ação é rápido e impele para uma leitura ritmada e interessada. Os capítulos pequenos e que apresentam sempre pontos de vista diferentes ajudam a manter a vontade de ler e de desvendar os segredos escondidos nesta trama que parece estar a ser contada do início para o fim. As personagens podem carecer de maior estrutura, mas a força da narrativa faz-nos conseguir perdoar isso e levar-nos a concentrar no enredo intrincado.

A conclusão acaba por ser aquela que adivinhamos já perto do final, mas, ainda assim, o autor consegue manter um segredo. Resta saber se tal revelação é suficiente para a criação de um segundo volume ou se tal serve apenas para manter o leitor em suspense e arrebatado já mesmo quando está a fechar o livro. Sinceramente, tinha interesse em saber o que ainda poderia vir por aí, até de forma a conhecer melhor algumas personagens que aqui foram apresentadas.

O Dia em Que Perdemos a Cabeça foi o primeiro livro que li este ano e pode-se dizer que me fez iniciar bem 2019 no que toca a leituras. Não estava à espera das muitas reviravoltas nem da capacidade do autor de me levar sempre a imaginar as possibilidades para a resolução final. Intenso, misterioso, intrigante e viciante. Recomendo a leitura.

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