sexta-feira, 27 de março de 2015

Opinião: Alvorada Vermelha (Trilogia Red Rising #1)

Título Original: Red Rising (2014)
Autor: Pierce Brown
Tradução: Miguel Romeira
ISBN: 9789722354929
Editora: Editorial Presença (2015)

Sinopse:

"Alvorada Vermelha" é o primeiro volume de uma trilogia que tem tudo para conquistar a legião de fãs de "Os Jogos da Fome". Passa-se numa altura em que a humanidade começou a colonizar outros planetas, como Marte. Darrow é um jovem de 19 anos que pertence à casta mais baixa da Sociedade, os Vermelhos, uma comunidade que vive e trabalha no subsolo marciano com a missão de preparar a superfície do planeta para que futuras gerações de humanos possam lá viver. No entanto, em breve Darrow irá descobrir que ele e os seus companheiros foram enganados pelas castas superiores. Inspirado pelo desejo de justiça, Darrow irá sacrificar tudo para se infiltrar na casta dos Dourados… e aniquilá-los! Vingança, guerra e luta pelo poder num romance de estreia empolgante.

Opinião:

Primeiro volume de uma distopia direccionada para os leitores jovens-adultos, Alvorada Vermelha foi o livro que venceu o prémio Goodreads Choice 2014. Como tal, foi com curiosidade que li a sinopse desta obra, ainda sem saber quando iria ser publicada em Portugal. Felizmente, a Editorial Presença tratou de trazer esta história rapidamente para Portugal.

Foi possível reparar que estava perante uma história diferente desde a primeira página. A ideia de uma sociedade a viver no subsolo de Marte está bem conseguida, apesar de não se explicar como a primeira geração daqueles homens e mulheres foi lá parar. As dificuldades por que passam, a forma de controlo e segurança, os trabalhos executados, as carências e a união entre grupos fazem todo o sentido. É esta a primeira impressão que se tem deste universo, e esta é dada por Darrow.

Darrow não foi um protagonista que me tenha conseguido conquistar imediatamente. Ele é tão duro, impulsivo, teimoso, jovem e estranhamento submisso que, numa primeira fase, não gostei dele. Contudo, com o passar das páginas, percebi que essas mesmas características fazem dele humano. O desenrolar da acção leva-o a adoptar atitudes inesperadas que acabam por gerar empatia. Numa outra fase da trama, ele surge alterado por uma dor maior do que se poderia imaginar. É aí que tudo muda para ele, e também foi aí que foi possível perceber que este mundo é muito mais complexo do que aparentava.

Tal como já vem sendo habitual em distopias, a sociedade está dividida por hierarquias. Os vermelhos estão na base desta organização, o que significa que são uma espécie de escravos. No extremo da hierarquia existem os Dourados, senhores superiores que dominam tudo e todos. Estas duas "castas" são as que são mais exploradas neste volume. É impressionante ver as discrepâncias entre ambas, mas também é possível perceber que o autor se inspirou na nossa história, o que acaba por ser o mais chocante. Os Vermelhos vivem na ignorância, quase como os seres da escuridão na Alegoria da Caverna. Os Dourados são vistos como seres superiores, a lembrar a questão da raça ariana. É possível ficar com ideia sobre os restantes estratos, mas existiram alguns sobre os quais gostaria de vir a saber mais.

A certo ponto, existe uma clara inspiração na sociedade romana. É aí que a leitura se transforma em algo novo e inesperado. Darrow terá de ultrapassar uma série de provas que se revelam mais duras do que seria esperado. Nesta fase, gostei da componente estratégica e da ideia de que é na vida que se aprende a liderar. Percebe-se que há erros que são facilmente cometidos e que o pior dos seres humanos vem ao de cima quando existe um sentimento de impunidade. Contudo, também se constata que é em momentos de tensão que se formam alianças fortes e verdadeiras amizades. Fica a ideia de que os estratos sociais não são responsáveis pela natureza de cada um.

O enredo é tão cativante que li o livro avidamente. O final não me surpreendeu, mas fiquei com imensa vontade de continuar a acompanhar a trilogia, pois sinto que qualquer coisa pode acontecer nos próximos livros. Contudo, também verifiquei alguns aspectos que não me agradaram tanto. Falo por exemplo da sensação de sentir que a obra está dividida em duas partes distintas. Esta diferença não existe só pelos locais e circunstâncias diferentes, mas sobretudo pelas alterações de personalidade verificadas no protagonista. Entendo que ele tinha de modificar alguns aspectos, mas por vezes senti que o protagonista da primeira parte do livro não era o mesmo protagonista da segunda parte. Também senti que alguns dos esquemas apresentados correram demasiado bem quando esperava maiores obstáculos, e que os primeiros capítulos são mais fortes do que os últimos.

Enquanto lia, dei por mim a receber emoções muito fortes de determinadas personagens e admito que fiquei chocada (no bom sentido!) com o desfecho de algumas delas. Pierce Brown revela ser um autor jovem mas que é dono de uma grande imaginação e de um enorme talento para a escrita. Quero muito continuar a explorar este universo que mostra que existem características da humanidade que não se alteram, nem mesmo com a conquista do outros planetas. "Golden Son", o próximo volume, já foi publicado lá fora e agora resta esperar que também o seja por terras lusas.

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