domingo, 7 de setembro de 2014

Opinião: Viagem ao Fim do Coração

Autor: Ana Casaca
ISBN:  9789897021152
Editora: Guerra & Paz (2014)

Sinopse:

Num romance toda a nossa vida: como a queremos, como às vezes não a queremos.
Luísa ainda era uma adolescente. Tiago já era um jovem adulto. Conheceram-se na solidão de uma pequena praia, na margem de um rio. Tinham em comum uma relação familiar traumática. Num caso, o trauma do amor dos pais. No outro, o trauma do ódio dos pais. Conheceram-se num dia que pareceu conter uma vida inteira. Mas teriam ficado separados para sempre, se a invisível linha de uma doença que rói o corpo e anuncia a morte não os tivesse voltado a ligar, dezasseis anos depois. Luísa e Tiago podem até redescobrir o amor, mas apenas se a silenciosa presença das metástases não se alastrar aos seus corações.
"Viagem ao Fim do Coração" é mais do que uma comovente história de amor. É a recriação de um admirável mundo de pais e mães, filhos e irmãos, ódios e amores. Revela os pesadelos de um cancro injusto, mas não abdica do que é humano e essencial, o sonho.

Opinião:

Viagem ao Fim do Coração foi um livro que me incomodou. E isso é ótimo, pois quer dizer que Ana Casaca fez bem o seu trabalho. A autora pegou num tema muito sensível e apresentou-o sem artifícios, fazendo desta história uma lição de vida dura e revoltante.

Logo no início é impossível não ficar indiferente à história de Luísa. Começamos a acompanhá-la quando ela é ainda criança. A descrição e apresentação da sua vida familiar fizeram-me admirar, logo ao início, esta protagonista. É verdade que existem realidades mais trágicas, mas o que mais me chocou nesta história foi perceber que existem tantas infâncias como a que foi apresentada. Crianças a quem não lhes é permitido ser crianças. Crianças que vivem debaixo de sentimentos de culpa e de medo por causa dos seus progenitores. Esta é uma realidade que existe em larga escala no nosso país, mais próxima do que aquilo que julgamos possível e, por isso, acaba por ser uma chamada de atenção. Faz reflectir sobre o que é de facto um pai e uma mãe.

Mais tarde, Luísa parece ter conseguido agarrar as rédeas da sua vida, mas o destino reserva-lhe mais um terrível obstáculo. Sim, caso ainda não tenham percebido, este é um livro sobre cancro. Ana Casaca inspirou-se numa experiência real para relatar como esta doença afecta o doente e todos aqueles que o rodeiam. E fez isto sem tentar ser poética ou sem tentar embelezar o caso. É um assunto que não tem espaço para isso. Desta forma, a autora fez com que a sua protagonista enfrentasse este problema de frente, com determinação e força. Tentou fazer-nos chegar o que pensa e sente alguém com estas características e que está a lutar contra esta doença maldita.

Paralelamente, vemos como a doença afecta os outros. Achei interessante que a autora apostasse também nas pessoas que rodeiam o doente de cancro. Ana Casaca expôs diferentes reacções, de forma a nos aproximar desta realidade. Existem os que sofrem em silêncio, os que não perdem a esperança, os que se afastam por não saber lidar com isso, os que se entregam a quem sofre, entre outros. A autora pretende mostrar, desta forma, que o cancro afecta muito mais pessoas para além daquelas que são diagnosticadas.

Gostei de Luísa. Gostei do facto de ela ser uma lutadora desde muito jovem. As circunstâncias da vida fizeram com que ela transmitisse sempre força, mesmo quando por dentro está fragilizada, com medo e dúvidas. Gostei da forma directa com que ela abordava os temas mais sensíveis e admirei a sua coragem ao longo de todo o livro. Também gostei de Pedro, o irmão de Luísa. A devoção e amor que sente pela irmã são bem perceptíveis. Ele é um rapaz que foi muito amado, mas que se sente incompleto devido a problemas com o passado. Admirei-o quando cumpriu as vontades da irmã, mesmo aquelas que o faziam sentir angustiado. Já Tiago foi uma personagem que não me cativou por completo. Gostei do facto de ele representar os empreendedores do país que tentam arranjar alternativas em tempos de crise, mas achei-o demasiado perfeito para o papel que foi representar. Isso fez com que nele não existissem surpresas.

A relação entre Luísa e Tiago não me cativou por completo. Isto porque tudo me parece ter desenvolvido demasiado depressa e de forma instantânea, especialmente dentro das circunstâncias em que aconteceu. Preferia ter visto uma maior desenvolvimento no início desta relação, mas tudo pareceu ter funcionado com um clique. Em contrapartida, a união entre os dois revelou-se enternecedora. Tiago tornou-se num agente de libertação para Luísa e levou-a a tornar-se numa mulher mais completa.

A narração é feita através do intercalar de capítulos dedicados a cada uma destas três personagens. Isto faz com que o leitor tenha uma visão mais geral da história. Contudo, não percebi a razão para os capítulos de Luísa e de Pedro estarem na primeira pessoa do singular e os de Tiago estarem na terceira pessoa do singular. Talvez a intenção fosse aproximar mais o leitor dos dois irmãos, mas a verdade é que não me pareceu coerente.

No final da leitura, não fiquei indiferente a tudo o que li, mas senti-me incomodada. Gostei da história, apesar de tratar de um tema sobre o qual não gosto de ler. Tal como já vos disse, incomoda-me. O último capítulo é, sem dúvida, muito forte e faz surgir um misto de sentimentos. Ana Casaca cumpriu bem o objectivo a que se propôs.

2 comentários:

Rosana Maia disse...

Olá :)

É sempre bom lermos opiniões como esta! E é ainda melhor ler uma opinião como esta de um livro português.
Vou apontar a sugestão :).

Boas viagens,
Rosana
http://bloguinhasparadise.blogspot.pt/

Cláudia disse...

Olá Rosana e obrigada pema mensagem. Aproveita para participar no passatempo que está a decorrer, nunca se sabe quando a sorte nos calha ;)

Beijinho e boas leituras*