quinta-feira, 3 de abril de 2014

Opinião: Tigana - A Voz da Vingança (Livro Dois)

Título Original: Tigana (1990)
Autor: Guy Gavriel Kay
Tradução: Ana Cristina Rodrigues (adaptação de Jorge Candeias)
ISBN: 9789896376260
Editora: Edições Saída de Emergência (2014)

Sinopse: 

O príncipe Alessan e os seus companheiros puseram em marcha um plano perigoso para unir a Península de Palma contra os reis despóticos Brandin de Ygrath e Alberico de Barbadior, numa tentativa de recuperar Tigana, a sua terra natal amaldiçoada.
Brandin é um rei maquiavélico e arrogante, mas encontrou em Dianora alguém à sua altura e está cativo da sua beleza e charme. Alberico está cada vez mais consumido pela ambição, cego a todas as ciladas em seu redor.
Entretanto, o nosso grupo de heróis viaja pela Península, em busca de alianças e trunfos decisivos que podem mudar a maré da batalha a seu favor. Alessan está mais moralmente dividido que nunca, Devin já não é o rapaz ingénuo que era, Catriana apenas deseja redenção e Baerd descobre uma nova magia na Península. Conseguirá Tigana vingar a memória dos seus mortos? Ninguém consegue prever o fim nem as perdas que irão sofrer. Sacrifícios serão feitos, segredos antigos serão revelados e, para uns vencerem, outros terão forçosamente de tombar.

Opinião:

Foi com um enorme prazer que voltei à Península de Palma e assisti ao desfecho de Tigana, de Guy Gavriel Kay. Por se tratar da segunda parte de um livro único, Tigana - A Vonz da Vingança retoma a acção exatamento no momento em que Tigana - A Lâmina na Alma terminou. Por já ter lido o primeiro livro há alguns meses, senti alguma dificuldade em iniciar esta leitura, já que foi necessário um exercício de memória para associar os nomes às personagens e para recordar alguns detalhes fulcrais. Quando foi tudo relembrado, a leitura seguiu um ritmo intenso, graças à capacidade do autor nos envolver nesta intriga.

Se no primeiro livro o autor dá a conhecer a maldição que se abateu sobre Tigana, a dor das personagens que viram a sua terra natal a ser esquecida e ainda revelou um território dividido entre dois tiranos tão diferentes, neste volume é altura de ver o plano dos heróis da narrativa a ser colocado em acção. E como qualquer plano, tem falhas e não está devidamente preparado para imprevistos. E é isso que traz adrenalina à leitura! Quando finalmente achamos que sabemos o que vai acontecer, surge algo inesperado que muda por completo o rumo dos acontecimentos. E existem algumas revelações realmente surpreendentes! É indiscutível que Guy Gavriel Kay sabe construir uma trama com mestria e que marca o leitor.

As suas personagens também apresentam evoluções muito interessantes e fundamentalmente humanas. Alessan, o príncipe sem reino, é a imagem de herói atormentado mas surpreende quando descobre que é possuidor de uma nova facetas. As suas acções correspondem a valores nobres e servem de exemplo. Baerd mantém a lealdade que lhe é característica desde o início, sendo que a novidade é a nova forma como lida com o passado que o tem prendido. Devin, o jovem que encontrou uma causa pela qual lutar ao lado de Alessan, continua a transparecer ingenuidade típica da idade e inexperiência, apesar das provações que se lhe atravessam no caminho, sendo por isso uma figura fresca e com inúmeras possibilidades. Catriana continuou a conquistar-me, apesar de ao início me ter deixado com dúvidas. Esta jovem mulher continua a achar que precisa de provar o seu valor de forma a afastar-se das escolhas feitas pelos pais, o que dá origem a momentos de grande coragem. Dianora, uma das figuras que tanto me agradou no primeiro livro, parece ter arrefecido neste, mas entende-se a razão para que tal tenha acontecido. A luta interior que trava é dura e percebe-se que mais do que uma mulher vingativa, é alguém com uma forte capacidade de amar.

Os vilões desta trama são fortes, o que faz com que justifiquem as atitudes dos heróis. Mais uma vez, realço a capacidade do autor dar a cada um destes tiranos uma personalidade distinta, quase como forma de avisar que a opressão pode vir de diferentes origens. Alberico de Barbadior acaba por representar a ambição desmedida, o querer poder apenas por querer, o que faz dele uma personagem facilmente detestável. Já Bradin de Ygrath é o vilão que consegue conquistar. Se por um lado tem atitudes que são condenáveis, por outro mostra-se alguém que luta por uma causa ligada a questões do coração, o que leva o leitor a sentir-se mais atraído a conhecer o seu lado, apesar de condenar as suas acções.

A conclusão está bem conseguida e é com algum pesar que se faz a despedida deste universo. Ao longo da leitura, as personagens tornaram-se reais, a trama chegou a parecer histórica, a magia foi usada de forma coerente, chegando a parecer natural. As lições transmitidas possuem forte valor e apesar de não estar expressa de uma forma directa, percebe-se a intenção de o autor querer transmitir uma mensagem actual. Guy Gavriel Kay faz reflectir sobre a importância da história, mostra que a redenção é sempre possível, que é ao lutar pelo que acreditamos que nos sentimos completos, que é possível magoar quem amamos quando procuramos alcançar um sonho e que o bem e o mal nem sempre são distintos.

Tigana é sem dúvida um livro rico e encantador. Uma leitura que dificilmente será esquecida e que recomendo a todos os fãs de fantasia.

Outras opiniões a livros de Guy Gavriel Kay:
Tigana - A Lâmina na Alma

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