quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Opinião: O Messias de Duna (Crónicas de Duna #2)

Título original: Dune Messiah (1965)
Autoria: Frank Herbert
Tradução: Ana Mendes Lopes
ISBN: 9789896373733
Editora: Edições Saída de Emergência (2011)

Sinopse:

Doze anos depois dos eventos descritos em Duna, Paul Atreides governa como Imperador do Universo, tendo dado início a uma Jihad galáctica ao aceitar o papel de Mahdi do povo Fremen. Paul é o mais poderoso Imperador de sempre, mas é incapaz de travar a sangrenta Jihad que já ceifou as vidas de milhões de pessoas e destruiu mundos. Com a sua visão presciente, Paul vê a Jihad a alastrar-se, mas não pode travá-la face às terríveis alternativas que se podem seguir. Motivado por este conhecimento, decide seguir um plano complexo e perigoso que pode evitar a extinção da Humanidade, uma visão que o atormenta dia e noite. O que Paul desconhece é que muitos velhos inimigos se reúnem à sombra do Império, preparando uma conspiração para derrubar a Casa Atreides do trono. Mais do que um mero assassinato, preparam-se para fragilizar o Kwisatz-Haderach... Conseguirá Paul estar à altura dos desafios do seu papel como Imperador e evitar os perigos que o rodeiam?

Opinião:
Depois da publicação de Duna, um clássico da ficção científica, a Saída de Emergência volta a apostar nas Crónicas de Duna.

Se Duna marcou pela novidade e pelas aventuras que levaram Paul ao trono, O Messias de Duna é um livro com um ritmo mais lento, devido ao seu caráter meditativo. Conforme as páginas passam, surge uma maior tensão causada não só pelo adensar da intriga mas também pelos conflitos internos das personagens. Sente-se que algo de muito importante está para acontecer, e este volume surge como uma preparação.

Mais uma vez este universo paralelo está repleto de questões de caráter social, político, religiosa e ambiental. A importância da água e da sua preservação continua a estar bastante presente, apesar de Paul já ter desenvolvido meios mais eficientes para a sua existência entre os meios mais civilizados de Arrakis.

Os avanços tecnológicos surgem como medidas que podem melhorar a qualidade de vida, mas o recurso à sua utilização nem sempre é bem aceite. É curioso ver como os Fremen, povo nativo de Arrakis, aceita a utilização de aparelhos tecnológicos para substituir certas partes do corpo que, pelos mais diferentes motivos tiveram que ser retiradas, ou, como em casos mais extremos, pode repor a vida a um corpo. Aqui surge a questão de se estar a dar a vida a uma nova existência e se tal deverá ser feito ou se será profanação do cadáver.

A componente religiosa surge com uma grande força, principalmente na sugestão do próprio papel de Paul e de sua irmã, Alia, figuras aparentemente superiores que são tidas pelas populações como divindades. Mas se esta posição pode, inicialmente, dar a ideia de poder absoluto, o desenrolar dos acontecimentos revela que tal não acontece. Os fiéis a Mahdi travam uma Jihad onde milhões de vidas são ceifadas e mundos são destruídos, o que não é aceite por Paul, mas que nada pode fazer contra isso, uma vez, apesar dos conflitos inerentes à perda desnecessária de vidas, reconhece, graças à sua Visão, que se tal parar são graves as consequências que daí advém.

A Visão de Paul constitui um factor que suscita bastante reflexão por parte de diferentes personagens. O Imperador analisa todas as situações, individualmente, sofre com as todas as consequências que observa e tem a difícil tarefa de ter de tomar uma decisão, apesar de nenhum destino surgir como perfeito, e de todos os caminhos possuírem características desagradáveis.

Neste volume é-nos fornecido um maior conhecimento acerca de uma personagem bastante interessante, que surge apenas no final do último livro, mas que mesmo assim teve um papel fundamental. Trata-se de Alia Atreides, uma mulher poderosa que possui em si todos os conhecimentos das Bene Gesserit anteriores a si, o que a tornam tão complexa e peculiar.

Uma das maiores dificuldades da leitura prende-se com a readaptação ao vocabulário específico da obra. Afinal, o primeiro volume já foi publicado há mais de um ano, e O Messias de Duna não possui qualquer glossário, o que pode gerar algumas dúvidas acerca de determinados conceitos, principalmente a quem não tem Duna por perto durante a leitura, já que este possui apêndices que são de grande ajuda.

O Messias de Duna parece surgir como um livro necessário de uma transição para Children of Dune. O leitor encontra uma fase de crescimento e evolução, e será surpreendido pela tomada de decisões que parecem improváveis, apesar de serem consideradas o melhor para o futuro de Arrakis. Um livro cativante que faz ansiar por continuação.

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