sexta-feira, 31 de maio de 2013

Opinião: Titus, O Herdeiro de Gormenghast

Título original: Titus Groan (1946)
Autor: Mervyn Peake 
Tradução: José Manuel Lopes 
ISBN: 9789728839888
Editora: Edições Saída de Emergência (2007)

Sinopse:

Titus, o Herdeiro de Gormenghast está entre as maiores obras da língua inglesa. É literatura fantástica e não se assemelha a nada que tenha sido escrito antes ou depois. Gormenghast é um castelo antiquíssimo, do tamanho de uma cidade e que, tanto quanto sabemos, pode ser a única construção em todo o mundo. Sem pontos de referência para a nossa realidade, o romance adquire uma atmosfera surreal e mágica. As personagens são todas elas bizarras: o taciturno e cadavérico Mr. Flay, o vulgar e obeso Swelter, o ligeiramente deformado mas brilhante Steerpike. E Titus, o herdeiro de Gormenghast. O castelo de Gormenghast é um mundo de pesadelo e nenhuma pessoa sã lá quereria viver... e no entanto, quão estranho, belo e divertido é esse mundo! Arrisque- se nesta leitura pois nunca mais a irá esquecer.

Opinião:


Mervyn Laurence Peake, escritor inglês, poeta e ilustrador, nunca chegou a conhecer o sucesso que os seus livros sobre Gormenghast tiveram, uma vez que só foram valorizados e apreciados após a sua morte. Em 2008, a revista Times incluiu o nome de Peake na lista d’Os 50 melhores escritores britânicos desde 1945.

Titus, O Herdeiro de Gormenghast é o primeiro livro de uma trilogia. A história passa-se em Gormenghast, um castelo muito antigo, do tamanho de uma cidade, que é a residência da família Groan e dos seus servos há séculos.

No início da narrativa acontecem duas coisas que alteram a vida em Gormenghast. Por um lado temos o nascimento de Titus, o herdeiro desejado de Lorde Sepulchrave (contudo, este livro apenas relata os primeiros dois anos de Titus, ficando este um pouco de parte). Por outro lado, observa-se à ambição de um jovem trabalhador das cozinhas, Steerpike, uma das personagens mais activas da narrativa, que entra, subtilmente, na sociedade de Gormenghast.

As personagens bizarras e marcantes são, na minha opinião, o ponto forte do livro:

  • Lorde Sepulchrave é o regente do castelo. Com setenta e seis anos, é um homem melancólico e introspectivo, que vive preso aos seus deveres, nunca ousando questioná-los, tendo na biblioteca a sua única evasão;
  • A sua esposa, a Condessa Gertrud é uma mulher obesa que prefere ficar fechada no seu quarto acompanhada pelos seus cem gatos e pelos pássaros, em vez de estar perto da sua família;
  • Fuchsia Groan é a filha mais velha dos condes, uma personagem fascinante, por vezes snob e egocêntrica, que se refugia no seu sótão inviolável e secreto, noutras é carinhosa e leal, revelando ser uma menina a quem não foi dada a afeição devida;
  • Dr. Prunesquallor, o médico do castelo, inteligente e com um sentido de humor duvidoso, sendo os seus diálogos marcados, constantemente, pelo riso, independentemente do assunto em questão;
  • As irmãs gémeas, Cora e Clarice, idiotas com personalidade idêntica, odeiam a condessa que acusam de ter roubado o poder que outrora tiveram, fazem tudo para terem atenção;
  • Steerpike, uma das personagens mais interessantes, é um jovem manipulador inteligente e bajulador, procura uma oportunidade de subir de hierarquia num mundo desigual, onde as pessoas vivem nas classes em que nasceram

O que menos me agradou foi o facto de haver pouca acção comparativamente à descrição. Entendo que a capacidade descritiva de Mervyn Peake é riquíssima, conseguindo levar o leitor a sentir o que é estar dentro de Gormenghast, mas causou momentos mais aborrecidos, tornando a leitura lenta. Contudo, é de frisar que o autor transporta o leitor para sensações curiosas, como é o caso da guerra de nervos entre Flay, servo de Lorde Groan e Swelter, chefe das cozinhas, ou como nos momentos de devaneios das personagens.

Fiquei com curiosidade relativamente à personalidade que Peake vai agraciar Titus, apesar de ser possível ficar com uma ligeira ideia no final deste primeiro volume, assim como quero saber como vai o herdeiro assumir o seu papel no grande mas isolado castelo.

Peake é um exímio contador de histórias, disso não há dúvida, e o seu mundo alienado marca profundamente, fazendo o leitor se rever em algumas personagens e, desse modo, questionar a própria sanidade mental. 

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