"E se pudesse entrevistar personagens?" Este pensamento não me largou e fez-me lançar o desafio a Carla Ribeiro, que aceitou com prontidão e simpatia e concedeu-me uma entrevista a Moranius Sinister.
Quem já teve a oportunidade de ler o livro "Senhores da Noite" sabe que Lorde Sinister é um imortal sedento de poder e capaz de tudo para atingir o objectivo de ser o último da sua condição no mundo. O blog "Uma Biblioteca em Construção" fez-lhe uma estranha proposta e, felizmente, o ex-carrasco do imperador não se mostrou relutante a responder às questões que lhe foram colocadas de um modo inédito. Termino este texto com um profundo agradecimento a Lorde Sinister pela sua disponibilidade para estes assuntos que lhe são alheios e pelo facto de, em nenhum momento, ter feito a entrevistadora sentir a vida ameaçada (Obrigada Carla!).
Boa tarde, Lorde Sinister. Fico muito agradecida por ter aceite este convite.
Saudações.
Não está nos meus hábitos este tipo de interacção com a tua espécie,
mas... Pareceste-me interessante, por isso decidi abrir uma excepção.
Fico grata pela gentileza. Pode falar um pouco sobre o que é ser imortal?
Imune
ao envelhecimento, imune à doença, imune a todos os ataques de qualquer
outro que não os da minha raça... É um mundo de vantagens... excepto se
considerarmos o pequeno detalhe de que temos em cada igual um inimigo.
Não foi sempre assim, mas no estado actual das coisas... É basicamente
viver para sempre sob a sombra da morte.
Como descobriu esta sua condição?
Para
os que são como eu, é uma condição natural. Nasci com a imortalidade
nas veias, tal como todos os meus ancestrais. Não foi algo que
precisasse de descobrir.
Recorda-se da sua primeira morte?
Vagamente.
A primeira foi, em muitos aspectos, igual à segunda, à terceira e às
seguintes. Foi uma execução e há um ponto em que todas se tornam iguais.
Mas, se isso me perturbasse, não teria sido durante tanto tempo o
carrasco do imperador.
Qual é a sensação de receber poder de um outro imortal?
É...
inebriante. Como se a magia que te passa pelo corpo se enredasse na tua
e, depois, se fundissem num todo maior. Não como uma mudança
estrondosa, mas como um toque suave capaz de despertar todas as células
de um corpo.
Que visão tem dos mortais?
Não
conheci muitos mortais que não estivessem abaixo de mim na hierarquia,
por isso não lhes dediquei muita atenção. Imagino que tenham as mesmas
complexidades que qualquer raça capaz de pensamento e escolha, mas a
verdade é que nunca os vi senão como uma força útil, se controlada.
Quais são os valores pelos quais se rege?
Num
tempo diferente, falar-te-ia em lealdade, devoção e coragem. Mas não se
pode dizer que me tenham servido bem, não é assim? Quando o objectivo é
a supremacia e a pena para o fracasso é a extinção, não podem existir
esses valores. Importa viver e conquistar, e é apenas isso que me move.
É de conhecimento geral que tem uma relação de intimidade com a imortal Deletress Aventra. O que os une?
Inimigos
comuns, o mesmo objectivo e o conhecimento de que, enquanto houver
outros imortais que defrontar, temos a vida facilitada se lutarmos do
mesmo lado. Deletress é poderosa... e eu também. Ambos sabemos que o
conflito, quando chegar, não vai ser fácil. Podemos deixá-lo para mais
tarde.
Quais considera serem as maiores diferenças entre Deletress e a irmã, Arcania?
Arcania
é fraca. Oh, não em poder. Se ela conseguiu chegar onde chegou, é
porque tem as capacidades necessárias. Mas perde-se na emoção. Não sabe
lidar com as perdas e não consegue aceitar que, nesta guerra, todos são
inimigos. Essa ingenuidade já a destruiu e voltará a fazê-lo... se eu
não o fizer antes.
De que modo pretende conseguir ser o último imortal e o Senhor da Noite?
Da
mesma forma que todos os meus adversários: pelo poder e conhecimento
que corre nas veias de cada imortal. E que pretendo tomar para mim.
Depois de ter alcançado esse estatuto, que pretende fazer?
Não é evidente? Tomar posse do mundo.
A imortalidade do corpo não é uma realidade que o assusta?
Suponho que possa ser assustador, se considerarmos a
imortalidade por si só. Mas não é só isso que define a minha raça. Não
somos apenas imunes à morte... Bem, a quase todos os tipos de morte.
Também somos fortes e eternamente saudáveis. Não adoecemos. Não
envelhecemos. Talvez a eternidade seja muito tempo para viver, mas,
quando se têm os meios para a aproveitar, não há inconvenientes.
O que mais o seduz na vida?
A
vida em si. Tudo - ou quase tudo - é possível enquanto existirmos. E
quando existimos durante muito tempo, as possibilidades tornam-se
infinitamente mais vastas.
Acredita numa realidade pós-morte?
Sou imortal. Nunca senti necessidade de pensar nisso.
Quais são as suas atividades preferidas?
Não tenho tempo para grandes actividades de lazer, nas
circunstâncias actuais. Algumas horas de sono e a companhia da Deletress
bastam-me como pausa para o ritmo incessante da guerra.
Tem alguma obra literária de eleição?
Tenho
vindo a descobrir algumas. Aquela humana que vos contou a minha
história fez-me chegar alguns dos preferidos dela e tem sido
interessante descobrir que coisas lê a vossa espécie. Mas, como disse,
não tenho muito tempo para essas coisas. A supremacia chama.
Que pensa de uma suposta sociedade governada por mortais?
Antes
da guerra dos imortais, havia humanos em posições de poder e as
relações nunca foram assim tão complicadas. Suponho que seria viável, se
não existissem forças superiores.
Existe alguma mensagem que queira deixar?
Estejam atentos. Basta um instante para que tudo mude nas vossas vidas.
Agradeço o seu tempo e disponibilidade, Lorde Sinister.
Nada que agradecer. Como disse, és uma humana... interessante.
Nota:
Opinião ao livro "Senhores da Noite" aqui.
Entrevista a Carla Ribeiro aqui.
3 comentários:
Oho, então isto é tipo "Os Imortais" eh? "There can be only one" e essas coisas todas. Adorei esse filme e a série era um guilty pleasure.
Lol, bela entrevista. ^_^
Que ideia tão gira! Boa sorte com as "entrevistas"!
Obrigada slayra e Carla*
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