quarta-feira, 30 de maio de 2012

Entrevista a Fábio Ventura

Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve, Fábio Ventura apostou na escrita e já tem dois livros publicados: "Orbias - As Guerreiras da Deusa" (2009), que foi para o mercado quando tinha 23 anos, e "Orbias - O Demónio Branco" (2010). Fã de cinema, séries de televisão, jogos de vídeo e de livros, a inspiração destas atividades é bem visível no seu processo criativo. Consciente da importância das capacidades tecnologias, Fábio fez um trabalho exemplar na divulgação do seu trabalho, quer seja através do blog oficial do mundo Orbias, quer através da página oficial que criou no Facebook.
Um sincero agradecimento ao Fábio pela simpatia e disponibilidade.

Uma Biblioteca em Construção (U. B. C. ) - Neste momento tens dois livros publicados que estão inseridos dentro de uma mesma saga. É a realização de um sonho?
Fábio Ventura (F.V.) - Confesso que não é propriamente a realização de um sonho. Sonho é uma palavra muito forte, pelo menos para mim. Não foi algo que tivesse desejado desde pequeno, mas também não acordei um dia e pensei “Ah, hoje vou ser escritor”. Foi algo ponderado e planeado durante algum tempo, mas ao mesmo tempo algo de que gosto muito que é criar histórias. Creio que o “sonho” está presente na possibilidade de continuar a criar histórias e personagens, seja em livro, filme, serie ou outro suporte.


U. B. C. - Quando começaste a escrever as primeiras linhas que vieram dar origem ao "Orbias", já tinhas em mente que o resultado final iria ser o teu primeiro livro?
F. V. - Não, nem pensar. Sabia que queria escrever um livro, mas não sabia que ia ser aquele o meu primeiro livro. Parti para a história de "Orbias" com algumas ideias gerais da história e das personagens, mas não sabia como ia correr, se ia conseguir terminar. Foi uma espécie de desafio que numa primeira fase até nem foi muito bem sucedido. Isto porque existe uma primeira versão do "Orbias", muito mais fraca, que decidi voltar a pegar 3 anos mais tarde para transformar tudo com vista a um aumento da sua qualidade.


U. B. C. - Lembras-te quando recebeste a notícia de que o "Orbias – As Guerreiras da Deusa" ia ser publicado? Que memórias tens desse momento?
F. V. - Lembro-me muito vagamente. Tinha enviado o livro para uma série de editoras e aguardava respostas de todas elas. Eu sempre tive os pés bem assentes na terra e sabia que a publicação era algo muito difícil. Acaba por funcionar também como forma de defesa relativamente ao lado negativo da vida. Por isso, quando recebi a notícia por mail por parte da Isabel Garcia, da Casa das Letras, tive uma espécie de paragem mental e, minutos mais tarde, desatei a mandar mensagens e a telefonar a pessoas a contar a novidade. Durante algumas semanas, ainda não conseguia assimilar o que me estava a acontecer.


U. B. C. -Como foi o período desde que soubeste que ias ser publicado até ao momento em que viste o "Orbias" nas prateleiras?
F. V. - Costumo fazer a analogia “Fábio no país das maravilhas”, não por ser tudo fabuloso, mas por ser tudo bizarro. Eu fui atirado para o mercado editorial e tive de aprender e assimilar muita coisa muito depressa. No meio de toda a ansiedade, tive várias reuniões com a editora, a escolha da capa, as revisões e o desenvolvimento de toda a divulgação. Quando o livro surgiu nas prateleiras, foi um alívio e uma felicidade, mas ao mesmo tempo significou o início de mais uma dose de trabalho de divulgação.


U. B. C. - Quais pensas serem as tuas principais características enquanto autor?
F. V. - A nível de escrita, só me apercebi das minhas principais características quando comecei a receber feedback dos leitores. Foi graças a eles que percebi que tenho uma grande facilidade nas descrições e a minha escrita é muito sensorial. Além disso, os toques de humor que adiciono às histórias também são bastante apreciados pelos leitores. Por outro lado, enquanto autor, penso que sou muito dinâmico na divulgação dos livros e aprecio bastante a aproximação com os leitores. É uma forma de retribuir o facto de gostarem das minhas histórias, penso eu.


U. B. C. -Quem são as tuas referências literárias?
F. V. - Eu sempre tive uma queda especial por autores que pensam “fora da caixa” e que, através da sua escrita e histórias, conseguem ir mais além e transportar o leitor para outros mundos ao mesmo tempo que o põem a pensar sobre os mais variados aspectos da vida. Actualmente, as minhas grandes referências são o Haruki Murakami, o Anfoso Cruz, o Scott Westerfeld e o George Orwell.

(2009)
U. B. C. -Quem lê o teu trabalho, vê que existem fortes referências à cultura pop. Quais são as tuas principais inspirações?
F. V. - Não tenho inspirações muito específicas, mas o cinema, as séries televisivas, os videojogos e a música têm diferentes contributos quando escrevo. O cinema a nível do poder das imagens e da criação de mundos; as séries a nível do desenvolvimento das personagens e suas relações; os videojogos na interactividade da história com o jogador/leitor; e a música pelas sensações que transmitem. Não posso deixar de referir 3 nomes importantes a nível de inspiração: Tim Burton, Hayo Miyzaki e Hironobu Sakaguchi.


U. B. C. -Achas que a internet ajudou na tua divulgação enquanto autor?
F. V. - A Internet foi (e é) fundamental em todo o processo de divulgação dos livros. Neste momento, é o meio de comunicação com mais utilizadores e grande parte deles pertencem à mesma faixa etária do meu público-alvo. É uma excelente forma de dar a conhecer o meu trabalho, mas também de contactar com os leitores, de ter acesso a algum feedback relativamente aos livros.

U. B. C. - Como lidas com as críticas ao teu trabalho?
F. V. - Confesso que no início não lidava muito bem. Não estava habituado, era o meu primeiro livro e houve algumas críticas muito duras. Ainda por cima, sou daquelas pessoas que pode ter 100 críticas boas, mas só vou ligar a 1, que foi má. Mais tarde comecei a perceber que algumas dessas críticas poderiam ajudar-me. Era a oportunidade perfeita para identificar as minhas falhas e tentar melhorar em futuros livros. Penso que nenhum autor é perfeito, todos somos potenciais em construção.

U. B. C. -Sei que estás a trabalhar numa livraria. Já aconselhaste os teus livros ou já viste alguém a comprar um por iniciativa própria?
F. V. - Nunca aconselhei nem nunca vendi os meus livros. As minhas colegas costumam tratar disso e muito bem. É uma estupidez, mas tenho alguma vergonha de aconselhar os meus próprios livros no local de trabalho, soa a “gabarolas”. No entanto, já aconteceu alguns leitores descobrirem que lá estou ou reconhecerem-me na livraria e aí voltam mais tarde para lhes autografar os livros, o que é fantástico.

U. B. C. -Anunciaste no blog "Orbias" que tens um projeto literário pendente. Achas que o panorama editorial português está a voltar a fechar-se ao autor nacional?
F. V. - O panorama editorial português é mais grave do que se pensa e as editoras neste momento estão demasiado ocupadas a camuflar todos os problemas causados pela crise. Tem sido um desastre a nível de despedimentos, falências, cortes nas publicações e divulgação. Os primeiros a sofrer são autores nacionais porque estatisticamente são os que menos vendem (salvo algumas excepções). Mas não só. Também os autores estrangeiros, tradutores, revisores e até editoras estão com dificuldades. Devido à crise, o leitor-consumidor mudou os seus hábitos e compra menos livros e apenas aqueles que já conhece e com os quais se sente seguro. Nesse contexto, vi o meu novo livro adiado por tempo indeterminado e é possível que nem seja publicado pela mesma editora.

U. B. C. -Continuas a escrever?
F. V. - Neste momento não estou a escrever um livro, mas tenho uma série de ideias anotadas para novos projectos. Tenho aproveitado este tempo para mudar algumas coisas no novo livro, mas também para me virar para novos horizontes, como é a escrita para cinema e/ou televisão.

U. B. C. -Tens participado em várias iniciativas relacionadas com o incentivo à leitura em escolas do Algarve. Como é a aceitação dos alunos às tuas intervenções?
(2010)
F. V. - O trabalho de divulgação em escolas do Algarve (e algumas do Alentejo) tem sido intenso e cansativo. São muitas escolas e muitas sessões em cada uma delas. No entanto, acaba por ser muito compensador contactar directamente com leitores e potenciais leitores, não só porque estou a divulgar o meu trabalho, mas também porque estou a promover a leitura junto de uma faixa etária que ainda lê muito pouco. Penso que no geral, os alunos têm gostado bastante das minhas sessões. Tento torná-las o mais descontraídas possível, quase como uma conversa, e acabo por explicar muitas coisas relacionadas com o mercado editorial. A prova do sucesso junto das escolas são, não só as vendas directas aos alunos, mas também o carinho com que me recebem e me contactam posteriormente.

U. B. C. - E o que é que os teus leitores e fãs podem contar da tua parte para o futuro?
F. V. - Apesar das dificuldades e obstáculos, podem acreditar que não vou ficar parado. Espero continuar a oferecer-vos histórias no futuro, seja em livro ou noutro suporte.

Sem comentários: