quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Opinião: Uma Coisa Absolutamente Incrível

Título Original: An Absolutely Remarkable Thing (2018)
Autor: Hank Green
Tradução: Rita Canas Mendes
ISBN: 9789898917454
Editora: TopSeller (2018)

Sinopse:

Um misterioso robot aparece em Nova Iorque...
... e em São Paulo...
... e em Buenos Aires...
O que se está a passar?

São 3 horas da manhã e April May tropeça numa escultura GIGANTE; uma espécie de robot com três metros de altura e aspeto de samurai. Perante a descoberta, April faz a primeira coisa de que se lembra: filma a bizarra estátua. O vídeo é publicado no YouTube e, da noite para o dia, April torna-se famosa por ter sido a primeira no mundo a registar a existência da estátua — aquela que viria a ser parte de um conjunto de mais de 60, espalhadas por várias cidades do mundo. Pouco habituada ao estrelato e às consequências da fama viral, April torna-se internacionalmente famosa e fica associada aos robots.

Um movimento emergente desperta. As pessoas querem saber: O que são estes robots e porque existem? Quem os terá criado? E mais importante ainda: serão perigosos? April começa a sua investigação e, reunindo um grupo improvável de pessoas, tenta perceber a origem destes robots e o seu sentido neste mundo. Hank Green explora de modo magistral a forma como lidamos com o medo e o desconhecido, e como as redes sociais transformaram aquilo que entendemos por fama.

No seu fantástico romance de estreia, Hank Green revela-nos a história de uma jovem que se torna acidentalmente famosa — para logo se encontrar no epicentro de um mistério muito maior do que poderia imaginar.

Opinião:

Ainda este livro não tinha chegado às livrarias e a expetativa já era elevada. Já se ouvia falar de Uma Coisa Absolutamente Incrível, mas sem se saber muito bem o que vinha aí. Como tal, quando tive este livro nas mãos, tive de o ler rapidamente, tal era a curiosidade de perceber o frenesim gerado à volta dele. Rapidamente percebi que John Green não é o único da família com talento para a escrita, sendo que Hank Green também se destaca e poderá vir a roubar o protagonistamo ao irmão.

April May, a protagonista desta aventura, é uma personagem curiosa. Confesso que não foi sempre a sua maior fã, mas gostei que o autor a tivesse criado com qualidades e defeitos, expondo-a em todas as suas vertentes e mostrando-a como humana. É fácil de acreditar que ela pode ser real, mas nem sempre é simples gostar dela. Não concordei com muitas das decisões tomadas, apesar de lhe elogiar a coragem em certos momentos. É, claramente, uma figura inteligente e que sabe tirar o mais proveito das situações. Tem um sentido de humor peculiar e que dá à leitura uma aura mais leve e fresca. Contudo, as relações que estabele com as outras personagens parecem sempre oportunistas e nem sempre aceitei bem os objetivos que tinha e a forma como procurava alcançá-los.

O desenvolvimento da narrativa não me pareceu ter sempre o mesmo ritmo. O início é muito curioso, avança depressa e agarra para a leitura, mas a certo ponto senti tudo a abrandar. Existem muitos mistérios a serem resolvidos e que envolvem estes robots que surgiram de um momento para o outro, sendo que alguns destes enigmas não nos prendem tanto a atenção como outros. Ao mesmo tempo, a vida da protagonista passa por uma mudança contínua, mas sempre tudo em volta ao que aos robots diz respeito. Nas últimas páginas, o ritmo começa a aumentar de forma crescente, o que nos leva para uma conclusão inesperada mas satisfatória.

A essência humana é exposta ao longo destas páginas. Perante a presença de figuras misteriosas um pouco por todo o mundo, assiste-se a uma variedade de reações. É interessante verificar que o desconhecido é, inicialmente, ignorado. Contudo, quando notado, causa sensações diferentes, desde a curiosidade obsessiva ao medo que leva ao ataque. Achei que os vários espectros destas reações foram bem explorados. Gostei da mensagem de união transmitida ao longo do livro, ficando a ideia de que uma massa de anónimos pode fazer a diferença no desenrolar de um acontecimento ou, até mesmo, na influência provocada em alguém. Parece que o autor se baseou na frase "a soma do todo é maior que as partes", de Aristóteles, mesmo que algumas personagens possam agir por conta própria na busca do reconhecimento pelas suas ações.

Ao ler este livro, é impossível não refletir sobre o poder dos novos meios de comunicação. A rapidez da informação disponibilizada pela internet provoca um grande impacto. As redes sociais vieram unir as pessoas de uma forma completamente nova, além de que concedem fama a figuras que se destacam pelos mais diversos motivos. Surge aqui o termo "influenciador" ainda não muito bem compreendido. Contudo, é também atrás de um ecrã que surge a ideia de que se pode dizer o que bem se entende sem que haja consequências: afinal, o objeto de ofensa não nos está a ver, nem sabe quem nós somos, não nos pode atacar diretamente. Tudo isto, e muito mais, surge nesta obra e leva-nos a uma análise sobre a atualidade.

Uma Coisa Absolutamente Incrível é um livro divertido, mas que parece ter como objetivo principal passar uma mensagem moral. Tem momentos de tensão, aliviados pelo humor peculiar de uma protagonista de que está bem construída, mesmo que a sua personalidade possa não agradar a todos. No final, damos por nós a imaginar o que teríamos feito naquela situação e a tentar perceber de que forma estamos dependentes ou somos influenciados pelas redes sociais e seus influenciadores. E será essa informação mais relevante do que a oficial? Que cuidados devemos ter na internet para nos desviarmos dos perigos e aproveitarmos aquilo que tem de melhor? Questões que ficam connosco após a leitura deste livro curioso e que merece ser tido em conta.


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