quarta-feira, 31 de maio de 2017

Opinião: Ilhas de Paixão

Título Original: Isle of Passion
Autor: Miriam Hotchkiss
Tradução: Ana Saragoça
ISBN: 9789896579418
Editora: Planeta (2017)

Sinopse:

 Em plena época vitoriana, Emily Newham, uma jovem inglesa, destemida, filha de um vigário de província, com uma paixão por cavalos e livros, consegue fugir à tirania familiar candidatando-se a um lugar de perceptora no estrangeiro.
Colocada nas remotas ilhas dos Açores, embarca para um futuro desconhecido e cheio de promessas. É nessas luxuriantes e misteriosas ilhas, junto de uma estranha e sensual família holandesa, que Emily despertará para a escaldante aventura de viver com todos os sentidos. Uma aventura inebriante, mas que terá um preço.
Como Emily descobrirá, também esse paraíso tem as suas serpentes, os seus venenos ocultos e segredos inconfessáveis - e o dedo acusador, não de Deus mas dopreconcento que, como ele, está por toda a parte...

Opinião:

Uma história de época, com passagem pelos Açores e com uma protagonista que quebra conveções e segue o seu próprio rumo. Ilhas de Paixão é um livro que surge numa aura de mistério, afinal a autora, que escreve sob pseudónimo, é completamente desconhecida, ficando apenas a certeza de que vive em Londres. Mas o mais estranho é perceber que este livro não tem mais nenhuma edição a não ser a portuguesa. Fica a dúvida sobre a origem desta obra e a vontade de a descobrir.

Miriam Hotchkiss conseguiu explorar bem o moralismo e sociedade da época. Apesar de existiram alguns estereótipos que nem sempre me agradaram, é fácil entrar no ambiente vitoriano e depois passar para a vida modesta, mas igualmente intrigante dos Açores. O choque entre o que as regras sociais da época ditavam e o espírito da protagonista fazem pensar sobre o longo percurso que as mulheres tiveram de fazer para adquirirem igualdade, ainda que fique latente que existem certos aspectos que precisam de ser alterados.

Emily é a protagonista desta obra. A ideia de rebeldia fica logo evidente, mas o seu lado mais doce e aventureiro também acabam por serem desvendados. Ficou a faltar empatia por esta figura, uma vez que lhe faltam falhas maiores. Tudo nela é demasiado perfeito, tanto na descrição como aos olhos da maioria das personagens secundárias.  Não consegui compreender o motivo para Emily ser tão atraente para tantas figuras e achei que a sua entrega era demasiado fácil. Sei que tal acontece devido à vontade de transmitir a ideia de libertação sexual, mas ainda assim gosto quando existe mais do que apenas isso.

O preconceito acaba por ser um dos pontos mais fortes desta leitura. Numa fase inicial, gostei da forma como um certo homem que tinha como garantido que ia submeter uma mulher acabou por ficar submisso das suas vontades, numa lição de que nem tudo o que aparenta o é. Foi com interesse que percebi, num outro ponto da narrativa, a forma como a protagonista sentiu a falsidade com que era tratada pelos outros e como isso a afectou, afinal isso é um ponto de viragem que está bem conseguido.

A história de Emily por si acaba por passar para segundo plano quando surge uma outra intriga que envolve o casal holandês para o qual trabalha. Fiquei curiosa com esse relato e gostava muito que tivessem existido mais desenvolvimentos entre as personagens envolventes. Contudo, achei que esta componente poderia ter sido melhor explorada, uma vez que a presença de Emily acabou por praticamente não afetar os planos gerais de uma outra personagem cujas acções eram bastante condenáveis. Ficou a faltar o merecido castigo.

Ilhas de Paixão abordou algumas temáticas que mantém um interesse atual. Teria gostado, no entanto, que a protagonista tivesse uma construção mais forte e que as relações tivessem mais fundamentos.  No geral, revelou-se uma leitura agradável que fez viajar por dois locais bastante distintos e ainda deixou a mensagem de que todas as nossas decisões têm as suas consequências e que é preciso saber lidar com isso para a seguir em frente e continuar a procurar a felicidade.

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