segunda-feira, 16 de maio de 2016

Opinião: A Mulher do Traidor

Título Original: The Traitor's Wife: The Woman behind  Benedict Arnold (2014)
Autor: Allison Pataki
Tradução: Miguel Martins
ISBN: 9789898839558
Editora: TopSeller (2016)

Sinopse:

No ano de 1778, em plena Guerra da Independência Americana, o general Benedict Arnold ocupa o cargo de governador militar de Filadélfia. Os ferimentos sofridos durante a guerra e que o incapacitaram para sempre, a par da complicada situação financeira em que se encontra, fazem de Arnold um homem desiludido com o seu país.
Peggy Shippen, uma jovem e atraente rapariga obcecada por dinheiro e poder, é presença assídua na alta sociedade. Perdidamente apaixonado, o general Arnold conquista-a e casa com ela. Cego pela beleza da sua jovem esposa, Arnold anseia conceder todos os luxos que ela lhe exige.
Apoiado pelo espião John André – oficial do Exército Britânico e antigo amante de Peggy –, o casal põe em marcha um plano maquiavélico para destronar o comandante George Washington e entregar o forte de West Point aos ingleses, obtendo assim a fama e fortuna que ambos ambicionam.

Opinião:

Quando se estuda História, é mais comum ver referências a homens do que a mulheres. Isso acontece devido ao sentido patriarcal que a sociedade sempre teve. Contudo, é importante não esquecer que muitas mulheres, apesar de nem sempre serem mencionadas, também tiveram um papel fundamental nos grandes acontecimentos que são analisados. Esta ideia está sempre presente no livro A Mulher do Traidor, de Allison Pataki.

Não conheço muito bem a História da descolonização da América, mas a sinopse deste livro deixou-me muito curiosa. A leitura começou de forma lenta, mas, quando me senti confortável com a época e personagens, não consegui parar de ler. A trama é narrada sob o ponto de vista de Clara Bell, a aia de Peggy Shippen, a mulher que, logo ao início, sabemos que vai estar na base de uma grande conspiração de traição.

Clara e Peggy não podiam ser duas personagens mais diferentes. A primeira, uma aia de modos simples, surge como uma jovem ingénua que tenta dar o seu melhor no trabalho de que foi incumbida. Não tem uma personalidade que nos surpreenda, mas a sua bondade e o facto de narrar tudo com sinceridade faz com que tenha desejado que encontrasse um final feliz. Já Peggy será uma figura que dificilmente esquecerei. Não posso deixar de ficar impressionada com a sua personalidade calculista, manipuladora e fútil. Tudo o que ela faz é a pensar no seu próprio proveito, já que é incapaz de sentir qualquer tipo de empatia com alguém. Ao início, observei Peggy com interesse e com vontade de perceber até onde poderia ir, mas já no final não podia sentir nada a não ser repulsa por ela. De enaltecer que se trata de uma figura muito bem construída.

Gostei muito da forma como a trama consegue passar de um ambiente familiar para a parte da traição que dá mote ao livro. Nada acontece sem explicação e a autora fundamenta bem tudo o que aconteceu ao dar-nos a conhecer os caprichos de Peggy. Com o desenrolar dos acontecimentos, vemos que a sua ambição aumenta de uma forma natural, não sendo por isso de estranhar o que faz para obter uma vida luxuosa. Contudo, fica também a ideia de que nada vai alguma vez satisfazer esta mulher. Ela é o motor de toda a narrativa e, apesar de eu não conseguir parar de ver com aversão as suas atitudes, também tenho de reconhecer a minha admiração por ela conseguir levar tantas pessoas, muitas delas bastante poderosas, a fazerem exatamente o que ela quer.

Allison Pataki pegou num acontecimento histórico e deu uma visão bastante humana de como tudo foi projetado, aliando a verdade à ficção. Afinal, a própria autora admite que, tal como surgem muitas figuras que realmente existiram, e às quais tentou dar uma personalidade tenta corresponder às dos registos existentes, também criou algumas personagens, nomeadamente empregados, para compor o enredo. O resultado é bastante equilibrado, apesar de, como não poderia deixar de ser numa obra deste género, ter ainda uma forte componente de romance.

A Mulher do Traidor é uma agradável surpresa. Allison Pataki escreve com mestria: cria personagens que nos afetam, é capaz de transmitir o outro lado de um acontecimento histórico e ainda apresenta um enredo forte e bem encadeado. Este livro fez-me ficar curiosa sobre a época que retrata e, desde que terminei a leitura, que tenho pesquisado alguns dos temas tratados e personalidades. Recomendo.

Sem comentários: