Autor: Colleen Houck
Título Original: Tiger's Voyage (2011)
Tradução: Salvador Guerra
ISBN: 9789720046383
Editora: Porto Editora (2014)
Sinopse:
A guerra com o malvado Lokesh parece estar a atravessar uma pausa momentânea, algo de que Kelsey Hayes necessita desesperadamente. No entanto, outras batalhas – as do coração – divisam-se no seu caminho: Ren, o belíssimo príncipe indiano por quem se apaixonou, não se recorda dela; e o irmão dele, Kishan, igualmente maravilhoso e sedutor, tenta conquistar-lhe o coração.
Na busca de mais um magnífico talismã que lhe permita romper a terrível maldição, Kelsey terá de enfrentar não apenas cinco dragões míticos como também os seus próprios sentimentos. No fim, qual será a sua escolha?
Opinião:
A minha leitura da Saga do Tigre não está a ser coerente. Depois de ter ficado bem impressionada com A Maldição do Tigre e satisfeita com O Resgate do Tigre, acabei por ficar desiludida com A Viagem do Tigre. A razão para tal ter acontecido está relacionada com o facto de os aspectos que menos apreciei nos volumes anteriores terem ganhado uma grande relevância e terem-se tornado nos temas principais da leitura enquanto os que mais gostei terem sido descurados e lançados para um plano de fundo.
Para começar, confesso que ao longo da leitura perdi a paciência para as personagens deste livro. Kelsey, a protagonista, é apresentada como demasiado perfeita. As descrições dela mostram que é bonita, inteligente, corajosa, altruísta e modesta. Contudo, ao longo da leitura, percebi que não lhe consigo ver essas características. Para mim, Kelsey é egocêntrica, pois está sempre a pensar nela, nos seus desejos, naquilo que a faz feliz e não consegue tomar decisões pois não quer rejeitar nenhuma das suas opções. Kelsey é tonta, envolve-se em situações onde tem que ser salva. Por alguma razão, toda a gente gosta de Kelsey e trata-a como se fosse uma princesa e eu não consigo perceber a razão disso (diziam sempre que ela era bonita, como se ser belo fosse razão para tanta devoção). Kelsey é irritante e eu detestei que a história fosse contada sob o seu ponto de vista, pois a cada página tinha de ler o quanto ela estava indecisa entre os dois irmãos, o que quebrava a emoção de situações prometedoras.
Nos dois volumes anteriores, tinha gostado dos irmãos tigres. Agora, tive dificuldade em os distinguir em muitas situações. A razão? Eles serem os dois completamente obcecados, devotos e apaixonados por Kelsey. Isto fez com que as suas reações, diálogos e características se tornassem demasiado semelhantes em muitos momentos. A certo ponto, percebi que aquilo que os distinguia era o aspecto físico, o passado e o que simbolizam para Kelsey. Ren é o risco, a paixão, o incerto enquanto Kishan é o porto seguro, o conforto e a estabilidade. Também eles se tornaram uma desilusão, muito por viverem para agradar Kelsey e por estarem constantemente a colocá-la num altar.
Tendo eu tantos problemas com as três personagens com maior relevância, foi com uma grande decepção que percebi que todo este livro é baseado no triângulo amoroso e nas indecisões de Kelsey. O facto de a narração ser feita no ponto de vista da protagonista faz com que a cada página sejam expostas as suas dúvidas quanto a qual dos dois irmãos ela deverá escolher. Não consegui perceber estas questões e elas só me levaram a gostar ainda menos de Kelsey. Não percebi a pressa dela em escolher, afinal, não seria melhor só se preocupar com isso após quebrar a maldição dos irmãos? É que colocar os dois rapazes em posição de confronto não é bom para um grupo que está numa suposta missão perigosa! Depois, já estava farta das passagens em que ela expõe o quanto gosta de cada um, em que recorda o que passou com cada um e em que diz o que não sabe que fazer, pois elas apareciam praticamente em todas as páginas do livro! Para além do mais, o foco nas relações entre Kelseu, Ren e Kishan faz com que os momentos de acção e as aventuras sejam apresentados como um plano de fundo.
Para além de não ter gostado nada da dinâmica entre as três personagens principais, uma vez que toda ela era baseado no quanto os irmãos gostam de Kelsey e no quanto Kelsey está indecisa, também fiquei desagrada com outras figuras. O grande vilão encontrou novos objetivos, e deixem que vos diga que estes são completamente ridículos. Mr. Kadam, que via como uma figura paternal, era o único elemento que focava-se na investigação e, por isso, quando aparecia, era para anunciar que descobriu o que todos deveriam fazer a seguir (o que nos deixa sem saber como ele lá chegou) ou para dar umas palmadinhas nas costas de Kelsey e dizer que ela é uma boa menina. Wes é uma personagem nova, tem um toque divertido, mas peca por bajular Kelsey sem ter qualquer motivo para tal.
O que acabou por salvar (se é que posso usar o verbo "salvar") este livro acabou por ser os aspectos que mais gostei nos volumes anteriores: o misticismo. Gostei do facto de a autora ter voltado a inserir outras componentes do foclore indiano, apesar de estas se terem adaptado à sua imaginação, e apreciei a inserção de características culturais e lendas da China, nomeadamente no que toca aos cinco dragões. E se a ideia dos dragões muito entusiasmou ao início, quando concretizada soube a pouco. Isto porque o facto de a autora focar a narrativa no triângulo amoroso acabou por fazer com que o contacto entre Kelsey e os irmãos tigres com estas figuras mitológicas fosse fugaz, pouco desenvolvido e demasiado rápido. Achei ainda que a autora não conseguiu concretizar bem a ideia de dar uma personalidade distinta a cada dragão, pois a rapidez com que eles são apresentados faz com que pareçam superficiais, básicos e não criaturas antigas e dotadas de magia e encantamento.
A Viagem do Tigre não foi um livro cuja leitura me tivesse entusiasmado e ficou muito aquém dos volumes anteriores. As personagens não apresentam evolução sendo que, pelo contrário, parecem estar a tornar-se básicas e supérfluas, o foco da narrativa é aborrecido e as grandes aventuras não transmitem emoção. Fico com a ideia de que a qualidade dos livros desta saga está a decair, o que me deixa na dúvida de se devo continuar ou não a apostar nela. Afinal, a parte mítica continua a atrair-me, mas tal não faz com que este livro deixe de ser uma desilusão.
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