quinta-feira, 12 de junho de 2014

Opinião: Amores Secretos

Título original: The Secret Keeper (2010)
Autor: Kate Morton
Tradutor: Alice Rocha
ISBN: 9789896722012
Editora: Suma de Letras (2014)

Sinopse: 

"Amores Secretos" é o mais recente romance da Laurel, actriz de sucesso, regressa à casa da família para celebrar o nonagésimo aniversário da mãe. Esse dia recorda-lhe um outro, há muito esquecido. Naquele fatídico aniversário do seu irmão, Laurel estava escondida na casa da árvore, a fantasiar com um amor adolescente e um futuro grandioso em Londres, quando assistiu a um crime terrível, que mudaria a sua vida para sempre. Foi com terror que Laurel viu a mãe cravar a faca do bolo de aniversário no peito de um desconhecido. O regresso ao local onde tudo aconteceu é a última oportunidade para Laurel descobrir o temível segredo daquele dia e encontrar as respostas que só o passado da sua mãe lhe pode dar. Pista após pista, Laurel irá desvendar a história secreta de três desconhecidos que a Segunda Guerra Mundial uniu em Londres e cujos destinos ficaram para sempre ligados.

Opinião:

Kate Morton é uma autora australiana cujos romances são muito aclamados. Em Amores Secretos, Kate entrelaçou conhecimentos históricos com a capacidade de criar um enredo complexo acerca ligações humanas e segredos. A acompanhar a mãe nos seus últimos dias de vida, Laurel recorda um acontecimento do passado, o qual nunca compreendeu e o qual a fez ver a mãe com outros olhos. Agora, Laurel tenta perceber o que motivou a mãe, dando início a uma investigação que a vai levar a perceber quem é realmente a mulher que tanto ama e que a criou.

As personagens de Kate Morton têm uma construção pensada, o que lhes concede profundidade e acabou por me cativar. É interessante verificar que, ao início, senti que estava a a conhecer pessoas comuns, mas com o decorrer das páginas senti que todos eles eram mais do que aquilo que aparentavam. Dorothy, Jimmy e Vivien são, sem qualquer dúvida, as três figuras mais interessantes e as que mais me impressionaram. Adorei as várias sensações e ideias que eles me transmitiram, dando a noção de que foram pessoas reais. Dorothy é a mulher que tenta realizar os seus desejos através do medo, Jimmy é um jovem com grandes valores e Vivien é uma figura enigmática que seduz o leitor. Porém, não fiquei automaticamente rendida a estas personagens. Foi necessário tempo e só perto do final percebi a verdadeira dimensão de cada um. Até lá, cheguei a questionar as intenções da autora, pois não percebia o caminho que ela pretendia seguir.

Contudo, é com curiosidade que constato que não consegui criar empatia com Laurel, o que acabou por fazer com que a leitura dos capítulos passados em 2011 fosse mais lenta e aborrecida. Gostei de Laurel enquanto jovem e criança, mas não a percebi enquanto adulta. Pareceu-me demasiado superficial, especialmente quando em comparação com as outras figuras. Apesar de poder ser sugerido que Lauren é a protagonista, fiquei com a sensação de que ela é a apenas a responsável pelo desvendar do mistério. Sendo assim, conforme ela vai avançando nas suas investigações, o leitor é convidado a visitar o passado e observar realmente o que aconteceu. Sendo assim, os capítulos que relatam os acontecimentos de 1941 acabam por ser mais intensos e interessantes dos que os de 2011.

Tal como já referi, os capítulos que relatam os acontecimentos de 1941 foram os meus preferidos. Isto porque dão uma outra visão sobre a Segunda Guerra Mundial, nomeadamente os bombardeamentos de Londres. Como tal, é possível sentir a aflição e medo permanente em que os londrinos vivem. Sente-se que a qualquer momento tudo o que eles conhecem pode desaparecer, o que acaba por levar as pessoas a viverem mais intensamente e também a revelarem as suas verdadeiras naturezas. Gostei do facto de a autora incluir os centros de ajuda e acompanhamento a pobres e órfãos, assim como o pormenor no cuidado na forma de tratamentos aos soldados. Nestes relatos, nota-se a sensibilidade da autora para a época e a sua capacidade de "entrar na pele" das figuras que preenchem este cenário de tensão.

Kate Morton é uma escritora com muito potencial, mas que com este livro não consegue agarrar logo o leitor. A escrita parece deambular por momentos de pouco interesse, que parecem não ter ligação uns com os outros ou por descrições desnecessárias. Só na segunda parte do livro o interesse aumenta, isto porque as situações narradas finalmente tornam-se intrigantes. A partir daí, entrasse numa leitura cujo ritmo aumenta gradualmente. As últimas páginas possuem diversas reviravoltas inesperadas e muito bem conseguidas, para além de revelações que acabam por marcar. Terminado o livro, dei por mim a pensar em toda a história num ponto de vista completamente diferente e fiquei bem impressionada.

Amores Secretos foi, para mim, um livro diferente. Pode não ter começado bem, mas o passar das páginas foi tornando a leitura mais aliciante, até chegar a um ponto de grandes revelações no qual foi impossível parar de ler. A autora fez pensar sobre o passado, sobre histórias familiares, sobre segredos, sobre as relações humanas e sobre o a possibilidade de aquilo que acreditamos ser verdade poder não o ser. Aconselho aos fãs de romances desafiantes e a todos os que gostam de uma boa intriga.

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