sábado, 19 de abril de 2014

Opinião: Lost Boys (Lost Boys #1)

Título original: The Lost Boys (2013)
Autor: Lilian Carmine
Adaptado da Tradução: Amanda Orlando
ISBN: 9789724622248
Editora: Casa das Letras (2014)

Sinopse:

Acabada de mudar de cidade, Joey Gray sente-se um pouco perdida, até que conhece um misterioso e atraente rapaz perto da sua nova casa. Mas Tristan Halloway não é o que aparenta ser à primeira vista. E há uma razão muito especial para ele andar a vaguear por entre as sepulturas do cemitério da cidade…
Mais do que uma história sobrenatural, Lost Boys fala sobre o amor absoluto, a música e a amizade. Conhece Joey Gray e os seus rapazes enquanto embarcam na maior aventura das suas vidas!

Opinião:

Gosto quando livros sobrenaturais e de fantasia me fazem desejar e acreditar que as ideias que apresentam poderiam ser reais. Tal não acontece com Lost Boys. Este é um livro que desde o início me desagradou e causou desconfiança, quer pela forma de abordagem dos temas, quer pelas personagens e pela linguagem utilizada. Aviso que a partir deste momento, a opinião poderá conter alguns spoilers, pois não encontrei melhor forma de vos explicar as razões do meu desagrado.

Joe Gray é a protagonista e toda a trama é narrada pela sua prespectiva. Jovem que vai viver para uma cidade nova, desde cedo tenta mostrar que tem todas as características de uma rapariga comum, no que parece ser uma clara tentativa de promover identificação com quem está a ler. Porém, esta identificação não acontece, uma vez que Joe parece uma personagem forçada e pouco coerente. Existem muitos pensamentos de Joe que acabam por não coincidir, o que faz pensar que ou ela é uma pessoa que muda rapidamente de opiniões ou que ela altera a sua forma de ser e estar para melhor se encaixar nas diferentes situações. Isso faz com que seja apresentada como inteligente, simpática, prestável, carismática, capaz de tocar vários instrumentos e ainda dar uma sova a rapazes mais fortes e mauzões. E apesar de ter tantas qualidades tem baixa autoestima. Uma miúda que é tão perfeita que chateia.

Como já era anunciado na sinopse e na capa do livro, esta é uma história de amor. Joe conhece o rapaz dos seus sonhos logo no início. Tristan é tudo o que ela sempre desejou. Um jovem fisicamente perfeito, com um sorriso de encantar e uma personalidade aborrecida que varia entre galã romântico e jovem revoltado. Sinceramente não consigo perceber o encanto que existe à volta deste miúdo. Ele ao início é tímido e acanhado e  tal percebesse, afinal tenta esconder que é um fantasma. Mais tarde, transforma-se no típico herói trágico repleto de valores que se sacrifica rapidamente pela amada. Ainda mais tarde, é um rapaz revoltado com a vida que comete erros pelo bem da amada. Pouco coerente e, apesar de tudo, bastante previsível. Para além do mais, existem vários erros relacionados com Tristan. Ele diz que morreu aos 17 anos, mas quando a lápide dele é apresentada aparecem as seguintes datas de nascimento e de morte: 1938-1950. Ora feitas as contas isso não dá 17, mas 12 anos. Então? Tristan tem 17 anos ou 12 anos? Este erro até pode ser uma distração da autora que fez mal as contas, mas será que a editora não reparou? Afinal este licro foi lido ou não antes de ser publicado? E não acaba aqui. Quando Joe mostra a Tristan um filme com efeitos especiais numa televisão o rapaz foge. Mas foge porquê? Quando ele nasceu já se comercializavam televisões por isso ele sabia o que aquilo era. Ele veio do início do século XX não da Idade Média! E também sabemos que não viveu debaixo de uma pedra pois morreu num acidente de automóvel. Já para não falar que muitas das atitudes dele nem sempre correspondem às que os jovens normais tinham nessa época, mas talvez a cavalheiros do século XIX. E quando ele diz que as raparigas da época dele eram mais acanhadas...eram eram... eram todas donzelas indefesas, querem ver! E isto são apenas alguns exemplos da pouca coerência de uma personagem!

Mas entretanto, Joe acaba por descobrir a verdade sobre Tristan. Numa noite no cemitério, ela fica a saber que ele é um fantasma (aposto que vocês não adivinhavam esta). Mas eis que acontece algo completamente estranho e mágico que o transforma num ser vivo. É revelado que tal acontece porque Joe lançou um feitiço poderoso de forma involuntária pois tem sangue de bruxa. Ora, se uma rapariga descobrisse que tem poderes desconhecidos o mais provável seria interrogar-se sobre a natureza deles, tentar perceber de onde vieram e quais os seus limites, certo? Pois Joe não. Ela praticamente nem liga a isso pois tem o seu Tristan ali em carne e osso e agora só quer ir para o colégio interno ao lado do rapaz que gosta, pois a mamã que aceitou ta situação muito bem está a tratar de tudo para os ajudar. Mas que raio? Existem aqui várias coisas erradas! Por um lado, a mãe de Joe parece-me demasiado permissiva, por outro a trama poderia ir por um caminho de autodescoberta mais interessante. Mas não. O que interessa é ver os dois pombinhos a irem para a escola juntos e a serem felizes.

Já colégio interno, parece que tudo aquilo que acontece é a realização dos desejos mais íntimos de uma adolescente recalcada e por isso é tão difícil acreditar. Ora então vejamos:
- Rapariga comum chega de novo mas causa logo boa impressão e mostra-se diferente de todos os outros graças à sua atitude forte - Feito;
- Rapariga comum impressiona líderes de claque jeitosas e torna-se melhor amiga da miúda mais gira, popular e rica que a idolatra - Feito;
- Rapariga comum fica a dormir num dormitório de rapazes e por acaso (mero acaso) no mesmo quarto que o seu amado - Feito;
- Rapariga comum torna-se na melhor amiga do grupo de rapazes mais giro, simpático e perfeito lá do sítio que a adoram e tudo e tudo e tudo- Feito;
- Rapariga comum é desejada por imensos rapazes giros apesar de não ter noção disso - Feito;
- Rapariga comum passa por transformação de visual e torna-se numa rapariga toda gira e sensual - Feito;
E a lista poderia continuar. Isto é tão aborrecido! Já para não falar que em em momento algum se fala sobre que aulas existem naquele colégio. A meio cheguei a interrogar-me se alguém ali andava sequer a estudar! Também só são apresentados uns dois professores, um de rompante, só para que surjam as partes em que Joe e Tristan se apresentam e o de música, que é uma atividade extracurricular. Em momento algum se fala em zeladores, senhores da limpeza, contínuos ou quem quer que seja que vigie todos aqueles adolescentes que fazem tudo o que bem entendem. Não consegui acreditar nem por um momento que aquela instituição de ensino realmente pudesse existir. Ainda para mais é descrita como um colégio de prestígio.

No colégio, os acontecimentos são narrados como a sucessão de estágios da relação de Joe com Tristan e os seus novos amigos. E o que é apresentado tem pouco interesse. Afinal, todos aqueles jovens têm entre 17 e 18 anos, mas na verdade parecem ter 12 anos (o que já coincide com a idade da lápide do Tristan, o que me deixa pensar se aquela inscrição não é verdadeira). Digo isto porque lido com jovens dessa faixa etária e o tipo de linguagem, preocupações e forma de estar deles em muito se assemelha a estas personagens. Já para não falar que as discussões e dramas que não fazem grande sentido e revelam a imaturidade de todos eles. Mas aquilo que mais me chocou foi a forma como o sexo é abordado. A certo ponto, uma figura interroga outra quanto à virgindade e a resposta é algo como: "não te preocupes que o meu ex já tratou disso", e ficam ambos muito satisfeitos. Mas a mensagem que a autora quer passar aos leitores é que antes de conheceres alguém que ames deves tratar da tua virgindade? É que sugere isso e não me caiu nada bem (ou talvez sou eu que sou mais conservadora que sempre pensei e peço desculpa por isso).

E existem muitos mais aspectos que não me agradaram. Para mim, não faz sentido que a Joe ter-se perdido durante tanto tempo no cemitério de uma cidade pequena, não faz sentido a mãe da Joe ter ido trabalhar para uma cidade pequena como advogada a receber um ordenado extremamente elevado e não faz sentido todas as personagens aceitarem tão bem a história de o Tristan ser um fantasma.  Para além disso, o estilo de escrita sugere inexperiência, o que me fez por várias vezes ter a sensação de estar a ler uma fanfic e não um livro original. Poderia dar muitos mais exemplos, mas vejo que o texto ja está longo. Mas  acreditem que eles existem.

Resumidamente,  Lost Boys não tem qualquer mensagem interessante, não causa qualquer reflexão, tão tem uma boa história, as personagens não convencem e tem uma escrita de principiante que parece não ter passado por um processo de revisão. Os conteúdos sobrenaturais são fracos e sugerem ter a mera função de adornar uma história de amor desinteressante. Não recomendo esta leitura e não fiquei com qualquer vontade de acompanhar a trilogia que este livro inicia.

Nota/Desabafo: Peço desculpa por ter escrito esta opinião num estilo muito diferente do que costumo usar e por ter apresentado vários spoilers, mas este livro deixou-me furiosa! E nem consigo acreditar como foi avaliado com tantos cincos no Goodreads!

8 comentários:

Mafi disse...

Concordo plenamente com a opinião, depois de tantos erros eu já só conseguia rir-me. Não sei como decidiram publicar isto com tanta coisa melhor por editar...

Cláudia disse...

Eu também tive que começar a levar a leitura pelo ridículo para conseguir continuar. Mas será que os editores realmente leram o livro ou será que apenas olharam para os número de downloads que o livro teve enquanto ebook?

andre disse...

já somos 3 a achar isso , tb achei estranho um livro ter ter sido avaliado com tantos cincos no GR , mas o livro nem uma merece , esta cheio de erros, a única coisa que gostei neste livro foi o relacionamento entre joey e as restantes personagens o resto nem comento

Cláudia disse...

Eu ai início até achei que a ideia dos Lost Boys tinha potencial, mas essa sensação depressa caiu por terra. Os rapazes pareciam que tinham todos as mesmas características psicológicas e as descrições constantes do que cada um vestia tornaram-se irritantes.

Jessinha Cruz disse...

Já tinha lido tantas resenhas negativas relativamente a este livro que foi sme qualquer problema que li este post com todos os spoilers que contêm e ainda bem que o fiz. Acontece que memsoa pós as várias resenhas negativas, ainda resistia em mim um pouco de curiosidade, mas graças a este post totalmente sincero e completo, essa minha vontade foi-se e é dinheirinho que eu poupo para outros livros que com certeza valerão mais a pena.
www.fofocas-literarias.blogspot.pt

p7 disse...

O meu instinto inicial quando ouvi falar do livro foi manter-me afastada... ainda bem que lhe dei ouvidos. xD

É que o livro parece uma desgraça completa... estou mistificada com as reacções extremas que o livro parece gerar. :S

Cláudia disse...

Jessie, eu percebo a permanência da curiosidade. Eu não sabia o que esperar deste livro, por isso mesmo antes de o começar a ler fui ao Goodreads para ver a pontuação geral que lhe tinha sido atribuída e fiquei surpreendida por ver uma pontuação de extremos: por um lado muitos cincos e por outros muitos uns e dois. Fiquei apreensiva mas mesmo assim decidi que o ia ler. Foi um verdadeiro desperdício de tempo. Só o terminei porque sou teimosa e fiz um esforço para que a leitura não se arrastasse para puder começar logo a ler outro. Enfim...

Cláudia disse...

Realmente as reacções extremas também de deixam espantada, P7. Aceito quem adorou o livro mas a verdade é que não consigo perceber como tal é possível. Tem tantos erros e falhas a tantos níveis...Mas segue o teu instinto. O meu falhou redondamente (é o que dá olhar só para a capa).