quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Opinião: Inferno no Vaticano

Autor: Flávio Capuleto
ISBN: 9789897020926
Editora: Guerra & Paz (2014)

Sinopse:

«Inferno no Vaticano» junta os melhores ingredientes num romance que ecoa muitas das tensões que têm atravessado o Vaticano nos últimos anos. O protagonista é o inspector Luís Borges, um português que priva com o Papa, e a acção centra-se na Basílica de S. Pedro, no Vaticano. Tudo começa com a morte macabra e misteriosa de Francesco Barocci, curador do Tesouro. Um assassinato cujos contornos apontam para uma conspiração maior que tem o Papa por alvo e que deixa padres e bispos em pânico.
Uma história de traições e segredos, entrecortada com o encanto sedutor e sensual da escaldante Valeria Del Bosque, simbologista que ajuda o inspector português a desvendar os segredos e maquinações de uma sociedade secreta que está a semear as igrejas de cadáveres. Em «Inferno no Vaticano», o leitor vai deparar-se com uma batalha cruel, florentina, com mais ouro e sexo do que incenso e mirra.

Opinião:

Flávio Capuleto inspirou-se nos mistérios da sede da Igreja Católica para cria "Inferno no Vaticano". Com uma linguagem acessível, capítulos curtos e uma ação rápida, consegue captar o leitor.

Luís Borges é apresentado como o protagonista desta obra, mas acaba por dividir o foco de atenção com outras personagens. O autor optou por dar a conhecer o ponto de vista de diversas figuras, o que dá uma maior visão sobre os acontecimentos, já que o leitor passa a conhecer o lado dos que investigam os crimes e o lado dos autores destes delitos. Esta foi uma boa opção, mas existem momentos que me levaram a questionar a razão de Luís ser a figura central desta obra.

Gostei da exploração das ideias de conservadorismo e espiritualismo dentro do seio da Igreja católica. É um assunto que não me é totalmente desconhecido, mas é sempre bom assistir a uma outra visão sobre as muitas interpretações que podem ser feitas de textos bíblicos e até mesmo de dogmas. Também o tema referente à riqueza desta religião não é novo, apesar de parecer ser apresentado como tal.

A inspiração do autor vai, sem dúvida, ao encontro da situação social e económica atual, o que causa proximidade com o leitor. Contudo, existem certos momentos que podem causar dúvidas, especialmente no foco da situação europeia. No final, existe uma reviravolta que apenas foi ao encontro do que pensei desde o início da leitura, o que não me causou surpresa mas sim alguma estranheza por não ter sido algo abordado mais cedo.

É possível verificar que o autor pensou na construção das suas personagens, mas existem diversos momentos em que estas parecem forçadas. Refiro-me nomeadamente aos diálogos, que não parecem naturais, muito pela forma de tratamento, e que, ao início, parecem servir como forma de fornecer informações que funcionariam melhor dentro do espaço narrativo e descritivo.

Também as relações entre personagens nem sempre foram convincentes, nomeadamente a de Luís Borges com Valeria Del Bosque. A ideia de incluir erotismo numa trama com teor religioso é atraente e as descrições do autor neste campo estão bem conseguidas sem ser necessário recorrer a uma abordagem direta. Contudo, não consegui acreditar na química deste casal, muito por causa dos diálogos e na rapidez com que tudo aconteceu.

O tema pode ser controverso, mas a abordagem de Flávio Capuleto é acessível e perceptível. Este é um livro que carecia de maior desenvolvimento e de certas melhorias, mas que apela a reflexão sobre as diversas formas de encarar a religião, o que só por si é interessante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabei hoje o livro e partilho da mesma opinião.
É um livro cujo conteúdo tem imenso potencial, no entanto, as caracterizações deixam muito a desejar, bem como as relações entre as personagens Luís Borges e Valéria Del Bosque. Existem bastantes partes que parecem ser, tal como escreves no blogue, "forçadas".
Tenho pena, pois poderia ser um excelente livro, se tivesse sido escrito de uma forma mais pormenorizada.