terça-feira, 12 de março de 2013

Opinião: As Esganadas

Autor: Jô Soares
ISBN:
9789722350020
Editora:
Editorial Presença (2013)

Sinopse:
Rio de Janeiro, 1938. Um perigoso assassino anda à solta nas ruas. O alvo: mulheres jovens, bonitas e...gordas. A arma: irresistíveis doces portugueses. Para investigar os crimes, o famigerado chefe de polícia Filinto Müller designa uma trupe hilariante: um delegado sempre rabugento, assessorado por um auxiliar obtuso e medroso, e que contará com a ajuda de um ex-inspetor lusitano muito bem relacionado. Os três serão também acompanhados por uma repórter e fotógrafa corajosa e dinâmica, interessada em cobrir o caso para a imprensa. Com a verve que lhe é característica, Jô Soares consegue neste romance realizar a façanha de narrar uma série de crimes brutais e deixar o leitor com um sorriso satisfeito nos lábios.


Opinião:

Sei que Jô Soares é um homem de muitos ofícios, mas apenas conhecia o seu trabalho como apresentador de televisão e humorista. Com As Esganadas finalmente tive acesso à versão escritor.

Ler As Esganadas é ler um policial divertido repleto de caricaturas. O mistério não existe, afinal, o autor inicia esta obra com a apresentação do vilão e dos seus motivos. Caronte é uma personagem digna de um filme de terror, afinal, tanto a personalidade como o aspeto físico fazem-nos recordar outras figuras que encontram no assassinato a única forma de sentir controlo na sua vida.

Depois de ficarmos a conhecer o lado do assassino, é a vez de descobrirmos a equipa destinada a desvendar o estranho caso das mortes de mulheres bonitas e avantajadas. Mello Noronha é o temperamental delegado responsável pelo caso, Valdir Calixto é o assessor ingénuo e Tobias Esteves, um culto ex-inspetor português. É impossível não rir com este grupo. São personagens dotadas de personalidades muito diferentes e que interagem de modos bastante divertidos. Adorei os momentos em que Noronha e Calixto fingiam perceber as divagações de Esteves e algumas confusões criadas pelas diferenças existentes entre o português de Portugal e o do Brasil.

O facto de uma das personagens mais relevantes da história ser um português e de os assassinatos serem realizados através da gastronomia nacional (sim, ele matava-as com comida), faz com que existam inúmeras referências a Portugal. O autor expõe figuras nacionais, tais como Fernando Pessoa, Vasco Santana e Manoel de Oliveira e ainda alguns pratos tradicionais. Contudo, confesso que não conheci nem metade dos pratos apresentados como tradicionais nem algumas das palavras tidas como comuns por cá. Por esse motivo e ainda outros, nota-se que o autor fez um trabalho de pesquisa, mas que esta foi pouco aprofundada.

Por a trama decorrer durante o ano de 1938,o leitor fique a conhecer algumas características do Rio de Janeiro dessa época. Gostei particularmente dos momentos em que um jornalista radiofónico anuncia notícias que terminavam, sempre, com publicidades a produtos característicos da década. Foi ainda interessante ver estes assassinatos e as buscas pelo assassino decorrerem ao mesmo tempo que muito eventos reais e que aqui ficaram retratados, tais como a terceira participação brasileira no Mundial de Futebol, os primeiros anos do Estado Novo em Portugal e a emergência da Segunda Guerra Mundial.

O estilo da escrita pode gerar alguma estranheza, afinal, é realizado em português do Brasil. Porém, as expressões características são explicadas através de notas, o que faz com que todos os conteúdos sejam compreendidos.

Terminada a leitura, senti que este não é uma obra repleto de mistério e com um final surpreendente, mas sim um livro de puro entretenimento. Não existe aquela tensão de cortar a respiração dos grandes policiais gerados pela procura do assassino, mas sim muito humor encontrado nos diálogos e em pequenos detalhes. Este factor pode desagradar os fãs de histórias mais complexas. As Esganadas é um livro leve que vai fazer as delícias de quem procura passar alguns momentos divertidos.


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