quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Opinião: Sangue Quente

Título original: Warm Bodies (2010)
Autor: Isaac Marion
Tradutor: Susana Silva
ISBN: 9789896660659
Editora: Contraponto (2012)

Sinopse:
R. é um jovem em plena crise existencial. É um zombie. Numa América devastada pela guerra, pelo colapso da civilização e pela fome incontrolável de hordas de mortos-vivos, R. anseia por algo mais do que devorar sangue quente. Só consegue pronunciar alguns monossílabos guturais, mas a sua vida interior é rica e complexa, cheia de espanto pelo mundo que o rodeia e desejo de o compreender - bem como a si próprio. R. não tem memórias, não tem identidade e não tem pulsação - mas tem sonhos. 
Depois de um ataque, R devora o cérebro - e, com ele, as memórias - de um rapaz adolescente, e toma uma decisão inesperada: não devorar a jovem Julie, a namorada da sua vítima, e até protegê-la dos outros zombies. Começa então uma relação tensa mas estranhamente terna entre ambos. Julie traz cor e vivacidade à paisagem triste e cinzenta da semi-vida de R. e a sua decisão de proteger Julie pode até trazer de volta à vida um mundo marcado pela morte.
 Opinião:

“Estou morto, mas não é assim tão mau. Aprendi a viver com isso. Lamento não poder apresentar-me como deve ser, mas já não tenho nome. Quase nenhum de nós tem.”

Isaac Marion apresenta Sangue Quente um romance que revela uma sociedade condenada por uma misteriosa praga, ou algo semelhante, que aniquilou a civilização, o que levou a que os poucos seres humanos existentes se dividissem em duas fações: Vivos e Mortos.

R é a personagem principal da trama e toda a narrativa é contada na sua perspetiva. R é um Morto ou um zombie, o que torna tudo muito mais interessante. R não se lembra da vida anterior àquela condição. Tem apenas alguns vislumbres de quem poderia ter sido e apoia-se na sua indumentária para dar fundamento a algumas teorias.  


Em Sangue Quente, o leitor segue a existência de um ser que nunca perdeu a esperança de se encontrar, apesar de tal não parecer fácil e até mesmo possível. R é ingénuo, corajoso e cativante, apesar de tal não parecer possível para descrever um zombie. A relação que estabelece com os outros Mortos é bastante interessante, na medida em que tenta alcançar alguma consciência naquela parte. A partir do momento que encontra Julie, assiste-se a uma evolução gradual da sua personalidade e dos seus intuitos. Julie é uma heroína com uma história trágica, mas dona de uma grande força de vontade, vitalidade e capacidade de arriscar, o que agradará os leitores.

As constantes reflexões e questionamentos da personagem principal podem ser o grande atrativo da obra, mas também podem aborrecer alguns leitores que procuram mais do que uma viagem interior onde algumas ideias são constantemente repetitivas.

A facilidade com que algumas situações são resolvidas é um dos principais pontos fracos, assim como a nula justificação para grandes acontecimentos, tais como o início do fim da civilização tal como a conhecemos, apesar de não ser intensão do autor dar qualquer explicação para esse facto. A exploração dos sentimentos das personagens por não ser do agrado dos fãs de zombies mais tradicionais, mas, em contrapartida, pode ser uma característica que vai agradar a todos os que gostam de ler aventuras de amores jovens e ingénuos.

A linguagem utilizada é bastante acessível e as ilustrações retiradas do famoso livro Anatomia de Gray dão um toque especial à obra em cada início de capítulo.

Sangue Quente é um livro indicado para quem aprecia romances improváveis inseridos dentro de tramas que nos fazem construir imagens quase cinematográficas, repletas de reflexões sobre a condição humana.a mim, não me marco particularmente, tendo sido apenas um meio para passar momentos desontraídos.


Nota: A adaptação cinematográfica de Sangue Quente deverá chegar aos cinemas portugueses em fevereiro de 2013. O filme conta com Nicholas Hoult e Teresa Palmer nos principais papéis.

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