Título Original: Kokuhaku (2008)
Autor: Kanae Minato
Tradução: Carmo Vasconcelos Romão
ISBN: 9789896651060
Editora: Suma de Letras (2016)
Sinopse:
Os seus alunos assassinaram a sua filha. Esta é a sua vingança. Os seus alunos assassinaram a sua filha. Ela não quer justiça, só vingança. Depois de um noivado que acaba em tragédia, tudo o que resta na vida a Yuko Moriguchi é a sua filha, de quatro anos, Manami. Quando esta é encontrada afogada na piscina da escola Yukodecide aposentar-se. Mas antes deve dar uma última lição. Um mês depois do sucedido, a Professora Moriguchi, no seu discurso de despedida, acusa dois estudantes de matar a sua filha e anuncia a sua vingança pessoal, atroz e imediata, mas concebida de modo a que as devastadoras consequências ocorram lentamente para que os jovens tenham tempo de se arrepender e passem o resto dos seus dias suportando o peso da culpa. "Confissões" é um romance narrado a várias vozes, magistralmente construído onde o suspense é mantido até o fim, quando as diferentes peças encaixam. Mas também é uma reflexão sobre o sistema educativo, os laços familiares, o comportamento humano, o amor e a vingança.
Opinião:
Este é um daqueles livros que são difíceis de largar. Confissões de Kanae Minato, apresenta diferentes visões de um assassinato. Fui surpreendida pela forma como toda a trama foi construída, pois apesar de serem sempre apresentanda a mesma sucessão de acontecimentos, tudo foi ficando mais complexo à medida que os diferentes pontos de vista nos eram apresentados. E se esta poderia parecer uma estratégia que podia aborrecer, a verdade é que se torna entusiasmante e fez-me ficar agarrada ao livro.
Quando comecei a ler, estranhei um pouco o discurso. Afinal, o primeiro capítulo apresenta o ponto de vista da professora, mostra Moriguchi a falar diretamente connosco, como se fossemos um dos seus alunos. Porém, depressa comecei a sentir uma crescente curiosidade quanto ao seu discurso. A revelação do assassinato a uma criança é feita logo no início e choca. Ficamos desde logo a saber como tudo aconteceu e, a partir daí, parece que há muito pouco a acrescentar. Felizmente, tal não é verdade.
Os capítulos seguintes revelam outras perspetivas sobre o mesmo acontecimento e relatam momentos que antecederam e sucederam o crime. Desta forma, ficamos a conhecer outras figuras, que direta ou indiretamente estão ligadas ao assassinato, e percebemos que as motivações para um crime podem não ser tão evidentes quanto pensamos. Fiquei impressionada e até repugnada com algumas linhas de raciocínio e não consegui parar de pensar que julgar todas as crianças inocentes é um erro. A linha que separa o bem da maldade é muito fina e os dois conceitos podem, facilmente, confundir-se consoante os interesses pessoais.
Ao longo da leitura, dei por mim a refletir no quão diferente da nossa é da sociedade japonesa. A estrutura familiar, o ensino, a justiça a relação com o trabalho, por exemplo, revelam bem que os valores predominantes daquela sociedade são distintos dos nossos. Durante a narrativa vão surgindo conceitos muito próprios que mereciam uma maior esclarecimento, como em nota de rodapé. Através do enquadramento da situação é possível entender o que cada um quer dizer, mas gostaria de não ficar com essa ideia apenas por dedução.
Nota-se também que a autora inspirou-se no poder de sugestão fornecido pelos meios de comunicação social. É que a notícia de um evento leva, muitas vezes, a um efeito de repetição, mesmo que tal posso ir contra valores instituídos e prejudicar outros. Afinal, o ato é realizado tendo em vista fins egoístas, o que só demonstra que a individualidade e a falta de compaixão e empatia está cada vez mais presente na sociedade.
Negro e perturbador, Confissões é um livro que é devorado e que dificilmente será esquecido. A forma como a professora orquestra a sua vingança vai além daquilo que imaginámos e faz-nos ler a última frase da trama em choque, apesar de tal conclusão já se adivinhar. Se gostam de thrillers psicológicos, então não vão querer perder esta leitura.
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