quarta-feira, 12 de março de 2014

Opinião: Half Bad - Entre o Bem e o Mal (Half Life #1)

Título Original: Half Bad (2014)
Autor: Sally Green
Tradução: Catarina Gândara
ISBN: 9789722352192
Editora: Editorial Presença (2014)

Sinopse:

Na Inglaterra dos nossos dias, bruxos e humanos vivem aparentemente integrados. Na realidade, os bruxos têm a sua própria sociedade secreta, as suas regras e a sua guerra, que divide os Bruxos Brancos, considerados «bons», e os Bruxos Negros, odiados e perseguidos pelos Brancos. O herói, Nathan, é filho de uma Bruxa Branca e de um Bruxo Negro e, portanto, considerado perigoso. Nathan é constantemente vigiado pelo Conselho dos Bruxos Brancos desde que nasceu e aos 16 anos é encarcerado e treinado para matar. Mas Nathan sabe que tem de fugir antes de completar 17 anos e a sua determinação é inabalável. Este é o romance de estreia de Sally Green e o primeiro volume de uma nova trilogia do género fantástico.

Opinião:

Original, intrigante e cativante. Half Bad - Entre o Bem e o Mal mostra desde o início que é um livro de fantasia muito diferente. Narrada nos dias de hoje, a trama apresenta uma sociedade secreta e antiga ligada à bruxaria onde as dicotomias entre bem e mal estão bastante acentuadas.

Nathan é o protagonista desta história. De forma a percebermos melhor quem este rapaz é e o seu papel, Sally Green, a autora, decidiu apresentá-lo em várias fases de crescimento. Assim, é com curiosidade que vemos a transformação de um menino ingénuo e aparentemente pouco inteligente para um rapaz revoltado, carente e leal aos seus ideais. O acompanhamento deste processo faz o leitor compreender as motivações e pensamentos deste rapaz, fazendo aparecer a empatia que, apesar de não ser imediata, aparece gradualmente.

É possível constatar que Sally Green se inspirou em factos muito reais para construir esta sociedade dotada de magia. Afinal, aqui a fantasia não é usada como forma de acrescentar esplendor e encantamento, mas sim como analogia à realidade. Por isso mesmo, a magia em si não apresenta grande relevo nesta história, sendo colocada em segundo plano quando comparada com as noções de bem e mal que existe nesta sociedade.

Fiquei muito impressionada pela forma como a autora leva à reflexão sobre a dicotomia expressa no título. Inicialmente, é transmitida a ideia de que existe uma divisão clara: os Bruxos Brancos representam o bem enquanto os Negros estão ligados ao mal. Uma noção básica. Contudo, com o decorrer da leitura, percebe-se que esta distinção não é assim tão clara. Afinal, aqueles que se acham senhores do bem e da razão acabam por sentir que são livres de abusar do poder que conseguiram ao longo do tempo e quando são apresentadas figuras consideradas Negras é possível verificar que não são os monstros que foram apresentados.

Com facilidade, é possível transpor as reflexões despoletadas pela autora através de uma narrativa fantástica para a realidade. Sally Green tenta mostrar que o ser humano tem necessidade de separar os "bons" dos "maus", mas que estes conceitos são relativos. Ninguém executa uma acção a pensar que está a praticar o mal, pois existe uma razão que é considerada válida para a fazer. Isto no livro como na nossa vida.

Ao apresentar Nathan como um código misto, isto é, um rapaz que tem como mãe uma Bruxa Branca e pai um Bruxo Negro, a autora remete ainda para a discriminação e o racismo. É curioso ver a forma como os outros lidam com este rapaz, sendo que os Bruxos Brancos não conseguem negar e temem o seu lado Negro enquanto os Negros sentem o mesmo pelo seu lado Branco. Assim sendo Nathan acaba por sentir que não pertence a lado algum, começando então a idealizar uma salvação que o levará, finalmente, a sentir-se aceite, compreendido e amado. A autora mostra assim que ninguém escolhe as suas origens e que o verdadeiro carácter de alguém é muito mais do que isso.

Fiquei muito agradada com a forma como Sally Green contou esta história. Apesar de ao início sentir uma ligeira confusão por o narrados se referir directamente ao leitor, depressa de habituei a isso e percebi que era pretendido enaltecer o sofrimento do protagonista. Adorei o facto de todas as vivências apresentadas acabarem sempre por ter dois lados, o que permite ao leitor ter uma ideia mais completa do passado, assim como permite uma descoberta gradual do que realmente aconteceu. Também fiquei muito agradada com as personagens secundárias, sendo que mesmo aquelas que apenas têm uma ligeira aparição acabam por marcar a sua posição.

O final, contudo, acabou por se revelar demasiado brusco. Existe uma reviravolta mas, de um momento para o outro, a história termina. Confesso que não percebi logo que o primeiro volume da trilogia "Half Life" tinha terminado, tanto que virei a página à procura de mais e fiquei surpreendida por perceber que tinha chegado ao fim. Apesar de perceber que o segundo livro trará a continuação, penso que a autora poderia ter apresentado um outro desfecho, onde houvesse uma conclusão assim como a ideia de que haverá seguimento.

Half Bad - Entre o Bem e o Mal agarrou-me desde o início e proporcionou-me uma leitura rápida, interessada e que facilmente se transpõe para a realidade apesar do cariz fantasioso. Um livro que recomendo aos fãs de literatura fantástica e cuja continuação anseio. Gostei bastante.

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