segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Opinião: A Passagem (Volumes I e II)

Título original: The Passage (2010)
Autor: Justin Cronin
Tradutor: Miguel Romeira
ISBN: 9789722346061 e 9789722346184
Editora: Editorial Presença (2011)

Sinopse:

Publicada em dois volumes, incluídos na coleção "Via Láctea", A Passagem é uma grandiosa epopeia pós-apocalíptica, uma representação de um tenebroso fim da civilização atual. Tudo começa com uma experiência científica a que o exército dos Estados Unidos submete aqueles homens e quela menina, infectando-os com um vírus que, espera-se, fará deles um exército invencível. Contudo, a experiência resulta numa catástrofe cujos efeitos têm consequências inimagináveis. Os homens submetidos àquela experiência tornam-se detentores de extraordinários poderes, incluindo capacidade de manipular a mente humana, mas são também sedentos de sangue - como vampiros fabricados pela ciência - e contagiam cada vez mais pessoas, propagando assim a mutação.

Opinião:

A Passagem é um livro que arrebata os fãs de tramas pós-apocalípticas. Tendo como base a evolução científica e a necessidade humana de criar armas cada vez mais perfeitas, Justin Cronin desenvolveu uma história que joga com o medo das consequências das ações presentes.

A aventura deste primeiro livro que foi dividido em dois volumes em Portugal abrange um período de quase cem anos, sendo que as primeiras páginas decorrem no tempo actual. É por isso natural que seja dado a conhecer um grande número de personagens. Ao início, o processo de reconhecimento de cada uma destas figuras não gera grandes complicações. Contudo, com o desenrolar da trama entra-se num ponto em que existem muitas personagens, sendo que apenas as mais relevantes se distinguem de forma imediata. O facto de os nomes de famílias serem usados como referência a diversas figuras ajuda nesta percepção, mas são as personalidades e histórias que acabam por auxiliar na tarefa de diferenciação.

A figura central desta aventura é Amy Bellafonte. Curiosamente esta é também a figura mais misteriosa, uma vez que tudo o que se sabe acerca desta menina é dado a conhecer através do ponto de vista das outras personagens. Inicialmente, Amy aparenta ser uma criança comum, nascida num meio degradado, mas as circunstâncias vão levá-la a tornar-se algo mais. Afinal, vai ser vítima de uma experiência científica. Ao longo da leitura, existe sempre a sensação de que esta é uma personagem fraca, ingénua, tímida, distante e nem sempre consciente da realidade. Contudo, com o passar das páginas, fica a ideia de que Amy é um ser superior à humanidade e dotado de grandes capacidades.

Justin Cronin inspira-se na ideia do vampiro para criar o mal desta trama. A experiência científica apresenta nos doze homens resultados diferentes daqueles que foram registados em Amy. Eles tornam-se predadores cruéis que antes de roubarem a vida das suas vítimas manipulam as suas mentes e retiram-lhes as identidades. Assim, criam exércitos que partilham apenas uma mente e ideal. É então possível perceber que os resultados estão condicionados pela essência do sujeito em teste. Assim, a inocente Amy e os doze condenados apresentam evoluções distintas.

Inicia-se então uma jornada pela salvação da raça humana, que dura mais do que uma geração. O leitor assiste à queda da civilização tal como a conhece e vê os humanos sobreviventes a entrarem numa fase de resistência e medo. Bens essenciais passam a ser racionalizados, a energia eléctrica ganha uma nova importância, as relações sociais são fortemente afectadas e verdades passam a ser lendas.

O ritmo da leitura inicia-se de forma rápida e agarra o leitor imediatamente. A cada momento parece que algo de surpreendente está para acontecer e esta ideia não é defraudada. Contudo, existe um momento em que se dá um salto de 90 anos. Assiste-se a um abrandamento do ritmo, já que está a ser apresentada uma realidade. Esta fase parece ter apenas uma ligação indirecta com a primeira, mas mais tarde percebe-se que não é bem assim. Nesse momento, existem alterações rápidas que nos impelem para novas aventuras onde a coragem é levada ao limite e onde as personagens se tornam mais íntimas do leitor. Torna-se difícil parar de ler.

É verdade que muitas situações fazem recordar outras, vistas em outros livros, filmes ou séries. Porém, Justin Cronin acaba sempre por provar que na sua obra tudo acontece de forma diferente. Os acontecimentos são, na maioria dos casos, imprevisíveis e o encadeamento de cada fase está bem conseguido.

A Passagem é o início de uma saga que merece ser tida em atenção. Recomendo.

3 comentários:

Ivonne Zuzarte disse...

Só há poucos dias é que soube que o primeiro livro estava dividido em dois volumes :O

Que porcaria, só tenho um e não sei quando vou comprar o outro... Nem sei se vou fazê-lo. O primeiro livro fica-nos então por mais ou menos 40€ (já que cada livro é acima dos 18€)... enfim...

Cláudia disse...

Por isso mesmo eu comprei os dois volumes na Feira do Livro, durante a Hora H. Não é nada fácil dar esse valor por um livro. Agora o próximo já não tem divisões, mas fica um bocadinho mais puxado.

Ivonne Zuzarte disse...

Se comprar, compro na feira do livro. Não fazia ideia na altura :( que cena.