quarta-feira, 18 de abril de 2018

Opinião: A Última Travessia

Título Original: Fatal Crossing (2015)
Autor: Lone Theils
Tradução: José Remelhe
ISBN: 9789896655464
Editora: Suma de Letras (2018)

Sinopse:

O barco chegou ao destino, duas passageiras... não. Duas jovens dinamarquesas desaparecem, sem deixar rasto, a bordo de um barco com destino a Inglaterra, em 1985. Vários anos depois, a jornalista Nora Sand, que trabalha em Londres para a revista dinamarquesa Globalt, compra uma mala velha numa loja de antiguidades, numa cidade do litoral. Quando a jornalista abre a mala, encontra uma série de fotografias, e uma delas, onde aparecem duas jovens a bordo de um barco, chama-lhe a atenção. Nora lembra-se imediatamente do famoso caso das duas raparigas desaparecidas em 1985, que nunca fora encerrado. Nora Sand não pode deixar de pensar no caso e viaja até à Dinamarca para descobrir o que aconteceu às duas jovens. Rapidamente depara com a história de um assassino em série que está a cumprir pena de prisão perpétua e que parece ter a chave do caso. Mas, para Nora, qual será o preço a pagar?

Opinião:

Um mistério por resolver, um desaparecimento que incomoda e uma jornalista que tropeça no que pode ser uma nova pista. A Última Travessia é um thriller que prende a atenção desde o primeiro momento. Tal acontece devido à trama, que desenvolve a bom ritmo e vai fornecendo novas informações com o passar das páginas, pela protagonista empática e pela vontade de descobrir o que aconteceu a Lisbeth e Lulu, duas jovens que desapareceram sem deixar rasto durante uma viagem de ferryboat.

Nora Sand é a jornalista que, de um momento para o outro, se vê seduzida por este caso antigo que nunca foi resolvido. A nova pista que ela encontra deixa perceber que se trata de uma profissional atenta aos detalhes, meticulosa e capaz de tudo para conseguir as informações que precisa. A par disso, é também possível conhecer o seu lado mais humano, nomeadamente através da relação com os pais e com Andreas, um amigo de outros tempos que se transforma numa paixão pouco conveniente. E de realçar ainda o sentido de humor peculiar desta personagem.

Ao acompanhar a protagonista somos levados por uma aventura cuja intensidade cresce de página para página. Ao início sentimos que estamos a caminhar com cautela, pegando em alguns pedaços de informação novos que vão surgindo, mas a certo ponto percebemos que estamos a pisar terreno perigoso e que poderá colocar até mesmo a vida de Nora em risco. De salientar o momento em que a protagonista se encontra na prisão com um assassino em série e o de que seguida lhe acontece. É possível sentir a tensão a aumentar, o que provoca uma leitura mais rápida.

O desenrolar da acção está bem construído. No início sentimos a ser apresentados à protagonista e ao seu mundo, mas isto é feito de uma forma que capta o nosso interesse. Vê-la a trabalhar mostra-nos como é capaz de conjugar a profissão com as suas emoções e vida pessoal, algo com o qual nem sempre é fácil lidar. É interessante vê-la a envolver-se cada vez mais neste mistério, até ao ponto de tal já a consumir. Nessa fase, também nós nos sentimos absorvidos pela investigação, seduzidos pela busca da verdade e até mesmo pela exploração do lado mais negro da humanidade.

Se existem alguns dados fáceis de prever, outros não são assim tão óbvios. Confesso que não esperava o desfecho que a autora, Lone Theils, deu a esta aventura. Fiquei surpreendida e aplaudo a originalidade, apesar de haver um ou outro ponto que podem ter custado um pouco mais a aceitar. Ainda assim, fica a prova de que este é um thriller original, algo importante numa altura em que existe tanta escolha dentro do género.

Com este livro, Lone Theils apresenta-nos uma protagonista que poderá trazer ainda grandes surpresas no futuro, ao mesmo tempo que descobrimos uma história com consegue cativar com facilidade. A Última Travessia faz-nos recordar um lado mais negro do mundo, muitas vezes ocultado por ilusões ou pela nossa incapacidade de o aceitar. Não é fácil esquecer o passado, especialmente quando contém situações traumáticas, mas existe esperança para ir para além do mal que aconteceu e prevalecer. Quero acreditar que esta é uma das mensagens desta obra que nos mostra um lado menos agradável do ser humano.


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