terça-feira, 26 de setembro de 2017

Opinião: A Luz da Noite

Título Original: The Last Days of Night (2016)
Organização: Graham Moore
Tradução: José Remelhe
ISBN: 9789896652876
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

Nova Iorque, 1888. Lâmpadas a gás piscam ainda nas ruas da cidade, mas o milagre da luz elétrica está a nascer. Um jovem advogado sem experiência, Paul Cravath, aceita um caso que parece impossível de ganhar. O cliente de Paul, George Westinghouse, foi processado por Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica, que defenderá a sua patente com unhas e dentes. Mas, então, quem inventou a lâmpada e detém o direito de iluminar a América? Este caso abre o caminho a Paul para o mundo inebriante da alta sociedade - as brilhantes festas no Gramercy Park Mansions e as relações mais insidiosas feitas à porta fechada. Ao mesmo tempo, coloca-o também no caminho de Nicola Tesla, o excêntrico e brilhante inventor, e de Agnes Huntington, uma cantora de ópera e uma artista impecável tanto dentro como fora de cena. Edison é um astuto e perigoso inimigo com vastos recursos à sua disposição - espiões privados, meios de comunicação do seu lado e o apoio financeiro de J.P. Morgan. Mas este desconhecido advogado partilha com o seu famoso adversário uma compulsão por vencer, custe o que custar.
A história fala desta luta, mas Graham Moore, o famoso guionista o oscarizado "O Jogo da Imitação", conta-a com tal pormenor que parece que também nós estamos ali, entre fórmulas matemáticas e cabos, nas grandes festas de Nova Iorque, assistindo em exclusivo a um espetáculo onde brilha a luz e a inteligência.

Opinião:

Comecei esta leitura com um miste de curiosidade e cepticismo. As boas críticas ao autor e o facto de ter escrito o argumento do filme "O Jogo da Imitação" faziam acreditar que iria encontrar uma trama envolvente, mas o facto de o tema principal poder conter demasiados conceitos e exposições científicas difíceis de compreender deixaram-me algo reticente. Apesar das dúvidas, agarrei este livro e percebi, logo nas primeiras páginas que o ia devorar com vontade. Foi isso mesmo que aconteceu.

A Luz da Noite recebe-nos na cidade de Nova Iorque de finais do século XIX e faz-nos testemunhar uma época de grandes mudanças. É impressionante ver como algo tão comum para nós como a eletricidade começou a dar os primeiros passos para a utilização rotineira. O autor consegue transmitir muito bem este ambiente de dúvida, receio e descrença pelo que é novo e aparentemente perigoso, ao mesmo tempo que nos mostra o entusiasmo da evolução. Mas estas são apenas as sensações gerais, pois no centro deste avanço único está uma verdadeira guerra entre figuras que ficaram para a história e outras ainda que, apesar de relevantes, não são hoje tão conhecidas.

Paul Cravath, um jovem e ambicioso advogado, aceita representar George Westinghouse num caso que o opõe a Thomas Edison. Este é um combante entre dois empresários de peso que desejam controlar o  mercado da eletricidade e levar esta energia a todo o país. É curioso assistir a este embate quando desde sempre fomos ensinados que um destes homens foi o inventor da lâmpada. É que o autor desafia-nos a pensar sobre o que é realmente uma invenção, como algo pode ser considerado criação de um homem quando existiram tantos outros antes que fizeram progressos significativos para se chegar a tal resultado. Existe a questão de até onde podem ir as adaptações e ainda a reflexão sobre os limites estabelecidos para a segurança em detrimento dos lucros e do orgulho pessoal.

O embate entre as figuras históricas tão nossas conhecidas é impressionante. Quando Nikolas Tesla surge, a narrativa ganha um brilho ainda maior. A certo ponto, percebemos que cada um destes homens procura o mesmo apesar de ter objetivos diferentes para esse fim. É impossível não admirar o facto de Edison ter criado uma verdadeira fábrica de ideias, ao mesmo tempo que não nos parece muito ético o facto de ele ficar com o crédito do trabalho de outro. O olho para o negócio de Westinghouse é pertinente, mas a forma não conseguimos concordar com todos os seus métodos. Admiramos o lado visionário e criativo de Tesla, mas não gostaríamos que ele também se dedicasse às aplicações práticas das suas invenções e descobertas. Juntos poderiam formar uma parceria incrível, mas encontram-se em lados opostos e proporcionam ao leitor uma história que não perde o interesse em qualquer momento.

Gostei que o autor tivesse preferido fazer a narração do ponto de vista do Paul Cravath. Assim, as figuras de maior peso não o abafam e deixam-no impressionar através do seu raciocínio. Os seus esquemas são interessantes e ajudam-nos a compreender melhor tudo o que está a acontecer. Afinal, o facto de ele não perceber bem as inovações faz com que seja utilizada uma linguagem acessível quando se fala de termos mais técnicos. E esses momentos são relevantes para a trama e bastante instrutivos.

O desenrolar dos acontecimentos não permite aborrecimentos. Os diálogos estão bem construídos, a intriga agarra, os momentos de acção são fortes e ainda há espaço para romance. A leitura avançou com rapidez, tal era a minha vontade de perceber de que o forma Paul iria conseguir ultrapassar todos obstáculos que foi encontrando. Quero confessar ainda que o meu interesse pela história levou-me a pesquisar a época e as principais figuras desta narrativa, tal era a vontade de saber mais sobre o que realmente tinha acontecido.

Este é um livro eletrizante que nos faz sentir entusiasmo constante, tal como se tivessemos naquela época a assistir a todas as inovações e descobertas. Nota-se perfeitamente que Graham Moore procedeu a uma pesquisa detalhada sobre esta época, figuras e acontecimentos, o que dá maior credibilidade à trama, apesar de se tratar de uma obra de ficção com inspiração em acontecimentos históricos. No final, percebi que as minhas dúvidas iniciais não tinham fundamento e senti-me muito satisfeita por me ter lançado nesta leitura. Ficou também a vontade de continuar a acompanhar o trabalho deste autor.

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