quinta-feira, 25 de julho de 2013

Opinião: Os Antiquários

Título Original: Los Antiquários (2013)
Autor: Pablo De Santis
Tradução: Helena Pitta
ISBN: 9789722048835
Editora: Pubicações Dom Quixote (2013)

Sinopse:

Os antiquários vivem escondidos, sempre rodeados por objetos do passado, em velhas livrarias ou lojas de antiguidades. Não suportam as mudanças nem o presente, são colecionadores. Têm a capacidade de evocar nos outros o rosto ou os gestos de pessoas que morreram. Aprenderam a controlar a sede primordial. Mas quando se sentem atacados, o antigo apetite regressa…
A partir de um incidente, Santiago Lebrón ficará contaminado, transformado em mais um antiquário. E enquanto descobre os segredos dessa antiga tradição, conhecerá o amor estranho, poderoso e perturbador provocado pela sede de sangue. Terá também de descobrir as estratégias de sobrevivência num mundo hostil. Entre elas, a obrigação de acabar com a vida daqueles que cedem à sede, para que a tradição possa continuar na sombra.
Reinventando o mito dos vampiros de forma inteligente, e afastando-se das abordagens corriqueiras da literatura do género dos últimos anos, Pablo de Santis volta a deslumbrar-nos com um notável romance onde seres melancólicos, que habitam espaços repletos de nostalgia, e sobretudo de livros, vivem reclusos.

Opinião:

Pablo De Santis apresenta uma visão diferente, mas apoiada em conceitos tradicionais, do mito vampírico com Os Antiquários. A trama decorre durante a primeira metade do século XX, na Argentina.

Santiago Lebrón é o protagonista da trama. Jovem igual a tantos outros, que procura o seu lugar no mundo, começa por ajudar um tio a concertar máquinas de escrever. A morte repentina de um jornalista leva-o a ser convidado a assumir aquele lugar, o que lhe abrirá portas para uma realidade inesperada.

Responsável por uma coluna dedicada ao oculto, Santiago vai perceber que muitas das histórias em que não acreditava são, afinal, verdadeiras. O jovem começa a embrenhar-se nesta realidade, o que o levará a conhecer novas pessoas e, sobretudo, a ter uma maior consciência de quem realmente é.

Nesta narrativa, raramente o autor apresenta os vampiros com este nome. Eles são os antiquários. Os antiquários surgem com base numa infecção transmissível. A transformação leva-os a possuírem uma série de características peculiares:

"Escondem-se da luz. Formam à sua volta um círculo de coisas velhas. São colecionadores por natureza. Fogem da mudança".

Para além disso, sentem ainda a chamada “sede primordial”, que corresponde à alimentação com base no sangue humano. Contudo, estes seres conseguiram desenvolver uma forma de se manterem vivos sem ameaçar a vida humana. Isso levou-os a refugiarem-se cada vez e a parecerem mais eremitas do que os tradicionais vampiros que saem à noite para se alimentarem. Este é um conceito novo e muito cativante.

O protagonista está bem construído e o leitor consegue justificar as suas obsessões. As personagens secundárias possuem profundidade e parecem reais. Destaco Luísa, a mulher amada, e Calisser, o mentor.

Com o decorrer da leitura, torna-se visível que é possível dividir a narrativa em três fases: Santiago jovem e sem consciência do que o rodeia; Santiago quando contacta com o oculto; Santiago quando se transforma. O protagonista evolui ao longo de cada fase, sendo inevitável a comparação com as três fases da vida: juventude, maturidade e velhice.

O estilo de escrita de Pablo De Santis cativa pela sua aparente simplicidade, embelezada por metáforas fluídas. Contudo, a primeira parte poderá parecer demasiado extensa, já que o lado mais místico da obra não é logo revelado.

O final é adequado, mas fica a sensação que ficou muito por explicar e descobrir. O leitor vai desejar ter conhecido melhor os antiquários, a sua origem, evolução, o que os levou a procurar viver de forma pacífica em vez de preferirem a dominação típica de predador-presa. Fica também a vontade de ter conhecido melhor os outros antiquários que foram surgindo ao longo da trama e que conseguiram seduzir através das suas obsessões pelo coleccionismo. Este impulso de guardar tudo acaba por fazer reflectir sobre a necessidade de estes seres terem alguma ordem e poder nas suas existências, uma vez que a vida humana e a liberdade lhes foi retirada.

Os Antiquários revela-se uma leitura agradável e uma lufada de ar fresco para mitologia vampírica.

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