quinta-feira, 18 de julho de 2013

Opinião: A Família Radley

Título original: The Radleys (2010)
Autor: Matt Haig
Tradutor: José Luís Luna
ISBN:  9789722522779
Editora: Bertrand Editora (2011)

Sinopse:

A Família Radley é uma família como tantas outras: mais ou menos disfuncional, mais ou menos satisfeita. Até aqui, tudo bem. Só que os pais, Peter e Helen, têm escondido de Clara e Rowan, os filhos, um segredo arrasador, mas que explica muitas coisas…
Um livro divertido, envolvente e emocionante que nos oferece o retrato de uma família invulgar. A Família Radley faz-nos pensar em que será que nos tornamos quando crescemos e o que será que ganhamos (e perdemos) quando negamos os nossos apetites.
E tu, consegues controlar os teus instintos?

Opinião:
A família Radley aparenta ser comum. Habitantes da aldeia de Bishopthorpe, estão bem integrados naquela comunidade: o pai, Peter, é um prestigiado médico, a mãe, Helen, uma dona de casa empenhada e os filhos, Rowan e Clara frequentam a escola local. Como todas as famílias, têm os seus pontos altos e os seus problemas, mas enquanto os seus vizinhos guardam segredos comuns, os Radley escondem uma natureza que nunca pode ser revelada, nem mesmo aos seus filhos, de forma a garantir a segurança geral. Peter e Helen são um casal de vampiros que teve… filhos vampiros.

De forma a levarem uma vida normal e abstinente de sangue, escolheram aquela pitoresca aldeia para viver e educar Rowan e Clara. Os dois jovens vivem os problemas comuns da adolescência: Rowan quer ser aceite pelos seus pares, defrontar os rufias que lhe fazem a vida negra e conquistar a bela Eve, apesar de nunca conseguir dizer-lhe mais do que meia dúzia de palavras; Clara quer marcar a diferença, salvar o mundo mas sem nunca sair da sua zona de conforto. Como todos os jovens, sentem-se diferentes dos outros, mas o que eles não sabem é que realmente o são.

Peter e Helen são um casal conformado com a sua situação e com uma relação desgastada. Um casal que renegou os seus desejos para proteger os que amam. Helen é uma mulher que precisa de seguir um plano para se sentir segura, enquanto Peter sente-se infeliz com aquela relação e com o seu trabalho na clínica. Fizeram sempre de tudo para colmatar a falta de sangue nos sistemas dos seus filhos, com dietas à base de carnes frescas que, apesar de tudo, os deixam meio atordoados e com um aspecto adoentado.

Quando Clara é atacada numa festa, segue os instintos que nunca pensou ter e solta a sua verdadeira natureza. Os pais, em pânico, sabem que não podem mais esconder quem são e, num acto de desespero, pedem ajuda à última pessoa que deviam contactar.

A Família Radley é um delicioso drama doméstico. O leitor acompanha os quatro elementos da família e ainda alguns dos vizinhos mais relevantes para a trama, de forma a conhecer todos os seus passos e conflitos. Desta forma, o autor apresenta uma visão completa de uma estrutura familiar, que, apesar de ser composta por vampiros, não deixa de ser tão semelhante a tantas outras. É importante ter em conta que aqui, os vampiros são seres mortais com capacidades de reprodução, cuja única diferença é a alimentação e os poderes que surgem através de uma dieta à base de sangue.

A leitura é fluída, rápida, inteligente e consegue agarrar o leitor desde o início, com elementos fantásticos, uma boa carga de acção, horror e pitadas de romance e humor. Os diálogos estão bem conseguidos e adaptam-se à faixa etária e educação das personagens em questão. Os comentários entre irmãos conseguem fazer o leitor sorrir ao rever a tão comum relação de amor/ódio.

O livro fica enriquecido com as passagens do “Manual do Abstinente” (criado pelo autor), que revela de forma mais concreta as dificuldades que os vampiros que não se alimentam com sangue passam, a fazer lembrar um livro contra as dependências de humanas. Contudo, aqui não se trata de um simples vício, mas de um instinto mais forte do que a própria vontade que provém da própria natureza.

Mais do que um livro sobre vampiros, é um livro sobre uma família, constituída por pessoas reais, com problemas normais, mas que, apesar de tudo, são capazes de qualquer coisa para se protegerem e manterem unidos. Uma boa leitura.

Matt Haig é um escritor e jornalista britânico que colaborou com publicações de renome, como The Guardian, The Sunday Times e The Independent. Entrou no mundo da literatura em 2005, com The Last Family in England, sendo A Família Radley a sua última obra publicada, até à data.

Nota: Já foi anunciada a adaptação cinematográfica desta obra pelas mãos de Alfonso Cuarón, o realizador de Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban.

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