segunda-feira, 13 de maio de 2013

Opinião: Um Amor Perdido

Título original: The Lost Wife (2011)
Autor: Alyson Richman
Tradutor: Fátima Vieira
ISBN: 9789722634021
Editora: Civilização Editora (2013)

Sinopse:

Nos últimos tempos de tranquilidade na Praga do pré-guerra, Lenka, uma jovem estudante de arte, apaixona-se por Josef. Casam-se, mas, pouco tempo depois, como tantos outros, são separados pela guerra.
Na América, Josef torna-se um obstetra bem-sucedido e constrói uma família, apesar de nunca esquecer a mulher que acredita ter morrido nos campos de concentração. Mas no gueto nazi de Terezín - e mais tarde em Auschwitz - Lenka sobreviveu, graças aos seus dotes artísticos e à memória de um marido que julgava nunca voltar a ver.
Agora, passadas décadas, um encontro inesperado em Nova Iorque reúne Lenka e Josef de novo.
Do conforto da vida em Praga antes da ocupação aos horrores da Europa Nazi, Um Amor Perdido explora a resistência do primeiro amor e do espírito humano e a capacidade de recordar.


Opinião:

Um Amor Perdido é um livro arrebatador que explora as diferentes facetas do sentimento sublime assim como a resistência humana às mais temíveis e terríveis provações. Um livro que agarra desde a primeira página e que me fez entrar numa leitura com poucas paragens devido à ânsia crescente de descobrir a história de Lenka, de Josef e de todos os outros que os rodeavam.

Ao início, acompanhamos Josef na antecipação do casamento do neto. O homem de 81 anos está encantado por assistir a este momento, mas o momento alto acontece quando perceber que a avó da noiva é a sua primeira esposa, Lenka, que acreditava ter sido morta em Auschwitz. O leitor recua então no tempo e acompanha as histórias de vida destas duas personagens que viveram um dos maiores terrores do século XX.

Lenka acaba por ser a personagem com maior destaque. Começamos a acompanhá-la desde que é uma pequena criança até ao momento do já falado reencontro com Josef. Criado num ambiente familiar equilibrado, é uma jovem como igual a tantas outras que é apaixonada por pintura e desenho. A importância da arte para a vida desta protagonista faz com que tenha uma maior sensibilidade ao que a rodeia, o que proporciona descrições belas e até simbólicas.

Josef, por sua vez, parece o rapaz libertino que tem prazer em contrariar as vontades do pai. Contudo, acaba por se revelar uma pessoa apaixonada e devota que, na tristeza e na solidão, encontra conforto em alguém que admite pouco conhecer mas cujo sofrimento é semelhante ao seu.

Com a ameaça nazi a aproximar-se da Checoslováquia cresce um clima de tensão entre as comunidades judaicas. O leitor acompanha as pequenas mudanças que acontecem ao início e as grande alterações que acontecem na vida destas pessoas. É impressionante a forma como a autora conseguiu explorar as suas personagens neste sentido, nomeadamente os pais de Lenka. Progenitores optimistas, afáveis e apaixonados, acabam por se tornar pessoas quebradas e desesperadas com as circunstâncias em que se encontram.

Esta trama sensibiliza para a importância da produção artística em momentos de desespero, quer seja na sua utilização para expressão de revolta e de alerta quer seja na tentativa de evasão. Fiquei sem dúvida a conhecer um outro lado dos guetos e dos campos de concentração deste período histórico.

Terminada a leitura, existe ainda uma nota final da autora que explica que toda a trama foi inspirada em histórias reais. Sim, o reencontro na velhice de um casal separado pela guerra aconteceu, as obras artísticas feitas na clandestinidade estão agora expostas em diversos museus e muitas das personagens realmente existiram e sofreram todos os tormentos que são descritos.

A escrita é fácil de acompanhar e leva-nos a perceber, com claridade os sentimentos de todas as personagens. A autora transporta-nos a realidades completamente diferentes com mestria, fazendo-nos sentir o calor de um lar, a solidão que é possível viver numa cidade movimentada e até o desespero dos inocentes que não sabem o que fizeram para merecer tal dor.

Alyson Richman apresenta uma obra tocante que muito me surpreendeu. Um Amor Perdido é um livro que impressiona, arrepia e que apresenta um final esperado mas comovente. Recomendo.

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